sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Correção do teste do 11º Ano - 8 de Fevereiro de 2018



Jeff Mermelstein, 1995

Grupo II

1. Um bom orador é capaz de persuadir qualquer pessoa sobre qualquer assunto, mesmo que nada saiba sobre ele, (não tem necessidade de conhecer o que é justo) apenas tem que parecer que conhece face à multidão (que aparente sê-lo à multidão que deve julgar). Deste modo, a Retórica é uma falsa Arte porque manipula e ilude parecendo aquilo que não é. Concentra-se a Retórica na forma de tornar o discurso agradável e não com o seu conteúdo de verdade. Este caso ocorre no texto quando Górgias afirma que poderá eleger-se como médico não sendo médico mas convencendo uma assembleia que o é, em detrimento do verdadeiro médico. Assim, a arte da retórica, pode ser enganadora por se prestar à adulação em detrimento da ciência e da verdade, do estudo e da investigação que um médico terá de possuir para poder apresentar-se como tal.

Para Platão a questão principal do discurso e do conhecimento não é, portanto, a persuasão, um orador não deve ter o propósito de persuadir, isto é, de conseguir a concordância de todos, o seu único propósito deve ser a verdade. Ora, para os sofistas, a verdade não existe ou se existe nada se pode saber sobre ela, logo, o homem é a medida de todas as coisas, só ele pode decidir em cada situação o que é verdadeiro, mas essa verdade varia de homem para homem de acordo com os seus interesses e perspetivas. Para os sofistas só podemos ter opiniões e todas as opiniões valem o mesmo, a sua aceitação por parte do auditório depende apenas do modo como a defendemos. A partir deste relativismo, arte de argumentar e a eloquência tornam-se importantes e decisivas. A educação dos jovens deve ter como principal disciplina a Retórica porque com ela se alcança o sucesso.
Para Platão, a verdade não pode ser uma mera opinião aprendida com os outros, implica um conhecimento, uma investigação racional que afasta todas as opiniões. A opinião é uma aparência de verdade, mesmo quando verdadeira a opinião ainda não é conhecimento. Para ser conhecimento tem de estar justificada com razões, não razões que a tornem mais agradável e verosímil, mas razões que a demonstrem, isto é, que mostrem que é assim e não pode ser de outro modo.


2. A tese de Protágoras “ A verdade é relativa” autodestrói-se pois pode ter duas interpretações e ambas negam o que a frase afirma. Assim, poderemos considerar que o conteúdo desta frase se aplica à própria frase e, deste modo, esta afirmação seria verdadeira apenas para Protágoras podendo ser falsa para os restantes indivíduos. Teria esta frase o valor correspondente à opinião de Protágoras e, portanto,  um valor limitado à esfera singular do seu autor. Admite-se deste modo o seu contrário como sendo igualmente verdadeiro, isto é "A verdade não é relativa". Por outro lado, se a frase pretende enunciar uma verdade, ela é contraditória por si, visto que pretende afirmar o contrário daquilo que se propõe, isto é, pretende enunciar uma verdade universal com uma proposição que afirma que a verdade não é universal.


3. A oposição entre Verdade e política pode ser encontrada em Platão na medida em que sustenta que acerca de assuntos mundanos nunca há conhecimento mas apenas opiniões que se opõem. Um outro aspeto é o da utilidade do discurso. Para que serve discursar se não for para nos tornar melhores e mais sábios, o discurso deve ter a forma de um diálogo, isto é, de uma contraposição de opiniões com vista a sair delas e a procurar os conceitos que já não são opiniões mas conhecimento racional. Para os sofistas e para a nova democracia ateniense, não há conhecimento verdadeiro sobre a forma como deve ser governada a cidade (relativistas) ou, se existe tal conhecimento, o homem não o poderá alcançar. Daqui se segue que, sobre os assuntos políticos, o “Homem é a medida de todas as coisas” e portanto quem decide qual a opinião mais credível são os homens. Esta opinião credível, por ser supostamente suportada por bons e sedutores argumentos, bem como por uma postura ousada do orador. Neste aspeto, Platão critica esta aparência de verdade e dá-a como consequência de um mau uso do discurso. O discurso quando é usado para unicamente persuadir um auditório, tem estratégias que ultrapassam os factos e a verdade destes, valendo qualquer argumento que avive as emoções e permita a satisfação dos interesses e gostos do auditório. Um bom orador é capaz de persuadir qualquer pessoa sobre qualquer assunto, mesmo que nada saiba sobre ele, (não tem necessidade de conhecer o que é justo) apenas tem que parecer que conhece face à multidão (que aparente sê-lo à multidão que deve julgar). Deste modo a Retórica é uma falsa Arte porque manipula e ilude parecendo aquilo que não é. Concentra-se na forma de tornar o discurso agradável e não com o seu conteúdo de verdade. A questão tem a sua formulação prática no conflito que opõe filósofos e sofistas acerca da melhor forma de educar os jovens. Para os filósofos,  a finalidade da educação deve ser a ética e a Filosofia ou arte de pensar que consiste em ir à essência dos conceitos que todos os dias utilizamos, ou, por outro lado, a finalidade da educação deve ser preparar chefes políticos capazes de fazer prevalecer os seus pontos de vista e de governar com o apoio dos cidadãos. Para formar chefes políticos a retórica parece mais apropriada que outra arte pois está indicada para o sucesso na vida pública.


4. A definição tradicional de conhecimento propõe três condições necessárias para se poder dar o caso de alguém afirmar: “Eu sei que”, isto é, para podermos afirmar que há conhecimento de algo. É necessário acreditar que algo é verdadeiro, porque seria contraditório saber algo sem acreditar nisso, tem portanto de haver uma crença. A crença não é, no entanto, suficiente para ter conhecimento, é necessário que esta seja verdadeira, pois o conhecimento é factivo o que implica que não possamos conhecer falsidades, falsidades não são factos. Por último tem que haver fortes razões que fundamentem e justifiquem essa crença, porque podemos saber a verdade acerca de algo por puro acaso e não podemos chamar conhecimento a uma crença verdadeira obtida ao acaso. Cada uma destas condições não pode sozinha ser suficiente mas as três em conjunto sim, por isso se apelida esta definição de definição tripartida do conhecimento.


Grupo III

1. Não, a afirmação é falsa, a crença verdadeira não é conhecimento porque podemos ter uma crença verdadeira por mera sorte, ou por acaso. Visto o Pai Natal não existir, o João não tem nenhuma justificação para a sua crença, e se teve prendas foi porque os pais lhe deram, logo a sua crença é verdadeira por puro acaso.


2. A afirmação “Os sólidos ocupam espaço” é verdadeira em qualquer situação pois é necessário  para ser um sólido ocupar espaço. Não preciso de ter visto ou experienciado corpos sólidos para justificar a verdade da afirmação, basta-me saber o conceito de sólido para saber que a afirmação é correta, por isso se diz que este conhecimento é “a priori”, isto é, não é justificado pela experiência mas apenas pela análise dos conceitos, sendo assim, esta proposição ou afirmação,  não acrescenta um novo conhecimento, por isso se diz também que é uma proposição ou juízo analítico. Quanto à afirmação “A língua oficial de Itália é o italiano” necessita da experiência que decorre de ter lido, ouvido ou visto algo que me dê essa informação, esse conhecimento não é necessariamente verdadeiro, nem se justifica pela análise dos conceitos. Pois a língua oficial de Itália poderia ser outra que não o Italiano, ou ainda poderá mudar de modo a que a proposição poderia ser falsa. O conhecimento obtido empiricamente ou “a posteriori” é, por isso, contingente, isto é, não é verdadeiro em todas as situações e sempre. Este tipo de proposições apelidam-se também de sintéticas visto que o seu conteúdo acrescenta algo ao conceito e alarga também o nosso conhecimento do mundo.


3. A Teoria tripartida do conhecimento é a teoria que defende a necessidade de satisfazer três condições para o haver conhecimento: haver uma crença, ser verdadeira e estar justificada por fortes razões. Esta teoria foi, no entanto, refutada através de contraexemplos, isto é, de suposições de situações possíveis de ocorrer em que estas três condições, embora satisfeitas, não são suficientes para existir conhecimento. E. Gettier através destes contraexemplos prova então que a teoria tripartida não é completamente satisfatória pois admite objeções que não podem ser explicadas recorrendo apenas às condições exidas pela teoria.

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