quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Correção do 1º Teste

 

1ª PROVA DE AVALIAÇÃO DE FILOSOFIA -11º Ano

Professora Helena Serrão - Duração da prova: 90m –

Paço de Arcos, 5 novembro de 2025

 

Este elemento de avaliação é composto de dois testes, cada um é avaliado de 0 a 20 valores.

Cada teste avalia competências diferentes: O primeiro teste avalia a competência do domínio dos conceitos: Conceptualização que vale 40% na avaliação final. O segundo teste destina-se a avaliar as competências de Problematização e Argumentação que valem 30% na avaliação final.

Primeiro Teste – Conceptualização

• Grupo I - 10 questões de escolha múltipla (10x14 pontos=140 pontos)

• Grupo II - 2 questões de definição de conceitos (2x30 pontos=60 pontos) Total - 200 Pontos

Segundo Teste – Problematização e Argumentação

Quatro questões de desenvolvimento. Todas as respostas exigem fundamentação. (1-60; 2-50; 3-60; 4-30 Pontos) Total = 200 Pontos

Competência transversal: comunicação / correção escrita

 

Teste 1 - CONCEPTUALIZAÇÃO

Versão A

Grupo I

 Escolha apenas a opção correta.

 

1. Considere as afirmações seguintes:

1. Não há conhecimento inato, adquirido apenas pelo pensamento.

2. É possível o conhecimento verdadeiro e indubitável.

3. Todo o conhecimento é adquirido por meio da experiência.

De acordo com Descartes, as afirmações

(A) 1 e 3 são falsas e 2 é verdadeira.

(B) 1 e 2 são verdadeiras, 3 é falsa.

(C) 1 e 3 são verdadeiras e 2 é falsa.

(D) 1, é falsa, 2 e 3 são verdadeiras.

 

2. Ao aplicar o método da dúvida, Descartes pretende

(A) concluir que as ideias claras e distintas são infalíveis.

(B) descobrir alguma crença que seja indubitável.

(C) mostrar que não há realmente um génio maligno.

(D) provar que existe um ser perfeito e não enganador.

 

 

3. A forma de justificar as nossas crenças é um problema epistemológico. Uma das formas de justificação apela à consideração do processo através do qual as crenças foram adquiridas. A essa forma de justificação chama-se:

(A) Racionalismo aplicado.

(B) Fiabilismo da justificação.

(C) Fundacionalismo epistémco.

(D) Coerentismo da justificação.

 

 

4. Em qual das opções seguintes se apresenta um exemplo de conhecimento “a priori”?

(A) A maçã é um fruto da macieira.

(B) O todo é maior que as partes.

(C) Algumas pessoas casadas usam aliança.

(D) O meu nome é Joana.

 

 

5. Considere as frases seguintes.

1. Um triângulo tem três lados. 2. Todos os sólidos ocupam espaço.

É correto afirmar que:

(A) 1 exprime conhecimento a posteriori; 2 exprime conhecimento a priori.

(B) ambas exprimem conhecimento a priori.

(C) ambas exprimem conhecimento a posteriori.

(D) 1 exprime conhecimento a priori; 2 exprime conhecimento a posteriori.

 

 

6. Segundo Descartes, o que faz do cogito uma crença que pode ser tomada como fundamento de todo o conhecimento é o facto de tal crença

(A) provir de uma impressão interna.

(B) ser obtida a priori.

(C) ser provavelmente verdadeira.

(D) se justificar a si mesma.

 

7.Acerca da fonte principal de onde provém o conhecimento, podemos ser:

A. Céticos, empiristas e críticos.

B. Vagabundos de tudo.

C. Dogmáticos ou Céticos.

D. Racionalistas ou Empiristas.

 

 

8. Qual dos seguintes argumentos não é um argumento cético?

(A) O argumento do sonho

(B) Regressão infinita

(C) Génio maligno.

(D) Ilusões de ótica.

 

9. Acerca da relação entre crença e conhecimento, é correto afirmar que:

(A) Todas as crenças são conhecimento mas nem todo o conhecimento é uma crença.

(B) As crenças são falsas, mas o conhecimento é verdadeiro.

(C) Todo o conhecimento é uma crença mas nem todas as crenças são conhecimento.

(D) Não podemos acreditar naquilo que não conhecemos.

 

 

10. “Conheço a casa da Mariana” é uma proposição que expressa um conhecimento

(A) proposicional

(B) por contacto

(C) saber fazer

(D) não expressa qualquer conhecimento

 

 

 

 

Grupo II

 

1. Descartes e outros filósofos procuraram responder ao desafio cético. O que é o desafio cético?

O ceticismo é uma posição filosófica que considera (na sua forma mais radical) que nenhum conhecimento é possível e que devemos, por isso, suspender o juízo sobre todas as coisas.

Consideram que há razões para duvidar da verdade do conhecimento objetivo sobre o mundo e apresentam três razões: a ilusão dos sentidos, a diversidade de opiniões e o argumento “a priori” da regressão infinita da justificação.

 

 

2. O que é a “Regressão infinita”?

O argumento da regressão infinita, é um argumento utilizado pelos céticos para pôr em causa a justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença, ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações.

 

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Versão B

2. Porque é o conhecimento uma crença verdadeira e justificada?

 

A definição tradicional de conhecimento coloca três condições necessárias para a definição; a necessidade de haver uma crença, que essa crença seja verdadeira e que esteja bem justificada com razões. Essas três condições são necessárias e nenhuma delas por si é suficiente. Porque é necessário ter uma crença? Porque o conhecimento corresponde a um estado mental em que se S sabe que P, então acredita nisso que sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto, saber P implica uma crença, S acredita em P.

Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso. O conhecimento não é fruto do acaso, tem de estar apoiado por boas razões.

Por outro lado, não é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento porque nem todas as crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em Extraterrestres”, acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença pode ser verdadeira por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana. (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo.

Se, por outro lado, esta crença em P não tem qualquer justificação, não há boas razões para acreditar que P é verdadeira, então, também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso. O conhecimento não é fruto do acaso, tem de estar apoiado por boas razões.

 

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Teste 2 – Argumentação e problematização

 

Leia o texto com atenção e responda com objetividade e clareza às questões formuladas. Justifique as suas afirmações.

 “Mas, logo em seguida, percebi que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava “

René Descartes, O Discurso do Método

 

1. Partindo do texto, demonstre a importância da expressão “Penso, logo existo” para o sistema de pensamento cartesiano.

- esclarecer o conceito de cogito:

- relacionar o conceito com o racionalismo cartesiano;

- fundamentar a sua importância para o sistema de pensamento cartesiano;

 

Critérios de correção:

Referência ao texto 15

Crença básica que se autojustifica 15

Fundamento “a priori” do conhecimento 15

Critério de verdade (ideia clara e distinta) 15

 

 

Cenário de resposta:        

No texto, Descartes refere que a proposição “Eu sou, eu existo” é necessariamente verdadeira sempre que proferida por mim ou concebida pelo espírito. “Quer isto dizer que o Cogito é uma ideia inata e “a priori”, visto que pode nada existir no mundo físico, nem tão pouco haver corpo, mas a evidência de que tudo isso é fruto do meu pensamento torna esta proposição uma certeza e uma crença básica visto que se autojustifica. Por mais que pense que não existo, continuo a existir, pois continuo a pensar é, portanto, irrefutável e por isso pode constituir-se como fundamento de todo o conhecimento.

Descartes compreende, com o Cogito, que a verdade é um acordo da razão consigo própria, uma ideia “a priori” que não necessita da experiência para ser aceite enquanto verdade. Deste modo, o cogito é critério de todas as ideias verdadeiras. Só a razão é o juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas e reconstruir o edifício das ciências unificando-as segundo o mesmo critério. A ideia do cogito “Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo.

São três as consequências do cogito: Refuta o ceticismo, porque sendo uma crença que se autojustifica refuta o argumento da regressão infinita. Permite um fundamento racional para o conhecimento porque é uma crença “a priori”. Constitui-se como critério de uma ideia verdadeira, isto é, uma ideia intuitiva, evidente á razão (clara e distinta.

 

 

2. Será que a dúvida cartesiana é um método adequado para encontrar um fundamento do conhecimento?

Na sua resposta, deve  

− dizer em que consiste a dúvida cartesiana;

- discriminar rigorosamente as suas etapas:

- apresentar inequivocamente a sua posição;  

− argumentar a favor da sua posição;

 

Critério de correção:

Princípio: considerar falso tudo o que seja duvidoso (não evidente). (20) 

Explicar os argumentos/etapas: Argumento da ilusão dos sentidos, do sonho e do génio maligno. (30)

 

 

Cenário de resposta:

A dúvida metódica constitui-se como um método para encontrar a verdade certa e inabalável. Examina os fundamentos de todas as crenças de modo a julgar se são fracas ou fortes. Assim, todos os fundamentos que forem duvidosos são excluídos do conhecimento e considerados falsos.

A dúvida metódica demonstra que nenhuma crença é suficientemente forte para ser considerada verdadeira, pois todos os fundamentos para obter conhecimento podem ser postos em causa.

A dúvida  caracteriza-se por ser universal, provisória, metódica e hiperbólica.

Analisa os sentidos e considera-os enganadores, e se enganam algumas vezes vamos supor que tudo o que conhecemos através deles é falso (O céu, a terra e o corpo).

Depois examina a certeza de haver um mundo objetivo fora da mente e conclui que também não se pode ter essa certeza pois no sonho também temos perceções (argumento do sonho).

Por último duvida dos seus raciocínios, supondo a existência de um génio maligno que o engana sempre que pensa (dúvida hiperbólica).

 

3. “Em seguida, tendo refletido sobre aquilo que eu duvidava, e que, por consequência, o meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que o conhecer é perfeição maior do que o duvidar, deliberei procurar de onde aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era; e conheci, com evidência, que devia ser de alguma natureza que fosse de facto mais perfeita. “

René Descartes, Discurso do Método

No texto é colocada a primeira premissa de um argumento importante. Que argumento e qual a sua importância?

Na sua resposta deve:

- Expôr a premissa e o argumento;40

Tenho ideia de que sou imperfeito porque conhecer é maior perfeição que duvidar. Tenho, portanto uma ideia de perfeição. Essa ideia não pode ter origem em mim, pois do imperfeito não se pode originar o perfeito, logo tem que ter como causa um ser mais perfeito do que eu.

O argumento da causa da ideia de perfeito – Sou imperfeito pois há mais imperfeição em quem duvida do que em quem tem certezas. Qual a causa da ideia de perfeição? Não posso ser eu porque sou imperfeito, também não pode ser a natureza que não possui as perfeições que a minha ideia de perfeito tem, Só pode ter sido posta em mim por um ser mais perfeito, pois repugna ao espírito que algo perfeito possa derivar de algo menos perfeito. Esse ser só pode ter todas as perfeições. Só pode ser Deus. Logo, Deus existe.

- Salientar a importância epistemológica da conclusão do argumento.20

A importância epistemológica desta conclusão é a de que demonstrando que existe um ser perfeito cuja realidade foi demonstrada claramente pela razão, então podemos afastar o génio maligno e confiar nos nossos raciocínios e podemos também confiar que existe um mundo fora da mente e que apesar de não o podermos conhecer com exactidão pelos sentidos ele tem uma realidade objetiva pois Deus não nos iria enganar acerca das ideias que temos sobre as coisas. A ideia de Deus e a sua existência permite a Descartes a saída do solipsismo do Cogito, poderá ter a garantia de que as ideias claras e distintas são verdadeiras, que o mundo fora da mente existe pois Deus não é enganador e portanto não iria fazer-nos conceber algo que não existisse. Confere objetividade às ideias, isto é, as ideias da mente correspondem realmente aos objetos fora da mente a que se referem. Ao afastar o génio maligno, a existência de Deus fundamenta a verdade do conhecimento matemático e de todo o conhecimento racional.

4. Atente no diálogo seguinte.

Manuela – Sabes, Eurico, quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas? Eurico – Eu não sei, mas tenho aqui uma pequena calculadora de bolso que sabe. Deixa ver: dá 89 euros. Manuela – E confias nessa calculadora? Eurico – Claro que sim. O resultado dado pela calculadora está justificado, porque é uma máquina programada por matemáticos competentes.

No diálogo anterior, o Eurico afirma que a calculadora sabe quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas. Será que a calculadora o sabe? Justifique a sua resposta, tendo em conta a análise tradicional do conhecimento.

Não, a calculadora não sabe quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas, pois, segundo a definição tradicional de conhecimento, saber consiste num estado mental em que aquele que sabe, acredita no que sabe, isto é, tem uma crença. O computador não tem estados mentais conscientes, logo não sabe. Pode dar a resposta correta mas não o faz por uma convicção ou com a adesão da sua consciência, fá-lo porque tem uma programação para fazer, automaticamente, cálculos corretos, neste aspeto o computador não pensa, apenas aplica o que foi programado para fazer às situações que foi programado para resolver.

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