sábado, 25 de abril de 2020

TEXTO PARA RESUMO Camila Amorim 11B e Inês Silva 11I2




 Andy Warhol, Caixas de Brillo, 1964

O Sr. Andy Warhol, o artista pop, exibe fac-símiles de caixas de Brillo, em pilhas altas, em limpas prateleiras como nas prateleiras do supermercado. Elas são, casualmente, de madeira, pintadas de modo a parecer cartonado; e por que não? Parafraseando a crítica do Times, se al-guém pode fazer o fac-símile de um ser humano a partir do bronze, por que não o fac-símile da caixa de Brillo a partir da madeira? O custo dessas caixas chega a ser de 2 x 103 o das congéneres na vida real – um diferencial dificilmente atribuível a sua maior durabilidade. Na verdade, o pessoal da Brillo pode, mediante algum custo extra, fazer suas caixas de madeira, sem que elas se tornem obras de arte, e Warhol pode fazer as suas a partir do papel-cartão, sem que elas deixem de ser arte.
Desse modo, podemos esquecer as questões relativas ao valor intrínseco e indagar por que o pessoal da Brillo não pode manufaturar arte e por que Andy Warhol não pode fazer nada senão obras de arte.
(…)O artista pop reproduz laboriosamente à mão objetos feitos à máquina, pintando, por exemplo, os rótulos em latas de café (pode-se ouvir a conhecida advertência: “feito inteiramente à mão” (…).Mas a diferença não consiste no artesanato: um homem que extraiu gemas a partir de rochas e construiu cuidadosamente uma obra chamada Pilha de cascalho (Gravel Pile) pode invocar a teoria do valor-trabalho para justificar o preço que ele pede; mas a questão é: o que torna isso arte? E por que Warhol precisa fazer isso ? Por que não apenas pôr sua assinatura numa delas? Ou amassar totalmente uma e exibir como Caixa de Brillo Amassada (“um protesto contra a mecanização...”) ou simplesmente exibir um cartonado de Brillo como Caixa de Brillo Desamassada (“uma afirmação categórica da autenticidade plástica dos objetos industriais...”)? Esse homem é uma espécie de Midas, transformando tudo em que toca no ouro da pura arte? (…)
O que, afinal de contas, faz a diferença entre uma caixa de Brillo e uma obra de arte consistente de uma caixa de Brillo é uma certa teoria da arte. É a teoria que a recebe no mundo da arte e a impede de recair na condição do objeto real que ela é. É claro que, sem a teoria, é improvável que alguém veja isso como arte e, a fim de vê-lo como parte do mundo da arte, a pessoa deve dominar uma boa dose de teoria artística, assim como uma quantia considerável da história da recente pintura nova-iorquina. Isso poderia não ter sido arte cinquenta anos atrás. (…)O mundo tem que estar pronto para certas coisas – o mundo da arte não menos do que o real. É o papel das teorias artísticas, hoje como sempre, tornar o mundo da arte e a própria arte possíveis. Nunca ocorreria, devo pensar, aos pintores de Lascaux que eles estavam a produzir  arte naquelas paredes. Assim como não havia estetas no Neolítico.”


Arthur Danto, O mundo da Arte, Arte filosofia, Ouro Preto, n.1, p.13-25, jul. 2006

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