segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Ficha Formativa - Descartes (Escolha múltipla) Para 120 Pontos


Um desafio para os alunos, enviem a ficha resolvida para logosferas@gmail.com até quinta, sexta, enviarei a correção

1. Segundo Descartes, o critério de verdade é:
A. A delicadeza e a exatidão;
B. a clareza e a distinção;
C. a delicadeza  e a distinção;
D. a clareza e a não contradição.

2. De acordo com Descartes os conteúdos da nossa mente podem classificar-se como:
A. Ideias inatas; ideias fictícias; ideias adventícias;
B. ideias factícias; ideias complexas; ideias simples,
C. ideias adventícias; ideias inatas; ideias factícias.
D. ideias simples, ideias inatas, ideias claras e distintas.

3. A dúvida cartesiana é hiperbólica porque:
A. Só se aplica aos objectos da experiência;
B. aplica-se a todas as nossas crenças;
C. aplica-se a todas as ideias factícias:
D. aplica-se só aos objectos da razão.

4. O cogito é:
A. A base da dúvida metódica;
B. alcançado através da experiência;
C. a a prova de que a verdade não existe;
D. a primeira verdade alcançada através da dúvida.

5. Identifique a afirmação verdadeira:
A. Descartes é céptico porque parte da dúvida.
B. Descartes não é céptico porque a dúvida é metódica.
C. Descartes é céptico porque não procura a verdade e a encontra por acaso.
D. Descartes é céptico porque consegue duvidar de tudo.

6. Identifique a afirmação errada:
A. O principal problema de Descartes é o de encontrar a garantia de que o nosso conhecimento é absolutamente seguro.
B. A condição necessária para que algo seja declarado conhecimento absolutamente seguro é resistir completamente à dúvida.
C. Descartes consegue provar que os sentidos não nos enganam.
D. O primeiro conhecimento absolutamente seguro é a existência do sujeito que tem consciência de que os sentidos e o entendimento o podem enganar.

7. Ao recorrer à dúvida metódica, Descartes pretende:
A. Mostrar que os sentidos por vezes nos enganam;
B. rejeitar definitivamente tudo o que não seja indubitável;
C. encontrar um fundamento seguro para o conhecimento.
D. Nenhuma das respostas anteriores é correta.

8. De acordo com a filosofia cartesiana, Deus existe porque:
A. O universo físico tem de ter uma causa;
B. a organização do Universo aponta para um criador inteligente;
C. a própria ideia de ser perfeito implica a sua existência.
D. Nenhuma das respostas anteriores é correta.

9. Segundo Descartes, o cogito é uma verdade indubitável porque:
A. A existência do nosso corpo pode ser uma ilusão;
B. podemos provar que Deus existe;
C. somos um sujeito pensante;
D. compreendemo-lo com toda a clareza e distinção.

10. Segundo Descartes, apenas é verdadeira a seguinte afirmação:
A. Sabemos que o mundo exterior é real porque os sentidos o comprovam;
B. sabemos que o mundo exterior é real porque sabemos que o sujeito existe;
C. sabemos que o mundo exterior é real porque o cogito é um princípio indubitável que
garante a sua existência;
D. sabemos que Deus existe porque o mundo exterior é real.

11. Descartes, no percurso que faz da dúvida até ao primeiro princípio indubitável,
considera que:
A. Não pode atribuir qualquer importância aos dados empíricos na aquisição do
conhecimento verdadeiro;
B. pode atribuir alguma importância aos dados empíricos na aquisição do conhecimento
verdadeiro;
C. tem de atribuir alguma importância aos dados empíricos na aquisição do conhecimento
verdadeiro;
D. tem de atribuir uma importância fundamental aos dados empíricos na aquisição do
conhecimento verdadeiro.

12. Na filosofia cartesiana, a ideia de Deus que o sujeito possui teve origem:
A. Numa ideia, proveniente dos sentidos, que o sujeito descobriu na sua própria razão;
B. na necessidade de encontrar um criador para tudo o que existe;
C. no eu pensante, ao submeter todos os conhecimentos que possui à dúvida radical;
D. em Deus, que a deixou em nós como a sua marca.

Texto para resumo Baltasar 11I e Melissa 11B


Você começou agora a ler este livro. Ou assim pensa. Mas está certo que está realmente a ler o livro? Como sabe se não está meramente a sonhar ou a ter uma alucinação vívida? Como sabe se não está de facto preso numa realidade virtual extremamente sofisticada de um programa de computador, como os personagens do filme The Matrix
Perante isto, talvez esteja já tentado a parar a leitura, convencido de que estas questões são frívolas, próprias provavelmente para uma conversa fora de horas, à mistura com umas cervejas, mas não para um livro de filosofia sério (…). No entanto, não há filósofo mais sério do que René Descartes (1596-1650) – o próprio pai da filosofia moderna, como é em geral conhecido – e ele tomou estas questões (excepto, obviamente, a referência ao Matrix) como sendo de profunda importância, pois elas formam, na sua perspectiva, o ponto de partida de uma linha de investigação que não apenas lança os fundamentos do conhecimento científico, mas revela também a verdadeira natureza da mente humana e a sua relação com o mundo material (…)
Assim, com a sua curiosidade agora aguçada, regressemos à questão que Descartes pensava ter estas implicações profundas: como sabe se está realmente a ler este livro?

Sem dúvida que a sua primeira reacção é dizer simplesmente que é óbvio que está a ler o livro, pois, na verdade, pode vê-lo nas suas mãos, sentir as suas páginas, cheirar a tinta e ouvir os seus dedos a deslizar pelo papel. Se para aí estivesse inclinado, poderia até saborear os químicos presentes no papel e na tinta. Em qualquer caso, a razão para acreditar que está a ler o livro é que está a ter o tipo de experiências que esperaria ter ao ler um livro. Os seus sentidos dizem-lhe que está a ler o livro; portanto, tem de estar a ler o livro.
Há um problema com esta resposta que podemos descortinar se fizermos uma comparação com o seguinte exemplo. Suponha que Frederico lhe diz que irá haver uma festa este Sábado em casa da Etelvina e que você sabe que Frederico costuma mentir, embora seja convincente a mentir. Ocasionalmente ele diz a verdade, mas mente muitas vezes, mesmo quando se trata de um assunto trivial. Quer num caso, quer noutro, a sua postura não se altera, parecendo sempre sincero. Dado que Frederico é a sua única fonte de informação, tem você fortes razões para acreditar que haverá uma festa este Sábado em casa da Etelvina? Certamente que não. Não o sabe com certeza, porque a sua única fonte de informação, a palavra de Frederico - com toda a sua aparência de sinceridade - seria exactamente a mesma caso haja realmente festa ou não.
Ora, nós estamos, parece, exactamente nesta situação no que toca aos nossos sentidos. Eles “dizem-nos” coisas a todo o momento e o modo como nos falam é muito convincente – “ver para crer”, como diz o ditado, pois é mais difícil duvidar de algo precisamente quando diante dos nossos olhos. Apesar disso, há casos bem conhecidos em que aquilo que a nossa experiência nos diz não é de todo real. Você pode ter a experiência de ser perseguido por um assassino empunhando uma faca, do seu coração a bater com força e de um grito a vir do fundo da sua garganta. Aterrado, reflecte sobre a possibilidade de se tratar de um pesadelo , mas sendo tão vívido, não pode ser; e no instante em que a faca se enfia no seu corpo… você acorda. Pensava que que os seus sentidos lhe estavam a dizer que a sua vida corria perigo iminente, mas estava enganado. De facto, não poderia estar mais a salvo, enroscado na sua cama, a dormir e a sonhar.
Mas se nos sonhos as suas experiências podem enganá-lo sobre algo tão importante, porque não sobre algo tão trivial como ler um livro? É claro que você sabe que os sentidos o enganam em questões triviais – nos sonhos monótonos sem crimes. Portanto, como pode estar seguro de que não está a sonhar agora mesmo? “Isto é demasiado vívido para ser um sonho!” Porém, como já deve ter percebido, um sonho pode ser por vezes tão vívido que a pessoa que o tem pensa que não é um sonho. Talvez este seja um desses sonhos. Além disso, como sabe que a realidade é mais vívida que um sonho? Com base na sua memória de sonhos passados? Mas como sabe que não está apenas a sonhar que está a lembrar esses sonhos passados correctamente? Um problema similar afecta qualquer apelo para o que os nossos sonhos normalmente são – digamos, a preto e branco. Como podemos saber se essas memórias são exactas? (Porque não pode ser este o seu primeiro sonho a cores? Na verdade, há uma primeira vez para tudo.) Também não ajuda um apelo para evidência sobre a natureza do sonho tirada de manuais de psicologia – pode ser que você esteja apenas a ter “memórias” oníricas de que alguma vez tenha lido esses livros. De facto, parece que qualquer evidência para que apele ou qualquer teste que possa fazer para provar que não está a sonhar (por exemplo, beliscar-se a si mesmo) podem ser apenas evidência ou testes com que se esteja a sonhar.
No fim de contas o que temos é isto: não há nada na natureza das nossas experiências que possa dizer-nos se estamos acordados ou a sonhar – em cada caso, a experiência por si mesma não pode dizer-nos que o que estamos a experimentar neste momento (e em qualquer momento que a consultemos) é real. Não são só os sonhos a única base desta conclusão inquietante. É largamente sabido que as nossas experiências, em todas as suas variedades – visual, audível, táctil, gustativa e olfactiva – dependem de processos no interior dos nossos cérebros. Quando, por exemplo, você vê um limão, isso é o resultado da luz reflectida do limão que atinge as suas retinas, que depois provocam sinais que serão enviados através dos nervos ópticos a centros de processamento no cérebro, cuja actividade neuronal dá lugar, por fim, à sua experiência visual do limão. Porém, se isto é o modo natural como a experiência do limão é produzida, é fácil ver como essa experiência podia, em teoria, ser produzida artificialmente – um neurocirurgião poderia estimular directamente apenas a parte do seu cérebro que causa essa experiência, saltando os processos ao nível do nervo óptico, etc. que normalmente despoletariam aí os acontecimentos. Com efeito, os neurocientistas são capazes já hoje de produzir sensações muito simples – um lampejo de vermelho no nosso espaço visual ou, digamos, o cheiro de lilazes – com esse tipo de estimulação.

Foi Descartes que introduziu o “argumento do sonho” na discussão filosófica moderna e, embora ele não tenha discutido o cenário do “cérebro na cuba”, apresentou também um outro talvez ainda mais arrepiante. Pode achar reconfortante pensar que mesmo que estivesse neste momento a sonhar, ou que fosse um cérebro desligado do corpo conectado a uma máquina de realidade virtual, isto ocorra no contexto de um ambiente físico que existe independentemente. Talvez não possa saber o que se passa num dado momento, mas pelo menos está ali – quer dizer, há pelo menos uma cama onde está agora a dormir ou um laboratório algures com cientistas loucos que se riem. Mas e se nem isso era real? E se você não passa de uma pura alma sem corpo ou mesmo um cérebro e a única outra coisa que existe é um espírito maligno extremamente poderoso que passa o tempo a pôr na sua mente todas as experiências e pensamentos que teve? Todos os lugares onde pensa ter estado, todas as pessoas que pensa ter conhecido, o próprio universo físico – nada disto é real, apenas uma enorme e contínua alucinação. Como pode provar que não é isto que lhe está a acontecer? Tal como com o cenário do sonho, parece que não se pode ter evidência de que assim não é – pois qualquer evidência para a qual se apele pode ser evidência que o próprio demónio fabricou.

Edward Feser, Philosophy of mind. A beginner’s guide. (Oxford, 2006). Trad. Carlos Marques.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Texto para resumo Kateryna Sakalo


… a questão principal  é, lembremos, a de saber se há um modo de responder ao cepticismo e de justificar a crença de que há realmente um mundo físico externo, para além das nossas experiências. Descartes respondeu ao cepticismo apelando à ideia de Deus, uma ideia que podemos encontrar no interior da nossa mente, tenha esta última algum contacto com uma realidade física externa ou não. Descartes adoptou a perspectiva de que a existência de Deus pode ser provada através dos argumentos teístas tradicionais. Provar que Deus existe é provar que um ser totalmente bom existe e que esse ser, embora possa permitir que cometamos erros de quando em vez (para podermos aprender com eles), não permitiria que vivêssemos em geral enganados, pois isso seria contrário à sua bondade. Daí se segue que Deus não permitiria que estivéssemos sempre a sonhar, a ser enganados por um espírito malévolo ou outra coisa do género. Logo, se os nossos sentidos nos levam a acreditar na realidade de um mundo externo, num mundo físico, esse mundo terá de existir.


(…) é claro que seria mais satisfatório filosoficamente se conseguíssemos responder ao cepticismo sem ter de apelar à existência de Deus, porque isso nos faria evitar pelo menos um assunto que pode ser tão controverso como o cepticismo e o realismo indirecto. Na perspectiva de muitos filósofos, podemos fazê-lo argumentando que a crença comum de que há objectos externos que correspondem às nossas experiências perceptivas é um género de hipótese quase científica que encerra a melhor explicação dessas experiências; uma explanação que é constantemente confirmada por predições com êxito que fazemos nessa base. Como [Michael] Lockwood argumentou, este tipo de defesa imita exactamente a justificação dos cientistas para hipóteses acerca de entidades não observáveis como os electrões. Se a nossa crença na existência dos electrões pode ser racionalmente justificada em virtude dela ser assumida por uma teoria científica bem confirmada, então também a nossa crença em objectos físicos externos pode sê-lo, não obstante estes não serem directamente observáveis.


Um princípio bem conhecido da explicação científica é a Navalha de Ockham, que defende que as hipóteses mais simples e económicas são preferíveis às desnecessariamente mais complexas, porque aquelas levantam menos mistérios subsequentes e, assim, permitem que nos mantenhamos o mais perto possível da evidência de que dispomos. (…) Uma resposta à sugestão de Lockwood é que ela viola a Navalha de Ockham, pois um céptico poderia argumentar que a hipótese do ‘espírito malévolo’ é mais simples e económica do que a perspectiva comum e que é, por isso, preferível. Na verdade, ao contrário da visão comum, que assume um enorme número e variedade de objectos físicos externos governados por leis complicadas, a hipótese do demónio postula a existência de um único objecto, o próprio demónio, operando de acordo com o princípio simples de querer enganar.


No entanto, como argumentou o físico David Deutsch, as hipóteses cépticas, como os cenários do cérebro na cuba e do espírito malévolo, são na verdade mais complicadas do que a crença comum num mundo físico externo, pois são parasitas desta. Para formar a hipótese de um espírito malévolo enganador, temos primeiro de formar a hipótese comum da existência do mundo de objectos físicos externos governados por leis físicas e depois imaginar que o demónio nos faz acreditar que esta hipótese é verdadeira. Isso requer que o demónio seja suficientemente complexo para desempenhar esta tarefa com êxito, o que significa que é suficientemente complexo para interagir connosco, imitando exactamente aquilo que seria um mundo realmente composto por objectos físicos externos. Mas isso significa que o espírito malévolo teria de ser ele próprio pelo menos tão complexo como um mundo de objectos físicos externos; com efeito, significa que esse espírito teria de ser mais complexo, pois teria não apenas de imitar esse género de mundo, como também de se aperceber conscientemente de que estaria a fazer tudo isto (consciência que um mundo de objectos físicos externos não teria). Assim, seria uma coisa pensante, o que levantaria mais questões: acerca dos motivos subjacentes ao que faz, etc.; questões que a perspectiva comum não levantaria. Portanto, afinal de contas, a hipótese do espírito malévolo não é realmente tão simples ou económica quanto a hipótese do senso comum e a Navalha de Ockham deve levar-nos a rejeitar a primeira em favor da última das hipóteses. 



Edward Feser, Philosophy of mind. A beginner’s guide. (Oxford, 2006). Trad. Carlos Marques.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

René Descartes " O discurso do método"



Alunos, um repto, leiam a quarta parte da obra de Descartes, depois falamos sobre isso.