sexta-feira, 15 de março de 2013

Correcção do Teste Março 2013


4ª Prova de avaliação de Filosofia do 11º Ano Professora Helena Serrão - Duração da Prova 90m Paço de Arcos, 27 de Fevereiro de 2013 ______________________________________________________________________ Versão B Grupo I (4x30 Pontos)

“ O costume, pois, é o grande guia da vida humana. Unicamente este princípio nos torna útil a experiência e nos faz esperar, para o futuro, uma série de eventos semelhantes àqueles que apareceram no passado.”

David Hume, Investigação Sobre o Entendimento Humano

1. Explique qual o problema enunciado no texto.

RESPOSTA

No texto de Hume refere-se à importância do costume ou hábito na construção do conhecimento dos factos. É devido à percepção da repetição de certos fenómenos que se sucedem em contiguidade no tempo e no espaço que estabelecemos uma relação entre eles e pensamos poder prever que sempre que um acontece o outro também acontecerá. Esta forte crença de uma conexão necessária entre dois fenómenos permite-nos estabelecer uma relação de causa e efeito entre os dois. O problema que trata o texto é a origem da relação de causa e efeito. Para Hume esta origem é o costume. Mas o costume não é uma justificação forte pois o que acontece repetidas vezes não nos pode garantir que vai acontecer sempre. A relação entre dois fenómenos não é lógica mas psicológica, embora venham repetidas vezes juntos os fenómenos são separados e podem não acontecer juntos portanto a nossa previsão que sempre que há fumo, há fogo não é certa, pois não existe uma conexão necessária entre os dois. O argumento de Hume é baseado no princípio de que nada podemos saber sem ser através de impressões sensíveis. Ora a relação de causalidade corresponde á impressão de vermos dois fenómenos sucederem-se no tempo e em espaços contíguos. Essa impressão acontece repetidamente, logo criamos uma expectativa e fazemos uma previsão que irá acontecer também no futuro. Mas essa previsão é apenas baseada num hábito psicológico. Nada há racionalmente que possa ligar de forma indissolúvel dois fenómenos. Como a experiência é contingente e a relação causal necessária, então esta é uma ilusão construída pelo hábito psicológico sem fundamento racional ou empírico.

2. Identifique os tipos de percepções da mente segundo David Hume.

Impressões e ideias são percepções mentais, isto é, constituem todo o conteúdo da mente que podemos conhecer. As primeiras são originais e antecedem as segundas que são cópias feitas mediante a memória das impressões vividas. Podemos ter ideias de objectos nunca antes vividos, se associarmos ideias simples, formando assim ideias complexas como a ideia de vampiro. Podemos também antecipar o prazer ou a dor vividas pela expectativa de as voltarmos a viver. Seja pela memória ou pela imaginação as percepções pensadas, ideias, não são nunca tão fortes e intensas como as vividas, impressões, e sendo que o original é sempre mais forte e perfeito que a cópia, Hume conclui que as impressões são actos originais e que não existem ideias sem na origem estar a impressão interna ou externa equivalente.

..“ […] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes que possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira vista, parecem mais distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que dela são derivadas.”

David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano»

3. Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes.

Hume é um filósofo empirista porque rejeita um conhecimento do mundo fundado em ideias a priori. Defende a tese de que nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos, que nos possibilitam as impressões sem as quais as ideias não são possíveis. Fundamenta-se na noção de que qualquer conceito para ter um significado tem que se referir a uma sensação/impressão, essas sensações são simples e a mente neste primeiro momento capta apenas as sensações e depois por memória, e através das operações da mente forma os conceitos ou ideias, estas não são tão vivas como as sensações ou impressões o que quer dizer que são posteriores, isto é, vêm a seguir, não são originais. O empirismo admite ser o conhecimento adquirido por impressões e fundamentado na experiência sem a qual não é possível nenhum tipo de organização racional, a experiência é o ponto de partida e critério de verdade, sobre os factos do mundo. Quanto ao Racionalismo cartesiano como perspectiva filosófica, fundamenta o conhecimento na razão e na capacidade desta retirar ideias a partir de outras ideias de forma evidente e dedutiva sem recorrer à experiência - ideias inatas. O Modelo de conhecimento verdadeiro para os racionalistas é o modelo matemático porque tem necessidade lógica e validade universal. Descartes é um filósofo racionalista porque defende a possibilidade de um conhecimento “a priori”. O critério da verdade do conhecimento é a evidência das ideias, uma vez que uma ideia é tão clara e distinta que se apresenta inquestionável à razão, essa ideia é verdadeira. Segundo o modelo matemático estas ideias são como axiomas que servem como fundamentos para outros conhecimentos deduzidos a partir delas. O racionalismo considera válido apenas o conhecimento universal e necessário e defende que este é possível, enquanto o empirismo não pode fundamentar este tipo de conhecimento a partir dos factos, dos factos só podemos ter um conhecimento com um certo grau de probabilidade.

“Assim, rejeitando todas aquelas coisas de que podemos duvidar de algum modo, e até mesmo imaginando que são falsas, facilmente supomos que não existe nenhum Deus, nenhum céu, nenhuns corpos; e que nós mesmos não temos mãos, nem pés, nem de resto corpo algum; mas não assim que nada somos, nós que tais coisas pensamos: pois repugna que se admita que aquele que pensa, no próprio momento em que pensa, não exista.”

René Descartes, Princípios da Filosofia,

4. Infira, a partir do texto, os primeiros princípios indubitáveis aceites por Descartes.

No texto, Descartes coloca em marcha a dúvida metódica, isto é, dúvida sistematicamente de todas as coisas, e, por isso rejeita-as como falsas, deste modo poderá encontrar as crenças indubitáveis que se auto-justificam e que podem ser o fundamento de todo o conhecimento. Assim, irão ser rejeitadas as crenças na existência de Deus, do mundo, a crença no que vemos, ouvimos etc, a crença na confiança dos sentidos e a crença no corpo. Através deste método Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara ,distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao cepticismo. As primeiras crenças básicas inferidas do Cogito são: A existência de Deus. Porque se duvido sou imperfeito, Qual a causa da ideia de perfeição? Não posso ser eu nem o mundo só pode ser Deus, logo Deus existe. A terceira crença básica é a distinção entre a alma e o corpo. Vejo claramente que a existência da alma é mais certa que a do corpo, pois poderia existir mesmo sem corpo algum, mas não poderia existir se não pensasse.

Grupo II (7x5 Pontos)

1. Os argumentos cépticos

A. Não afectam o conhecimento.

B. Destroem a nossa crença na verdade.

C. Permitem a superação da dúvida.

D. Aumentam a certeza sobre o conhecimento.

2. O argumento da “regressão infinita”

A. Não é argumento nenhum

B. Pretende pôr em causa a razão.

C. É um argumento céptico “a posteriori”

D. É um argumento céptico “a priori”

3. A dúvida cartesiana é:

A. Sistemática mas provisória.

B. Dogmática e irracional.

C. Não há tal coisa como dúvida cartesiana.

D. Constante e definitiva.

4. A hipótese de um génio maligno serve para:

A. Iniciar-se em práticas esotéricas.

B. Duvidar da experiência do mundo.

C. Pôr em causa as verdades matemáticas “a priori”.

D. Pôr em causa Deus.

5. O cepticismo moderado de Hume :

A. Admite não haver razões para sustentar a existência do mundo exterior à mente.

B. Hume não é céptico.

C. Recorre ao génio maligno para sustentar o mundo das impressões.

D. Não encontra fundamentos para a existência de Deus.

6. Um dos argumentos do empirismo é o de que:

A. Acerca do mundo só há impressões.

B. As ideias não têm significado sem as impressões respectivas

C. O conhecimento matemático não é possível.

D. As impressões são vagas e as ideias fortes.

7. As razões para defender o racionalismo são:

A. A necessidade de criticar a experiência.

B. A necessidade de fundamentar o conhecimento de forma inquestionável.

C. Não há razões para se ser racionalista.

D. A aplicação da matemática todas as áreas do saber

Grupo III (3x15 Pontos)

1. Para haver conhecimento, a crença verdadeira é suficiente. Será esta afirmação verdadeira? Justifique a sua resposta, recorrendo a um exemplo.

Não, a afirmação é falsa, a crença verdadeira não é conhecimento porque podemos ter uma crença verdadeira por mera sorte ou por intuição, tal como acertar nos números de um concurso por palpite, ou saber algo por ouvir dizer sem uma forte razão não há conhecimento porque este não resulta do acaso.

2. Explique porque é o objecto transcendente ao sujeito no acto cognitivo.

O Objecto é transcendente ao sujeito porque não se deixa possuir na representação que o sujeito tem, permanece como algo exterior ao sujeito do qual ele apenas tem uma imagem na sua consciência mas não o objecto em si que não pode ser reduzido a uma imagem, é algo para além dela.

3. Questões de facto e Relação de ideias. Qual a distinção?

Conhecimento de questões de facto e conhecimento de relação de ideias. A primeira proposição dá-nos uma informação sobre o modo como o mundo é, mas o o conhecimento que daí resulta é contingente e não necessário, isto é a ponte 25 de Abril existe naquele lugar e a proposição é verdadeira, mas não de forma necessária, porque não só poderia existir noutro lugar, fazendo a proposição sentido, como poderá ser falsa no futuro, se a ponte deixar de existir ou mudar de nome. Assim, todos os conhecimentos de facto que são justificados pela experiência, não são verdades necessárias. O segundo conhecimento não nos acrescenta nova informação aquela que já está contida no conceito de quadrado, porque se é um quadrado tem de ter quatro lados, isto é o predicado faz parte da definição do conceito. Por outro lado este conhecimento é necessário, é sempre verdadeiro e o seu contrário implica uma contradição, é impossível pensar o seu contrário, isto é não tem sentido um quadrado ter mais ou menos que quatro lados.