De acordo com o texto, explique o que se entende por método de conjecturas
e refutações.
1.
Conjectura é uma suposição validada por experiências, não é uma certeza ou
verdade. As teorias científicas são hipóteses explicativas que foram provisoriamente
corroboradas pela experiência, isto é, que ainda não foram falsificadas ou
refutadas. Assim a ciência funciona com um conjunto de conjecturas, que podem
ser futuramente refutadas. Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma
aproximação à verdade na medida em que vai eliminando os erros das teorias, substituindo-as
por outras mais abrangentes e consistentes com os factos observados. Visto que
a ciência se faz num processo racional de conjecturas e refutações, o cientista
trabalha no sentido de fazer previsões arriscadas de modo a testar de os
limites de cada teoria. O progresso científico é um sistema em aberto em que as
teorias são sujeitas continuamente a testes e criticadas pela comunidade
científica. A substituição de uma teoria por outra é um processo de
selecção em que as novas teorias aperfeiçoam as antigas na medida em
que não cometem os mesmos erros da anterior, explicam os fenómenos das
anteriores e ainda explicam novos fenómenos.
2.Segundo Popper a prática científica não é afectada pelo problema da
indução levantado por Hume. Porquê? Na sua resposta comece por apresentar o
problema da indução levantado por Hume.
O problema da
indução, tal como é exposto por David Hume, consiste em demonstrar que a crença
na indução não está justificada porque ultrapassa a experiência e a razão, isto
é, não pode ser justificada nem empiricamente nem racionalmente. Acreditamos
que a natureza é uniforme e, por isso acreditamos que aquilo que aconteceu de
uma determinada maneira irá acontecer do mesmo modo no futuro. Esse é o
pressuposto que garante as nossas generalizações futuras, mas esse pressuposto
já resulta ele próprio de uma generalização e de uma previsão, isto é, aquilo
que garante a validade de uma indução é conseguido através da indução,
utiliza-se o mesmo processo para validar algo que devia ser validado por um
outro conhecimento onde se pudesse fundar. Há
assim um raciocínio falacioso, uma petição de princípio.
A crítica de
Popper à indução coloca-se em 3 passos:
- Não há observação neutra pois esta já é
direccionada por um problema teórico.
- As leis científicas não resultam de uma
generalização a partir de casos particulares porque elas são universais e
a generalização só é válida para os casos observados.
- A conclusão de um raciocínio indutivo é
sempre provável, assim as leis científicas teriam de ser probabilísticas e
não são, logo não podem resultar de um raciocínio indutivo.
A teoria epistemológica de Popper
ultrapassa o indutivismo da ciência ao propor um novo método: o
falsificacionismo. O falsificacionismo é, simultaneamente, um
critério de demarcação científica, isto é, um critério para separar
conhecimento científico e não científico; e, por outro lado, uma nova forma de
compreender a metodologia das ciências propondo como realmente
científica uma metodologia hipotética e dedutiva e não indutiva.
3.Relacione estes dis tipos de conhecimento:
senso comum e conhecimento científico.
O conhecimento científico e o
senso comum divergem no sentido em que há uma lentidão e resistência do senso
comum a ideias novas que possam entrar em contradição com aquilo que
habitualmente se pensa. O senso comum é acrítico, isto é, não se deixa refutar
mesmo que novos factos possam desmentir as suas crenças. Esta característica
produz uma sensação de desfasamento que pode identificar o senso comum com o
preconceito uma vez que se agarra a verdades eternas que nada têm que as
justifique senão a tradição. Contrariamente o conhecimento científico pauta-se
por estar continuamente a ser revisto, aperfeiçoado, e rectificado ou refutado
através de testes empíricos, essa característica permite uma evolução mais
rápida e uma abertura constante a novas formas de explicação que possam
satisfazer a constante crítica a que está sujeito conhecimento
científico. O senso comum é útil para servir de limite aos excessos da ciência
mas também pode constituir um obstáculo ao seu avanço porque tem dificuldade em
aceitar e compreender tudo o que não se adapta ou está na margem das suas
certezas. Partem dos dados dos sentidos e
acumulam factos, mas se o segundo tira as suas conclusões a partir da
experiência, o primeiro formula certas hipóteses que constituem uma directriz
através da qual organiza os dados da experiência e a interroga de um
determinado modo, sistemático e racional e não apenas ocasional. São assim
diferentes percepções da realidade. A outra característica apontada é a
linguagem. A linguagem científica é universal e rigorosa na medida em que
apresenta símbolos que obedecem a uma técnica de codificação aceite pela
comunidade e que tem um significado susceptível de ser apresentado numa
experiência e não pode ter vários significados. Veja-se o caso de H2O.
Contrariamente o senso comum utiliza a linguagem vulgar onde as palavras podem
ter diferentes sentidos.
4 .Distinga o método indutivo do método hipotético/dedutivo
O método indutivo, principia pela
observação e consiste na generalização teórica a partir de dados
observacionais, retirando dos factos singulares repetições e constantes que são
comuns a todos os factos observados e que permitem a elaboração de leis válidas para todos os casos semelhantes. Assim o
procedimento consiste em recolher dados, de forma sistemática, organizando-os
cronologicamente; descobrir um padrão ou constante e retirar uma hipótese que possa ser testada e
confirmada pela experiência. Se a hipótese for confirmada, quer dizer que se
verifica o que supúnhamos e então podemos generalizar para casos que ainda não
tenham sido observados. A lei científica resultaria de uma generalização válida
para todos os casos, e que possibilitaria previsões sobre os fenómenos no
futuro. Este procedimento é comum em algumas ciências como a Biologia. O
método hipotético-dedutivo privilegia a criatividade intelectual e tem na
colocação de problemas o seu princípio, seguidamente procura hipóteses que
sejam tentativas de resposta ao problema e retira dessas hipóteses
consequências práticas, são as chamadas consequências preditivas. Seguidamente
experimenta-se essas consequências de modo a poder corroborá-las ou refutá-las
de acordo com os resultados das experiências. colocação dos problemas e das hipóteses assim
como a dedução a partir destas, de consequências observáveis. Ultrapassa
o problema do método indutivo que não pode justificar as leis da natureza, e
que é por si um problema visto que carece de fundamento racional.
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