quinta-feira, 29 de maio de 2014

Correcção do teste de Maio 2014



Noite estrelada, Van Gogh
1. O método indutivo consiste na generalização teórica  a partir de dados observacionais, retirando dos factos singulares repetições e constantes que são comuns a todos os factos observados e que permitem a elaboração de leis  válidas para todos os casos semelhantes. Assim o procedimento consiste em recolher dados, retirar uma hipótese que possa ser testada e confirmada pela experiência e depois generalizar e fazer previsões. Tanto Popper como Hume colocam objecções à validade deste método, embora ele seja um procedimento comum a algumas ciências como a Biologia. Este problema ficou conhecido como o problema da indução. Consiste em demonstrar que a crença na indução não está justificada porque ultrapassa a experiência e a razão, isto é, não pode ser justificada nem empiricamente nem racionalmente. Acreditamos que a natureza é uniforme e, por isso acreditamos que aquilo que aconteceu de uma determinada maneira irá acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o pressuposto que garante as nossas generalizações futuras, mas esse pressuposto já resulta ele próprio de uma generalização e de uma previsão, isto é, aquilo que garante a validade de uma indução é conseguido através da indução, utiliza-se o mesmo processo para validar algo que devia ser validado por um outro conhecimento onde se pudesse fundar.  Há assim um raciocínio falacioso, uma petição de princípio.
A teoria epistemológica de Popper ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo método: o falsificacionismo.  O falsificacionismo é, simultaneamente, um critério de demarcação científica, isto é, um critério para separar conhecimento científico e não científico; e, por outro lado, uma nova forma de compreender a metodologia das ciências propondo como realmente científica  uma metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva. O método hipotético-dedutivo privilegia a criatividade intelectual e a colocação dos problemas e das hipóteses assim como a dedução a partir destas,  de consequências observáveis. Ultrapassa o problema do método indutivo que não pode justificar as leis da natureza, e que é por si um problema visto que carece de fundamento racional.
2. Para Kuhn as teorias científicas funcionam como paradigmas, isto é trazem consigo uma visão do mundo e certos métodos de trabalho, assim como princípios metodológicos e metafísicos. Os cientistas ao aceitarem uma teoria como um novo paradigma científico trabalham no sentido  de ampliar os seus resultados e confirmar as suas previsões. A comunidade científica trabalha no âmbito dos paradigmas e não os põe em causa, mesmo que surjam anomalias. O processo de desenvolvimento da Ciência começa com a instituição de um Paradigma e o trabalho científico visa tornar mais consistente e abrangente esse paradigma resolvendo os enigmas que este vai colocando à medida que vai sendo alargado na explicação de outros fenómenos. Este período de resolução de enigmas caracteriza-se por ser acrítico, pois não há disposição para pôr em causa as metodologias de trabalho que foram aceites, assim como os princípios e a validade das teorias, Kuhn chama-lhe um Período de Ciência Normal. Com o desenvolvimento teórico e prático do Paradigma vão surgindo anomalias que se vão acumulando até pôr em causa a actividade que está a ser feita, entra-se numa crise em que a descrença em relação ao modelo seguido leva ao seu abandono e começam a surgir novas teorias concorrentes que explicam as anomalias anteriormente irresolúveis.. Neste período, denominado Ciência Extraordinária, a comunidade científica tem de escolher uma teoria que pela sua abrangência, simplicidade, precisão, consistência e fecundidade, assim como o prestígio do cientista que a apresenta, possa ser unificadora da comunidade e possa constituir um novo Paradigma. Quando isso acontece dá-se uma revolução científica, isto é: a substituição de um Paradigma por outro.



 3. Para Kuhn não há verdadeiro progresso ou evolução porque os paradigmas que se vão sucedendo são incomensuráveis, isto é, não podem ser comparados porque apresentam diferentes formas de trabalhar, de seleccionar fenómenos e novos princípios metafísicos.
Há, portanto, na evolução da ciência, cortes abruptos que correspondem a revoluções científicas, de mudanças de paradigma. As revoluções científicas sucedem-se a períodos criativos em que há teorias diferentes e a comunidade científica não forma consenso acerca de nenhuma delas. A escolha de uma teoria pela comunidade científica equivale a um acordo sobre a forma proposta de explicar os fenómenos. Uma vez acordado, ele torna-se exemplar e guia a comunidade para um desenvolvimento desta concepção dando origem a um novo paradigma e a uma nova fase de ciência normal. Todavia não há objectividade na escolha dos Paradigmas visto que este consenso é muitas vezes impossível e a escolha é influenciada por factores externos aos critérios objectivos.

Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à verdade na medida em que se faz eliminando os erros das teorias e substituindo-as por outras mais abrangentes e consistentes com os factos observados. Visto que a ciência se faz num processo racional de conjecturas e refutações em que o papel da subjectividade tende a diminuir pois o cientista trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os limites de cada teoria. Embora não haja qualquer espécie de certezas pois o progresso científico é um sistema em aberto e nenhuma teoria é verdadeira mas apenas provisoriamente corroborada. A substituição de uma teoria por outra é um processo de selecção  em que as novas teoria aperfeiçoam as antigas na medida em que não cometem os mesmos erros da anterior, explicam os fenómenos das anteriores e ainda explicam novos fenómenos. Daí haver continuidade na evolução científica.

4. Segundo o texto o conhecimento científico e o senso comum divergem no sentido em que há uma lentidão e resistência do senso comum a ideias novas que possam entrar em contradição com aquilo que habitualmente se pensa. Esta característica produz uma sensação de desfasamento que pode identificar o senso comum como acrítico e preconceituoso uma vez que se agarra a verdades eternas que nada têm que as justifique senão a tradição. Contrariamente o conhecimento científico pauta-se por estar continuamente a ser revisto, aperfeiçoado, e rectificado ou refutado através de testes empíricos, essa característica permite uma evolução mais rápida e uma abertura constante a novas formas de explicação que possam satisfazer a constante crítica a que está sujeito  conhecimento científico.
 
Grupo III
1. Como critério de demarcação, o falsificacionismo propõe uma metodologia rigorosa para separar ciência de “pseudo ciência” e, por outro lado, ultrapassa o problema do critério verificacionista que não podia adaptar-se às leis da natureza preconizadas pela ciência. Destes dois critérios de demarcação científica: o critério verificacionista que considera científico o que for empiricamente verificável e o critério falsificacionista que considera científico tudo o que é empiricamente falsificável, só o segundo pode servir para explicar a cientificidade das leis naturais. O primeiro considerará que uma teoria é verdadeira se a experiência e a observação a confirmarem, servindo-se de um método indutivo de confirmação, enquanto o segundo serve-se da experiência para refutar as teorias
 A Psicanálise e a Astrologia são “pseudo ciências” porque não obedecem ao critério de falsificabilidade, tanto a Astrologia como a Psicanálise não são empiricamente falsificáveis, pois a experiência é sempre interpretada ou distorcida de modo a comprovar a teoria e não se prevê nenhuma experiência possível que possa refutá-la. Assim afirmar que todos os Aquários são independentes é não dizer nada porque seja qual for o comportamento de um aquariano ele é sempre interpretado como sinal de independência, assim não há forma de refutar a teoria e por outro lado ela nada nos diz sobre a realidade.

2. Hume e Descartes utilizam diferentes argumentos. O primeiro afirma que para podermos conhecer o mundo exterior ao pensamento temos de ter dele uma impressão sensível, sem a qual nenhuma ideia sobre o mundo é possível. Nesse aspecto todo o conhecimento é uma impressão, nada nos garante que seja o que o mundo é, alimenta-se assim o cepticismo inerente ao conhecimento. Para Descartes não poderia haver conhecimento de algo sem ter um fundamento indubitável que o justificasse de forma infalível, daí o inatismo das primeiras ideias. Para o primeiro o conhecimento por ser sempre algo subjectivo é duvidoso, para o segundo a subjectividade é garantia de verdade.

Crítica à Filosofia - o sentido da existência torna obscuro o conceito da Filosofia


Na filosofia das ideias puras, que não considera o indivíduo real, a passagem é de absoluta necessidade (como aliás no hegelianismo, no qual tudo se realiza com necessidade), a passagem de compreender a agir não tropeça em nenhum embaraço. (...) é igualmente esse, no fundo, todo o segredo da filosofia moderna, toda ela contida no cogito ergo sum, na identidade do pensamento e do ser; (ao passo que o cristão, esse pensa: " Que vos seja dado segundo a vossa fé." ou "tal fé tal homem, ou: crer é ser." A filosofia moderna não é, como se vê, senão paganismo. (...) no mundo real em que se trata do indivíduo existente, não se evita essa minúscula passagem do compreender ao agir (...) A vida do espírito não tem paragens (nem tão pouco, afinal, estado: tudo é actual); portanto, se um homem, no próprio segundo em que reconheça o justo não o pratica, eis o que se produz: em primeiro lugar o conhecimento estanca. (...) A vontade é um agente dialéctico, que por sua vez determina toda a natureza interior do homem. Se ela não aceita o produto do conhecimento, nem por isso se põe a fazer o contrário daquilo que o conhecimento apreendeu, tais conflitos são raros; mas deixa passar algum tempo, abre-se um ínterim, e ela diz: ver-se-á até amanhã. Entretanto o conhecimento obscurece-se cada vez mais, as partes inferiores da nossa natureza tomam uma supremacia cada vez maior; ai de nós! porque é preciso fazer o bem imediatamente mal se reconheça (é é por isso que na especulação pura é tão fácil a passagem do pensamento ao ser, porque aí tudo é dado antecipadamente), ao passo que para os nossos instintos inferiores a tendência é para demorar, demoras que a vontade nem por isso detesta e ante as quais semicerra os ollhos. E, quando se obscurece suficientemente, o conhecimento põe-se no mais completo acordo com a vontade; por fim é o acordo perfeito, porque aquele passou para o campo contrário e ratifica tudo o que esta (a vontade) arranja. Assim vivem talvez multidões de pessoas; trabalhando, como que insensivelmente, para obscurecer o seu juízo ético e ético-religioso, (...) desenvolvem em si um conhecimento estético e metafísico, o qual, para a Ética, não é senão divertimento.
Mas ultrapassamos até aqui o socratismo? Não, porque Sócrates diria que, tudo se passa assim, é a prova de que afinal o homem não compreendeu o justo. Por outras palavras, para enunciar que alguém, sabendo-o, pratica o injusto, o helenismo carece de coragem e defende-se dizendo: quando alguém pratica o injusto, ignora o justo.

Sobre isso não existe dúvida; e acrescentarei não ser possível a um homem passar adiante, sozinho e por si próprio dizer o que é o pecado, visto que vive nele; todos os seus discursos sobre o pecado não são, no fundo, senão a sua desculpa, uma atenuação pecadora. É por isso que o Cristianismo começa de outro modo, pondo a necessidade de uma revelação de Deus, que instrua o homem sobre o pecado, mostrando-lhe que ele não está em não compreender o justo, mas em não querer compreender, em não querer o justo.

Sören Kierkegaard. O desespero humano, pag. 160, 161, Livraria Tavares Martins, Porto1979

terça-feira, 20 de maio de 2014

Correcção do teste de Maio 2014-05-20






Grupo I
1. A tese empirista de D. Hume sobre a conexão causal é a seguinte:
  1. Não há nenhuma impressão de conexão causal; ora se não há impressão também não pode haver ideia, vistoq eu, segundo o empirismo não há ideias sem impressões sensíveis.
  2. A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo e contiguidade no espaço: “O mesmo objecto é seguido pelo mesmo evento”. Esta repetição de um fenómeno a seguir ao outro leva-nos a estabelecer a crença de que estes andam sempre ligados, isto é, se sucede um, logo a seguir tem de suceder outro.
  3. Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão necessária”, o que temos a impressão é de fenómenos singulares, isolados embora sucedemdo-se uns aos outros;  logo não há conhecimento mas um hábito psicológico que é criado pela sucessiva repetição dos fenómenos que se apresentam ligados. Se o conhecimento de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é “apriori” (argumento do ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamo-lo e pensamo-lo como uma conexão necessária e, portanto ultrapassamos a experiência.
  4. Logo, para concluir não uma explicação empírica para uma conexão necessária, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico.

2. (TESTE B)Para Kuhn as teorias científicas funcionam como paradigmas, isto é trazem consigo uma visão do mundo e certos métodos de trabalho que se destinam a ampliar os seus resultados e a confirmar as suas previsões. A comunidade científica trabalha no âmbito dos paradigmas e não os põe em causa, mesmo que surjam anomalias. O processo de desenvolvimento da Ciência começa com a instituição de um Paradigma e o trabalho científico visa tornar mais consistente e abrangente esse paradigma resolvendo os enigmas que este vai colocando à medida que vai sendo alargado na explicação de outros fenómenos. Este período de resolução de enigmas caracteriza-se por ser acrítico, pois não há disposição para pôr em causa as metodologias de trabalho que foram aceites, assim como os princípios e a validade das teorias, Kuhn chama-lhe um Período de Ciência Normal. Com o desenvolvimento teórico e prático do Paradigma vão surgindo anomalias que se vão acumulando até pôr em causa a actividade que está a ser feita, entra-se numa crise em que a descrença em relação ao modelo seguido leva ao seu abandono e começam a surgir novas teorias concorrentes que explicam os novos enigmas. Neste período, denominado Ciência Extraordinária, a comunidade científica tem de escolher uma teoria que pela sua abrangência, simplicidade, precisão, consistência e fecundidade, assim como o prestígio do cientista que a apresenta, possa ser unificadora da comunidade e possa constituir um novo Paradigma. Quando isso acontece dá-se uma revolução científica, isto é: a substituição de um Paradigma por outro.

2. (TESTE A)A Psicanálise e a Astrologia são “pseudo ciências” porque não obedecem ao critério de falsificabilidade que constitui o critério de demarcação entre ciência e pseudo ciência segundo a proposta epistemológica de Popper. Este critério propõe, contrariamente ao verificacionismo, que se considere científica a teoria que possa ser empiricamente falsificável. Ora, tanto a Astrologia como a Psicanálise não são empiricamente falsificáveis, pois a experiência é sempre interpretada ou distorcida de modo a comprovar a teoria e não se prevê nenhuma experiência possível que possa refutá-la. Assim afirmar que todos os Aquários são independentes é não dizer nada porque seja qual for o comportamento de um aquariano ele é sempre interpretado como sinal de independência, assim não há forma de refutar a teoria e por outro lado ela nada nos diz sobre a realidade. Contrariamente o critério de demarcação verificacionista poderia considerar que é empiricamente verificável as teorias psicanalíticas visto que correspondem a comportamentos que podem ser empiricamente observados.

3. Para Kuhn não há verdadeiro progresso ou evolução porque os paradigmas que se vão sucedendo são incomensuráveis, isto é, não podem ser comparados porque apresentam diferentes formas de trabalhar, de seleccionar fenómenos e novos princípios metafísicos.
Há, portanto, na evolução da ciência, cortes abruptos que correspondem a revoluções científicas, de mudanças de paradigma. As revoluções científicas sucedem-se a períodos criativos em que há teorias diferentes e a comunidade científica não forma consenso acerca de nenhuma delas. A escolha de uma teoria pela comunidade científica equivale a um acordo sobre a forma proposta de explicar os fenómenos. Uma vez acordado, ele torna-se exemplar e guia a comunidade para um desenvolvimento desta concepção dando origem a um novo paradigma e a uma nova fase de ciência normal. Todavia não há objectividade na escolha dos Paradigmas visto que este consenso é muitas vezes impossível e a escolha é influenciada por factores externos aos critérios objectivos.

Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à verdade na medida em que se faz eliminando os erros das teorias e substituindo-as por outras mais abrangentes e consistentes com os factos observados. Visto que a ciência se faz num processo racional de conjecturas e refutações em que o papel da subjectividade tende a diminuir pois o cientista trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os limites de cada teoria. Embora não haja qualquer espécie de certezas pois o progresso científico é um sistema em aberto e nenhuma teoria é verdadeira mas apenas provisoriamente corroborada. A substituição de uma teoria por outra é um processo de selecção  em que as novas teoria aperfeiçoam as antigas na medida em que não cometem os mesmos erros da anterior, explicam os fenómenos das anteriores e ainda explicam novos fenómenos. Daí haver continuidade na evolução científica.

4.  Segundo o texto o conhecimento científico e o senso comum são separados por um “ideal de objectividade” e” por uma separação das actividades ordinárias do quotidiano”, isto significa que a experiência científica não se limita à observação ocasional, constrói um quadro racional de problemas e metodologias de análise que o senso comum não tem. Deste modo, embora a realidade pareça ser a mesma ela aparece de modo diferente porque é seleccionada por prévios problemas.Partem dos dados dos sentidos e acumulam factos, mas se o segundo tira as suas conclusões a partir da experiência, o primeiro formula certas hipóteses que constituem uma directriz através da qual organiza os dados da experiência e a interroga de um determinado modo, sistemático e racional e não apenas ocasional. São assim diferentes percepções da realidade. A outra característica apontada é a linguagem. A linguagem científica é universal e rigorosa na medida em que apresenta símbolos que obedecem a uma técnica de codificação aceite pela comunidade e que tem um significado susceptível de ser apresentado numa experiência e não pode ter vários significados. Veja-se o caso de H2O. Contrariamente o senso comum utiliza a linguagem vulgar onde as palavras podem ter diferentes sentidos.

Grupo III
1. As vantagens do método indutivo colocadas no texto são a generalização e a criatividade. Uma vez que descobre uniformidades nos factos particulares o que cria a possibilidade de justificações, abrindo para novos conhecimentos. Por outro lado através da generalização “eleva os dados particulares à categoria de relação constante” o que significa que permite retirar leis que unificam os fenómenos pois os subordinam a um só procedimento. Isto é universaliza o particular.

2.   A teoria epistemológica de Popper ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo método: o falsificacionismo.  O falsificacionismo é, uma nova forma de compreender a metodologia das ciências propondo como realmente científica  uma metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva. O método hipotético-dedutivo privilegia a criatividade intelectual e a colocação dos problemas e de hipóteses assim como a dedução a partir destas  de consequências observáveis.  Ultrapassa o problema do método indutivo que não pode justificar as leis da natureza, e que é por si um problema visto que carece de fundamento racional.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Texto para resumo Kleber Sibingo 11I



Texto sobre a natureza dos Paradigmas científicos.

Os cientistas gostam de pensar que contribuem para a marcha constante do progresso. Cada nova descoberta corrige deficiências, traz aperfeiçoamentos ao conhecimento e torna a verdade cada vez mais clara. Voltam os olhos para a história da ciência e observam um contínuo desenvolvimento, convenientemente assinalado pelas grandes descobertas.

Essa visão, entretanto, é ilusória, segundo o historiador de ciência Thomas Kuhn, no livro The Structure of Scientific Revolutions (1962). A ciência não é uma transição suave do erro à verdade, mas sim uma série de crises ou revoluções, expressas como "mudanças de paradigmas".

Kuhn define "paradigma" como uma série de suposições, métodos e problemas típicos, que determinam para uma comunidade científica quais são as questões importantes, e qual a melhor maneira de lhes responder. (A óptica newtoniana e a psicanálise freudiana são bons exemplos.) Os estudos de Kuhn revelaram duas coisas: que os paradigmas são persistentes e que um derruba o outro de uma só tacada e não com pequenos golpes. O progresso científico é mais para uma série de transformações do que um crescimento orgânico -- Eureka

 
A vantagem de um paradigma é que ele concentra a pesquisa. Sem um paradigma, investigadores diferentes acumulam pilhas diferentes de dados quase ao acaso e ficam ocupados em dar um sentido ao caos e derrotar as teorias concorrentes para progredir de forma consistente. O problema com os paradigmas é que eles tendem tornar-se fechados e rígidos. Novos avanços tornam-se cada vez mais esotéricos e acessíveis apenas a quem os professa. Os cientistas que têm alguma coisa a oferecer mas rejeitam o paradigma, são frequentemente descartados como "excêntricos". Caminhos de pesquisa potencialmente frutíferos são bloqueados porque não partem de premissas aceites. Embora possibilite descobertas, todo paradigma, é também um tipo de cegueira: ele dispõe-nos a ver algumas coisas e a ignorar inteiramente outras.

Os paradigmas, entretanto, têm de sofrer mudanças quando os modelos antigos são convincentemente desafiados por novas evidências. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando Galileu descobriu que Júpiter tinha luas e com isso ajudou a derrubar a astronomia Ptolomaica. (Nessas ocasiões, é claro que muitos, inclusive a Igreja, agarram-se desesperadamente aos velhos paradigmas.) O ponto central de Kuhn é que as mudanças de paradigmas, por serem bruscas e dilacerantes, desafiam a imagem idealizada da ciência como um progresso gradual e constante em direcção à Verdade. Enquanto um paradigma se mostrar eficiente -- enquanto uma comunidade científica o aceitar e ele explicar razoavelmente bem a natureza -- as pesquisas e as descobertas serão graduais e cumulativas. Porém, as inovações (observações inesperadas e anomalias) não são facilmente assimiladas pelos paradigmas. Pelo menos, não por muito tempo. Revoluções científicas -- mudanças de paradigmas -- são inevitáveis e necessárias, na medida que as teorias reinantes são incompletas ou cegas.

O que torna isso interessante para todos, não só para os cientistas, é que a mudança de um paradigma científico frequentemente acarreta uma nova, e às vezes atemorizante, visão do mundo. A revolução de Copérnico tirou o homem do centro do mundo e forçou-o a ver sob novas luzes a criação e o lugar que nela ocupa. Kepler, Newton e seus pares imaginaram um universo mecânico funcionando como um relógio -- um relógio no qual Deus nunca precisou dar corda novamente – o determinismo-. A relatividade de Einstein e a incerteza de Heisenberg, embora altamente técnicas nos detalhe, infiltraram-se na consciência popular, e o mundo aparece mais relativo e incerto do que nunca. A parte mais assustadora de todas é que o próximo paradigma não pode ser previsto, já que vemos o futuro através do paradigma que temos no presente.

 Retirado daqui

Thomas Kuhn e Ciência Normal


Ficha sobre T. Kuhn  (1922/1996)- 11º C - Para entregar até quarta-feira /21 de Maio/ Logosfera

[...A] «ciência normal» refere-se à investigação firmemente baseada numa ou mais realizações científicas passadas, realizações essas que uma certa comunidade científica reconhece por um tempo como base do trabalho que realiza. Essas realizações aparecem hoje em dia descritas nos manuais científicos, sejam eles elementares ou avançados, embora raramente na sua forma original. Estes manuais expõem o corpo teórico aceite, exemplificam muitas ou todas as suas aplicações bem-sucedidas e comparam estas aplicações com observações e experiências científicas exemplares. Antes de estes livros se tornarem populares no início do século XIX (e mais recentemente nas ciências que atingiram a maturidade mais tarde), muitos dos clássicos famosos da ciência desempenhavam uma função semelhante. A Física de Aristótles, o Almagesto de Ptolomeu, os Principia e a Óptica de Newton, a Electricidade de Franklin, a Química de Lavoisier e a Geologia de Lyell – estas e muitas outras obras serviram durante um tempo para definir implicitamente os problemas e métodos legítimos dentro de um campo de pesquisa para as gerações subsequentes de investigadores. Estas obras desempenharam este papel porque tinham em comum duas características essenciais. A realização científica que representavam era suficientemente inovadora para atrair um grupo de aderentes estável, afastando-os de formas rivais de actividade científica. Simultaneamente, eram de tal modo indefinidas que uma grande variedade de problemas eram deixados em aberto, ficando o grupo de investigadores que entretanto se reorganizara com a tarefa de procurar resolvê-los.

Referir-me-ei daqui em diante às realizações científicas que partilham estas duas características como «paradigmas», um termo muito próximo de «ciência normal». Ao escolhê-lo, quis sugerir que alguns exemplos aceites de prática científica concreta – exemplos que reúnem leis, teorias, aplicações e instrumentos – fornecem modelos que dão lugar a uma determinada tradição de investigação científica coerente. Falo das tradições que os historiadores descrevem sob rubricas como «astronomia ptolomaica» (ou «coperniciana»), «dinâmica aristotélica» (ou «newtoniana»), «óptica corpuscular» (ou «óptica ondulatória»), e assim por diante. O estudo dos paradigmas, incluindo muitos que são bastante menos especializados do que aqueles a que me referi acima, é aquilo que prepara fundamentalmente o estudante para se tornar membro da comunidade científica no seio da qual exercerá a sua prática. Pelo facto de se associar a homens que aprenderam as bases do seu campo de trabalho com os mesmos modelos, a sua prática subsequente dificilmente suscitará discordância aberta sobre questões fundamentais. Os homens cuja investigação se baseia em paradigmas partilhados empenham-se em seguir as mesmas regras e critérios de prática científica. Esse comprometimento e o consenso aparente que ele produz são requisitos da ciência normal, isto é, do nascimento e continuação de uma determinada tradição de estudo científico.

Thomas S. Khun, A estrutura das revoluções científicas (1963)(Lisboa, Guerra e Paz, 2009), pp. 31-32.

1. O que é e como funcionam os cientistas no período de "Ciência normal"?
2. Quais os critérios pelos quais determinadas obras teóricas constituem paradigmas de investigação?
3. O que é um Paradigma? Dê exemplos.
4. Qual a função destes Paradigmas?
5. A ciência evolui, então, de forma descontínua. Explique.