segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Texto para resumo e análise João Jorge 11A e Nuno Silva 11B

 


Hume nega a existência de princípios evidentes inatos em nós. Para ele, todo o conhecimento é como que uma cópia de algo, cujo objeto já tivemos acesso de alguma maneira.

 Hume põe ainda o problema da causalidade em cima da mesa. Ele refuta o princípio da causalidade segundo o qual todas as ações têm uma relação causa efeito, submetendo-o a uma análise critica bastante rigorosa, baseando-se na sua teoria de conhecimento segundo a qual sem impressão sensível não há conhecimento, visto todas as ideias derivarem das sensações, à qual deve corresponder uma impressão.

A partir daí, ele negou que possamos fazer qualquer ideia de causalidade pois ela é apenas resultado do nosso hábito mental, visto que na Natureza nada nos mostra que sempre que acontece alguma coisa, tem que acontecer outra.

 Só temos essa ideia porque nos habituamos a ver a sucessão de fenómenos um por um, o que nos induziu em erro.

Por exemplo, quando está vento e uma árvore abana dizemos que esta é uma relação causa efeito, quando nada nos prova que assim é. Apenas o dizemos porque nos habituamos a ver os dois fenómenos ocorrer muitas vezes simultaneamente. A experiência até nos pode dizer que o vento pôs os galhos da árvore em movimento, mas ela nunca nos diz nada sobre acontecimentos futuros, com os quais ainda não tivemos qualquer contacto: única fonte de conhecimento valida. Isto porque a inferência causais estão sempre sujeitas ao erro perante novos objetos, novos sujeitos e novas situações, que podem mudar as ideias que temos em nós. Desse modo, vemos que para Hume, o conhecimento só pode corresponder a ações passadas, ou quando muito atuais e nunca futuras. Para ele, “cada caso, é um caso” e nada nos diz o que vai acontecer amanhã.

 James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books

 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Proposta de correção do teste de de 5 Novembro



Versão A

ARGUMENTAR (1-60/2 e 3 -70 Pontos – Total 200 Pontos)

Grupo I

1. Os céticos apresentam razões para duvidar da verdade do conhecimento, uma das razões, aquela que está implícita no texto, é apelidada de argumento da regressão infinita. Este argumento põe em causa a justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença, ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações. Descartes supera este argumento cético com a demonstração do cogito como uma crença fundante/básica que se autojustifica pois para duvidar é preciso pensar e não há necessidade, por isso, de procurar mais nenhuma justificação para o ato puro do pensamento visto ele se apresentar de uma forma evidente e inquestionável.  

2. A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se autojustificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo  e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.

 

Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo.

Objeções: Não podemos conhecer nada do mundo a partir do cogito, logo ele não é um bom fundamento para todo o conhecimento em geral.

 

3.

A definição tradicional de conhecimento coloca três condições necessárias para a definição; Ter uma crença, que essa crença seja verdadeira e que esteja bem justificada com razões. Essas três condições são necessárias e nenhuma delas por si é suficiente. Porque é necessário ter uma crença? Porque o conhecimento corresponde a um estado mental em que se S sabe que P, então acredita nisso que sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto, saber P implica uma crença, S acredita em P. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo. Se, por outro lado, esta crença em P não tem qualquer justificação, não há boas  razões para acreditar que P é verdadeira então, também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso.
Por outro lado não é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento porque nem todas as crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em Extraterrestres”, acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença pode ser verdadeira por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana. Objeções: Contraexemplos de Gettier em que se coloca a possibilidade de estarem as três condições satisfeitas e mesmo assim não haver conhecimento pois não há uma relação causal entre a justificação e o que torna a crença verdadeira.

 

Grupo III

PROBLEMATIZAR (2x10)

1-O problema aflorado no texto diz respeito à dúvida na perceção sensorial das coisas corpóreas; Descartes afirma que essas perceções são obscuras e confusas e que, por isso, podem não corresponder ao modo como as coisas corpóreas são. Os sentidos captam certas propriedades que são transitórias e particulares, como o tamanho de uma vela, que pode ser grande ou pequeno, de uma matéria que se altera com o calor e que não permanece sempre igual não havendo forma de ter um conhecimento claro e distinto dos particulares. Podemos compreender, no entanto, como diz no texto, que as coisas corpóreas têm todas certas propriedades gerais que são universais e que podem ser conhecidas matematicamente como a sua extensão, posição e forma. O texto chama a atenção para o problema da racionalização do mundo corpóreo que pode ser conhecido com rigor pela sua extensão e que essa é a substância que todas as coisas corpóreas têm, por oposição ao pensamento que não tem extensão.

 

2-O Argumento utilizado para provar a existência de Deus é o seguinte:  Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia  (por princípio a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.

 

O argumento é circular. Como posso ter a certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas e conclusão.   Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe, então, um raciocínio  circular, uma petição de princípio no argumento que prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado,  é através delas que  provo a existência de Deus.

 

Versão B

Grupo I

1. No texto há uma referência à dúvida metódica, que consiste num método de examinar todas as fontes do nosso conhecimento considerando falsa toda a crença que se pudesse apresentar com um certo grau de dúvida. Com este método é possível duvidar das perceções dos sentidos, da realidade e até de Deus. Descartes conclui, no entanto que se duvida é necessário, isto é, não pode deixar de existir enquanto substância pensante. O cogito consiste assim na intuição de um conhecimento que se apresenta de forma tão clara e distinta à razão que não pode deixar de ser verdadeiro. Este modelo de clareza e distinção vai ser o critério de verdade de todo o conhecimento e aplicado a todas as ciências. O cogito apresenta-se como uma crença fundante que se auto justifica e, deste modo, demonstra a falsidade do argumento cético da regressão infinita.

2. As três crenças básicas que Descartes coloca como fundantes de todo o conhecimento são: A noção de que se penso existo, e que sendo o pensamento mais evidente que a existência da substância corpórea, infere-se que são duas substâncias distintas  que interagem mas não se mistura. O corpo é de uma substância que ocupa espaço, forma e posição, apelidada de substância extensa enquanto a substância pensante não tem nenhuma destas qualidades. Para que o sistema cartesiano fique completo, isto é, possa superar as dúvidas e voltar a confiar nos raciocínios e na existência de um mundo fora da mente. É necessário que exista um Deus que não seja enganador e que possa conferir substância aos pensamentos, logo terá de existir um Deus omnipresente, omnipotente e omnisciente.

Objeções: O cogito parece uma verdade incontornável, quanto às outras verdades são questionáveis.

O corpo e o pensamento(alma) serem substâncias diferentes parece contrariar a noção de que o pensamento é algo que surge do nada e não precisa de uma entidade que o produza.

A existência de Deus, podemos colocar em causa as provas dadas por Descartes pois são insuficientes para provar a existência de Deus.

3. (Igual à versão A)

Grupo III

1. Igual nas duas versões

2. O problema do ceticismo é tentar demonstrar com argumentos que o conhecimento verdadeiro não é possível porque não há forma de sabermos que determinada crença é verdadeira, as crenças que temos não estão justificadas (regressão infinita), ou haverá sempre acerca do mesmo assunto uma tal diversidade de opiniões que não há autoridade imparcial ou critério que possa saber que tem razão.

Poderia considerar-se que o ceticismo se contradiz, uma vez que nega ao homem o acesso à verdade e se coloca como uma teoria verdadeira.

Por outro lado, a atitude da dúvida permite ser crítica em relação ao conhecimento e assim recusar falsas crenças.

A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se auto justificam, isto é, não necessitam de outras crenças para se justificarem, assim contraria o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para criticar o conhecimento, estes defendiam que nenhuma crença estava justificada porque necessitava sempre de outra que a justificasse e, assim ou haveria uma crença fundante que não precisava de nenhuma outra para se justificar (como pensa Descartes) ou então não seria possível o conhecimento visto que, as crenças que constituem o conhecimento não se podiam justificar.

 

 

 

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO

 


Temas para os trabalhos de cidadania e desenvolvimento:

1. Apresentação do trabalho com diapositivos dia 2 Dezembro em Filosofia/Inglês e Espanhol

Cada grupo irá apresentar o seu tema recorrendo à exposição oral e à utilização de diapositivos.


Tema geral: DIREITOS HUMANOS

Temas específicos: 

TEMA 1 - História da Amnistia Internacional. Investigação sobre os casos de violação dos Direitos humanos estabelecidos na agenda deste ano. Divulgação junto das turmas do básico e secundário de todo o agrupamento. Problema: Divulgar um trabalho. Como divulgar e sensibilizar a comunidade para os direitos humanos?

TEMA 2 - Investigação sobre personalidades que se destacaram ao longo da história na luta por certos direitos. Exemplos: Aristides de Sousa Mendes, Nelson Mandela, Gandhi (procurar outros exemplos). Problema: Como conseguiram mudar a forma de atuação dos sistemas políticos? Será que a personalidade é importante ou mais importante é o contexto social de revolta que faz nascer certos líderes?

TEMA 3 - Filósofos que se destacaram pela luta na rua a favor de melhores condições de vida e mudança de valores (engagement) e cujas obras foram a vanguarda das lutas e revoluções por mais justiça. Problema: Qual o contributo das ideias/filosofia para mudar o estado da vida social e política das pessoas? Será que o filósofo devia ser mais interventivo social e politicamente?

TEMA 4 - Estudo de casos de violação de direitos na sociedade atual em Portugal. Exemplos: Violência  doméstica, trabalho escravo; crimes de racismo e xenofobia, discriminação dos idosos. Estudo de um ou dois casos conhecidos pelos alunos. Problema: A que problemas socio/económicos e culturais estão associados os crimes de violação dos direitos humanos?

TEMA 5 - A circunstância em que se deu a carta dos direitos humanos. História e conteúdo da carta. Incongruências do processo. Problemas: Uma carta dos países ricos? Uma carta de boas intenções? Terá algum impacto prático na vida das pessoas a existência de tal carta?

TEMA 6 -Reportagem em fotografia e vídeo sobre a vinda da organização da Amnistia Internacional à escola. Estudo de outras organizações que tenham uma prática de luta pelos direitos humanos. Problema: Quais os problemas que este tipo de organização enfrentam? A Indiferença será um problema?


2ª PARTE DO TRABALHO: DIA 10 DEZEMBRO

Apresentação dos casos para poder exigir a libertação de alguns presos políticos.

Sensibilização dos colegas  para a assinaturas das petições.

Ida às turmas fazer a apresentação.


Texto para análise/resumo Tiago 11A e Carolina 11B


Você começou agora a ler este livro. Ou assim pensa. Mas está certo que está realmente a ler o livro? Como sabe se não está meramente a sonhar ou a ter uma alucinação vívida? Como sabe se não está de facto preso numa realidade virtual extremamente sofisticada de um programa de computador, como os personagens do filme The Matrix?
Perante isto, talvez esteja já tentado a parar a leitura, convencido de que estas questões são frívolas, próprias provavelmente para uma conversa fora de horas, à mistura com umas cervejas, mas não para um livro de filosofia sério (…). No entanto, não há filósofo mais sério do que René Descartes (1596-1650) – o próprio pai da filosofia moderna, como é em geral conhecido – e ele tomou estas questões (exceto, obviamente, a referência ao Matrix) como sendo de profunda importância, pois elas formam, na sua perspetiva, o ponto de partida de uma linha de investigação que não apenas lança os fundamentos do conhecimento científico, mas revela também a verdadeira natureza da mente humana e a sua relação com o mundo material (…)

Assim, com a sua curiosidade agora aguçada, regressemos à questão que Descartes pensava ter estas implicações profundas: como sabe se está realmente a ler este livro?

Sem dúvida que a sua primeira reação é dizer simplesmente que é óbvio que está a ler o livro, pois, na verdade, pode vê-lo nas suas mãos, sentir as suas páginas, cheirar a tinta e ouvir os seus dedos a deslizar pelo papel. Se para aí estivesse inclinado, poderia até saborear os químicos presentes no papel e na tinta. Em qualquer caso, a razão para acreditar que está a ler o livro é que está a ter o tipo de experiências que esperaria ter ao ler um livro. Os seus sentidos dizem-lhe que está a ler o livro; portanto, tem de estar a ler o livro.

Há um problema com esta resposta que podemos descortinar se fizermos uma comparação com o seguinte exemplo. Suponha que Frederico lhe diz que irá haver uma festa este Sábado em casa da Etelvina e que você sabe que Frederico costuma mentir, embora seja convincente a mentir. Ocasionalmente ele diz a verdade, mas mente muitas vezes, mesmo quando se trata de um assunto trivial. Quer num caso, quer noutro, a sua postura não se altera, parecendo sempre sincero. Dado que Frederico é a sua única fonte de informação, tem você fortes razões para acreditar que haverá uma festa este Sábado em casa da Etelvina? Certamente que não. Não o sabe com certeza, porque a sua única fonte de informação, a palavra de Frederico - com toda a sua aparência de sinceridade - seria exatamente a mesma caso haja realmente festa ou não.

Ora, nós estamos, parece, exatamente nesta situação no que toca aos nossos sentidos. Eles “dizem-nos” coisas a todo o momento e o modo como nos falam é muito convincente – “ver para crer”, como diz o ditado, pois é mais difícil duvidar de algo precisamente quando diante dos nossos olhos. Apesar disso, há casos bem conhecidos em que aquilo que a nossa experiência nos diz não é de todo real. Você pode ter a experiência de ser perseguido por um assassino empunhando uma faca, do seu coração a bater com força e de um grito a vir do fundo da sua garganta. Aterrado, reflete sobre a possibilidade de se tratar de um pesadelo , mas sendo tão vívido, não pode ser; e no instante em que a faca se enfia no seu corpo… você acorda. Pensava que que os seus sentidos lhe estavam a dizer que a sua vida corria perigo iminente, mas estava enganado. De facto, não poderia estar mais a salvo, enroscado na sua cama, a dormir e a sonhar.

Edward Feser, Philosophy of mind. A beginner’s guide. (Oxford, 2006). Trad. Carlos Marques.

Descartes e o filme "Matrix"




Um filme que se aproxima significativamente da situação do demónio mau [de Descartes] no que diz respeito à profundidade da dissimulação que apresenta é The Matrix (Andy e Larry Wachowski, 1999). A premissa deste filme é a de que a maior parte da humanidade foi escravizada por uma raça de máquinas inteligentes que usam corpos humanos como fontes de energia. Contudo, aqueles que se encontram neste estado ignoram completamente a sua situação real. Tudo parece normal porque um super-computador os alimenta com uma realidade simulada ('o Matrix'). Apenas alguns rebeldes conseguiram escapar a esta escravização e estão em condições de oferecer resistência às máquinas. Assim, no começo do filme, antes de escapar do Matrix, tudo o que o personagem principal, Neo (Keanu Reeves), experimenta e toma como real é, de facto, uma ilusão gerada por computador. (…)O líder dos rebeldes, Morfeu (Lawrence Fishburne), (…) [que] entra no Matrix para trazer Neo para a causa da resistência, (…) oferece ao nosso herói a oportunidade de 'acordar' da sua ilusão. O enigma que ele coloca é puro Descartes: 'Já tiveste algum sonho, Neo, de que estivesses convencido que era real? E se não conseguisses acordar desse sonho? Como saberias a diferença entre o mundo do sonho e o mundo real?'
(…) em The Matrix, nós, como Neo inicialmente, não temos qualquer ideia de que o mundo em que Neo habita é uma ilusão, e ficamos tão desorientados como ele quando a situação é de repente revelada.
O argumento do demónio de Descartes pode ser facilmente reformulado em termos retirados de The Matrix - pode ou não acontecer que tudo aquilo de que temos experiência, tudo de que até agora tivemos experiência, mesmo aquilo que tomamos como verdades lógicas básicas, ser uma fabricação gerada por um supercomputador? E o efeito desta questão é igualmente o de colocar em dúvida, de um modo extremamente radical, o que a nossa experiência nos diz acerca do mundo.

Christopher Falzon, Philosophy Goes To The Movies. An Introduction To Philosophy. London and New York, 2002. Trad. Carlos Marques.

Proposta de correção do 1º Teste

 


PROPOSTA DE CORREÇÃO DO TESTE DE 4 DE NOVEMBRO 2021

 

Grupo II

ARGUMENTAR

 

1. Os céticos apresentam razões para duvidar da verdade do conhecimento, uma das razões, aquela que está implícita no texto, é apelidada de argumento da regressão infinita. Este argumento põe em causa a justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença, ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações. Descartes supera este argumento cético com a demonstração do cogito como uma crença fundante/básica que se autojustifica pois para duvidar é preciso pensar e não há necessidade, por isso, de procurar mais nenhuma justificação para o ato puro do pensamento visto ele se apresentar de uma forma evidente e inquestionável.  

 

2 .A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se autojustificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo  e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.

 

Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo.

Objeções: Não podemos conhecer nada do mundo a partir do cogito, logo ele não é um bom fundamento para todo o conhecimento em geral.

 

 

3.

A definição tradicional de conhecimento coloca três condições necessárias para a definição; Ter uma crença, que essa crença seja verdadeira e que esteja bem justificada com razões. Essas três condições são necessárias e nenhuma delas por si é suficiente. Porque é necessário ter uma crença? Porque o conhecimento corresponde a um estado mental em que se S sabe que P, então acredita nisso que sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto, saber P implica uma crença, S acredita em P. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo. Se, por outro lado, esta crença em P não tem qualquer justificação, não há boas  razões para acreditar que P é verdadeira então, também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso.
Por outro lado não é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento porque nem todas as crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em Extraterrestres”, acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença pode ser verdadeira por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana.

 

Grupo III

PROBLEMATIZAR

1-O problema aflorado no texto diz respeito à dúvida na perceção sensorial das coisas corpóreas; Descartes afirma que essas perceções são obscuras e confusas e que, por isso, podem não corresponder ao modo como as coisas corpóreas são. Os sentidos captam certas propriedades que são transitórias e particulares, como o tamanho de uma vela, que pode ser grande ou pequeno, de uma matéria que se altera com o calor e que não permanece sempre igual não havendo forma de ter um conhecimento claro e distinto dos particulares. Podemos compreender, no entanto, como diz no texto, que as coisas corpóreas têm todas certas propriedades gerais que são universais e que podem ser conhecidas matematicamente como a sua extensão, posição e forma. O texto chama a atenção para o problema da racionalização do mundo corpóreo que pode ser conhecido com rigor pela sua extensão e que essa é a substância que todas as coisas corpóreas têm, por oposição ao pensamento que não tem extensão.

 

2-O Argumento utilizado para provar a existência de Deus é o seguinte:  Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia  (por princípio a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.

 

O argumento é circular. Como posso ter a certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas e conclusão.   Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe, então, um raciocínio  circular, uma petição de princípio no argumento que prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado,  é através delas que  provo a existência de Deus.

 

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Texto resumo análise Viviana 11B

 


Críticas à Filosofia Cartesiana

O círculo cartesiano

O cogito, só por si, dificilmente poderia constituir um fundamento sólido para o conhecimento. De facto, é a existência de Deus que garante a Descartes que não se engana quando pensa clara e distintamente. Mas, por outro lado, parece que Descartes só pode saber que Deus existe porque compreende clara e distintamente a Sua existência, a existência de um ser perfeito.

Se este é o argumento de Descartes, como pensam alguns críticos, então é falacioso, pois trata-se de um argumento circular: para saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras, tenho primeiro de saber que Deus existe; mas, para saber que Deus existe, tenho primeiro de saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras.

Será que da ideia da perfeição se segue que existe um ser perfeito?

A segunda crítica que referiremos aqui questiona a validade da demonstração cartesiana da existência de Deus a partir da ideia de causalidade.

Vimos anteriormente Descartes argumentar que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito; mas, para alguns críticos, esta ideia está longe de ser clara e distinta. Quem nos garante que não é ainda o génio maligno a manipular a nossa mente, e a enganar-nos quando pensamos que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito? Na verdade, Descartes ainda não afastou completamente a hipótese do génio maligno.

E, afinal, que razões temos para acreditar que a ideia de perfeição tem de ser causada por um ser perfeito? Teremos sequer razões para acreditar que tal ideia tem de ser causada? Posso ter a ideia de uma pessoa perfeitamente pontual, por exemplo. Será que esta ideia exige uma causa perfeitamente pontual? Isto não parece fazer sentido. Talvez a ideia de uma pessoa perfeitamente pontual acabe por ser a definição de uma pessoa perfeitamente pontual. Mas a definição de uma pessoa perfeitamente pontual é uma ideia que posso ter sem jamais ter encontrado tal pessoa, ou mesmo que tal pessoa não exista (ver Simon Blackburn, Pense: Uma Introdução à Filosofia, Lisboa, Gradiva, 2001, p. 43).

Parece, pois, que Descartes não conseguiu demonstrar satisfatoriamente a existência de Deus; e, se não conseguiu demonstrar satisfatoriamente a existência de Deus, então o cogito não é garantia suficiente de um conhecimento à prova de erro. Por isso, alguns filósofos pensam que Descartes não conseguiu resolver satisfatoriamente o problema e que, se queremos refutar definitivamente o céptico, teremos de encontrar outros fundamentos para o conhecimento.

É desse modo que pensam os fundacionalistas clássicos como Locke, Berkeley e Hume.

Artur Polónio

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Resumo análise de texto: Leonor Freitas 11A e João Secundo 11B


De acordo com Descartes, a primeira coisa que se sabe [sabendo-se que a base do conhecimento não pode ser a experiência dos sentidos] é, pelo menos, que você existe. Como? Bem, é que mesmo que esteja neste momento a sonhar, que seja um cérebro numa cuba ou a vítima de um espírito maligno enganador, você tem, antes de mais, de existir para poder estar a sonhar ou ser enganado. Com efeito, para estar preocupado com a questão de saber se está ou não está a sonhar, para estar preocupado com a questão de saber se existe tal demónio ou mesmo se você realmente existe, você tem de existir para poder ter tais preocupações. Se não existisse de todo, não se poderia obviamente preocupar com esse facto. Assim, só o facto de pensar sobre a sua existência é suficiente para provar que existe. “Cogito, ergo sum”, como diz Descartes – “Penso, logo existo.” Este argumento famoso, de que se pode ter conhecimento sem termos de nos apoiar na fiabilidade dos sentidos é, na perspetiva de Descartes, o ponto de partida de todo o conhecimento e o que faz parar em absoluto toda a dúvida: você pode não saber outra coisa, mas pode ao menos saber de certeza que é real.

Até aqui tudo bem. Mas há algo mais que seja real? Em particular, é real o universo físico que você sempre acreditou existir fora da sua mente – o mundo habitual, das mesas, cadeiras, pedras, árvores, dos outros seres humanos, cães, gatos e outros animais, planetas, estrelas e galáxias – é tudo isso real? Dá a sensação de que se todas as experiências percetivas podem ser falsas, então não há, nem pode haver, forma de saber se algo mais existe. Talvez nada mais exista de facto – nem sequer um espírito malévolo ou cientistas loucos. Talvez você seja a única realidade, constituindo as suas experiências percetivas nada mais do que uma alucinação que dura indefinidamente e o universo inteiro um produto da sua imaginação. Isto é o solipsismo: a perspetiva segundo a qual “apenas eu existo”.

 

Edward Feser, Philosophy of mind. A beginner’s guide. (Oxford, 2006). Trad. Carlos Marques.

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Texto para análise resumo Joana S. 11A e Jean 11B


A REVIRAVOLTA CARTESIANA

No Discurso do Método, [Descartes] conta-nos como na sua juventude se sentia perturbado com o espectro da incerteza:

[…] encontrava-me embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não ter tido outro proveito, ao tentar instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância. E, no entanto, estive numa das escolas mais célebres da Europa…
E, enfim, o nosso século parecia-me tão florescente e fértil de bons espíritos quanto qualquer um dos precedentes. Por isso, tomei a liberdade de tomar o meu juízo como universal, concluindo que não há nenhuma doutrina no mundo que fosse como até então me fizeram crer.

A resposta de Descartes a esta situação foi procurar os fundamentos sobre os quais a verdade podia ser assegurada. Por isso, nas suas Meditações Sobre Filosofia Primeira, ele faz uso de um método de dúvida radical, cujo fim é o de estabelecer pelo menos alguma crença que possa então servir como alicerce para o conhecimento. A dúvida radical significa apenas isso. Como diz Descartes, 'A mais pequena dúvida será suficiente para me fazer rejeitar qualquer das minhas crenças.'
O argumento de Descartes é um dos mais famosos na história da filosofia. Ele mostra que nos podemos enganar acerca de certos dados dos sentidos; que é possível colocar toda a nossa experiência dos sentidos sob dúvida - podemos, por exemplo, estar a sonhar sem o saber; e, de modo mais radical, que é possível que nada exista para além das nossas experiências sensíveis - podemos ter sido iludidos por um demónio maligno.
Contudo, este processo também mostra que há uma crença renitente. Por mais que apliquemos o método da dúvida, não é possível duvidar de que existimos. O próprio facto de se duvidar significa que tem de haver um 'Eu' que está a duvidar. É isto o famoso cogito de Descartes:

Mas persuadi-me de que não havia nada no mundo, nenhum céu, nenhuma terra, nenhuns espíritos, nenhuns corpos. E não me persuadi também de que eu próprio não existia? Pelo contrário, se me persuadi de alguma coisa, eu existia com certeza. […] De maneira que, depois de ter-se pesado e repesado muito bem tudo isto, deve por último concluir-se que esta proposição Eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira sempre que proferida por mim ou concebida pelo espírito.

Descartes, porém, tem agora um problema. Tendo estabelecido a existência de uma entidade pensante (se realmente foi estabelecida), como recupera o resto do mundo? A resposta, de modo breve, é que não é capaz de o fazer; pelo menos, de modo a satisfazer um filósofo dos nossos tempos. A sua tentativa envolve o emprego de uma versão do argumento ontológico com o objectivo de provar a existência de Deus, argumentando depois que, como Deus não é enganador, não somos sistematicamente enganados sobre as coisas que percebemos claramente. É razoável assim retomar algumas das nossas crenças acerca do mundo exterior.

Ophelia Benson & Jeremy Stangroom, Why Truth Matters (London, 2006, pps. 26-27). Tradução Carlos Marques.