sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Texto para resumo 11ºA (João Passos) e 11ºB (Leonor Arandes)


O que há de distintivo na ciência humana?

A ciência é um fenómeno biológico. A ciência surgiu do conhecimento pré-científico; é uma continuação bastante notável do conhecimento de senso comum, que por sua vez pode ser considerado uma continuação do conhecimento animal. (…) O que é que há de distintivo na ciência humana? Qual é a diferença-chave entre uma amiba e um grande cientista como Newton e Einstein? A resposta a esta pergunta é que a característica distintiva é a aplicação consciente do método crítico; (…) Só o método crítico explica o crescimento extraordinariamente rápido da forma científica de conhecimento, o extraordinário progresso da ciência. Todo o conhecimento pré-científico, animal ou humano, é dogmático; e a ciência começa com a invenção do método crítico não dogmático. (…)

A amiba evita o falibilismo: a sua expectativa faz parte dela própria e os portadores pré-científicos de uma expectativa ou de uma hipótese são frequentemente destruídos pela refutação da expectativa ou da hipótese. Todavia, Einstein tornou a sua hipótese objetiva. A hipótese é algo fora dele, e o cientista pode destruir a sua hipótese através da crítica, sem perecer com ela. Em ciência fazemos as nossas hipóteses morrer por nós.

Alcancei agora a minha própria hipótese, a teoria que tantos defensores da teoria tradicional da ciência rotularam de paradoxal. A minha principal tese é que aquilo que distingue a abordagem e o método científico da abordagem pré-científica é o método de tentativa de falibilismo. Cada tentativa de solução, cada teoria, é testada tão rigorosamente quanto nos é possível testá-la. Mas um exame rigoroso é sempre uma tentativa de descobrir as fraquezas existentes naquilo que está a ser examinado. O nosso teste às teorias é também uma tentativa de detetar as suas fraquezas. Testar uma teoria é, pois, uma tentativa de refutar ou falibilizar a teoria”

Karl Popper, A vida é aprendizagem, Lisboa, Edições 70, p. 20-26.

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