segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Matriz do teste - tópicos.



CONHECIMENTO EM GERAL: 

1. Reconhece as funções da crença, da verdade e da justificação na perspetiva tradicional do conhecimento.

2. Exemplifica o conhecimento de “saber fazer”, proposicional e por contacto. 

3. Compreende as objeções de Gettier  face à visão tripartida do conhecimento.

4. Descreve a abordagem fenomenológica do ato de conhecer.

5. Explicita as posições filosóficas sobre o problema da origem do conhecimento.

6. Explicita as posições filosóficas sobre o problema da possibilidade do conhecimento.

7. Reflete sobre as virtualidades/limites do racionalismo/empirismo.

8. Confronta as duas perspetivas – a empirista e a racionalista.



DESCARTES:

9. Compreende as características e finalidade do método da dúvida.

10. Expõe os argumentos de Descartes para provar a existência de Deus

11. Fundamenta a noção de verdade evidente e indubitável.

12. Analisa as objeções às provas da existência de Deus.

13. Relaciona a prova da existência de Deus com a unidade e fundamento do conhecimento.
 cartesiano.



HUME:

16. Compreende o problema da causalidade colocado por Hume como problema filosófico.

17. Descreve os passos da argumentação de Hume para negar a conexão necessária entre dois factos.

18. Contrasta o conhecimento de relação de ideias e conhecimento de questões de facto.

19. Caracteriza impressões e ideias como perceções da mente.






terça-feira, 27 de novembro de 2018

Correção da ficha de revisões.


GRUPO I

1. O texto analisa a forma como Descartes fundamenta a sua primeira verdade indubitável . A partir da dúvida metódica que era um método cético, ultrapassa a argumentação cética e a descrença na possibilidade de alcançar a verdade demonstrando o carácter indubitável da verdade de que “Penso logo existo”. A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se autojustificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo  e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.

2. 1º Argumento:
Depois de concluir que de todas as verdades que julgara possuir só uma, a de que existia, parecia ser certa e inabalável, Descartes, fica sozinho com esta única certeza, não podendo provar que as coisas em redor dele existiam e sem poder confiar  em qualquer conhecimento obtido pela experiência (sentidos). Visto considerar-se imperfeito, pois via claramente que duvidar e errar eram imperfeições e que há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra (conhecer é perfeição maior que duvidar), interroga-se então qual a origem desta sua  ideia de perfeição? Não podia ser ele próprio, nem podia surgir do nada, visto que (não há menos repugnância em que o mais perfeito seja uma consequência e uma dependência do menos perfeito do que em admitir que do nada procede alguma coisa).
 Também não podia surgir da natureza porque nada na natureza lhe parecia superior. Mas esta ideia não poderia ser retirada de algo que possuísse algumas imperfeições, só podia ter como causa um ser sumamente perfeito. Restava apenas que tivesse sido posta em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita que a minha. A causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus. Logo, Deus existe.

2º Argumento – Argumento ontológico.
Se a ideia de Deus é a de um ser perfeito, desta ideia ou conceito fazem parte todas as perfeições que possam ser pensadas como; omnipotência, omnisciência e omnipresença. Nenhuma imperfeição pode caber na ideia de um ser perfeito, ora, a não existência, é uma imperfeição que não pode ser atribuída ao ser perfeito. Logo, a não existência é incompatível com a perfeição, sendo assim a perfeição é existente, e Deus sendo a ideia de perfeição, existe.

3. Conhecimento de questões de facto e conhecimento de relação de ideias. O primeiro dá-nos a informação sobre o modo como o mundo é, mas o o conhecimento que daí resulta é contingente e não necessário. As verdades de facto como: "A ponte 25 de Abril situa-se em Lisboa" podem ser negadas sem que esta negação implique contradição,  pois poderia ser de outro modo, não repugna racionalmente que a Ponte não estivesse em Lisboa, essa proposição faz sentido e poderia ainda ser pensada. Assim, todos os conhecimentos de facto que são justificados pela experiência, não são verdades necessárias, ora todas as verdades contingentes são apenas provavelmente verdadeiras. O segundo conhecimento não nos acrescenta nova informação àquela que já está contida nos conceitos ou ideias, por exemplo; " O quadrado tem quatro lados", porque se é um quadrado tem de ter quatro lados, isto é, o predicado faz parte da definição do conceito. Por outro lado este conhecimento é necessário, é sempre verdadeiro e o seu contrário implica uma contradição, é impossível pensar o seu contrário, isto é não tem sentido um quadrado ter mais ou menos que quatro lados. Explicação: Conhecimento de factos é contingente e a sua negação não implica contradição, enquanto que o conhecimento de relação de ideias é necessário e a sua negação implica uma contradição. Explicação: relacionar ideias só necessita de um acordo lógico da razão consigo mesma, é independente dos factos do mundo, logo pode ser um conhecimento necessário visto que está fundado em leis universais e necessárias que são as leis racionais. Quanto ao conhecimento dos factos, necessita da experiência, das impressões e percepções, essa experiência é limitada, visto que o sujeito não pode conhecer todos os factos. A experiência mostra-nos uma realidade em mudança, e a necessidade de alterar crenças, logo ,o conhecimento resultante da experiência, é também contingente, pois poderia ser de outro modo, não podemos ter acesso a verdades necessárias, não é necessário que aconteça assim, há a sempre a possibilidade de mudança, de ser de outro modo.

 4.   Impressões e ideias são perceções mentais, isto é, constituem todo o conteúdo da mente que podemos conhecer. As primeiras são originais e antecedem as segundas que são cópias feitas mediante a memória das impressões vividas. Podemos ter ideias de objetos nunca antes vividos, se associarmos ideias simples, formando assim ideias complexas como a ideia de vampiro. Podemos também antecipar o prazer ou a dor vividas pela expectativa de as voltarmos a viver. Seja pela memória ou pela imaginação as perceções pensadas, ideias, não são nunca tão fortes e intensas como as vividas, impressões, e sendo que o original é sempre mais forte e perfeito que a cópia, Hume conclui que as impressões são atos originais e que não existem ideias sem na origem estar a impressão interna ou externa equivalente. As impressões podem ser simples ou complexas e podem ser interiores ou exteriores, sendo que as primeiras são vividas pela sensibilidade e as segundas resultam de um sentimento, paixão ou dor vividos interiormente pelo sujeito. As ideias podem ser ainda gerais quando resultam da associação de ideias simples, de acordo com a sua semelhança para a formação dos conceitos, ou as ideias complexas são o fruto da associação de ideias simples através da imaginação.

Grupo II
1- D
2- A
3 – D
4- A
5- A

Grupo III
1. Não o João não sabe que vai ter muitas prendas. O João tem uma crença verdadeira mas não está justificada, pois o João justifica a sua crença na existência do Pai Natal, ora o Pai Natal não existe a crença do João embora verdadeira não tem fundamento.
2. Não podemos saber que a Lua é feita de queijo porque é falso. A Lua não é feita de queijo mas sim de matéria rochosa, sendo assim esta crença é falsa. O conhecimento é factivo, podemos acreditar em crenças falsas mas não podemos conhecer falsidades.

Grupo IV
1. Descartes é um filósofo racionalista. O Racionalismo cartesiano como perspetiva filosófica, fundamenta o conhecimento na razão e na capacidade desta retirar ideias a partir de outras ideias de forma evidente e dedutiva sem recorrer à experiência - ideias inatas. O Modelo de conhecimento verdadeiro para os racionalistas é o modelo matemático porque tem necessidade lógica e validade universal. Descartes é um filósofo racionalista porque defende a possibilidade de um conhecimento “a priori”. O critério da verdade do conhecimento é a evidência das ideias, uma vez que uma ideia é tão clara e distinta que se apresenta inquestionável à razão, essa ideia é verdadeira. Segundo o modelo matemático estas ideias são como axiomas que servem como fundamentos para outros conhecimentos deduzidos a partir delas. O Racionalismo defende que o conhecimento verdadeiro é a priori, isto é , independente da experiência. Poderíamos rejeitar todas as informações que derivam das sensações do mundo, o tato, o cheiro, a visão dos objetos, restariam as ideias que são formadas pela razão e por ela intuídas e, que não tendo origem na experiência porque não derivam dela, são válidas por si, e tão claras e evidentes à Razão que esta vê, segundo a sua luz natural, que não poderiam ser de outro modo. Os Racionalistas creem que estas ideias podem ser os princípios (crenças básicas) de todo o conhecimento e que a partir delas, por um raciocínio dedutivo se pode chegar a outros conhecimentos sobre a realidade , que, se dedução for feita corretamente, serão igualmente verdadeiros.
Quanto ao Empirismo rejeita as ideias inatas da Razão, e a noção de conhecimento "a priori" . Defende a tese de que nada existe na mente que não tenha passado antes pelos sentidos, fundamenta-se na noção de que qualquer conceito para ter um significado tem que se referir a uma sensação/impressão qualquer, essas sensações são simples e a mente neste primeiro momento capta apenas as sensações e depois por abstração e generalização forma os conceitos ou ideias, estas não são tão vivas como as sensações ou impressões o que quer dizer que são posteriores a estas. Os empiristas dão o exemplo das crianças que começam por ter sensações e só depois as articulam numa linguagem. O raciocínio que o entendimento faz para chegar ao conhecimento, segundo os empiristas é a indução, por acumulação de experiências que se repetem, generaliza-se para todos os casos e assim se obtém um conhecimento 


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Ficha de revisões para o teste.

Grupo I

(4x30)

Leia o texto com atenção e responda com objectividade e clareza às questões formuladas.

“E notando que esta verdade: penso; logo, existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos não eram capazes de a abalar julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava. Depois examinando atentamente o que eu era e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia nenhum mundo, nem qualquer lugar onde eu existisse; mas que não podia fingir, para isso, que eu não existia; e que, pelo contrário, justamente porque pensava ao duvidar da verdade das outras coisas, seguia-se muito evidentemente e muito certamente que eu existia.”
René Descartes, O Discurso do Método , pag.75

  1. Explique, tendo em conta o texto, o modo como Descartes abala “as extravagantes suposições dos cépticos”?

  1. Porquê e como demonstra Descartes que Deus existe?
  2. Se o conhecimento dos factos é contingente e provável, não certo e não necessário, então como defende Hume esta tese?
  3. Quais as diferentes perceções sobre as quais se constrói o conhecimento segundo Hume. Justifique.

Grupo II
(5x5).

  1. Considere as afirmações seguintes.
1. Todo o conhecimento é adquirido por meio da experiência.
2. Há conhecimento inato, adquirido apenas pelo pensamento.
3. É possível o conhecimento verdadeiro e indubitável.
De acordo com Descartes, as afirmações
(A) 1 e 3 são falsas e 2 é verdadeira.
(B) 1, 2 e 3 são verdadeiras.
 (C) 1 e 3 são verdadeiras e 2 é falsa.
(D) 1, é falsa, 2 e 3 são verdadeiras.

2. Acerca da relação entre crença e conhecimento, é correto afirmar que
(A) há crenças falsas, mas nenhuma crença falsa é conhecimento.
(B) podemos conhecer aquilo em que não acreditamos.
(C) as crenças são falsas, mas o conhecimento é verdadeiro.
(D) não podemos acreditar naquilo que não conhecemos.

 3. Os racionalistas defendem que
(A) os sentidos são a única fonte do conhecimento universal e necessário.
(B) o conhecimento se fundamenta a posteriori.
(C) não há conhecimento a priori.
(D) a razão é a única fonte do conhecimento universal e necessário.

4.” João sabe que Paris é a capital da França” é uma proposição que expressa um conhecimento
(A) proposicional
(B) por contacto
(C) saber fazer
(D) não expressa qualquer conhecimento

5. Qual destas proposições se refere a um conhecimento de relação de ideias?
(A) O triangulo é uma figura com três lados.
(B) A matemática é uma ciência exata.
(C) A Lógica estuda a validade dos argumentos.
(D) O casado é um estado civil.


Grupo III
(2x15)
1.                   João acredita no Pai Natal:” se te portares bem terás muitas prendas no sapatinho.” Disseram-lhe. João portou-se bem portanto sabe que terá muitas prendas e de facto teve.
Será que João sabe mesmo que vai ter muitas prendas? Porquê?

2.                   Porque não posso saber que a Lua é feita de queijo?

Grupo IV
(30 Pontos)
Elabore uma dissertação de aproximadamente 25 linhas sobre o dos seguinte tema: O racionalismo versus empirismo. Teses argumentos e objeções críticas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Texto para resumo Mariana 11E



David Hume e a ideia de causalidade
Em que consiste a ideia de relação de causa-efeito ou de causalidade?
                 Consiste na ideia de conexão necessária entre acontecimentos, isto é, que sempre que, em certas condições, acontece A, acontece inevitavelmente B de tal maneira que A produz necessariamente B.

Qual a posição de David Hume sobre a ideia de causalidade?
                Segundo Hume, todo o conhecimento e raciocínios (indutivos) das questões de facto baseiam-se na relação de causa e efeito. O nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões atuais e às recordações de impressões passadas. No entanto, muitas vezes fazemos afirmações sobre o mundo que nos levam além da experiência imediata (ou passada). Eis alguns exemplos: O sol vai nascer amanhã; Todos os corvos são negros; Esta barra de metal dilatou por causa do calor. Todas estas afirmações referem-se a questões de facto, pelo que Hume considera que são verdades contingentes, conhecidas a posteriori. Ora, dizer que o sol vai nascer amanhã é afirmar algo que não foi observado. E também não podemos observar os corvos todos. Finalmente, com base apenas nos sentidos, só podemos ver que a barra de metal dilatou e que está quente – mas não que dilatou por causa do calor. Em qualquer destes casos, estamos a ir além da experiência. Isso só é possível através do raciocínio indutivo (que nos permite generalizar e prever a partir de casos semelhantes no passado e presente) e da utilização da ideia de causalidade (que julgamos refletir uma relação de conexão necessária entre acontecimentos, como por exemplo entre o calor – causa – e a dilatação da barra de metal – efeito).

Mas será que podemos justificar esta relação de causalidade?
Há duas possibilidades: a relação de causa-efeito pode ser conhecida a priori ou baseia-se inteiramente na experiência (a posteriori). Ora, segundo Hume, esta relação não pode ser conhecida a priori. Se fosse possível saber a priori que certos factos têm o poder de causar outros, poderíamos antecipar, sem nunca ter visto algo semelhante, que o impacto de uma bola de bilhar noutra bola de bilhar produz o movimento da segunda. No entanto, sem experiência não é possível saber nenhuma destas coisas.
Estará então a experiência em condições de justificar a relação de causa-efeito? A experiência apenas pode revelar entre dois acontecimentos uma sucessão temporal e conjunção constante e nada permite afirmar que o primeiro tenha realmente poder ou energia para produzir o segundo. Portanto, o conhecimento da relação de causa-efeito não pode ser obtido a priori nem a posteriori.

                Segundo Hume, esta ideia forma-se na mente do sujeito em consequência de um hábito, que é fruto da associação que se verifica na sua mente entre as ideias correspondentes aos acontecimentos observados e não algo que descubramos nas próprias coisas. Assim, David Hume diria que, em bom rigor, quando pomos a água ao lume, «não sabemos que a água vai aquecer, ainda que esse facto seja possível ou muito provável até». Em tal caso, não temos um saber, mas apenas uma crença ou suposição, e isto porque não existe qualquer justificação, estritamente racional (a priori) ou empírica (a posteriori), para a nossa crença na existência de relações causais. É o hábito baseado em repetições passadas, em que sempre que um fenómeno ocorria, um outro se lhe seguia, que nos leva a crer, isto é, a ter a tendência psicológica para formar a expetativa de que um é causa e o outro efeito. Com base no hábito (psicológico) e não na razão ou nos próprios objetos, acreditamos na igualdade futura dos acontecimentos. No entanto, não temos nenhum conhecimento direto do que seja a conexão necessária dos fenómenos, pelo que as inferências feitas desse modo são apenas provavelmente verdadeiras. A ideia de causalidade não é senão uma ficção, uma ilusão, uma criação subjetiva ou psicológica da mente humana.

Texto para resumo - Dominick 11E

O Problema da Causalidade

"Não temos necessidade de temer que esta filosofia, na medida em que tenta limitar as nossas pesquisas à vida corrente, destrua os raciocínios de vida corrente e leve suas dúvidas tão longe a ponto de destruir toda a acção como toda a especulação. A natureza sempre manterá os seus direitos e, no fim, prevalecerá sobre os raciocínios abstractos. Mesmo que concluamos, por exemplo, que em todos os raciocínios tirados da experiência o espírito dá um passo que não é sustentado por nenhum progresso do entendimento, não há nenhum perigo que esses raciocínios, dos quais depende quase todo o conhecimento, sejam afectados por tal descoberta. Se o espírito não está obrigado a dar esse passo por meio de um argumento, ele deve ser conduzido por outro princípio igual em peso e em autoridade; tal princípio conservará a sua influência por tanto tempo que a natureza humana permanecerá a mesma. A natureza desse princípio bem merece que nos entreguemos ao esforço de investigar sobre ela.

Suponha-se que um homem, dotado das mais poderosas faculdades de razão e de reflexão, seja subitamente transportado por este mundo; certamente ele observaria de imediato uma contínua sucessão de objectos, um acontecimento seguir-se a outro; mas seria incapaz de descobrir outra coisa. De imediato, ele seria incapaz, por meio de algum raciocínio, de atingir a ideia de causa e efeito, pois os poderes particulares que concretizam todas as operações naturais nunca se apresentam aos sentidos; e não é razoável concluir, unicamente porque um acontecimento precede outro num único caso, que um seja a causa e o outro o efeito. A sua formação pode ser arbitrária e acidental. Não existe razão para se inferir a existência de um pela aparição do outro. Numa palavra, aquele homem, sem mais experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios sobre qualquer questão de facto; só estaria certo do que está imediatamente presente na sua memória e nos seus sentidos.
Suponha-se ainda que este homem tenha adquirido mais experiência e que tenha vivido por muito tempo no mundo para que tenha observado a conjugação constante de objectos e de acontecimentos familiares; que resulta dessa experiência? Ele imediatamente infere a existência de um dos objectos pela aparição do outro. Todavia, ele não adquiriu, com toda sua experiência, nenhuma ideia, nenhum conhecimento do poder oculto pelo qual um dos objectos produz o outro; e não é por nenhum progresso de raciocínio que ele é obrigado a chegar a esta conclusão. Mas ele sempre se acha determinado a tirá-la; e, mesmo que o convencêssemos que o seu entendimento de modo algum participa na operação, ele continuaria a ter o mesmo pensamento. Existe um outro princípio que o determina a estabelecer tal conclusão.
Esse princípio é o hábito ou costume. Pois, todas a vezes que a repetição de uma operação ou de um acto particular produz uma tendência no sentido de renovar o mesmo acto ou a mesma operação sem o impulso de qualquer raciocínio ou processo do entendimento, dizemos sempre que essa tendência é o efeito do costume. Ao empregar esta palavra não pretendemos ter dado a razão última de tal tendência. Apenas designamos um princípio de natureza humana, universalmente reconhecido e bem conhecido pelos seus efeitos."

|Ensaio sobre o entendimento humano, David Hume

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Correção do teste de Dezembro 2018


1. A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre a importância do conhecimento
a priori Hume defende que o conhecimento a priori estabelece relações de ideias (ou relações entre conceitos), ao passo que Descartes defende que algum conhecimento a priori é acerca do mundo;
Hume considera que o conhecimento a priori não tem importância como meio para descobrir o mundo – com esse tipo de conhecimento, «não aprendemos nada de substancial acerca do mundo» –, ao passo que Descartes defende que o conhecimento do mundo mais importante é a priori.
Os empiristas, como Hume, consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-instrutivas», ou seja, não são informativas (ou não têm conteúdo factual), "jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto distinto", ao passo que os racionalistas, como Descartes, consideram que as verdades conhecidas a priori são certas (ou evidentes, ou claras e distintas), são aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem outras verdades acerca do mundo.



2. A crítica de David Hume sobre a pretensa crença de que há relações que são necessárias entre dois fenómenos. Tal relação não existe, diz Hume, é apenas uma ilusão fruto do hábito psicológico. Conhecer o mundo é relacionar os fenómenos uns com os outros, explicando que um fenómeno acontece por causa de outro. Assim explicamos que há chuva por causa da condensação de água (nuvens) etc. Hume refere-se à importância do costume ou hábito na construção do conhecimento dos factos. É devido à perceção da repetição de certos fenómenos que se sucedem em contiguidade no espaço e sucessivos no tempo, que estabelecemos uma relação entre eles e pensamos poder prever que sempre que um acontece o outro também acontecerá. Esta forte crença de uma conexão necessária entre dois fenómenos permite-nos estabelecer uma relação de causa e efeito entre os dois. O problema que Hume coloca é sobre o fundamento de tal crença. Para Hume tal crença não tem um fundamento, logo, tal conhecimento de causa efeito sobre os fenómenos não deixa de ser duvidoso. Na origem desta crença está meramente o costume e o hábito psicológico, mas não há uma razão para o fenómeno X (chama) ser causa de Y (fumo), nem tão pouco qualquer impressão empírica que nos permita estabelecer uma relação causal –necessária entre os dois.  
O costume fundamenta-se no passado, se não houver uma razão que nos permita ligar os fenómenos então, pelo costume só podemos saber o que aconteceu até este momento e assim, não podemos estabelecer relações de causa efeito para fenómenos que ainda não aconteceram. Ora, nós fazemos previsões, nós estabelecemos conhecimento através da suposição de que é necessário para haver fumo haver fogo, logo, nós ultrapassamos os limites da experiência. O que acontece repetidas vezes não é, por si só, garantia que vai acontecer sempre. A relação entre dois fenómenos não é lógica mas psicológica, embora venham repetidas vezes juntos, os fenómenos são separados e podem não acontecer juntos, portanto, a nossa previsão que sempre que há fumo há fogo não é certa, pois não existe uma conexão necessária entre os dois. O argumento de Hume é baseado no princípio de que nada podemos saber sem ser através de impressões sensíveis. Ora a relação de causalidade corresponde á impressão de vermos dois fenómenos sucederem-se no tempo e em espaços contíguos. Essa impressão acontece repetidamente, logo criamos uma expectativa e fazemos uma previsão que irá acontecer também no futuro. Mas essa previsão é apenas baseada num hábito psicológico. Nada há racionalmente que possa ligar de forma indissolúvel dois fenómenos. Como a experiência é contingente e a relação causal necessária, então esta é uma ilusão construída pelo hábito psicológico sem fundamento racional ou empírico.

3. O texto afirma que as propriedades das coisas corpóreas que são percebidas pelos sentidos são obscuras e confusas mas que há uma propriedade nas coisas corpóreas que pode ser compreendida através da matemática e, por isso é uma ideia clara e distinta, universal e verdadeira. Essa propriedade é a extensão e corresponde à substância essencial das coisas corpóreas que constituem o mundo exterior ao pensamento e a única que pode ser por ele perfeita e claramente compreendida e deduzida.  Quanto às outras substâncias essenciais das quais podemos ter um conhecimento verdadeiro é o pensamento ou cogito –a substância pensante e Deus ou substância divina. Estas três substâncias são distintas mas têm em comum o facto de poderem ser compreendidas de forma a  podermos ter sobre elas um conhecimento verdadeiro e evidente.

4. O Argumento utilizado para provar a existência de Deus é o seguinte:  Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia  (por princípio a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.

O argumento é circular. Como posso ter a certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas e conclusão.   Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe, então, um raciocínio  circular, uma petição de princípio no argumento que prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado,  é através delas que  provo a existência de Deus.