sábado, 24 de outubro de 2020

Ficha de atividades: Parque dos poetas

Entre poetas e filósofos. Quem o diz melhor? Quem toca no amago das coisas e as faz vibrar com nova luz? Quem nos inspira a ser mais alto e mais inteiro? Quem nos permite voar sem asas, visitar outros mundos e perceber melhor o mundo onde vivemos? Quem nos faz sentir grandes e pequenos? Quem nos leva pelo amor até à admiração? Quem nos surpreende, quem nos faz descobrir reinos desconhecidos?

 

A obra é a que está referenciada na Logosfera, (o primeiro link) os poemas e os poetas são aqueles que figuram no Parque dos Poetas. Podem procurar todo o poema ou outros dos mesmos poetas, mas têm que sinalizar dois poemas do parque.

TURMA 11ºA – Grupo________________________________________________________________________________________________________________________

 

1. Das palavras aos conceitos. Poetas do parque versus Discurso do Método de René Descartes

 

Poeta

Trecho do poema

Palavras

Conceitos (ideias)

Trecho de Filosofia (capítulo e página)

Palavras

Conceitos (ideias)

Exemplo:

Fernando Pessoa

 

 

“Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”.

 

In “Tabacaria”

Metafísica

Refere-se a algo espiritual, a um sentido último das coisas que não existe, só existe o prazer imediato.

“Se este discurso parecer demasiado longo para ser lido de uma só vez, poder-se-á dividi-lo em seis partes. E, na primeira, encontrar-se-ão diversas considerações relativas às ciências. Na segunda, as principais regras do método que o Autor buscou. Na terceira, algumas das regras da Moral que tirou desse método. Na quarta, as razões pelas quais prova a existência de Deus e da alma humana, que são os fundamentos de sua metafísica”.

 

In “Advertência”

 

Metafísica

Refere-se a um conhecimento que se fundamenta na existência da alma e em Deus

Poeta

Trecho do poema

Palavras

Conceitos

Trecho da Filosofia

Palavras

Conceitos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Poeta

Trecho do poema

Palavras

Conceitos

Trecho da Filosofia

Palavras

Conceitos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2. Sem ordem temos conhecimento, ponha-se a ordem que confere o sentido.

Poema trocado

Poema ordenado

Filosofia trocada

Filosofia ordenada

nesta insignificância, gratuita e desvalida,

ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo

 Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida

 

 

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo

 

 

 

 

 

 

 

 

O que me deu muito mais resultado, parece-me, do que se jamais tivesse me

afastado de meu país e de meus livros. e em

procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a resolução de estudar também a mim

próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que devia

seguir. 

Mas, depois que empreguei alguns anos em estudar assim no livro do mundo,

 

 

 

 

Mas, depois que empreguei alguns anos em estudar assim no livro do mundo, e em

procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a resolução de estudar também a mim

próprio e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que devia

seguir.  O que me deu muito mais resultado, parece-me, do que se jamais tivesse me

afastado de meu país e de meus livros.

Poeta:

Poema

Onde?

 

 

Qual a linha mais forte, a que une os dois textos ou a que os separa?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

4. Descartes fazia um exercício do qual se gabava muito; a partir de um título de uma obra inferia o conteúdo geral da obra. Escolha 1 título de um poema e um título de um dos capítulos do Discurso (Nas advertências Descartes dá títulos sumários aos capítulos) e tente o mesmo exercício:

Título do poema:

Título do capítulo:

 

 

 

 

5. Para investigar…Escolho um poema que se relaciona com a obra filosófica que estudo.

Poeta. Título. Poema .Explico porquê.

 

 

 

6. Última parte para realizar em casa: Construir um diálogo entre Descartes e um dos poetas escolhidos. Com acesso a outros poemas. (Para juntar em folha anexa e representar)

 

Título:

Poeta escolhido:

Poemas de inspiração:

Tema principal do diálogo:

 

 

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Texto para resumo Maria Inês (11A) e Nuno Barbosa(11B)

 


" O ponto de vista dominante da filosofia ocidental nos últimos trezentos anos tem sido o que derivou do filósofo francês René Descartes, um dos filósofos mais influentes de todos os tempos. O seu método consiste em olhar para um problema questionando o modo como um indivíduo adquire conhecimento. […]
O trabalho mais conhecido de Descartes, o Discurso do Método – o seu título completo é Discurso do Método Para Conduzir Adequadamente a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências – está escrito num estilo atraente e claro. Pode parecer que aquilo que ele escreveu é mais simples e mais óbvio do que é na realidade, por isso temos de considerar aquilo que ele escreveu de modo cuidadoso. Eis uma passagem da quarta parte do Discurso do Método, publicado em 1637, na qual ele define de modo muito claro a sua perspectiva acerca da natureza do seu próprio eu (self):

“Então, examinando atentamente aquilo que eu era e vendo que poderia presumir que não possuía corpo e que não havia mundo nem nenhum local onde eu estivesse, mas não poderia fingir que eu não existia; e que, pelo contrário, pelo facto de estar a duvidar da verdade de outras coisas, seguia-se com bastante evidência e certeza que eu existia; ao passo que se eu tivesse parado de pensar, embora tudo o que eu sempre pensei ser verdadeiro o fosse, eu não tinha razão para acreditar que eu existia; eu soube a partir disto que eu era uma substância cuja essência ou natureza era apenas o pensamento….”

Esta passagem contém praticamente todos os componentes centrais da filosofia da mente de Descartes.Em primeiro lugar, Descartes é um dualista. Isto significa acreditar que a mente e o corpo são duas espécies de coisas bastante distintas, dois tipos do que ele chama “substância”.Em segundo lugar, aquilo que ele pensa que tu és, o teu eu, é a mente. Dado que tu és uma mente, e as mentes são totalmente independentes do corpo, tu podes mesmo assim existir, sem um corpo.Em terceiro lugar, a tua mente e os teus pensamentos são aquilo que tu conheces melhor. Para Descartes é possível, pelo menos em princípio, existir uma mente sem um corpo, sendo incapaz, por mais que tente, de se aperceber de outras coisas, incluindo outras mentes. Descartes sabia, como é óbvio, que o modo como tomamos conhecimento daquilo que se passa na mente de outras pessoas é pela observação da fala e das acções de “outros corpos”. Mas para ele havia duas possibilidades sérias capazes de pôr em causa a nossa crença na existência de outras mentes. Uma é que os outros corpos podem ser apenas fingimentos da nossa imaginação. A outra é que, mesmo que os corpos e as outras coisas materiais existam, as provas que normalmente pensamos que justificam a nossa crença que os outros corpos são habitados por mentes pode ter sido produzida por autómatos, por máquinas sem mentes.Em quarto lugar, a essência da mente é ter pensamentos, e por “pensamentos” Descartes significa algo de que te apercebes na tua mente quando estás consciente"

 Kwame Anthony Appiah,Thinking it Through: An introduction to contemporary philosophy, Oxford University Press

sábado, 17 de outubro de 2020

Texto para resumo Manuel Francisco e Matilde Esteves

 


Será o conhecimento certo ou não? Será que podemos ter a certeza absoluta de algo? De facto o ser humano tem fome de certeza em muitas das situações do dia a dia. Certeza do passado, do presente e até do futuro. René Descartes e David Hume dividiram-se ao tentar dar uma resposta para esta questão.

 Descartes, tomou a posição de que o conhecimento é uma certeza indubitável.

 Tal decorre do enquadramento histórico, do fim do século XVI e início do século XVII marcado pelo Renascimento, baseado na valorização do papel do Homem no Mundo, que desenvolve a paixão pela descoberta, visto dar conta que existem várias ideias para além das que vinha aceitando como certas. Decorre também de uma das suas maiores paixões: a matemática. Para ele, a probabilidade epistemológica é uma probabilidade irrefutável tal como é a probabilidade matemática de “atirar dois dados e sair um duplo 6 ser de uma para 36” tal como explicou Bertrand Russel (1872-1970).

 Para atingir o conhecimento, Descartes desenvolveu o seu próprio método baseado sobretudo na dúvida, base do ceticismo.

 No entanto, vemos que a dúvida em Descartes, é metódica, ou seja, é um caminho, e coloca-se sempre no início de um processo epistemológico de reflexão e nunca num fim. No Discurso, afirma que para se chegar ao conhecimento é necessário que se negue “como absolutamente falso” tudo aquilo em possamos imaginar a menor dúvida desde a existência de um mundo ou de dois mais três serem cinco. A partir daí, ou seja, começando pelos pensamentos mais simples e mais fáceis de conhecer, deve-se ascender a pouco e pouco, até aos pensamentos mais complexos, numa ordem de dificuldade crescente.

É através deste método que Descartes chega às suas três conclusões mais importantes: a existência do ser humano (através da famosa frase “Penso, logo existo”), a existência de Deus (desenvolvida em três provas) e o conhecimento do mundo.

Descartes, dá também grande importância à dimensão metafísica do Homem, que no seu entender sustenta toda a ciência. A razão não opera com base nos sentidos, que na opinião do filósofo francês, apenas conduzem a erros e confusões permanentes mas em operações fundamentais do espírito que conduzem à verdade e à certeza. São elas, a intuição e a dedução:

Segundo Descartes, a intuição é então o ato puro e mecanizado no Homem através do qual o Homem aprende noções imediatas das quais não tem a mínima dúvida.

Já a dedução é o encadeamento das intuições que o Homem relaciona e assim consegue chegar a novas relações e a novas conclusões, devido ao que já conhecia de trás.

Diz Descartes, Nas Meditações Sobre a Primeira Filosofia, que a filosofia e a procura do conhecimento se devem basear no exame exaustivo de todos os elementos existentes, com o objetivo de se conseguirem atingir dados claros e objetivos chegando-se então ao saber absoluto.Se tal for feito de acordo com os princípios lógicos, o conhecimento verdadeiro e universal é possível sem qualquer sombra de dúvida! 

in Trabalhos de Filosofia

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

CORRECÇÃO DA FICHA 3 SOBRE O CONHECIMENTO

1. Segundo a teoria tripartida para definir o conhecimento há três condições que têm de ser satisfeitas, são elas:

a. S acredita que P – S tem uma crença


b. P é verdadeira – Esta crença é verdadeira


c. P tem de estar justificada.


2. Explique porque é que cada uma delas é necessária para o conhecimento.

Porque seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto saber P, implica uma crença, S acredita em P. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo, por outro lado, se esta crença em P não tem qualquer justificação, boas razões para acreditar que p é verdadeira, então também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso.

3. Explique porque cada uma das condições por si não é suficiente para o conhecimento.

Nem todas as crenças são conhecimento, logo, não basta ter uma crença qualquer como por exemplo “Acredito que existem Extra-terrestres”, mas não posso saber se essa crença é verdadeira. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque é por mero acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana.


4. Esta teoria tripartida tem objecções? Sim De que modo são colocadas as objecções? Através de exemplos que contrariam a definição. Casos concretos de Sujeitos com uma crença verdadeira e justificada mas que não podemos afirmar que tenham conhecimento.


O que pretendem demonstrar? Que podemos ter satisfeitas as três condições exigidas para ter conhecimento e mesmo assim não o ter, o que demonstra que a teoria tripartida está incompleta e necessitaria de outra condição (4ª) para poder ser válida para todos os casos, só que essa quarta condição (a relação de causalidade entre a justificação e a crença) também sofrer objecções.






5. “O relógio da igreja da tua terra é bastante fiável e costumas confiar nele para saber as horas. Esta manhã, quando vinhas para a escola, olhaste para o relógio e viste que ele marcava exactamente 8h e 20m. Por isso, formaste a crença de que eram 8h e 20m. O facto do relógio ter sido fiável no passado justifica a tua crença. Contudo, sem que o soubesses, o relógio tinha avariado no dia anterior exactamente quando marcava 8h e 20m.

O que prova este exemplo? Prova que apesar de ter justificação para pensar que são oito e vinte devido ao relógio, sempre anteriormente fiável, apesar deste facto ser verdadeiro, isto é, serem mesmo oito e vinte, há um saber que resulta de um acaso, o relógio ter parado exactamente na hora em que posteriormente o consultei. Como o conhecimento não pode ser por acaso, então não há conhecimento, apesar das condições necessárias estarem satisfeitas.

6. Todas as justificações são igualmente fiáveis?

Não, podemos ter justificações que julgamos fiáveis mas que não são, devido ao nosso estado cognitivo não permitir encontrar melhores justificações.


7. Poderemos ter uma boa justificação para uma crença falsa e não sabemos que a crença é falsa?

Dê um exemplo:

Durante anos acreditou-se que a lobotomia era a cura para as doenças mentais. Havia estudos que o legitimavam. Hoje essa prática foi desconsiderada por novos conhecimentos que provaram que a teoria que a explicava era falsa.


8. O contrário também se verifica? Poderemos não ter razões para acreditar numa crença verdadeira? Como? Por exemplo: Sim, a crença no universo infinito foi defendida por Giordano Bruno mas ninguém lhe deu razão, pois as investigações não eram ainda possíveis devido a não haver instrumentos adequados.


9. O conhecimento “a priori “ é independente da experiência para ser verdadeiro.


enquanto o conhecimento “ a posteriori” depende da experiência para ser demonstrado como verdadeiro.


10. Dê um exemplo de cada um: A priori: O casado não é solteiro , “a posteriori” “ A ponte 25 de Abril situa-se em Lisboa”

domingo, 4 de outubro de 2020

Leitura obrigatória de uma obra de filosofia

" O Discurso do Método" de René Descartes para ler integralmente, com exceção do capítulo 5

  lido online

O Discurso do Método

O Discurso do Método

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Texto Teeteto -representação de um diálogo Socrático, discussão sobre o que é conhecer algo

Parte 1

Teeteto — Realmente, Sócrates, exortando-me como o fazes, fora vergonhoso não esforçar-

me para dizer com franqueza o que penso. Parece-me, pois, que quem sabe alguma coisa

sente o que sabe. Assim, o que se me afigura neste momento é que conhecimento não é

mais do que sensação.

Sócrates — Bela e corajosa resposta, menino. É assim que devemos externar o pensamento.

Porém examinemos juntos se se trata, realmente, de um feto viável ou de simples aparência.

Conhecimento, disseste, é sensação?

Teeteto — Sim.

Sócrates — Talvez tua definição de conhecimento tenha algum valor; é a definição de

Protágoras; por outras palavras ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o homem é a medida

de todas as coisas, da existência das que existem e da não existência das que não existem.

Decerto já leste isso?

Teeteto — Sim, mais de uma vez.

Sócrates — Não quererá ele, então, dizer que as coisas são para mim conforme me

aparecem, como serão para ti segundo te aparecerem? Pois eu e tu somos homens.

Teeteto — É isso, precisamente, o que ele diz

Sócrates — Ora, é de presumir que um sábio não fale aereamente. Acompanhemo-lo, pois.

Por vezes não acontece, sob a ação do mesmo vento, um de nós sentir frio e o outro não?

Um ao de leve, e o outro intensamente?

Teeteto — Exato.

Sócrates — Nesse caso, como diremos que seja o vento em si mesmo: frio ou não frio? Ou

teremos de admitir com Protágoras que ele é frio para o que sentiu arrepios e não o é para o

outro?

Teeteto — Parece que sim.

Sócrates — Não é dessa maneira que ele aparece a um e a outro?

Teeteto — É.

Sócrates — Ora, este aparecer não é o mesmo que ser percebido?

Teeteto — Perfeitamente.

Sócrates — Logo, aparência e sensação se equivalem com relação ao calor e às coisas do

mesmo gênero; tal como cada um as sente, é como elas talvez sejam para essa pessoa.

Teeteto — Talvez.

Sócrates — A sensação é sempre sensação do que existe, não podendo, pois, ser ilusória,

visto ser conhecimento.

Teeteto — Parece que sim.

Sócrates — Então, em nome das Graças, não teria Protágoras, esse poço de sabedoria,

falado por enigmas para a multidão sem número, na qual nos incluímos, porém dito em

segredo a verdade para seus discípulos?

Teeteto — Que queres dizer com isso, Sócrates?

Sócrates — Vou explicar-me, e não será argumento sem valor, a saber: que nenhuma coisa

é una em si mesma e que não há o que possas denominar com acerto ou dizer como é

constituída. Se a qualificares como grande, ela parecerá também pequena; se pesada, leve, e

assim em tudo o mais, de forma que nada é uno, ou algo determinado ou como quer que

seja

(…)Sócrates — Se é assim, meu filho, que novo argumento poderá aduzir quem diz que a

sensação é conhecimento e que o que parece a cada um de nós é para todos precisamente

como parece ser?

Teeteto — Sinto-me acanhado, Sócrates, de declarar que não sei como responder, pois há

pouco me repreendeste por eu ter dito isso mesmo. Mas, para dizer a verdade, não poderei

contestar que os loucos e os sonhadores não formam, de fato, opiniões falsas, como no caso

de se imaginarem deuses os primeiros, ou de pensarem os outros, durante o sonho, que têm

asas e que podem voar .

Sócrates — E não te ocorre, também, outra objeção no que respeita ao sono e à vigília?

Teeteto — Qual?

Sócrates — A que, a meu ver, já deves ter ouvido com freqüência, sobre o argumento

decisivo que poderias apresentar a quem perguntasse de improviso se neste momento não

estamos dormindo e se não é sonho tudo o que pensamos, ou se estamos realmente

acordados e entretidos a conversar?

Teeteto — Em verdade, Sócrates, sinto-me indeciso na escolha do argumento, pois em

ambos os estados tudo se passa exatamente do mesmo modo. Nada impede de admitir que o

que acabamos de conversar tivesse sido dito em sonhos; e quando imaginamos em sonhos

contar que sonhamos, é admirável a semelhança com o que se passa no estado de vigília

(…)

Como diremos, Teodoro? Se a verdade para cada indivíduo é o que ele alcança pela

sensação; se as impressões de alguém não encontram melhor juiz senão ele mesmo, e se

ninguém tem autoridade para dizer se as opiniões de outra pessoa são verdadeiras ou falsas,

formando, ao revés disso, cada um de nós, sozinho, suas opiniões, que em todos os casos

serão justas e verdadeiras: de que jeito, amigo, Protágoras terá sido sábio, a ponto de passar

por digno de ensinar os outros e de receber salários astronômicos, e por que razão teremos

nós de ser ignorantes e de frequentar suas aulas, se cada um for a medida de sua própria

sabedoria? Não nos assiste o direito de afirmar que tudo isso na boca de Protágoras não

passava de frase para armar o efeito? No que me diz respeito e à minha arte de parteiro,

nem me refiro ao ridículo que provocamos, o que, aliás, se poderia tornar extensivo a toda a

arte da conversação. Pois analisar e procurar refutar as fantasias e opiniões de outras

pessoas, dado que todas sejam certas para cada um de nós, não será o cúmulo da sensaboria

e da tolice, se A Verdade de Protágoras for realmente verdadeira e se ele não estava

pilheriando, quando doutrinava dos penetrais sagrados do seu livro?

 

Parte 2

Teeteto — Realmente, Sócrates, exortando-me como o fazes, fora vergonhoso não esforçar-

me para dizer com franqueza o que penso. Parece-me, pois, que quem sabe alguma coisa

sente o que sabe. Assim, o que se me afigura neste momento é que conhecimento não é

mais do que sensação.

Sócrates — Bela e corajosa resposta, menino. Conhecimento, disseste, é sensação?

Teeteto — Sim.

Sócrates — Talvez a tua definição de conhecimento tenha algum valor; é a definição de

Protágoras; por outras palavras ele dizia a mesma coisa. Afirmava que o homem é a medida

de todas as coisas, da existência das que existem e da não existência das que não existem.

Decerto já leste isso?

Teeteto — Sim, mais de uma vez.

Sócrates — Não quererá ele, então, dizer que as coisas são para mim conforme me

aparecem, como serão para ti segundo te aparecerem? Pois eu e tu somos homens.

Teeteto — É isso, precisamente, o que ele diz

Sócrates — Ora, é de presumir que um sábio não fale aereamente. Acompanhemo-lo, pois.

Por vezes não acontece, sob a ação do mesmo vento, um de nós sentir frio e o outro não?

Um ao de leve, e o outro intensamente?

Teeteto — Exato.

Sócrates — Nesse caso, como diremos que seja o vento em si mesmo: frio ou não frio? Ou

teremos de admitir com Protágoras que ele é frio para o que sentiu arrepios e não o é para o

outro?

Teeteto — Parece que sim.

Sócrates — Não é dessa maneira que ele aparece a um e a outro?

Teeteto — É.

Sócrates — Ora, este aparecer não é o mesmo que ser percebido?

Teeteto — Perfeitamente.

Sócrates — Logo, aparência e sensação se equivalem com relação ao calor e às coisas do

mesmo gênero; tal como cada um as sente, é como elas talvez sejam para essa pessoa.

Teeteto — Talvez.

Sócrates — A sensação é sempre sensação do que existe, não podendo, pois, ser ilusória,

visto ser conhecimento.

Teeteto — Parece que sim.

Sócrates — Então, em nome das Graças, não teria Protágoras, esse poço de sabedoria,

falado por enigmas para a multidão sem número, na qual nos incluímos, porém dito em

segredo a verdade para seus discípulos?

Teeteto — Que queres dizer com isso, Sócrates?

Sócrates — Vou explicar-me, e não será argumento sem valor, a saber: que nenhuma coisa

é una em si mesma e que não há o que possas denominar com acerto ou dizer como é

constituída. Se a qualificares como grande, ela parecerá também pequena; se pesada, leve, e

assim em tudo o mais, de forma que nada é uno, ou algo determinado ou como quer que

seja

(…)Sócrates — Se é assim, meu filho, que novo argumento poderá aduzir quem diz que a

sensação é conhecimento e que o que parece a cada um de nós é para todos precisamente

como parece ser?

Teeteto — Sinto-me acanhado, Sócrates, de declarar que não sei como responder, pois há

pouco me repreendeste por eu ter dito isso mesmo. Mas, para dizer a verdade, não poderei

contestar que os loucos e os sonhadores não formam, de fato, opiniões falsas, como no caso

de se imaginarem deuses os primeiros, ou de pensarem os outros, durante o sonho, que têm

asas e que podem voar .

Sócrates — E não te ocorre, também, outra objeção no que respeita ao sono e à vigília?

Teeteto — Qual?

Sócrates — A que, a meu ver, já deves ter ouvido com freqüência, sobre o argumento

decisivo que poderias apresentar a quem perguntasse de improviso se neste momento não

estamos dormindo e se não é sonho tudo o que pensamos, ou se estamos realmente

acordados e entretidos a conversar?

Teeteto — Em verdade, Sócrates, sinto-me indeciso na escolha do argumento, pois em

ambos os estados tudo se passa exatamente do mesmo modo. Nada impede de admitir que o

que acabamos de conversar tivesse sido dito em sonhos; e quando imaginamos em sonhos

contar que sonhamos, é admirável a semelhança com o que se passa no estado de vigília

(…)

Como diremos, Teodoro? Se a verdade para cada indivíduo é o que ele alcança pela

sensação; se as impressões de alguém não encontram melhor juiz senão ele mesmo, e se

ninguém tem autoridade para dizer se as opiniões de outra pessoa são verdadeiras ou falsas,

formando, ao revés disso, cada um de nós, sozinho, suas opiniões, que em todos os casos

serão justas e verdadeiras: de que jeito, amigo, Protágoras terá sido sábio, a ponto de passar

por digno de ensinar os outros e de receber salários astronômicos, e por que razão teremos

nós de ser ignorantes e de frequentar suas aulas, se cada um for a medida de sua própria

sabedoria? Não nos assiste o direito de afirmar que tudo isso na boca de Protágoras não

passava de frase para armar o efeito? No que me diz respeito e à minha arte de parteiro,

nem me refiro ao ridículo que provocamos, o que, aliás, se poderia tornar extensivo a toda a

arte da conversação. Pois analisar e procurar refutar as fantasias e opiniões de outras

pessoas, dado que todas sejam certas para cada um de nós, não será o cúmulo da sensaboria

e da tolice, se A Verdade de Protágoras for realmente verdadeira e se ele não estava

pilheriando, quando doutrinava dos penetrais sagrados do seu livro?

Platão, Teeteto