quarta-feira, 26 de maio de 2021

Texto para resumo Salomé 11A

Federico de Madrazo y Kuntz

A Teoria Histórica apresenta uma definição real de arte que é simultaneamente processualista e relacional. Levinson defende assim que a natureza da arte reside em propriedades não manifestas associadas ao modo como se processa a sua criação e que estas podem ser entendidas como separadamente necessárias e conjuntamente suficientes para haver arte em qualquer circunstância possível. Segundo Levinson, a arte é necessariamente retrospetiva, uma vez que a criação artística estabelece uma relação apropriada com a atividade e o pensamento humanos que se traduziram na história efetiva da arte. É essa relação que determina aquilo que a arte é, o seu carácter ontológico, e explica a unidade da arte através do tempo.

A definição histórica de arte é formulada por Levinson do seguinte modo: X é uma obra de arte se, e só se, X é um objeto acerca do qual uma pessoa ou pessoas, possuindo a propriedade apropriada sobre X, têm a intenção não-passageira de que este seja perspetivado-como-uma-obra-de-arte, i.e., perspetivado de qualquer modo (ou modos) como foram ou são perspetivadas corretamente obras de arte anteriores. A definição histórica indica condições necessárias e suficientes para haver arte, aplicando-se assim – acredita Levinson – a toda a arte possível. Fornece ainda um critério de identificação que permite distinguir as obras de arte dos meros objetos comuns que não são arte. Para que possamos avaliá-la convenientemente, consideremos cada uma das condições apontadas.

A primeira condição é a do direito de propriedade: o artista não pode transformar em arte objetos que não lhe pertençam ou em relação aos quais não esteja devidamente autorizado a agir pelos seus proprietários. Com esta condição Levinson reduz substancialmente o universo de possibilidades da criação artística e afasta-se definitivamente da imagem caricatural do artista que faz arte através da mera nomeação de um qualquer objeto que passa então a usufruir do estatuto de obra de arte. A oposição à teoria Institucional de Dickie é uma presença declarada na proposta Histórica, e este é um dos pontos que a tornam mais evidente.

A segunda condição é a existência de um certo tipo de intenção que relaciona a arte do presente com a arte do passado. Ter uma intenção, neste caso, é ter um propósito ou uma finalidade em mente, e desenvolver uma ação para o atingir. Esta pode consistir em fazer, apropriar-se ou conceber algo. A teoria é, pois, um caso de internalismo histórico, uma vez que supõe que a relação entre o passado e o presente não se faz através de características das próprias obras, mas sim das intenções do artista. Embora possamos não ter acesso às intenções do artista, que são, obviamente, estados psicológicos, é possível conhecê-las através de pistas, como o contexto de criação, o género a que a obra pertence, etc. Inferimos as intenções do artista através de aspetos concretos da obra porque a obra, ela própria, não é mental.

Paula Mateus, A teoria histórica de Levinson

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/24224/1/Paulo%20Mateus.pdf

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