sábado, 8 de maio de 2021

Texto para resumo Pedro Castro 11B e Mafalda 11A

 
Van Gogh, Worn Out: At Eternity's Gate (1890)
 
"(...) a verdadeira arte é expressão imaginativa da emoção. Por «expressão» Collingwood quer dizer algo bastante específico - não uma irrupção ou uma manifestação involuntária da emoção, nem um despertar deliberado da emoção, mas antes a clarificação de um sentimento inicialmente vago que através da sua expressão se torna claro. O processo de criar uma obra de arte é um refinamento desta emoção e ao mesmo tempo uma maneira de o artista ganhar uma espécie de conhecimento de si precisamente através da clarificação daquilo que sente (...)
 
A expressão bem sucedida de uma emoção permite ao observador ou à audiência ganhar consciência dela, exactamente como o processo de criação artística isola a natureza dessa emoção particular para a pessoa que dela tem experiência e que a expressa (...)

O observador deve expressar emoções, diz Collingwood, tal como o artista, e torna-se assim um artista no decorrer do próprio processo de apreciar arte. O artista mostra aos observadores da obra de arte como expressar a emoção particular que se encontra na obra. O valor da arte tanto para o criador como para os consumidores encontra-se na sua capacidade para clarificar e individualizar emoções. (...)

A noção de verdadeira arte de Collingwood admite muitas coisas que não são obviamente arte; ao mesmo tempo, exclui alguns casos paradigmáticos de arte. Inclui demasiado porque parece implicar que qualquer expressão imaginativa de emoção irá ser automaticamente qualificada como obra de arte - uma posição muitíssimo contra-intuitiva. É óbvio que a expressão de uma emoção não precisa de ser uma obra de arte. A expressão de emoções, mesmo no sentido em que Collingwood usa o termo expressão, não é certamente uma condição suficiente para que algo seja uma obra de arte. Por exemplo, a transferência e contratransferência entre um psicoterapeuta e o seu cliente poderia muito bem ter a forma de uma sentimento vago, quase inconsciente, aperfeiçoado numa emoção precisamente expressa; contudo poucas pessoas defenderiam que é, por isso, uma obra de arte. Talvez, contudo, na terminologia de Collingwood, tal não consistia numa expressão imaginativa de emoções. Porém, poder-se-ia fazer uma objecção semelhante a partir do interior da teoria de Collingwood: a sua descrição do papel apropriado do observador de uma pintura parece transformar esse observador num artista. O observador reexprime a emoção que se encontra no âmago da obra. Se esta for uma leitura correcta de Collingwood neste aspecto - e a sua teoria é notavelmente escorregadia - então é simplesmente implausível."
 
Nigel Warburton, O que é a Arte?, pp. 62-63; 72.
 
 

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