segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Correção do teste de Dezembro 2018


1. A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre a importância do conhecimento
a priori Hume defende que o conhecimento a priori estabelece relações de ideias (ou relações entre conceitos), ao passo que Descartes defende que algum conhecimento a priori é acerca do mundo;
Hume considera que o conhecimento a priori não tem importância como meio para descobrir o mundo – com esse tipo de conhecimento, «não aprendemos nada de substancial acerca do mundo» –, ao passo que Descartes defende que o conhecimento do mundo mais importante é a priori.
Os empiristas, como Hume, consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-instrutivas», ou seja, não são informativas (ou não têm conteúdo factual), "jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto distinto", ao passo que os racionalistas, como Descartes, consideram que as verdades conhecidas a priori são certas (ou evidentes, ou claras e distintas), são aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem outras verdades acerca do mundo.



2. A crítica de David Hume sobre a pretensa crença de que há relações que são necessárias entre dois fenómenos. Tal relação não existe, diz Hume, é apenas uma ilusão fruto do hábito psicológico. Conhecer o mundo é relacionar os fenómenos uns com os outros, explicando que um fenómeno acontece por causa de outro. Assim explicamos que há chuva por causa da condensação de água (nuvens) etc. Hume refere-se à importância do costume ou hábito na construção do conhecimento dos factos. É devido à perceção da repetição de certos fenómenos que se sucedem em contiguidade no espaço e sucessivos no tempo, que estabelecemos uma relação entre eles e pensamos poder prever que sempre que um acontece o outro também acontecerá. Esta forte crença de uma conexão necessária entre dois fenómenos permite-nos estabelecer uma relação de causa e efeito entre os dois. O problema que Hume coloca é sobre o fundamento de tal crença. Para Hume tal crença não tem um fundamento, logo, tal conhecimento de causa efeito sobre os fenómenos não deixa de ser duvidoso. Na origem desta crença está meramente o costume e o hábito psicológico, mas não há uma razão para o fenómeno X (chama) ser causa de Y (fumo), nem tão pouco qualquer impressão empírica que nos permita estabelecer uma relação causal –necessária entre os dois.  
O costume fundamenta-se no passado, se não houver uma razão que nos permita ligar os fenómenos então, pelo costume só podemos saber o que aconteceu até este momento e assim, não podemos estabelecer relações de causa efeito para fenómenos que ainda não aconteceram. Ora, nós fazemos previsões, nós estabelecemos conhecimento através da suposição de que é necessário para haver fumo haver fogo, logo, nós ultrapassamos os limites da experiência. O que acontece repetidas vezes não é, por si só, garantia que vai acontecer sempre. A relação entre dois fenómenos não é lógica mas psicológica, embora venham repetidas vezes juntos, os fenómenos são separados e podem não acontecer juntos, portanto, a nossa previsão que sempre que há fumo há fogo não é certa, pois não existe uma conexão necessária entre os dois. O argumento de Hume é baseado no princípio de que nada podemos saber sem ser através de impressões sensíveis. Ora a relação de causalidade corresponde á impressão de vermos dois fenómenos sucederem-se no tempo e em espaços contíguos. Essa impressão acontece repetidamente, logo criamos uma expectativa e fazemos uma previsão que irá acontecer também no futuro. Mas essa previsão é apenas baseada num hábito psicológico. Nada há racionalmente que possa ligar de forma indissolúvel dois fenómenos. Como a experiência é contingente e a relação causal necessária, então esta é uma ilusão construída pelo hábito psicológico sem fundamento racional ou empírico.

3. O texto afirma que as propriedades das coisas corpóreas que são percebidas pelos sentidos são obscuras e confusas mas que há uma propriedade nas coisas corpóreas que pode ser compreendida através da matemática e, por isso é uma ideia clara e distinta, universal e verdadeira. Essa propriedade é a extensão e corresponde à substância essencial das coisas corpóreas que constituem o mundo exterior ao pensamento e a única que pode ser por ele perfeita e claramente compreendida e deduzida.  Quanto às outras substâncias essenciais das quais podemos ter um conhecimento verdadeiro é o pensamento ou cogito –a substância pensante e Deus ou substância divina. Estas três substâncias são distintas mas têm em comum o facto de poderem ser compreendidas de forma a  podermos ter sobre elas um conhecimento verdadeiro e evidente.

4. O Argumento utilizado para provar a existência de Deus é o seguinte:  Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia  (por princípio a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.

O argumento é circular. Como posso ter a certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas e conclusão.   Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe, então, um raciocínio  circular, uma petição de princípio no argumento que prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado,  é através delas que  provo a existência de Deus.

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