terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Texto para Resumo 11B (Filipe) e 11A (Diogo)

 


O Problema da Demarcação

"O problema da demarcação consiste em distinguir a ciência das disciplinas não científicas que também pretendem fazer afirmações verdadeiras sobre o mundo. Os filósofos da ciência foram propondo vários critérios, incluindo o de que a ciência, diferentemente da não-ciência, 1) é empírica, 2) procura certezas, 3) procede utilizando um método científico, 4) descreve o mundo observável, não um mundo não observável e 5) é cumulativa e progride.

Os filósofos da ciência apresentam-nos pontos de vista discordantes acerca destes critérios. Alguns rejeitam completamente um ou mais deles. Por exemplo, enquanto alguns aceitam a ideia de que a ciência é empírica, os racionalistas rejeitam-na, pelo menos no que toca aos princípios fundamentais acerca do espaço, da matéria ou do movimento. Surgem divergências até mesmo entre os empiristas; por exemplo, entre aqueles que advogam que os princípios científicos devem ser verificáveis e aqueles que negam esta possibilidade, exigindo apenas a sua falsificabilidade.

Algumas versões destes cinco critérios — considerados como metas a atingir — poderão ser defensáveis.

1. “Em que consiste o problema e quando se coloca?”

A expressão “problema da demarcação” foi introduzida por Popper para se referir “ao problema de se encontrar um critério que nos permitisse distinguir as ciências empíricas, por um lado, da matemática e da lógica, entendidos como sistemas metafísicos, por outro” ([1934] 1959: 34). Apesar de Popper se referir à matemática e à lógica, outros autores preocupam-se em distinguir a ciência da metafísica e da pseudociência.

Alguns filósofos, incluindo Popper, colocam o problema movidos por um desejo intelectual de clarificar esta distinção. Os positivistas lógicos tinham também o objectivo de deitar por terra as disciplinas não científicas, tais como a metafísica e a teologia, as quais parecem descrever o mundo físico mas que, por serem inverificáveis, são (alegam os positivistas lógicos) desprovidas de sentido. Outros têm objectivos mais práticos. Num país como os EUA, que oficialmente procura separar a igreja do estado, a religião não deve ser ensinada nas escolas públicas, mas a ciência pode sê-lo. Então, a questão prática passa a ser o que devemos considerar ciência (por exemplo, dizendo se o nome “ciência criacionista” está bem empregue).

2. “A ciência é empírica”

A metafísica, a filosofia e a teologia não o são. O significado disto, todavia, pode variar conforme os pontos de vista. Segundo uma concepção habitual, a ciência é formada por proposições (tais como a lei da conservação da energia), que ou são directamente observáveis através da observação sensorial, ou podem ser inferidas a partir de observações deste tipo por meio de um raciocínio indutivo (que parte de alguns casos observados para uma conclusão sobre todos os membros de uma mesma classe), ou delas derivadas de forma dedutiva. Por contraste, as proposições metafísicas (por exemplo, “os universais de Platão existem”) não conseguem satisfazer estes critérios. Newton, que defendia esta concepção empirista, dizia ter derivado as suas três leis do movimento e a lei da gravidade a partir de fenómenos observados, utilizando a indução e a dedução. Muitos empiristas defendiam pontos de vista semelhantes, incluindo J. S. Mill e os positivistas lógicos. Uma concepção empirista significativamente diferente é aquela que Popper abraça. Este, de acordo com Hume, considera que o raciocínio indutivo carece de justificação lógica. Para Popper, apesar de as leis científicas não poderem ser indutivamente verificadas, elas podem ser falsificadas através da observação de um único caso negativo. Assim, a falsificabilidade baseada na observação, mais do que a verificabilidade, é aquilo que dá à ciência o seu carácter empírico."

Peter Achinstein, “O problema da demarcação”, in https://criticanarede.com/cien_demarcacao.html 

 

 

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