terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Correção teste Fevereiro 2019



1. (11D) O conhecimento científico e o senso comum são dois tipos de conhecimento ou duas formas de sabedoria que se podem completar para a constituição de uma visão mais equilibrada e justa do mundo. Por vezes apontam para soluções opostas, outras vezes o senso comum acaba por assumir as posições científicas, outras ainda a ciência acaba por explicar velhas crenças do senso comum, como conclusão poderíamos dizer que ambos se preocupam por encontrar soluções satisfatórias para os vários problemas práticos que se vão colocando, embora o conhecimento científico também tenha uma ambição teórica visto que ele quer explicar através de teorias abrangentes, vários fenómenos diferentes, enquanto que o senso comum não é teórico mas prático, vai acumulando um saber fruto das experiências e dos costumes passados fundamentados na “perceção” direta do mundo, na sua aparência imediata e na transmissão oral “ contextualizadas na perceção e na língua” como refere o texto.  O ideal de objetividade da ciência corta com esta visão do mundo imediata e apresenta-nos uma outra natureza fruto de uma investigação metódica  e de uma experimentação artificial e construída racionalmente . A linguagem científica pretende ultrapassar as ambiguidades comuns da língua e , para isso, encontrou uma simbologia matemática consensual entre a comunidade científica e precisa nos elementos que evoca.
Deste modo, o conhecimento científico por ser metódico e por querer atingir uma explicação universal dos fenómenos a partir de um conjunto de hipóteses racionais que forçam a natureza a responder às suas questões, acaba com a espontaneidade do senso comum e com a sua subjetividade prática e utilitária. De facto a ciência não aspira apenas à solução dos problemas quotidianos, ela visa compreender a natureza como um todo, as suas leis e as relações uniformes entre os fenómenos.

Há uma lentidão e resistência do senso comum a ideias novas que possam entrar em contradição com aquilo que habitualmente pensa o que se traduz numa dimensão conservadora e fortemente tradicional que pode resultar como travão para um avanço demasiado rápido das tecnologias que resultam da investigação científica. Este fator pode ser encarado positivamente como adequação entre um pensar coletivo, mais lento na assimilação de novas práticas e ideias, e a comunidade e interesses mercantis da ciência, mais rápidos e sempre em mutação. O senso comum é acrítico, isto é, não se deixa refutar mesmo que novos factos possam desmentir as suas crenças. Esta característica produz uma sensação de desfasamento que pode identificar o senso comum com o preconceito uma vez que se agarra a verdades eternas que nada têm que as justifique senão a tradição. Contrariamente, o conhecimento científico tem uma forte exigência  crítica sobre si próprio; as teorias científicas exigem o confronto com a experiência e a contínua revisão e aperfeiçoamento  das suas teorias de acordo com os testes a que vão sendo sujeitas. Estas características a crítica e a revisão constante, dão credibilidade e segurança ao conhecimento científico. Por estar continuamente a ser revisto, aperfeiçoado, e retificado ou refutado através de testes empíricos, este conhecimento evolui e está em constante e rápida mudança. 

O senso comum é útil para servir de limite aos excessos da ciência mas também pode constituir um obstáculo ao seu avanço porque tem dificuldade em aceitar e compreender tudo o que não se adapta ou está na margem das suas certezas. Parte dos dados dos sentidos ( o que se faz, o que se ouve, o que se pensa, o que acontece) e acumula factos de áreas diferentes que são também produto de diferentes costumes culturais, por exemplo a mesma doença pode ter vários tratamentos tradicionais consoante a área geográfica ou cultural, o seu procedimento não é pois metódico nem organizado mas fragmentado e ocasional, enquanto o conhecimento científico é um tipo de saber organizado em disciplinas científicas como a Biologia, a História etc e que pretende ser universal, a mesma metodologia científica é imposta a todas as comunidades científicas seja qual for o lugar no mundo.

2..Segundo Popper a prática científica não é afetada pelo problema da indução levantado por
Hume. Porquê? Na sua resposta comece por apresentar o problema da indução levantado
por Hume.
O problema da indução, tal como é exposto por David Hume, consiste em demonstrar que a
crença na indução não está justificada porque ultrapassa a experiência e a razão, isto é, não
pode ser justificada nem empiricamente nem racionalmente. Acreditamos que a natureza é
uniforme e, por isso acreditamos que aquilo que aconteceu de uma determinada maneira irá
acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o pressuposto que garante as nossas
generalizações futuras, mas esse pressuposto já resulta ele próprio de uma generalização e de
uma previsão, isto é, aquilo que garante a validade de uma indução é conseguido através da
indução, utiliza-se o mesmo processo para validar algo que devia ser validado por um outro
conhecimento onde se pudesse fundar. Há assim um raciocínio falacioso, uma petição de
princípio.
A crítica de Popper à indução coloca-se em 3 passos:
a) Não há observação neutra pois esta já é direcionada por um problema teórico.
b) As leis científicas não resultam de uma generalização a partir de casos particulares porque
elas são universais e a generalização só é válida para os casos observados.
c) A conclusão de um raciocínio indutivo é sempre provável, assim as leis científicas teriam de
ser probabilísticas e não são, logo não podem resultar de um raciocínio indutivo.
A teoria epistemológica de Popper ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo
método: o falsificacionismo. O falsificacionismo é, simultaneamente, um critério de
demarcação científica, isto é, um critério para separar conhecimento científico e não científico;
e, por outro lado, uma nova forma de compreender a metodologia das ciências propondo
como realmente científica uma metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Apresentação da
justificação de Popper para que o método da discussão crítica não estabeleça coisa alguma: – o
método científico é o método da discussão crítica, e consiste em testar (empiricamente)
teorias que são propostas como respostas a problemas; – testar uma teoria implica pô-la à
prova, e pôr uma teoria à prova consiste em tentar falsificar/refutar a teoria em causa,
sujeitando-a a «testes rigorosos»; – caso a teoria não supere os testes (empíricos) a que foi
submetida, considera-se que foi falsificada, devendo ser rejeitada ou revista/reformulada, e
novamente submetida a testes; – caso a teoria supere os testes (empíricos) a que foi
submetida, não se pode considerar que foi confirmada (apenas se pode considerar que foi
corroborada), pois existe a possibilidade de um teste (empírico) futuro a falsificar; – (o método
crítico funciona negativamente, pois) uma teoria, ainda que supere testes (empíricos)
rigorosos, nunca pode ser estabelecida como verdadeira (nem como provavelmente
verdadeira): apenas se pode afirmar que «parece ser a melhor que está disponível».

3. Será que o conhecimento científico vai evoluindo no sentido de se aproximar da
verdade? 2 Posições sobre este problema Thomas Kuhn e Karl Popper.
Para Kuhn não há verdadeiro progresso ou evolução porque os paradigmas que se vão
sucedendo são incomensuráveis, isto é, não podem ser comparados porque apresentam
diferentes formas de trabalhar, de selecionar fenómenos e novos princípios metafísicos.
Há, portanto, na evolução da ciência, cortes abruptos que correspondem a revoluções
científicas, de mudanças de paradigma. As revoluções científicas sucedem-se a períodos
criativos em que há teorias diferentes e a comunidade científica não forma consenso acerca de
nenhuma delas. A escolha de uma teoria pela comunidade científica equivale a um acordo
sobre a forma proposta de explicar os fenómenos. Uma vez acordado, ele torna-se exemplar e
guia a comunidade para um desenvolvimento desta conceção dando origem a um novo
paradigma e a uma nova fase de ciência normal. Todavia não há objetividade na escolha dos
Paradigmas visto que este consenso é muitas vezes impossível e a escolha é influenciada por
fatores externos aos critérios objetivos.
Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à verdade na medida em que se
faz eliminando os erros das teorias e substituindo-as por outras mais abrangentes e
consistentes com os factos observados. Visto que a ciência se faz num processo racional de
conjeturas e refutações em que o papel da subjetividade tende a diminuir pois o cientista
trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os limites de cada teoria.
Embora não haja qualquer espécie de certezas pois o progresso científico é um sistema em
aberto e nenhuma teoria é verdadeira mas apenas provisoriamente corroborada. A
substituição de uma teoria por outra é um processo de seleção em que as novas teoria
aperfeiçoam as antigas na medida em que não cometem os mesmos erros da anterior,
explicam os fenómenos das anteriores e ainda explicam novos fenómenos. Daí haver
continuidade na evolução científica.

4.(1para o 11E) A tese empirista de D. Hume sobre a conexão causal é a seguinte:
a) Não há nenhuma impressão de conexão causal; ora se não há impressão
também não pode haver ideia, visto que, segundo o empirismo não há ideias sem impressões
sensíveis.
b) A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo
e contiguidade no espaço: “O mesmo objeto é seguido pelo mesmo evento”. Esta repetição de
um fenómeno a seguir ao outro leva-nos a estabelecer a crença de que estes andam sempre
ligados, isto é, se sucede um, logo a seguir tem de suceder outro.
c) Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está
justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza
qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou
conexão necessária”, o que temos a impressão é de fenómenos singulares, isolados embora
sucedendo-se uns aos outros; logo não há conhecimento mas um hábito psicológico que é
criado pela sucessiva repetição dos fenómenos que se apresentam ligados. Se o conhecimento
de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é “apriori” (argumento do
ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é
um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamos e pensamos como uma conexão
necessária e, portanto, ultrapassamos a experiência.
d) Logo, para concluir não há uma explicação empírica para uma conexão
necessária, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico.


4. (11E)O texto relata duas formas de entender a Lua: uma mais emocional, imediata e prática e outra mais racional, metódica e teórica. A primeira corresponde ao conhecimento dito “vulgar”, ao conhecimento que todos têm a partir da experiência quotidiana; o segundo diz respeito a um conhecimento mais elaborado, o conhecimento científico e tecnológico. Como é referido no texto: “A lua é linda” é uma proposição que traduz uma emoção subjetiva e a expressão pode ter vários sentidos; em contrapartida “ A Lua fica a 384 400Km da Terra” é uma proposição que corresponde a um juízo de facto, tem valor de verdade e anuncia uma propriedade objetiva da Lua, esta linguagem é numérica e por isso, universal e objetiva. A linguagem destes dois tipos de conhecimento é diferente e visa um fim diferente. Por outro lado, quando se descreve “A lua cheia condiciona as marés” está a descrever-se um facto mas sem explicar a razão pela qual isso acontece, na proposição seguinte “são provocadas pela variação da intensidade da força gravitacional”, estabelece-se uma relação causal que explica o facto da lua condicionar as marés. O conhecimento científico adianta razões e, por isso, procura uma racionalidade que seja confirmada ou refutada metodicamente por testes empíricos, contrariamente o conhecimento vulgar, reconhece a influência da Lua pois indutivamente generalizou a partir da observação, mas não explica porquê.

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