quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Texto para resumo - Mariana Fernandes - 11D

Thomas Kuhn (EUA - 1922/1996)
Os cientistas gostam de pensar que contribuem para a marcha constante do progresso. Cada nova descoberta corrige deficiências, traz aperfeiçoamentos ao conhecimento e torna a verdade cada vez mais clara. Voltam os olhos para a história da ciência e observam um contínuo desenvolvimento, convenientemente assinalado pelas grandes descobertas.

Essa visão, entretanto, é ilusória, segundo o historiador de ciência Thomas Kuhn, no livro The Structure of Scientific Revolutions (1962). A ciência não é uma transição suave do erro à verdade, mas sim uma série de crises ou revoluções, expressas como "mudanças de paradigmas".

Kuhn define "paradigma" como uma série de suposições, métodos e problemas típicos, que determinam para uma comunidade científica quais são as questões importantes, e qual a melhor maneira de lhes responder. (A óptica newtoniana e a psicanálise freudiana são bons exemplos.) Os estudos de Kuhn revelaram duas coisas: que os paradigmas são persistentes e que um derruba o outro de uma só tacada e não com pequenos golpes. O progresso científico é mais para uma série de transformações do que um crescimento orgânico -- Eureka

A vantagem de um paradigma é que ele concentra a pesquisa. Sem um paradigma, investigadores diferentes acumulam pilhas diferentes de dados quase ao acaso e ficam ocupados em dar um sentido ao caos e derrotar as teorias concorrentes para progredir de forma consistente. O problema com os paradigmas é que eles tendem tornar-se fechados e rígidos. Novos avanços tornam-se cada vez mais esotéricos e acessíveis apenas a quem os professa. Os cientistas que têm alguma coisa a oferecer mas rejeitam o paradigma, são frequentemente descartados como "excêntricos". Caminhos de pesquisa potencialmente frutíferos são bloqueados porque não partem de premissas aceites. Embora possibilite descobertas, todo paradigma, é também um tipo de cegueira: ele dispõe-nos a ver algumas coisas e a ignorar inteiramente outras.

Os paradigmas, entretanto, têm de sofrer mudanças quando os modelos antigos são convincentemente desafiados por novas evidências. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando Galileu descobriu que Júpiter tinha luas e com isso ajudou a derrubar a astronomia Ptolomaica. (Nessas ocasiões, é claro que muitos, inclusive a Igreja, agarram-se desesperadamente aos velhos paradigmas.) O ponto central de Kuhn é que as mudanças de paradigmas, por serem bruscas e dilacerantes, desafiam a imagem idealizada da ciência como um progresso gradual e constante em direcção à Verdade. Enquanto um paradigma se mostrar eficiente -- enquanto uma comunidade científica o aceitar e ele explicar razoavelmente bem a natureza -- as pesquisas e as descobertas serão graduais e cumulativas. Porém, as inovações (observações inesperadas e anomalias) não são facilmente assimiladas pelos paradigmas. Pelo menos, não por muito tempo. Revoluções científicas -- mudanças de paradigmas -- são inevitáveis e necessárias, na medida que as teorias reinantes são incompletas ou cegas.

O que torna isso interessante para todos, não só para os cientistas, é que a mudança de um paradigma científico frequentemente acarreta uma nova, e às vezes atemorizante, visão do mundo. A revolução de Copérnico tirou o homem do centro do mundo e forçou-o a ver sob novas luzes a criação e o lugar que nela ocupa. Kepler, Newton e seus pares imaginaram um universo mecânico funcionando como um relógio -- um relógio no qual Deus nunca precisou dar corda novamente – o determinismo-. A relatividade de Einstein e a incerteza de Heisenberg, embora altamente técnicas nos detalhe, infiltraram-se na consciência popular, e o mundo aparece mais relativo e incerto do que nunca. A parte mais assustadora de todas é que o próximo paradigma não pode ser previsto, já que vemos o futuro através do paradigma que temos no presente.
o texto é uma síntese sobre a filosofia de Kuhn. retirada do Blog "Filosofia e ideias". 
Pode realizar uma pequena biografia de Kuhn.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Trabalhos sobre o impacto da cultura tecnológica na saúde, identidade e ambiente.


1. TEMAS: TODOS OS TEXTOS ESTÃO NA REPROGRAFIA.

1. A Clonagem Humana. Quais os dilemas éticos envolvidos? Quais os limites éticos da Clonagem? Como pode a clonagem interferir na saúde?
Textos obrigatórios: Manual "Arte de Pensar 11ºAno" 243/257

2. Inseminação Artificial, tecnologias reprodutivas e família tradicional. Como entender a família hoje? As tecnologias mudaram a noção de família?
Textos obrigatórios: Manual do 11ºAno "Criticamente", 266/285

3. A Inteligência Artificial. Será possível a reconstrução do cérebro humano? Terão as máquinas pensamento? Será possível a construção de robots semelhantes aos homens?
Textos obrigatórios:Manual "Cogito 11ºAno", 262/271
 
4. A Bioética e o Direito à vida. Justifica-se a eutanásia? Deverá a ciência ajudar a morrer?
Textos obrigatórios:Manual do 10ºAno "Diálogos", p.135/157

 5. Organismos geneticamente modificados e o seu impacto na saúde e no ambiente. Qual o impacto e as consequências dos organismos geneticamente modificados ( alimentos) na saúde humana e no ambiente? TEXTO AQUI e Texto para tema na reprografia

6. Superstição, feitiçaria, religião. Ciência e Religião. Um conflito?  Medicina ocidental e outras medicinas.
Textos obrigatórios:Aqui AQUI
7. Incrementação artificial. A cirurgia estética na construção da identidade do sujeito.  Teremos todos uma identidade resultante da nossa natureza ou deveremos usufruir do avanço tecnológico e construir artificialmente uma nova identidade? 
Textos obrigatórios; "Manual Cogito 11ºA", p.250/261



TEXTOS NA FOTOCOPIADORA DA ESCOLA


2. OBJECTIVOS

Saber ler e resumir as ideias principais dos textos apresentados.

Problematizar filosoficamente os temas.

Apresentar com clareza as teses e os argumentos propostos.

Colocar objeções possíveis às teses propostas.

Investigar com recurso a vários suportes.

3. Estrutura.
1.Introdução. Definição dos conceitos. Colocação dos problemas. Esclarecimento do tema.
2. Análise de um caso. Colocação de duas possibilidades teóricas para resolver o problema. Argumentos a favor e contra. 3. Conclusão.

4. AVALIAÇÃO
ESCRITA
Em forma de um ensaio com 5 Páginas

Rigor, clareza e interesse filosófico do trabalho apresentado.
Estrutura: Introdução, Síntese do trabalho e Conclusão com resposta à pergunta
Colocar bem os problemas e apresentar respostas argumentadas.

Apresentação e organização  do trabalho escrito: Apresentação 5%; Investigação realizada 15%; Correto resumo do texto 30%; Resposta à pergunta 25%; Problematização e argumentação 25%

ORAL
(Cada aluno deve apresentar sem leitura)
1.Clareza das ideias e da linguagem.
2.Profundidade dos conhecimentos adquiridos. 
3. Assimilação correta dos conteúdos. 
4. Boa problematização do tema. Capacidade de gerar diálogo.

Oral com Dispositivo visual. Domínio dos conteúdos 40%; Interesse filosófico e linguagem 30%; Dinâmica de grupo e capacidade de gerar diálogo 10%; ; Qualidade e criatividade do dispositivo visual 20%



ENTREGA DO TRABALHO ESCRITO PARA TODOS OS TEMAS:  12 ou 13 de MARÇO



Avaliação 20% DA AVALIAÇÃO DO 2º PERÍODO



Apresentações orais: 

TEMA 1,2- 12 e 13 Março

TEMA 3,4 - 13 ou 14 de Março/

TEMA 5,6 - 19 ou 20 Março




terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Correção teste Fevereiro 2019



1. (11D) O conhecimento científico e o senso comum são dois tipos de conhecimento ou duas formas de sabedoria que se podem completar para a constituição de uma visão mais equilibrada e justa do mundo. Por vezes apontam para soluções opostas, outras vezes o senso comum acaba por assumir as posições científicas, outras ainda a ciência acaba por explicar velhas crenças do senso comum, como conclusão poderíamos dizer que ambos se preocupam por encontrar soluções satisfatórias para os vários problemas práticos que se vão colocando, embora o conhecimento científico também tenha uma ambição teórica visto que ele quer explicar através de teorias abrangentes, vários fenómenos diferentes, enquanto que o senso comum não é teórico mas prático, vai acumulando um saber fruto das experiências e dos costumes passados fundamentados na “perceção” direta do mundo, na sua aparência imediata e na transmissão oral “ contextualizadas na perceção e na língua” como refere o texto.  O ideal de objetividade da ciência corta com esta visão do mundo imediata e apresenta-nos uma outra natureza fruto de uma investigação metódica  e de uma experimentação artificial e construída racionalmente . A linguagem científica pretende ultrapassar as ambiguidades comuns da língua e , para isso, encontrou uma simbologia matemática consensual entre a comunidade científica e precisa nos elementos que evoca.
Deste modo, o conhecimento científico por ser metódico e por querer atingir uma explicação universal dos fenómenos a partir de um conjunto de hipóteses racionais que forçam a natureza a responder às suas questões, acaba com a espontaneidade do senso comum e com a sua subjetividade prática e utilitária. De facto a ciência não aspira apenas à solução dos problemas quotidianos, ela visa compreender a natureza como um todo, as suas leis e as relações uniformes entre os fenómenos.

Há uma lentidão e resistência do senso comum a ideias novas que possam entrar em contradição com aquilo que habitualmente pensa o que se traduz numa dimensão conservadora e fortemente tradicional que pode resultar como travão para um avanço demasiado rápido das tecnologias que resultam da investigação científica. Este fator pode ser encarado positivamente como adequação entre um pensar coletivo, mais lento na assimilação de novas práticas e ideias, e a comunidade e interesses mercantis da ciência, mais rápidos e sempre em mutação. O senso comum é acrítico, isto é, não se deixa refutar mesmo que novos factos possam desmentir as suas crenças. Esta característica produz uma sensação de desfasamento que pode identificar o senso comum com o preconceito uma vez que se agarra a verdades eternas que nada têm que as justifique senão a tradição. Contrariamente, o conhecimento científico tem uma forte exigência  crítica sobre si próprio; as teorias científicas exigem o confronto com a experiência e a contínua revisão e aperfeiçoamento  das suas teorias de acordo com os testes a que vão sendo sujeitas. Estas características a crítica e a revisão constante, dão credibilidade e segurança ao conhecimento científico. Por estar continuamente a ser revisto, aperfeiçoado, e retificado ou refutado através de testes empíricos, este conhecimento evolui e está em constante e rápida mudança. 

O senso comum é útil para servir de limite aos excessos da ciência mas também pode constituir um obstáculo ao seu avanço porque tem dificuldade em aceitar e compreender tudo o que não se adapta ou está na margem das suas certezas. Parte dos dados dos sentidos ( o que se faz, o que se ouve, o que se pensa, o que acontece) e acumula factos de áreas diferentes que são também produto de diferentes costumes culturais, por exemplo a mesma doença pode ter vários tratamentos tradicionais consoante a área geográfica ou cultural, o seu procedimento não é pois metódico nem organizado mas fragmentado e ocasional, enquanto o conhecimento científico é um tipo de saber organizado em disciplinas científicas como a Biologia, a História etc e que pretende ser universal, a mesma metodologia científica é imposta a todas as comunidades científicas seja qual for o lugar no mundo.

2..Segundo Popper a prática científica não é afetada pelo problema da indução levantado por
Hume. Porquê? Na sua resposta comece por apresentar o problema da indução levantado
por Hume.
O problema da indução, tal como é exposto por David Hume, consiste em demonstrar que a
crença na indução não está justificada porque ultrapassa a experiência e a razão, isto é, não
pode ser justificada nem empiricamente nem racionalmente. Acreditamos que a natureza é
uniforme e, por isso acreditamos que aquilo que aconteceu de uma determinada maneira irá
acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o pressuposto que garante as nossas
generalizações futuras, mas esse pressuposto já resulta ele próprio de uma generalização e de
uma previsão, isto é, aquilo que garante a validade de uma indução é conseguido através da
indução, utiliza-se o mesmo processo para validar algo que devia ser validado por um outro
conhecimento onde se pudesse fundar. Há assim um raciocínio falacioso, uma petição de
princípio.
A crítica de Popper à indução coloca-se em 3 passos:
a) Não há observação neutra pois esta já é direcionada por um problema teórico.
b) As leis científicas não resultam de uma generalização a partir de casos particulares porque
elas são universais e a generalização só é válida para os casos observados.
c) A conclusão de um raciocínio indutivo é sempre provável, assim as leis científicas teriam de
ser probabilísticas e não são, logo não podem resultar de um raciocínio indutivo.
A teoria epistemológica de Popper ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo
método: o falsificacionismo. O falsificacionismo é, simultaneamente, um critério de
demarcação científica, isto é, um critério para separar conhecimento científico e não científico;
e, por outro lado, uma nova forma de compreender a metodologia das ciências propondo
como realmente científica uma metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Apresentação da
justificação de Popper para que o método da discussão crítica não estabeleça coisa alguma: – o
método científico é o método da discussão crítica, e consiste em testar (empiricamente)
teorias que são propostas como respostas a problemas; – testar uma teoria implica pô-la à
prova, e pôr uma teoria à prova consiste em tentar falsificar/refutar a teoria em causa,
sujeitando-a a «testes rigorosos»; – caso a teoria não supere os testes (empíricos) a que foi
submetida, considera-se que foi falsificada, devendo ser rejeitada ou revista/reformulada, e
novamente submetida a testes; – caso a teoria supere os testes (empíricos) a que foi
submetida, não se pode considerar que foi confirmada (apenas se pode considerar que foi
corroborada), pois existe a possibilidade de um teste (empírico) futuro a falsificar; – (o método
crítico funciona negativamente, pois) uma teoria, ainda que supere testes (empíricos)
rigorosos, nunca pode ser estabelecida como verdadeira (nem como provavelmente
verdadeira): apenas se pode afirmar que «parece ser a melhor que está disponível».

3. Será que o conhecimento científico vai evoluindo no sentido de se aproximar da
verdade? 2 Posições sobre este problema Thomas Kuhn e Karl Popper.
Para Kuhn não há verdadeiro progresso ou evolução porque os paradigmas que se vão
sucedendo são incomensuráveis, isto é, não podem ser comparados porque apresentam
diferentes formas de trabalhar, de selecionar fenómenos e novos princípios metafísicos.
Há, portanto, na evolução da ciência, cortes abruptos que correspondem a revoluções
científicas, de mudanças de paradigma. As revoluções científicas sucedem-se a períodos
criativos em que há teorias diferentes e a comunidade científica não forma consenso acerca de
nenhuma delas. A escolha de uma teoria pela comunidade científica equivale a um acordo
sobre a forma proposta de explicar os fenómenos. Uma vez acordado, ele torna-se exemplar e
guia a comunidade para um desenvolvimento desta conceção dando origem a um novo
paradigma e a uma nova fase de ciência normal. Todavia não há objetividade na escolha dos
Paradigmas visto que este consenso é muitas vezes impossível e a escolha é influenciada por
fatores externos aos critérios objetivos.
Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à verdade na medida em que se
faz eliminando os erros das teorias e substituindo-as por outras mais abrangentes e
consistentes com os factos observados. Visto que a ciência se faz num processo racional de
conjeturas e refutações em que o papel da subjetividade tende a diminuir pois o cientista
trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os limites de cada teoria.
Embora não haja qualquer espécie de certezas pois o progresso científico é um sistema em
aberto e nenhuma teoria é verdadeira mas apenas provisoriamente corroborada. A
substituição de uma teoria por outra é um processo de seleção em que as novas teoria
aperfeiçoam as antigas na medida em que não cometem os mesmos erros da anterior,
explicam os fenómenos das anteriores e ainda explicam novos fenómenos. Daí haver
continuidade na evolução científica.

4.(1para o 11E) A tese empirista de D. Hume sobre a conexão causal é a seguinte:
a) Não há nenhuma impressão de conexão causal; ora se não há impressão
também não pode haver ideia, visto que, segundo o empirismo não há ideias sem impressões
sensíveis.
b) A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo
e contiguidade no espaço: “O mesmo objeto é seguido pelo mesmo evento”. Esta repetição de
um fenómeno a seguir ao outro leva-nos a estabelecer a crença de que estes andam sempre
ligados, isto é, se sucede um, logo a seguir tem de suceder outro.
c) Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está
justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza
qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou
conexão necessária”, o que temos a impressão é de fenómenos singulares, isolados embora
sucedendo-se uns aos outros; logo não há conhecimento mas um hábito psicológico que é
criado pela sucessiva repetição dos fenómenos que se apresentam ligados. Se o conhecimento
de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é “apriori” (argumento do
ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é
um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamos e pensamos como uma conexão
necessária e, portanto, ultrapassamos a experiência.
d) Logo, para concluir não há uma explicação empírica para uma conexão
necessária, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico.


4. (11E)O texto relata duas formas de entender a Lua: uma mais emocional, imediata e prática e outra mais racional, metódica e teórica. A primeira corresponde ao conhecimento dito “vulgar”, ao conhecimento que todos têm a partir da experiência quotidiana; o segundo diz respeito a um conhecimento mais elaborado, o conhecimento científico e tecnológico. Como é referido no texto: “A lua é linda” é uma proposição que traduz uma emoção subjetiva e a expressão pode ter vários sentidos; em contrapartida “ A Lua fica a 384 400Km da Terra” é uma proposição que corresponde a um juízo de facto, tem valor de verdade e anuncia uma propriedade objetiva da Lua, esta linguagem é numérica e por isso, universal e objetiva. A linguagem destes dois tipos de conhecimento é diferente e visa um fim diferente. Por outro lado, quando se descreve “A lua cheia condiciona as marés” está a descrever-se um facto mas sem explicar a razão pela qual isso acontece, na proposição seguinte “são provocadas pela variação da intensidade da força gravitacional”, estabelece-se uma relação causal que explica o facto da lua condicionar as marés. O conhecimento científico adianta razões e, por isso, procura uma racionalidade que seja confirmada ou refutada metodicamente por testes empíricos, contrariamente o conhecimento vulgar, reconhece a influência da Lua pois indutivamente generalizou a partir da observação, mas não explica porquê.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Critério de demarcação

O critério da demarcação
Também podemos ver, novamente sem grande rigor, como a ideia de falsificação leva à solução de Popper para o segundo problema e encontrar uma distinção entre ciência e pseudo-ciência. Caracterizar esta distinção - mostrar 'o critério de demarcação', como Popper o designa - ajudar-nos-á a compreender o que é a ciência. Conduzir-nos-á também a pôr sob dúvida práticas a que se dá por vezes demasiada atenção, em particular, aquelas que se confundem com a ciência. Popper trabalhou por uns tempos com o freudiano Alfred Adler e é esclarecedor, neste contexto, dizer algumas palavras sobre o freudianismo.
Supunhamos que eu o incomodo a si com a minha teoria freudiana de que o desejo sexual inconsciente por figuras maternas está na base do comportamento masculino. Eu exijo-lhe provas e dirigimo-nos a um bar para observar o modo como os clientes interagem com o homem e com a mulher que estão ao balcão. Um cliente homem escolhe a mulher quando decide pedir uma bebida e eu exclamo 'Ah ah! O seu desejo inconsciente pela mãe levou-o a interagir primeiro com ela! Isto prova a minha teoria.' Mas se as coisas tivessem acontecido de maneira diferente e o cliente se tivesse dirigido ao homem atrás do balcão, eu poderia dizer também sem dificuldade 'Ah ah! Ele está a tentar ultrapassar o seu desejo pela mãe evitando a mulher do bar! Isto prova a minha teoria.'
O problema em Freud e até certo ponto, na óptica de Popper, em Marx, é que as perspectivas destes não são falsificáveis. Uma hipótese freudiana não tem consequências empíricas e é por isso que devemos hesitar em considerá-las científica. O que distingue a ciência da mera pseudo-ciência como o freudianismo é precisamente a testabilidade das hipóteses científicas. As teorias científicas têm consequências que podemos inspeccionar através da observação. (…)

Dificuldades da perspectiva de Popper
Há todo um conjunto de preocupações associadas à concepção da ciência de Popper, apesar de ele ter contornado o problema da indução e de ter conseguido distinguir a ciência dos pretensos candidatos a esse estatuto. Podemos perceber as dificuldades ao pensar como é que a perspectiva falsificacionista funciona supostamente na prática. Por exemplo, devemos pensar nos cientistas como alguém que tenta genuinamente falsificar, e não provar, as suas teorias? (…)
deve esperar-se que acreditemos que os cientistas devam ser ou sejam falsificacionistas? Dão eles saltos de alegria quando descobrem que a teoria sobre a qual trabalham, porventura à décadas, é falsa? Devia ser assim? Não é descabido pensar que os esforços de Popper para evitar o problema da indução o fizeram cair em algo que não se parece com a ciência tal como é praticada ou mesmo tal como deve ser praticada. Uma olhadela à história da ciência chega para sugerir que os próprios cientistas não pensam que o seu trabalho consiste em remover falsidades, mas em encontrar verdades. Seja como for, a perspectiva de Popper parece ignorar a dimensão social da ciência tal como esta é praticada, um facto explorado por filósofos posteriores como Thomas Khun e Paul Feyerabend.

James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books (London, 2006). Trad. Carlos Marques.
Imagem: tradução inglesa da obra A Lógica da Descoberta Científica.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Ciência e pseudociência (texto completo)




Naquela época, não estava preocupado com as questões _Quando é verdadeira uma teoria? Ou: Quando é aceitável uma teoria? O Meu problema era outro. Desejava traçar uma distinção entre a ciência e a pseudociência, pois sabia muito bem que a ciência frequentemente comete erros, ao passo que a pseudociência pode encontrar acidentalmente a verdade. Conhecia, evidentemente, a resposta mais comum dada ao problema: a ciência distingue-se da pseudociência - ou _metafísica_ - pelo uso do método empírico, essencialmente indutivo, que decorre da observação ou da experimentação. Mas essa resposta não me satisfazia. Pelo contrário, formulei muitas vezes o meu problema como a procura de uma distinção entre o método genuinamente empírico e o não empírico ou mesmo pseudo-empírico - isto é, o método que, embora se utilize da observação e da experimentação, não atinge o padrão cientifico. Um exemplo deste método seria a astrologia, que tem um grande acervo de evidências empíricas baseadas na observação: horóscopos e biografias. Mas, como não foi o exemplo citado que me levou ao meu problema, creio que seria oportuno descrever brevemente o clima em que ele surgiu e os exemplos que o estimularam. Após o colapso do Império Austríaco, a Áustria havia passado por uma revolução: a atmosfera estava carregada de slogans e ideias revolucionárias; circulavam teorias novas e frequentemente extravagantes. Dentre as que me interessavam, a teoria da relatividade de Einstein era sem dúvida a mais importante; outras três eram a teoria da história de Marx, a psicanálise de Freud e a _psicologia individual_ de Alfred Adler. (…) Durante o verão de 1919, comecei a me sentir cada vez mais insatisfeito com essas três teorias - a teoria marxista da história, a psicanálise e a psicologia individual; passei a ter dúvidas sobre o seu estatuto cientifico. O meu problema assumiu, primeiramente, uma forma simples: _O que estará errado com o marxismo, a psicanálise e a psicologia individual? Por que serão tão diferentes da teoria de Newton e especialmente da teoria da relatividade?_ Para tornar claro esse contraste, devo explicar que, naquela época, poucos afirmariam acreditar na verdade contida na teoria da gravitação de Einstein. O que me incomodava, portanto, não era o facto de duvidar da veracidade daquelas três teorias; também não era o facto de que considerava a física matemática mais exacta do que as teorias de natureza psicológica ou sociológica. O que me preocupava, portanto, não era, pelo menos naquele estágio, o problema da veracidade, da exatidão ou da mensurabilidade. Sentia que as três teorias, embora se apresentassem como ramos da ciência, tinham de facto mais em comum com os mitos primitivos do que com a própria ciência, que se aproximavam mais da astrologia do que da astronomia. Percebi que meus amigos admiradores de Marx, Freud e Adler, impressionavam-se com uma série de pontos comuns às três teorias, e sobretudo com sua aparente capacidade de explicação. Essas teorias pareciam poder explicar praticamente tudo nos seus respetivos campos. O estudo de qualquer uma delas parecia ter o efeito de uma conversão ou revelação intelectual, abrindo os olhos para uma nova verdade, escondida dos ainda não iniciados. Uma vez abertos os olhos, podia-se ver exemplos confirmadores em toda parte: o mundo estava repleto de verificações da teoria. Qualquer coisa que acontecesse vinha confirmar isso. A verdade contida nessas teorias, portanto, parecia evidente; os descrentes eram nitidamente aqueles que não queriam vê-la: recusavam-se a isso para não entrar em conflito com seus interesses de classe ou por causa de repressões ainda não analisadas, que precisavam urgentemente de tratamento. o mais característico da situação parecia ser o fluxo incessante de confirmações, de observações que verificavam as teorias em questão, ponto que era enfatizado (salientado) constantemente: um marxista não abria um jornal sem encontrar em cada página evidência a confirmar sua interpretação da história. Essa evidência era detetada não só nas noticias, mas também na forma como eram apresentadas pelo jornal - que revelava seu preconceito de classe - e sobretudo, é claro, naquilo que o jornal não mencionava. Os analistas freudianos afirmavam que suas teorias eram constantemente verificadas por observações clínicas. Quanto a Adler, fiquei muito impressionado por uma experiência pessoal. Certa vez, em 1919, informei-o de um caso que não me parecia ser particularmente adleriano, mas que ele não teve qualquer dificuldade em analisar nos termos da sua teoria do sentimento de inferioridade, embora nem mesmo tivesse visto a criança em questão. Ligeiramente chocado, perguntei como podia ter tanta certeza. _Porque já tive mil experiências desse tipo_ - respondeu; ao que não pude deixar de retrucar: _Com este novo caso, o número passará então a mil e um… O que queria dizer era que suas observações anteriores podiam não merecer muito mais certeza do que a última; que cada observação havia sido examinada à luz da experiência anterior, somando-se ao mesmo tempo às outras como confirmação adicional. Mas, perguntei a mim mesmo, que é que confirmava cada nova observação? Simplesmente o facto de que cada caso podia ser examinado à luz da teoria. Reflecti, contudo, que isso significava muito pouco, pois todo e qualquer caso concebível pode ser examinado à luz da teoria de Freud e de Adler. Posso ilustrar esse ponto com dois exemplos muito diferentes de comportamento humano: o do homem que joga uma criança na água com a intenção de afogá-la e o de quem sacrifica sua vida na tentativa de salvar a criança. Ambos os casos podem ser explicados com igual facilidade, tanto em termos freudianos como adlerianos. Segundo Freud, o primeiro homem sofria de repressão (digamos, algum componente do seu complexo de Édipo) enquanto o segundo alcançara a sublimação. Segundo Adler, o primeiro sofria de sentimento de inferioridade (gerando, provavelmente, a necessidade de provar a si mesmo ser capaz de cometer um crime), e o mesmo havia acontecido com o segundo (cuja necessidade era provar a si mesmo ser capaz de salvar a criança). Não conseguia imaginar qualquer tipo de comportamento humano que ambas as teorias fossem incapazes de explicar. 
Era precisamente esse facto - elas serviam sempre e eram sempre confirmadas - que constituía o mais forte argumento em seu favor. Comecei a perceber aos poucos que essa força aparente era, na verdade, uma fraqueza. Com a teoria de Einstein, a situação era extraordinariamente diferente. Tomemos um exemplo típico - a predição de Einstein, confirmada havia pouco por Eddington. A teoria gravitacional de Einstein havia levado à conclusão de que a luz devia ser atraída pelos corpos pesados (como o Sol), exatamente como ocorria com os corpos materiais. Calculou-se portanto que a luz proveniente de uma estrela distante, cuja posição aparente estivesse próxima ao Sol, alcançaria a Terra de uma direção tal que a estrela pareceria estar ligeiramente deslocada para longe do Sol. Em outras palavras, as estrelas próximas do Sol pareceriam ter-se afastado um pouco dele e entre si. Isso não pode ser normalmente observado, pois as estrelas tornam-se invisíveis durante o dia, ofuscadas pelo brilho irresistível do Sol; durante um eclipse, porém, é possível fotografá-las. Se a mesma constelação é fotografada durante um eclipse, de dia e à noite, pode-se medir as distâncias em ambas as fotografias e verificar o efeito previsto. o mais impressionante neste caso é o risco envolvido numa predição desse tipo. Se a observação mostrar que o efeito previsto definitivamente não ocorreu, a teoria é simplesmente refutada: ela é incompatível com certos resultados passíveis da observação; de facto, resultados que todos esperariam antes de Einstein. Essa situação é bastante diferente da que descrevi anteriormente, pois tornou-se evidente que as teorias em questão eram compatíveis com o comportamento humano extremamente divergente, de modo que era praticamente impossível descrever um tipo de comportamento que não servisse para verificá-las. Durante o Inverno de 1919-1920, essas considerações levaram-me a conclusões que posso agora reformular da seguinte maneira. (1) É fácil obter confirmações ou verificações para quase toda teoria – desde que as procuremos. (2) As confirmações só devem ser consideradas se resultarem de predições arriscadas; isto é, se, não esclarecidos pela teoria em questão, esperarmos um acontecimento incompatível com a teoria e que a teria refutado. (3) Toda teoria científica boa é uma proibição: ela proíbe certas coisas de acontecer. Quanto mais uma teoria proíbe, melhor ela é. (4) A teoria que não for refutada por qualquer acontecimento concebível não é científica. A irrefutabilidade não é uma virtude, como frequentemente se pensa, mas um vício. (5) Todo teste genuíno de uma teoria é uma tentativa de refutá-la. A possibilidade de testar uma teoria implica igual possibilidade de demonstrar que é falsa. Há, porém, diferentes graus na capacidade de se testar uma teoria: algumas são mais testáveis, mais expostas à refutação do que outras; correm, por assim dizer, maiores riscos. (6) A evidência confirmadora não deve ser considerada se não resultar de um teste genuíno da teoria; o teste pode-se apresentar como uma tentativa séria porém malograda de refutar a teoria. (Refiro-me a casos como o da evidência corroborativa). (7) Algumas teorias genuinamente testáveis, quando se revelam falsas, continuam a ser sustentadas por admiradores, que introduzem, por exemplo, alguma suposição auxiliar ad hoc, ou reinterpretam a teoria ad hoc de tal maneira que ela escapa à refutação. Tal procedimento é sempre possível, mas salva a teoria da refutação apenas ao preço de destruir (ou pelo menos aviltar) o seu padrão científico. (Mais tarde passei a descrever essa operação de salvamento como uma distorção convencionalista ou um estratagema convencionalista) Pode-se dizer, resumidamente, que o critério que define o estatuto científico de uma teoria é a sua capacidade de ser refutada ou testada.

Karl R. Popper, Conjecturas e Refutações Brasília: Editora da UnB. 1980.


Correção do exercício sobre dois textos




TEXTO 1 - Texto de Pappineau


1. Popper considera que o método da ciência não é indutivo porque qualquer observação de um elemento natural já é guiada por uma hipótese teórica e, portanto a teoria vem antes da prática e da experiência. As observações servem para refutar ou corroborar uma hipótese e não para a criar.

2. Porque por mais observações que façamos que confirmem a hipótese nunca poderemos dizer que a hipótese é verdadeira e está provada, pois pode haver uma observação que não foi ainda realizada e que pode refutá-la.

3.  As teorias científicas são hipótese que foram corroboradas pela experiência e observação mas permanecem não como verdades mas como conjeturas que resistiram  aos testes de falsificação.. Qualquer teoria científica é uma conjetura que  ainda não foi refutada e que permanece em aberto como um desafio para os cientistas.

4. Porque apenas uma observação ou experiência pode refutar uma teoria mas inúmeras observações que a confirmam não são suficientes para prova-la porque como tem uma abrangência universal seria impossível fazer todas as experiências porque para prova-la o número de experiências é infinito.

TEXTO 2-Warburton

1. Uma teoria é uma conjetura bem informada que resiste aos testes para ser refutada. O método da ciência não começa com observações e delas retira uma teoria como o método indutivo prevê, mas ao contrário começa com uma hipótese teórica e dela se deduzem consequências que podemos experimentar para ver se  corroboram ou refutam o que pensávamos teoricamente.

2. O método da ciência e a sua forma de progredir é através de conjeturas e refutações.

3. O método consiste em retirar por dedução consequências da hipótese teórica e submete-las a testes que não pretendem provar a verdade da hipótese mas sim ver se é falsa. Se a hipótese resistir aos testes é mantida como teoria corroborada, se não é abandonada e substituída por outra que seja mais apta e não cometa os mesmos erros.

4. Um único caso é suficiente para refutar uma teoria mas inúmeros casos que a confirmem nunca poderão prová-la.