Noite estrelada, Van Gogh
1. O método
indutivo consiste na generalização teórica
a partir de dados observacionais, retirando dos factos singulares
repetições e constantes que são comuns a todos os factos observados e que
permitem a elaboração de leis válidas
para todos os casos semelhantes. Assim o procedimento consiste em recolher
dados, retirar uma hipótese que possa ser testada e confirmada pela experiência
e depois generalizar e fazer previsões. Tanto Popper como Hume colocam
objecções à validade deste método, embora ele seja um procedimento comum a
algumas ciências como a Biologia. Este problema ficou conhecido como o problema
da indução. Consiste em demonstrar que a crença na indução não está justificada
porque ultrapassa a experiência e a razão, isto é, não pode ser justificada nem
empiricamente nem racionalmente. Acreditamos que a natureza é uniforme e, por
isso acreditamos que aquilo que aconteceu de uma determinada maneira irá
acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o pressuposto que garante as nossas
generalizações futuras, mas esse pressuposto já resulta ele próprio de uma
generalização e de uma previsão, isto é, aquilo que garante a validade de uma
indução é conseguido através da indução, utiliza-se o mesmo processo para
validar algo que devia ser validado por um outro conhecimento onde se pudesse
fundar. Há assim um raciocínio
falacioso, uma petição de princípio.
A teoria
epistemológica de Popper ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo
método: o falsificacionismo. O falsificacionismo é, simultaneamente,
um critério de demarcação científica, isto é, um critério para separar
conhecimento científico e não científico; e, por outro lado, uma nova forma de
compreender a metodologia das ciências propondo como realmente científica uma
metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva. O método hipotético-dedutivo
privilegia a criatividade intelectual e a colocação dos problemas e das
hipóteses assim como a dedução a partir destas, de consequências
observáveis. Ultrapassa o problema do método indutivo que não pode justificar
as leis da natureza, e que é por si um problema visto que carece de fundamento
racional.
2. Para Kuhn as teorias científicas funcionam como paradigmas,
isto é trazem consigo uma visão do mundo e certos métodos de trabalho, assim
como princípios metodológicos e metafísicos. Os cientistas ao aceitarem uma
teoria como um novo paradigma científico trabalham no sentido de ampliar os seus resultados e confirmar as
suas previsões. A comunidade científica trabalha no âmbito dos paradigmas e não
os põe em causa, mesmo que surjam anomalias. O processo de desenvolvimento da
Ciência começa com a instituição de um Paradigma e o trabalho científico visa
tornar mais consistente e abrangente esse paradigma resolvendo os enigmas que
este vai colocando à medida que vai sendo alargado na explicação de outros
fenómenos. Este período de resolução de enigmas caracteriza-se por ser
acrítico, pois não há disposição para pôr em causa as metodologias de trabalho
que foram aceites, assim como os princípios e a validade das teorias, Kuhn
chama-lhe um Período de Ciência Normal. Com o desenvolvimento teórico e prático
do Paradigma vão surgindo anomalias que se vão acumulando até pôr em causa a
actividade que está a ser feita, entra-se numa crise em que a descrença em
relação ao modelo seguido leva ao seu abandono e começam a surgir novas teorias
concorrentes que explicam as anomalias anteriormente irresolúveis.. Neste
período, denominado Ciência Extraordinária, a comunidade científica tem de escolher
uma teoria que pela sua abrangência, simplicidade, precisão, consistência e
fecundidade, assim como o prestígio do cientista que a apresenta, possa ser
unificadora da comunidade e possa constituir um novo Paradigma. Quando isso
acontece dá-se uma revolução científica, isto é: a substituição de um Paradigma
por outro.
3. Para Kuhn não há verdadeiro progresso ou evolução porque os
paradigmas que se vão sucedendo são incomensuráveis, isto é, não podem ser
comparados porque apresentam diferentes formas de trabalhar, de seleccionar
fenómenos e novos princípios metafísicos.
Há, portanto, na evolução da ciência, cortes abruptos que
correspondem a revoluções científicas, de mudanças de paradigma. As revoluções
científicas sucedem-se a períodos criativos em que há teorias diferentes e a
comunidade científica não forma consenso acerca de nenhuma delas. A escolha de
uma teoria pela comunidade científica equivale a um acordo sobre a forma
proposta de explicar os fenómenos. Uma vez acordado, ele torna-se exemplar e
guia a comunidade para um desenvolvimento desta concepção dando origem a um
novo paradigma e a uma nova fase de ciência normal. Todavia não há
objectividade na escolha dos Paradigmas visto que este consenso é muitas vezes
impossível e a escolha é influenciada por factores externos aos critérios
objectivos.
Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à
verdade na medida em que se faz eliminando os erros das teorias e
substituindo-as por outras mais abrangentes e consistentes com os factos
observados. Visto que a ciência se faz num processo racional de conjecturas e
refutações em que o papel da subjectividade tende a diminuir pois o cientista
trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os
limites de cada teoria. Embora não haja qualquer espécie de certezas pois o
progresso científico é um sistema em aberto e nenhuma teoria é verdadeira mas
apenas provisoriamente corroborada. A substituição de uma teoria por outra é um
processo de selecção em que as novas
teoria aperfeiçoam as antigas na medida em que não cometem os mesmos erros da
anterior, explicam os fenómenos das anteriores e ainda explicam novos
fenómenos. Daí haver continuidade na evolução científica.
4. Segundo o texto o conhecimento
científico e o senso comum divergem no sentido em que há uma lentidão e
resistência do senso comum a ideias novas que possam entrar em contradição com
aquilo que habitualmente se pensa. Esta característica produz uma sensação de desfasamento
que pode identificar o senso comum como acrítico e preconceituoso uma vez que
se agarra a verdades eternas que nada têm que as justifique senão a tradição.
Contrariamente o conhecimento científico pauta-se por estar continuamente a ser
revisto, aperfeiçoado, e rectificado ou refutado através de testes empíricos,
essa característica permite uma evolução mais rápida e uma abertura constante a
novas formas de explicação que possam satisfazer a constante crítica a que está
sujeito conhecimento científico.
Grupo III
1. Como critério de demarcação, o
falsificacionismo propõe uma metodologia rigorosa para separar ciência de
“pseudo ciência” e, por outro lado, ultrapassa o problema do critério
verificacionista que não podia adaptar-se às leis da natureza preconizadas pela
ciência. Destes dois critérios de demarcação científica: o critério
verificacionista que considera científico o que for empiricamente verificável e
o critério falsificacionista que considera científico tudo o que é
empiricamente falsificável, só o segundo pode servir para explicar a
cientificidade das leis naturais. O primeiro considerará que uma teoria é
verdadeira se a experiência e a observação a confirmarem, servindo-se de um
método indutivo de confirmação, enquanto o segundo serve-se da experiência para
refutar as teorias
A Psicanálise e a
Astrologia são “pseudo ciências” porque não obedecem ao critério de
falsificabilidade, tanto a Astrologia como a Psicanálise não são empiricamente
falsificáveis, pois a experiência é sempre interpretada ou distorcida de modo a
comprovar a teoria e não se prevê nenhuma experiência possível que possa
refutá-la. Assim afirmar que todos os Aquários são independentes é não dizer
nada porque seja qual for o comportamento de um aquariano ele é sempre
interpretado como sinal de independência, assim não há forma de refutar a
teoria e por outro lado ela nada nos diz sobre a realidade.
2. Hume e Descartes utilizam diferentes argumentos. O primeiro
afirma que para podermos conhecer o mundo exterior ao pensamento temos de ter
dele uma impressão sensível, sem a qual nenhuma ideia sobre o mundo é possível.
Nesse aspecto todo o conhecimento é uma impressão, nada nos garante que seja o
que o mundo é, alimenta-se assim o cepticismo inerente ao conhecimento. Para
Descartes não poderia haver conhecimento de algo sem ter um fundamento
indubitável que o justificasse de forma infalível, daí o inatismo das primeiras
ideias. Para o primeiro o conhecimento por ser sempre algo subjectivo é
duvidoso, para o segundo a subjectividade é garantia de verdade.
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