sábado, 21 de dezembro de 2019

Trabalho para realizar


Trabalho de revisão dos conteúdos lecionados. O empirismo de Hume e o racionalismo de Descartes. Duas teorias sobre a origem e possibilidade do conhecimento.(30/40m) (Cotações -5x40 Pontos)

Quando por conseguinte temos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem nenhum significado ou ideia (como é muito frequente), basta-nos perguntar sobre a impressão de que a ideia supostamente deriva. E se for impossível encontrar alguma, isto servirá para confirmar a nossa suspeita. Ao clarificar assim as ideias, podemos razoavelmente esperar que possam ser removidos todos os conflitos que possam surgir sobre a sua natureza e realidade.(Hume)

As consequências destas linhas são estonteantes.
 Consideremos a ideia de um eu durável, algo de substancial que persiste por detrás das muitas mudanças que experimentamos ao vivermos a vida. Suponho, por exemplo, que esta manhã sou essencialmente o mesmo eu que era quando me fui deitar a noite passada. Não só isso, acho também que sou o mesmo eu que era na juventude que desaproveitei. Acho que serei o mesmo eu enquanto viver. Sem dúvida, algumas coisas mudaram: cresci, ganhei algumas cicatrizes, o meu cabelo está a tornar-se um pouco grisalho. Contudo, parece haver algo de essencial, o meu verdadeiro eu, que persiste em todas estas alterações acidentais.
 Se concordarmos com o princípio de Hume sobre a relação entre ideias e impressões, e se estivermos convencidos de que o seu método de remover ideias fictícias é o caminho certo, temos apenas que perguntar: «De que impressão é a minha ideia derivada?» Ao olhar para dentro de mim, afirma Hume, não encontro nada, exceto uma série de impressões fugazes – ódio, amor, calor, dor, imagens, sons, cheiros e coisas do género –, mas nada permanente, nada que persista em todas as alterações. Em suma, nenhuma impressão corresponde à nossa ideia de eu.
James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books

1.Aponte a conclusão e o problema/s e os argumento/s  apresentados no texto.
2. Avalie criticamente esta ideia expressa no texto. Concorda? Apresente razões a favor ou contra.
3. Este conhecimento que tenho de que todos os corpos caem. Que tipo de conhecimento é? Como foi obtido segundo a proposta de Hume?
4. Avalie criticamente a proposta de Hume.
5. Relacione em três tópicos a proposta de Descartes e Hume a propósito da origem e limites do conhecimento.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

David Hume - Texto completo de onde foi extraído o excero para o trabalho anterior


DAVID HUME: unicórnios, eus e homens não casados
Hume começa, tal como Locke, por considerar os conteúdos da mente, os objectos do entendimento humano ou – nas suas palavras – as percepções da mente ou materiais do pensamento. Hume divide estes conteúdos em impressões e ideias. Há uma clara distinção, já notada por Locke, entre sentir realmente dor, calor, raiva, ver uma paisagem, ouvir uma sirene ou desejar uma bebida fresca e recordar mais tarde ou imaginar estas experiências. Hume usa o termo «impressões» para indicar «as nossas percepções mais vívidas, quando ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos». As ideias têm menos força, são cópias fracas das impressões, trazidas à mente pela memória ou pela imaginação.


Qual, para Hume, é a relação entre ideias e impressões? Hume afirma que «todas as nossas ideias ou percepções mais débeis são cópias das nossas impressões ou percepções mais “vívidas”». Por outras palavras, as ideias derivam apenas da experiência. É claro que Hume sabe que algumas ideias – por exemplo, a minha ideia de unicórnio – não correspondem exactamente a uma impressão particular. Mas as partes que compõem a minha ideia de um unicórnio – ideias de cavalos e de chifres – são cópias de coisas que já vi no mundo. Limitei-me a combinar ideias derivadas da experiência de uma maneira nova. A ideia de Hume é que apesar de a mente parecer porventura quase ilimitada na sua capacidade de imaginar e pensar abstractamente, a matéria bruta sobre a qual ela opera é sempre extraída de impressões.


É este o cerne do empirismo, e Hume oferece alguns argumentos em sua defesa. Sugere que pensemos nas nossas próprias ideias e que tentemos apontar uma que não dependa de uma impressão original. Ataca também directamente a ideia favorita dos racionalistas – a ideia de Deus –, e mostra que podemos adquiri-la pensando nas qualidades das nossas mentes exagerando depois tanto quanto quisermos o que há nelas de bom e de sábio. Finalmente, considera os indivíduos que têm falta de uma aptidão sensorial – os cegos, por exemplo – e nota que estes não têm nenhuma ideia de cor. A explicação, argumenta, é que as ideias são cópias das impressões, e que quem nunca teve impressões relevantes não pode ter as ideias correspondentes.


Há certos factos sobre impressões e ideias que nas mãos de Hume têm consequências filosóficas de longo alcance. Comparadas com as impressões, as ideias são naturalmente fracas e obscuras e é fácil cometer dois tipos de erros quando pensamos sobre elas. Em primeiro lugar, podemos confundir uma ideia com outra, podemos pensar que se justifica tirar uma certa conclusão acerca de uma ideia quando o que realmente acontece é que estamos a pensar numa ideia semelhante, mas diferente. Em segundo lugar, e pior, usamos palavras para representar ideias, e o nosso discurso pode desenrolar-se alegremente mesmo que as partes relevantes da nossa linguagem não tenham correspondência com alguma ideia fixa ou determinada. Numa disputa filosófica, quando não estamos a falar em cavalos e de chifres, mas em ideias muito complexas e abstractas, é fácil termos uma conversa em que são usadas as mesmas palavras para mencionar coisas diferentes. Podemos até discutir sobre nada. A nossa disputa poderá ser sobre ideias ilusórias, meros fantasmas sem base na experiência – o equivalente filosófico dos unicórnios.


Estas reflexões fornecem um procedimento que nos permite remover as ideias fictícias e encontrar saídas para as disputas filosóficas, e mesmo para acabar com elas. Hume escreve:


Quando por conseguinte temos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem nenhum significado ou ideia (como é muito frequente), basta-nos perguntar sobre a impressão de que a ideia supostamente deriva. E se for impossível encontrar alguma, isto servirá para confirmar a nossa suspeita. Ao clarificar assim as ideias, podemos razoavelmente esperar que possam ser removidos todos os conflitos que possam surgir sobre a sua natureza e realidade.


As consequências destas linhas são estonteantes.


Consideremos a ideia de um eu durável, algo de substancial que persiste por detrás das muitas mudanças que experimentamos ao vivermos a vida. Suponho, por exemplo, que esta manhã sou essencialmente o mesmo eu que era quando me fui deitar a noite passada. Não só isso, acho também que sou o mesmo eu que era na juventude que desaproveitei. Acho que serei o mesmo eu enquanto viver. Sem dúvida, algumas coisas mudaram: cresci, ganhei algumas cicatrizes, o meu cabelo está a tornar-se um pouco grisalho. Contudo, parece haver algo de essencial, o meu verdadeiro eu, que persiste em todas estas alterações acidentais.


Se concordarmos com o princípio de Hume sobre a relação entre ideias e impressões, e se estivermos convencidos de que o seu método de remover ideias fictícias é o caminho certo, temos apenas que perguntar: «De que impressão é a minha ideia derivada?» Ao olhar para dentro de mim, afirma Hume, não encontro nada, excepto uma série de impressões fugazes – ódio, amor, calor, dor, imagens, sons, cheiros e coisas do género –, mas nada permanente, nada que persista em todas as alterações. Em suma, nenhuma impressão corresponde à nossa ideia de eu. A ideia presente na palavra «eu» pode juntar-se a «unicórnio»: «eu» é uma palavra que expressa uma ideia ilusória, uma ficção da imaginação.


Mas as coisas tornam-se muito piores. A abordagem que Hume faz da natureza do entendimento humano começa com uma distinção entre dois tipos de «objectos da razão humana»: relações de ideias e matérias de facto. As relações de ideias podem ser descobertas apenas pela razão. Podemos saber que os solteiros são homens não casados ou que duas vezes cinco é metade de vinte pensando apenas sobre as relações entre as ideias em causa. As matérias de facto, porém, podem apenas ser descobertas pela experiência. Podemos meditar o tempo que quisermos sobre a proposição de que o sol está a brilhar, mas só saberemos se ela é verdadeira olhando pela janela. Há outra diferença entre estes dois tipos de proposição. O contrário de uma matéria de facto é possível, mas se negarmos uma relação entre ideias verdadeira, incorremos numa contradição. O sol pode não ser brilhante, mas não se pode estar mais longe da verdade do que quando alegamos que os solteiros são casados.


James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books (London, 2006, págs. 66-68). Trad. Maria Miguel Pires (rev. científica Logosferas).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Relatório Inês Rodrigues 11B




Será o conhecimento certo ou não? Será que podemos ter a certeza absoluta de algo? De facto o ser humano tem fome de certeza em muitas das situações do dia a dia. Certeza do passado, do presente e até do futuro. René Descartes e David Hume dividiram-se ao tentar dar uma resposta para esta questão.

Descartes, tomou a posição de que o conhecimento é uma certeza indubitável.

Tal decorre do enquadramento histórico, do fim do século XVI e início do século XVII marcado pelo Renascimento, baseado na valorização do papel do Homem no Mundo, que desenvolve a paixão pela descoberta, visto dar conta que existem várias ideias para além das que vinha aceitando como certas. Decorre também de uma das suas maiores paixões: a matemática. Para ele, a probabilidade epistemológica é uma probabilidade irrefutável tal como é a probabilidade matemática de “atirar dois dados e sair um duplo 6 ser de uma para 36” tal como explicou Bertrand Russel (1872-1970).

Para atingir o conhecimento, Descartes desenvolveu o seu próprio método baseado sobretudo na dúvida, base do cepticismo.

No entanto, vemos que a dúvida em Descartes, é metódica, ou seja, é um caminho, e coloca-se sempre no início de um processo epistemológico de reflexão e nunca num fim. No Discurso, afirma que para se chegar ao conhecimento é necessário que se negue “como absolutamente falso” tudo aquilo em possamos imaginar a menor dúvida desde a existência de um mundo ou de dois mais três serem cinco. A partir daí, ou seja, começando pelos pensamentos mais simples e mais fáceis de conhecer, deve-se ascender a pouco e pouco, até aos pensamentos mais complexos, numa ordem de dificuldade crescente.

É através deste método que Descartes chega às suas três conclusões mais importantes: a existência do ser humano (através da famosa frase “Penso, logo existo”), a existência de Deus (desenvolvida em três provas) e o conhecimento do mundo.

Descartes, dá também grande importância à dimensão metafísica do Homem, que no seu entender sustenta toda a ciência. A razão não opera com base nos sentidos, que na opinião do filósofo francês, apenas conduzem a erros e confusões permanentes mas em operações fundamentais do espírito que conduzem à verdade e à certeza. São elas, a intuição e a dedução:

Segundo Descartes, a intuição é então o acto puro e mecanizado no Homem através do qual o Homem aprende noções imediatas das quais não tem a mínima dúvida.

Já a dedução é o encadeamento das intuições que o Homem relaciona e assim consegue chegar a novas relações e a novas conclusões, devido ao que já conhecia de trás.

Diz Descartes, Nas Meditações Sobre a Primeira Filosofia, que a filosofia e a procura do conhecimento se devem basear no exame exaustivo de todos os elementos existentes, com o objectivo de se conseguirem atingir dados claros e objectivos chegando-se então ao saber absoluto.

Se tal for feito de acordo com os princípios lógicos, o conhecimento verdadeiro e universal é possível sem qualquer sombra de dúvida!

Já David Hume foi bastante crítico em relação a Descartes nesta questão e avançou com a sua própria tese sobre o assunto. Diz Bertrand Russel sobre o escocês:

"O que preocupa Hume é o conhecimento incerto, tal como o que é obtido de dados empíricos por inferências que não são demonstrativas. Isso inclui todo o nosso conhecimento a respeito do futuro, e a respeito de partes não observadas do passado e do presente. De facto, inclui tudo excepto, por um lado, observação directa, e, por outro, a lógica e a matemática."

Em primeiro lugar, David Hume separa conhecimento de relação de ideias e conhecimento de factos ou probabilidade. Se no conhecimento as “relações de ideias são dependentes das próprias ideias”, na probabilidade existem três relações: a identidade, as situações no tempo e lugar e a causalidade.

Assim, enquanto a negação do conhecimento de relação de ideias implica contradição, na probabilidade (conhecimento dos factos), a negação é igualmente uma probabilidade. Desse modo, as descobertas filosóficas devem ser caracterizadas pelo probabilismo, pois o Homem tem várias limitações temporais e perceptivas. Ou seja, todas as explicações devem ser vistas como tentativas destinadas a serem substituídas por outras, o que dá espaço à opinião e à controvérsia.

David Hume rejeita “todo o tipo de ilusões metafísicas”, toda a crença em milagres. Segundo ele, os milagres violam as leis da Natureza, que se baseiam na experiência.

No entanto, Hume, não é um céptico radical que negue totalmente a capacidade do sujeito para conhecer algo, o que acaba por ser uma contradição, pois ao afirmar a impossibilidade de alcançar o conhecimento, já está a concluir algo – conhecer que o conhecimento não é possível.

Hume nega a existência de princípios evidentes inatos em nós. Para ele, todo o conhecimento é como que uma cópia de algo, cujo objecto já tivemos acesso de alguma maneira.

Hume põe ainda o problema da causalidade em cima da mesa. Ele refuta o princípio da causalidade segundo o qual todas as acções têm uma relação causa efeito, submetendo-o a uma análise critica bastante rigorosa, baseando-se na sua teoria de conhecimento segundo a qual sem impressão sensível não há conhecimento, visto todas as ideias derivarem das sensações, à qual deve corresponder uma impressão.

A partir daí, ele negou que possamos fazer qualquer ideia de causalidade pois ela é apenas resultado do nosso hábito mental, visto que na Natureza nada nos mostra que sempre que acontece alguma coisa, tem que acontecer outra.

Só temos essa ideia porque nos habituamos a ver a sucessão de fenómenos um por um, o que nos induziu em erro.

Por exemplo, quando está vento e uma árvore abana dizemos que esta é uma relação causa efeito, quando nada nos prova que assim é. Apenas o dizemos porque nos habituamos a ver os dois fenómenos ocorrer muitas vezes simultaneamente. A experiência até nos pode dizer que o vento pôs os galhos da árvore em movimento, mas ela nunca nos diz nada sobre acontecimentos futuros, com os quais ainda não tivemos qualquer contacto: única fonte de conhecimento valida. Isto porque a inferência causais estão sempre sujeitas ao erro perante novos objectos, novos sujeitos e novas situações, que podem mudar as ideias que temos em nós. Desse modo, vemos que para Hume, o conhecimento só pode corresponder a acções passadas, ou quando muito actuais e nunca futuras. Para ele, “cada caso, é um caso” e nada nos diz o que vai acontecer amanhã.

(...)
David Hume também refuta a ideia de um conhecimento universal, claro e distinto. Visto que dentro das limitações o nosso conhecimento é sempre incompleto, a realidade reduz-se aos fenómenos aos quais os nossos sentidos têm acesso, sendo que cada um pode ter sensações diferentes nessa experiência, abrindo-se espaço à subjectividade.

Carlos Alberto Videira

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Texto para resumo Frederico 11B e Pedro Carvalho 11I

 

Berkeley defendera que as ideias não residem em coisa alguma fora da mente; por sua vez, Hume insiste em que também nada há na mente onde elas possam residir. Não há qualquer impressão do eu, e portanto nenhuma ideia do eu; há apenas feixes de impressões. Esta conclusão é o fim do caminho que se inicia com o pressuposto, comum a todos os empiristas, de que os pensamentos são imagens e de que a relação existente entre quem pensa e os seus pensamentos é a mesma que a relação existente entre um olhar interior e uma galeria de quadros interior. Da mesma maneira que não podemos ver os nossos próprios olhos, também não podemos percecionar o nosso eu. Mas é um erro considerar que a imaginação é um sentido interior. A conceção de imagens mentais não é um tipo peculiar de sensação, é uma sensação comum fantasiada. A noção de um sentido interior conduz à ideia de um eu que é o sujeito da sensação interior. Na tradição de Locke e de Berkeley, o eu é o olho da visão interior, o ouvido da audição interior; ou, antes, é o que possui tanto o olho como o ouvido interiores. Hume mostrou que este sujeito interior era ilusório, mas não denunciou o erro subjacente, que conduziu os empiristas a abraçar o mito do eu interior. O verdadeiro caminho de saída do impasse consiste em rejeitar a identificação entre pensamento e imagem, e aceitar que um sujeito que pensa não é um sujeito solitário de perceção interior, mas um ser humano corpóreo que vive num domínio público. Hume orgulhava-se de ter feito pela psicologia aquilo que Newton fizera pela física. Propôs uma teoria (vácua) da associação de ideias, como contraparte da teoria da gravitação. Mas seria injusto acusar Hume da esterilidade da sua psicologia filosófica; ele herdou dos seus precursores do século XVII uma filosofia da mente empobrecida, e um dos seus méritos foi ter retirado, com considerável candura, as conclusões absurdas implícitas nos pressupostos empiristas. Mas aquilo que o faz merecer o lugar fundamental que ocupa na história da filosofia é a sua explicação da causalidade.

Se procurarmos a origem da ideia de causa, diz Hume, descobriremos que ela não pode ser uma qualidade particular inerente aos objetos; porque objetos dos mais variados tipos podem ser causas e efeitos. O que temos de procurar são relações entre objetos. De facto, descobrimos que as causas e os efeitos têm de ser contíguos entre si, e que as causas têm de ser anteriores aos seus efeitos. Mas isto não é suficiente; achamos ainda que tem de haver uma conexão necessária entre causa e efeito, embora a natureza desta conexão seja difícil de estabelecer. Hume nega que tenha de haver uma causa para a existência de tudo aquilo que começa a existir. Sendo todas as ideias distintas separáveis umas das outras, e sendo as ideias de causa e efeito evidentemente distintas, é fácil concebermos um objeto como não existente neste momento, e existente no momento seguinte, sem lhe juntarmos a ideia distinta de uma causa ou de um princípio produtivo. É evidente que «causa» e «efeito» são termos correlativos, como o são «marido» e «mulher», e que todo o efeito tem de ter uma causa, da mesma maneira que todo o marido tem de ter uma mulher. Mas isto não prova que todos os acontecimentos tenham de ter uma causa, da mesma maneira que, do facto de todos os maridos terem de ter uma mulher, não se segue que todos os homens tenham de ter uma mulher. Tanto quanto sabemos, pode haver acontecimentos sem causas, tal como existem homens que não têm mulher. Se não há qualquer absurdo em conceber que algo venha à existência ou seja sujeito a alterações sem uma causa, não há, a fortiori, qualquer absurdo em conceber que um acontecimento ocorra sem um tipo particular de causa. Sendo logicamente concebível que muitos efeitos diferentes resultem de uma causa particular, só a experiência pode levar-nos a esperar o efeito real. Mas com base em quê?
Anthony Kenny, História concisa da Filosofia, lisboa, 1999, Temas e debates, p.334,335

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Texto para resumo António Ferro


David Hume e o problema da causalidade

Todos os raciocínios que se referem aos factos parecem fundar-se na relação de causa e efeito. Apenas por meio desta relação ultrapassamos os dados da nossa memória e dos nossos sentidos. Se tivésseis que perguntar a alguém por que acredita na realidade de um facto que não constata efectivamente, por exemplo, que o seu amigo está no campo ou em França, ele vos daria uma razão, e esta razão seria um outro facto: uma carta que recebeu ou o conhecimento das suas resoluções e promessas anteriores. Um homem, ao encontrar um relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta, concluiria que outrora havia homens na ilha. Todos os nossos raciocínios sobre os factos são da mesma natureza. E constantemente supõe-se que há uma conexão entre o facto presente e aquele que é inferido dele. Se não houvesse nada que os ligasse, a inferência seria inteiramente precária. A audição de uma voz articulada e de uma conversa racional na obscuridade dá-nos segurança sobre a presença de alguma pessoa. Porquê? Porque estes sons são os efeitos da constituição e da estrutura do homem e estão estreitamente ligados a ela. Se analisamos todos os outros raciocínios desta natureza, verificaremos que se fundam na relação de causa e efeito e que esta relação se acha próxima ou distante, directa ou colateral. O calor e a luz são os efeitos colaterais do fogo, e um dos efeitos pode ser inferido legitimamente do outro.



Portanto, se quisermos satisfazer-nos a respeito da natureza desta evidência que nos dá segurança acerca dos factos, deveremos investigar como chegamos ao conhecimento da causa e do efeito.


Ousarei afirmar, como proposição geral, que não admite excepção, que o conhecimento desta relação não se obtém, em nenhum caso, por raciocínios a priori, porém nasce inteiramente da experiência quando vemos que quaisquer objetos particulares estão constantemente conjugados entre si. Apresente-se um objecto a um homem dotado, por natureza, de razão e habilidades tão fortes quanto possível; se o objecto lhe é completamente novo, não será capaz, pelo exame mais minucioso de suas qualidades sensíveis, de descobrir nenhuma de suas causas ou dos seus efeitos. Mesmo supondo que as faculdades racionais de Adão fossem inteiramente perfeitas desde o primeiro momento, ele não poderia ter inferido da fluidez e da transparência da água que ela o afogaria, ou da luz e do calor do fogo, que este o consumiria. Nenhum objecto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, tanto as causas que o produziram como os efeitos que surgirão dele; nem pode a nossa razão, sem o auxílio da experiência, jamais tirar uma inferência acerca da existência real de um facto.


(...) Apresentai dois pedaços de mármore polido a um homem sem nenhum conhecimento de filosofia natural; ele jamais descobrirá que eles aderirão de tal maneira que se requer grande força para separá-los em linha recta, embora ofereçam menor resistência à pressão lateral. Considera-se também indiscutível que o conhecimento dos eventos que têm pouca analogia com o curso corrente da natureza se obtém por meio da experiência; assim, ninguém imagina que se teria descoberto a explosão da pólvora ou a atração da pedra-ímã por argumentos a priori. Da mesma maneira, quando se supõe que um efeito depende de um mecanismo complicado ou de elementos de estrutura desconhecida, não temos dificuldade em atribuir todo o nosso conhecimento à experiência. Quem será capaz de afirmar que pode dar a razão última por que o leite e o pão são alimentos apropriados ao homem e não a um leão ou a um tigre?

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Sessão IV

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Correção do teste Novembro 2019 -11B e 11I (1 e 2)

Pissarro, França, 1876

Correção 11B

Grupo II


1. No texto são referidos dois tipos de ideias sobre o Sol. A primeira que resulta da perceção sensível, apresenta-nos um Sol muito pequeno; a outra “retirada dos raciocínios da astronomia” mostra-nos um Sol maior que a Terra. Estas duas ideias não podem ser ambas verdadeiras pois se assim fosse o Sol seria pequeno e grande o que seria impossível visto que ele é um corpo e, como tal, tem uma configuração só, não dependendo do modo como o vemos, mas do modo como a razão nos pode demonstrar como tem que ser para ter os efeitos que tem, tal como vem demonstrado nos cálculos sobre o Sol da investigação astronómica. Descartes conclui assim, contra os empiristas, que a visão, e os sentidos em geral, não nos dão um verdadeiro conhecimento do que existe e levam-nos a enganos. Se considerarmos que a fonte do conhecimento para os empiristas são as impressões sensíveis, o argumento de Descartes contraria a fiabilidade deste tipo de conhecimento opondo-o ao rigor dos cálculos matemáticos.

2. A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se autojustificam,  isto é, não necessitam  de outras crenças para se justificarem . Contraria assim o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para criticar o conhecimento, alegando que nenhuma crença está justificada porque necessita sempre de outra que a justifique.
A dúvida metódica  consiste em examinar sistematicamente os fundamentos de todas as crenças e considerar falso tudo o que fosse apenas duvidoso. Assim, as etapas da dúvida metódica são: 1ª Duvidar dos sentidos; 2ª Duvidar da existência do mundo; 3º Duvidar das verdades da razão.
Argumento 1: Uma vez que os sentidos nos enganam algumas vezes, podemos duvidar do que vemos ou sentimos, logo, não podem ser os fundamentos inabaláveis do conhecimento.

Argumento 2 : A realidade que vemos depende do estado de vigília que julgamos ter, mas não poderemos pensar que se trata de um sonho? No sonho estamos perante factos e, no entanto eles não são reais, o mesmo pode acontecer com toda a realidade exterior, que poderemos estar a sonhar e, por isso não ser real.

Argumento 3: As verdades matemáticas são inabaláveis mas poderíamos supor a existência de um génio maligno que nos enganasse sempre que pensamos numa verdade matemática levando-nos a dar o consentimento a algo que é falso. Assim a certeza das verdades matemáticas também é colocada em questão.



3. Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo. As primeiras crenças básicas inferidas do Cogito são: A existência de Deus. Porque se duvido sou imperfeito, Qual a causa da ideia de perfeição? Não posso ser eu nem o mundo só pode ser Deus, logo Deus existe. A terceira crença básica é a distinção entre a alma e o corpo. Vejo claramente que a existência da alma é mais certa que a do corpo, pois poderia existir mesmo sem corpo algum, mas não poderia existir se não pensasse.


4. No texto Descartes refere-se ao o argumento ontológico. é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.
De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar; ou, na mais famosa formulação do argumento, Deus define-se como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um dos aspetos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus existe necessariamente, tal como se segue da definição de um triângulo que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus, mas se podemos conceber a existência do triângulo como mental, não se passa o mesmo com a definição de Deus, visto que o conceito de perfeição implica que nada lhe pode faltar. Logo, não lhe pode faltar uma existência autónoma do meu pensamento.
Quanto ao outro argumento utilizado na filosofia cartesiana, apelida-se de argumento da causa e articula-se do seguinte modo: Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, a causa deve ser mais perfeita que a ideia, a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.



(Explicação opcional: A ideia de Deus não é uma ideia imaginada tal como "uma cabeça de leão unida ao corpo de uma cabra". Não pode ser fruto da imaginação pois nenhuma ideia imaginada tem o grau de clareza que tem a ideia de Deus, ora as ideias imaginadas não são claras e distintas, pelo contrário são confusas, a razão não garante que sejam verdadeiras porque são igualmente duvidosas tais como as ideias das coisas que nos são dadas através dos sentidos.
A ideia de Deus apresenta-se como ideia de um ser perfeito a partir do qual o eu tem a ideia clara e distinta da sua imperfeição, as ideias da imaginação não têm a mesma universalidade, nem a mesma clareza e distinção porque se apresentam compostas de várias ideias e não têm a distinção e a simplicidade das ideias inatas como a de que existe algo perfeito medida da ideia de imperfeito. Todas as ideias que derivam da experiência apresentam-se duvidosas e sem garantia de verdade, por exemplo, nada garante que o Sol tenha a grandeza que vemos. Mas provando que Deus existe é superada a dúvida. Deus é a garantia que as ideias claras e distintas são e correspondem a algo igualmente existente. A ideia de Deus permite a Descartes sair do solipsismo a que tinha chegado ao duvidar de todas as coisas, sem Deus a Filosofia cartesiana não poderia ter qualquer outra certeza senão o cogito. Se Deus existe, então todas as ideias claras e distintas e os conhecimentos matemáticos são verdadeiros. Se Deus existe então o "génio maligno" é afastado e,assim, a confiança nos raciocínios humanos pode ser retomada. )

Grupo III

1.

2. A fenomenologia do conhecimento reduz o fenómeno do conhecimento a uma relação entre o sujeito (o que conhece) e um objeto (o que é conhecido). Descreve esta relação como uma correlação visto que não pode haver sujeito sem objeto nem objeto sem sujeito, existem apenas na relação embora sejam opostos um ao outro pois têm funções diferentes que não se podem permutar. A função do sujeito é ativa, produz uma imagem ou representação do objeto e a função do objeto é passiva, porque se deixa apreender. Todavia nesse ato de apreensão o objeto permanece como transcendente ao sujeito nunca podendo reduzir-se à esfera da sua representação mental. Os três momentos do acto cognitivo de apreensão do objecto consistem em o sujeito sair de si, permanecer fora de si, na esfera do objecto e voltar a si integrando a imagem do objecto noutras imagens existentes na sua mente.


2. Não, a calculadora não sabe quanto dá 356 euros a dividir por 4 pessoas.
Justificação da resposta:
‒ de acordo com a análise tradicional do conhecimento (proposicional), crença, verdade e justificação são condições necessárias do conhecimento (proposicional);o resultado apresentado pela calculadora (embora seja correto e esteja adequadamente justificado, pois a
calculadora aplica um programa concebido por matemáticos competentes) não é conhecimento, porque a calculadora não tem crenças (nomeadamente, não tem a crença de que 356 euros a dividir por 4 pessoas dá 89 euros a cada uma, pois a calculadora não tem estados mentais)





Correção 11I1 e I2
Grupo II
 
1 O texto refere-se à existência necessária do eu que pensa, a única certeza que a própria dúvida metódica demonstra. Assim, como o texto refere, "(...) mas persuadi-me que não havia nada no mundo, nenhum céu, nenhuma terrra(...) e se me persuadi de alguma coisa, eu existia concerteza(...)"A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se auto-justificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.

2. A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se auto justificam, isto é, não necessitam de outras crenças para se justificarem, assim contraria o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para criticar o conhecimento, estes defendiam que nenhuma crença estava justificada porque necessitava sempre de outra que a justificasse e, assim ou haveria uma crença fundante que não precisava de nenhuma outra para se justificar (como pensa Descartes) ou então não seria possível o conhecimento visto que, as crenças que constituem o conhecimento não se podiam justificar.

A dúvida metódica consiste em examinar sistematicamente os fundamentos de todas as crenças e considerar falso tudo o que fosse apenas duvidoso. Assim, as etapas da dúvida metódica são:
1ª Duvidar dos sentidos;
2ª Duvidar da existência do mundo;
3º Duvidar das verdades da razão. Quais os argumentos que Descartes utiliza para poder então duvidar de todas as "fontes" de conhecimento?

Argumento 1: Uma vez que os sentidos nos enganam algumas vezes, podemos duvidar do que vemos ou sentimos, logo, não podem ser o fundamento indubitável do conhecimento, se são duvidosos alguns dados dos sentidos, então poderemos considerar como falso tudo o que deles deriva.

Argumento 2 : A realidade que vemos depende do estado de vigília que julgamos ter, mas não poderemos pensar que se trata de um sonho? No sonho estamos perante factos e, no entanto, eles não são reais, o mesmo pode acontecer com toda a realidade exterior, que poderemos estar a sonhar e, por isso, não ser real.

Argumento 3: As verdades matemáticas são inabaláveis mas poderíamos supor a existência de um génio maligno que nos enganasse sempre que pensamos numa verdade matemática levando-nos a dar o consentimento a algo que é falso. Assim a certeza das verdades matemáticas também é colocada em questão.



3. Descartes  utiliza duas formas de raciocinar sobre a existência de Deus, concluindo que Deus não é um ser resultante da crença religiosa mas sim um ser que existe necessariamente e que fundamenta e torna possível o conhecimento humano. No 1º Argumento o raciocínio é o seguinte:
Depois de concluir que de todas as verdades que julgara possuir só uma, a de que existia, parecia ser certa e inabalável, Descartes, fica sozinho com esta única certeza, não podendo provar que as coisas em redor dele existiam e sem poder confiar em qualquer conhecimento obtido pela experiência (sentidos). Visto considerar-se imperfeito, pois via claramente que duvidar e errar eram imperfeições e que há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra (conhecer é perfeição maior que duvidar), interroga-se então qual a origem desta sua ideia de perfeição? Não podia ser ele próprio, nem podia surgir do nada, visto que (não há menos repugnância em que o mais perfeito seja uma consequência e uma dependência do menos perfeito do que em admitir que do nada procede alguma coisa).

Também não podia surgir da natureza porque nada na natureza lhe parecia superior. Mas esta ideia não poderia ser retirada de algo que possuísse algumas imperfeições, só podia ter como causa um ser sumamente perfeito. Restava apenas que tivesse sido posta em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita que a minha. A causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus. Logo, Deus existe.



2º Argumento – Argumento ontológico.
Se a ideia de Deus é a de um ser perfeito, desta ideia ou conceito fazem parte todas as perfeições que possam ser pensadas como; omnipotência, omnisciência e omnipresença. Nenhuma imperfeição pode caber na ideia de um ser perfeito, ora, a não existência, é uma imperfeição que não pode ser atribuída ao ser perfeito. Logo, a não existência é incompatível com a perfeição, sendo assim a perfeição é existente, e Deus sendo a ideia de perfeição, existe.


(Explicação opcional: A ideia de Deus não é uma ideia imaginada tal como "uma cabeça de leão unida ao corpo de uma cabra". Não pode ser fruto da imaginação pois nenhuma ideia imaginada tem o grau de clareza que tem a ideia de Deus, ora as ideias imaginadas não são claras e distintas, pelo contrário são confusas, a razão não garante que sejam verdadeiras porque são igualmente duvidosas tais como as ideias das coisas que nos são dadas através dos sentidos.
A ideia de Deus apresenta-se como ideia de um ser perfeito a partir do qual o eu tem a ideia clara e distinta da sua imperfeição, as ideias da imaginação não têm a mesma universalidade, nem a mesma clareza e distinção porque se apresentam compostas de várias ideias e não têm a distinção e a simplicidade das ideias inatas como a de que existe algo perfeito medida da ideia de imperfeito. Todas as ideias que derivam da experiência apresentam-se duvidosas e sem garantia de verdade, por exemplo, nada garante que o Sol tenha a grandeza que vemos. Mas provando que Deus existe é superada a dúvida. Deus é a garantia que as ideias claras e distintas são e correspondem a algo igualmente existente. A ideia de Deus permite a Descartes sair do solipsismo a que tinha chegado ao duvidar de todas as coisas, sem Deus a Filosofia cartesiana não poderia ter qualquer outra certeza senão o cogito. Se Deus existe, então todas as ideias claras e distintas e os conhecimentos matemáticos são verdadeiros. Se Deus existe então o "génio maligno" é afastado e,assim, a confiança nos raciocínios humanos pode ser retomada. )

4. Porque seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto saber P, implica uma crença, S acredita em P. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo, não se pode conhecer falsidades. Por outro lado, se esta crença em P não tem qualquer justificação, ou seja, se não há boas razões para acreditar que p é verdadeira, então também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso. Estas condições juntas são necessárias mas não são suficientes pois, nem todas as crenças são conhecimento, logo, não basta ter uma crença qualquer como por exemplo “Acredito que existem Extraterrestres”, mas não posso saber se essa crença é verdadeira. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque é por mero acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa


Grupo III


1. No passado, as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, embora tivessem uma crença justificada de que o Sol girava em torno da Terra;
–– as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, porque não é verdade que o Sol girasse em torno da Terra;ainda que as crenças falsas tenham justificações consideradas boas, isso não faz delas crenças
verdadeiras;para saber, é preciso ter crenças verdadeiras justificadas, não bastando ter crenças justificadas.

2.Resposta em aberto. Explicitar os conceitos de empirismo e racionalismo como duas teorias epistemológicas sobre a origem e fontes primordias do conhecimento, a primeira defende serem os sentidos a fonte do conhecimento, enquanto a segunda defende ser a razão e as ideias "a priori".