terça-feira, 9 de março de 2021

Texto para resumo 11ºA (Manuel) e 11B (Pedro Castro)

 

Quando os cientistas têm de escolher entre teorias rivais, dois homens comprometidos completamente com a mesma lista de critérios de escolha podem, contudo, chegar a conclusões diferentes. Talvez interpretem a simplicidade de maneira diferente, ou tenham convicções diferentes sobre o âmbito de campos em que o critério de consistência se deva aplicar. Ou talvez concordem sobre estas matérias, mas difiram quanto aos pesos relativos a atribuir a estes ou a outros critérios, quando vários deles se desenvolvem em conjunto. No que respeita a divergências deste género, nenhum conjunto de critérios de escolha já proposto é útil. Pode explicar-se por que razão homens particulares fizeram escolhas particulares em tempos particulares. Mas, para este propósito, devemos ir além da lista de critérios partilhados, para as características dos indivíduos que fizeram a escolha. Quer dizer, há que lidar com características que variam de um cientista para outro sem com isso pôr minimamente em risco a sua adesão aos cânones que tornam científica a ciência. Embora tais cânones existam não são por si suficientes para determinar as decisões dos cientistas individuais.

Algumas das diferenças que tenho em mente resultam da experiência anterior do indivíduo como cientista. [...] Quanto do seu trabalho dependeu de conceitos e técnicas impugnados pela nova teoria? Outros fatores importantes para a escolha ficam fora das ciências. [...] O Romantismo Alemão predispôs aqueles que afetou para o reconhecimento e a aceitação da conservação da energia. [...] Ainda outras diferenças significativas são funções da personalidade. Alguns cientistas põem mais ênfase do que outros na originalidade e, portanto, têm mais vontade de correr riscos. [...] Toda a escolha individual entre teorias rivais depende de uma mistura de fatores objetivos e subjetivos, ou de critérios partilhados e individuais.

Como é que os filósofos da ciência puderam negligenciar, durante tanto tempo, os elementos subjetivos que, garantem eles, entram regularmente nas escolhas entre teorias reais feitas pelos cientistas individuais? Por que razão estes elementos lhes parecem apenas um índice da fraqueza humana, e não um índice da natureza do conhecimento científico?

Thomas Kuhn, "Objetividade, juízo de valor e escolha entre teorias", in A Tensão Essencial, Lisboa, Edições 70, 1989, pp. 385-389.

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