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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Texto para resumo João 11E
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Textos para os trabalhos sobre David Hume
1. Leitura de um dos textos para cada um dos trabalhos. retirar as ideias principais do texto e explicar.
2. Elaborar um comentário crítico aos textos.
Biografia do autor e principais tópicos da sua filosofia.
3. Quem escolher o Doc 1 tem que falar no empirismo e na origem das ideias; quem escolher o Doc 2 tem que falar do empirismo e na relação de causa-efeito.
4.Avaliação do diapositivo e da exposição oral.
5. Datas de entrega do diapositivo e exposição oral: 13 de Dezembro
DOC1
"Ensaio sobre o entendimento humano"
David Hume
Primeira parte
SECÇÃO II
DA ORIGEM DAS IDEIAS
"Cada um admitirá prontamente que há uma diferença
considerável entre as perceções do espírito, quando uma pessoa sente a dor do
calor excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando depois recorda em sua
memória esta sensação ou a antecipa por meio de sua imaginação. Estas
faculdades podem imitar ou copiar as perceções dos sentidos, porém nunca podem
alcançar integralmente a força e a vivacidade da sensação original. O máximo
que podemos dizer delas, mesmo quando atuam com seu maior vigor, é que
representam seu objeto de um modo tão vivo que quase podemos dizer que o vemos
ou que o sentimos. Mas, a menos que o espírito esteja perturbado por doença ou
loucura, nunca chegam a tal grau de vivacidade que não seja possível discernir
as perceções dos objetos. Todas as cores da poesia, apesar de esplêndidas,
nunca podem pintar os objetos naturais de tal modo que se tome a descrição pela
paisagem real. O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação mais
embaçada. Podemos observar uma distinção semelhante em todas as outras perceções
do espírito. Um homem à mercê dum ataque de cólera é estimulado de maneira
muito diferente da de um outro que apenas pensa nessa emoção. Se vós me dizeis
que certa pessoa está amando, compreendo facilmente o que quereis dizer-me e
formo uma conceção precisa de sua situação, porém nunca posso confundir esta ideia
com as desordens e as agitações reais da paixão. Quando refletimos sobre nossas
sensações e impressões passadas, nosso pensamento é um reflexo fiel e copia
seus objetos com veracidade, porém as cores que emprega são fracas e embaçadas
em comparação com aquelas que revestiam nossas perceções originais. Não é
necessário possuir discernimento sutil nem predisposição metafísica para
assinalar a diferença que há entre elas. Podemos, por conseguinte, dividir
todas as perceções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por
seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos fortes e menos vivas
são geralmente denominadas pensamentos ou ideias. A outra espécie não possui um
nome em nosso idioma e na maioria dos outros, porque, suponho, somente com fins
filosóficos era necessário compreendê-las sob um termo ou nomenclatura geral.
Deixe-nos, portanto, usar um pouco de liberdade e denominá-las impressões,
empre gando esta palavra num sentido de algum modo diferente do usual. Pelo
termo impressão entendo, pois, todas as nossas perceções mais vivas, quando
ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou que remos. E as
impressões diferenciam-se das ideias, que são as perceções menos vivas, das
quais temos consciência, quando refletimos sobre quais quer das sensações ou
dos movimentos acima mencionados.
2 A primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que
o pensamento humano, que não apenas escapa a toda autoridade e a todo poder do
homem, mas também nem sempre é reprimido dentro dos limites da natureza e da realidade.
Formar monstros e juntar formas e aparências incongruentes não causam à
imaginação mais embaraço do que conceber os objetos mais naturais e mais
familiares. Apesar de o corpo confinar-se num só planeta, sobre o qual se
arrasta com sofrimento e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos num
instante às regiões mais distantes do Universo, ou mesmo, além do Universo,
para o caos indeterminado, onde se supõe que a Natureza se encontra em total
confusão. Pode -se conceber o que ainda não foi visto ou ouvido, porque não há
nada que esteja fora do poder do pensamento, exceto o que implica absoluta
contradição. Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade
ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente
confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do
espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de
diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela
experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas ideias
compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. Podemos conceber um
cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos nos permite conceber
a virtude e podemos uni-la à figura e forma de um cavalo, que é um animal bem
conhecido. Em resumo, todos os materiais do pensamento derivam de nossas
sensações externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do
espírito e da vontade. Ou melhor, para expressar-me em linguagem filosófica: todas
as nossas ideias ou perceções mais fracas são cópias de nossas impressões ou
perceções mais vivas. Para prová-lo, espero que serão suficientes os dois
argumentos seguintes. Primeiro, se analisamos nossos pensamentos ou ideias, por
mais compostos ou sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a ideias
tão simples como eram as cópias de sensações precedentes. Mesmo as ideias que,
à primeira vista, parecem mais distantes desta origem mostram-se, sob um
escrutínio minucioso, derivadas dela. A ideia de Deus, significando o Ser
infinitamente inteligente, sábio e bom, nasce da reflexão sobre as operações de
nosso próprio espírito, quando aumentamos indefinidamente as qualidades de
bondade e de sabedoria. Podemos continuar esta investigação até a extensão que
quisermos, e acharemos sempre que cada ideia que examinamos é cópia de uma
impressão semelhante. Aqueles que dizem que esta afirmação não é universalmente
verdadeira, nem sem exceção, têm apenas um método, e em verdade fácil, para
refutá-la: mostrar uma ideia que, em sua opinião, não deriva desta fonte.
Incumbir-nos-ia então, se quiséssemos preservar nossa doutrina, de mostrar a
impressão ou perceção mais viva que lhe corresponde. Segundo, se ocorre que o
defeito de um órgão prive uma pessoa de uma classe de sensação, notamos que ela
tem a mesma incapacidade para formar ideias correspondentes. Assim, um cego não
pode ter noção das cores nem um surdo dos sons. Restaurai a um deles um dos
sentidos de que carecem: ao abrirdes as portas às sensações, possibilitais
também a entrada das ideias, e a pessoa não terá mais dificuldade para conceber
aqueles objetos. O mesmo fenômeno ocorre quando o objeto apropriado para
estimular qualquer sensação nunca foi aplicado ao órgão do sentido. Um lapão ou
um negro, por exemplo, não têm nenhuma noção do sabor do vinho. Apesar de haver
poucos ou nenhum caso de semelhante deficiência no espírito, em que uma pessoa
nunca sentiu ou que é completamente incapaz de um sentimento ou paixão próprios
de sua espécie, constatamos, todavia, que a mesma observação ocorre em menor
grau. Um homem de modos brandos não pode formar uma ideia de vingança ou de
crueldade obstinada, nem um coração egoísta pode conceber facilmente os ápices
da amizade e da generosidade. Em verdade, admitimos que outros seres podem
possuir muitos sentidos dos quais não temos noção, porque as ideias destes
sentidos nunca nos foram apresentadas pela única maneira por que uma ideia pode
ter acesso ao espírito, isto é, mediante o sentimento e a sensação reais. Há, no
entanto, um fenômeno contraditório que pode provar que não é absolutamente
impossível que as ideias nasçam in dependentes de suas impressões
correspondentes. Acredito que se concordaria facilmente que as várias ideias de
cores diferentes que penetram pelos olhos, ou aquelas de sons conduzidas pelo
ouvido, são realmente diferentes umas das outras, embora, ao mesmo tempo,
parecidas. Ora, se isto é verdadeiro a respeito das diferentes cores, deve
sê-lo igualmente para os diversos matizes da mesma cor; e cada matiz produz uma
ideia diversa, independente das outras. Pois, se se negasse isto, seria
possível, por contínua gradação dos matizes, passar insensivelmente de uma cor
a outra completamente distante de série; se vós não admitis a distinção entre
os intermediários, não podeis, sem absurdo, negar a identidade dos extremos.
Suponde, então, uma pessoa que gozou do uso de sua visão durante trinta anos e
se tornou perfeitamente familiarizada com cores de todos os gêneros, exceto com
um matiz particular do azul, por exemplo, que nunca teve a sorte de ver.
Colocai todos os diferentes matizes daquela cor, exceto aquele único, defronte
daquela pessoa, decrescendo gradualmente do mais escuro ao mais claro.
Certamente, ela perceberá um vazio onde falta este matiz, terá o sentimento de
que há uma grande distância naquele lugar, entre as cores contíguas, mais do
que em qualquer outro. Ora, pergunto se lhe seria possível, através de sua
imaginação, preencher este vazio e dar nascimento à ideia deste matiz
particular que, todavia, seus sentidos nunca lhe forneceram? Poucos leitores,
creio eu, serão de opinião que ela não pode; e isto pode servir de prova que as
ideias simples nem sempre derivam das impressões correspondentes, mas esse caso
tão singular é apenas digno de observação e não merece que, unicamente por ele,
modifiquemos nossa máxima geral."
DOC2
"Ensaio sobre o entendimento humano"
David Hume
Excerto da obra de David Hume, Ensaio sobre o entendimento
humano,
SEGUNDA PARTE
"Entretanto, não chegamos ainda a nenhuma resposta
satisfatória a respeito da primeira questão proposta. Cada solução gera uma
nova questão tão difícil como a precedente e nos conduz a novas investigações.
Quando se pergunta: qual é a natureza de todos os nossos raciocínios sobre os
fatos? A resposta conveniente parece ser que eles se fundam na relação de causa
e efeito. Quando se pergunta: qual é o fundamento de todos os nossos
raciocínios e conclusões sobre essa relação? Pode-se replicar numa palavra: a
experiência. Mas, se ainda continuarmos com a disposição de esmiuçar o problema
e insistirmos: qual é o fundamento de todas as conclusões derivadas da
experiência? Esta pergunta implica uma nova questão que pode ser de solução e
explicação mais difíceis. Os filósofos que se dão ares de sabedoria superior e
suficiência têm uma tarefa difícil quando se defrontam com pessoas com disposições
inquisitivas, que os desalojam de todos os esconderijos em que se refugiam, e
que estão seguras de levá-los finalmente a um perigoso dilema, O melhor recurso
para evitar esta confusão consiste em ter modestas pretensões e descobrir nós
mesmos as dificuldades antes que nos sejam objetadas. Desta maneira, faremos de
nossa ignorância uma virtude. Contentar-me-ei nesta seção com uma tarefa fácil:
pretenderei apenas dar uma resposta negativa à questão aqui proposta. Digo,
pois, que mesmo depois que temos experiência das operações de causa e de
efeito, nossas conclusões desta experiência não estão fundadas sobre
raciocínios ou sobre qualquer processo do entendimento. Devemos trata r de
explicar e defender esta posição. Certamente, deve -se admitir que a natureza
nos tem mantido a uma grande distância de todos os seus segredos, e que apenas
nos tem concedido o conhecimento de algumas qualidades superficiais dos
objetos, enquanto ela nos esconde os poderes e princípios dos quais depende
inteiramente a ação desses objetos. Nossos sentidos nos informam a cor, o peso
e a consistência do pão, porém, nem os sentidos e nem a razão jamais podem
informar-nos sobre as qualidades que o fazem apropriado para alimentar e
sustentar o corpo humano. A visão e o tato nos dão uma ideia do movimento real
dos corpos, porém não podemos formar o mais remoto conceito da maravilhosa
força ou poder que é capaz de manter indefinidamente em movimento um corpo, e
que este nunca a perde, mas a comunica a outros. Mas, não obstante esta
ignorância dos poderes1 e princípios naturais, sempre presumimos quando vemos
qualidades sensíveis análogas que elas têm poderes ocultos análogos, e
esperamos que a estas seguirão efeitos semelhantes àqueles que já temos
experimentado. Se nos fosse mostrado um corpo de cor e consistência análogas às
do pão que havíamos comido anteriormente, não teríamos nenhum escrúpulo em
repetir o experimento, prevendo com certeza que ele nos alimenta rá e nos
sustentará de maneira semelhante. Ora, eis um processo do espírito e do
pensamento cujo fundamento gostaria de conhecer. Toda a gente está de acordo
que não se conhece nenhuma conexão entre as qualidades sensíveis e os poderes
ocultos e, por conseguinte, o espírito não é levado a tirar uma conclusão sobre
a conjunção constante e regular daquelas, tendo por base algo que possa
conhecer na natureza destas. Pode-se admitir que a experiência passada dá
somente uma informação direta e segura sobre determinados objetos em
determinados períodos do tempo, dos quais ela teve conhecimento. Todavia, é
esta a principal questão sobre a qual gostaria de insistir: porque esta experiência
tem de ser estendida a tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos,
unicamente são similares em aparência. O pão que outrora comi alimentou-me,
isto é, um corpo dotado de tais qualidades sensíveis estava, a este tempo,
dotado de tais poderes desconhecidos. Mas, segue -se daí que este outro pão
deve também alimentar-me como ocorreu na outra vez, e que qualidades sensíveis
semelhantes devem sempre ser acompanhadas de poderes ocultos semelhantes? A
consequência não parece de nenhum modo necessária. Pelo menos, deve-se
reconhecer que aqui o espírito tira uma consequência; que deu um certo passo;
que há um processo do pensamento e uma inferência que necessitam de uma
explicação. Estas duas proposições não são de nenhum modo iguais: encontrei que
tal objeto sempre tem sido acompanhado por tal efeito, e prevejo que outros
objetos que são em aparência semelhantes, serão acompanhados por efeitos
semelhantes. Concederei, se vós permitis, que uma das proposições pode ser
legitimamente inferida da outra: sei, de fato, que ela sempre se infere. Mas,
se vós insistis em que a inferência é feita por uma cadeia de raciocínios,
desejaria que vós construísseis este raciocínio. A conexão entre estas
proposições não é intuitiva. Requer-se um termo médio que permita ao espírito
extrair tal inferência, se é que, verdadeiramente, é extraída mediante
raciocínio e argumentos. Qual é o termo médio? Devo confessar, é algo que
ultrapassa minha compreensão, e cabe mostrá-lo por aqueles que afirmam que
realmente existe e que é a origem de todas as nossas conclusões acerca dos
fatos. Certamente, este argumento negativo pode tornar-se inteiramente
convincente no decorrer do tempo, se muitos filósofos hábeis e perspicazes
dirigirem suas investigações neste sentido, e se ninguém for capaz de descobrir
alguma proposição conectiva ou algum degrau intermediário que apoie o
entendimento nesta conclusão. Mas, como se trata de dificuldade recente, os
leitores não devem confiar em demasia na sua própria sagacidade a ponto de
concluir que um argumento realmente não existe porque escapa à investigação.
Por esta razão, é preciso empreender pesquisa mais difícil, e, por enumeração
de todos os ramos de conhecimento humano, tratar de mostrar que nenhum deles
pode proporcionar semelhante argumento. Todos os raciocínios dividem-se em duas
classes: raciocínios demonstrativos, que se referem às relações de ideias, e os
raciocínios morais (ou prováveis) que se referem às questões de fato e de
existência. Parece evidente que os últimos não englobam argumentos
demonstrativos, pois não é contraditório o fato de que o curso da natureza pode
modificar-se e que um objeto, aparentemente semelhante aos já observados, possa
ser acompanhado de efeitos diferentes ou contrários. Não posso conceber clara e
distintamente que um corpo que tomba das nuvens — semelhante em todos aspetos a
o da neve — tenha, todavia, sabor de sal e queime como o fogo? Há proposição
mais inteligível do que esta: todas as árvores florescerão em dezembro-janeiro
e definharão em maio -junho? Portanto, considera-se inteligível toda proposição
concebida distintamente e sem contradição e, por conseguinte, jamais sua
falsidade é mostrada por argumento demonstrativo ou raciocínio abstrato a
priori. Entretanto, se os argumentos nos levarem a confiar na experiência e
fazê-la padrão de nosso juízo futuro, deveremos considerá-los apenas prováveis,
isto é, referentes às questões de fato e de existência real, de acordo com a
divisão acima mencionada. Mas, se nossa explicação desta classe de raciocínio é
considerada sólida e satisfatória, verificaremos que de fato não existe tal
tipo de argumento. Temos dito que todos os argumentos referentes à existência
se fundam na relação de causa e efeito; que nosso conhecimento daquela relação
provém inteiramente da experiência; e que todas as nossas conclusões
experimentais decorrem da suposição que o futuro estará em conformidade com o
passado. Portanto, tentar provar a última conjetura, por argumentos prováveis,
por argumentos referentes à existência, consiste, certamente, em girar num
círculo e dar por admitido o que precisamente se problematiza."
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
Texto para análise e resumo Inês Pessoa 11E
Mas há uma crença, uma proposição resistente, da qual ele não pode absolutamente duvidar. Mesmo que ele seja enganado pelos seus sentidos, que esteja perdido num sonho, que a sua origem seja tal que ele seja um pensador imperfeito, até que um demónio vicioso esteja determinado a lançar sobre ele a confusão, permanece acima de qualquer dúvida que ele existe. Como Descartes diz: ‘ Penso, existo, é necessariamente verdadeiro, de cada vez que eu o expresso ou concebo na minha mente.’ Temos não só um dos mais famosos slogans filosóficos jamais escritos, mas também a primeira verdade, o fundamento sobre o qual Descartes reconstrói o seu sistema de conhecimento. A primeira verdade é por vezes designada ‘o Cogito’, abreviatura da expressão latina ‘Cogito, ergo sum’, ‘Penso, logo existo’.
O estatuto do Cogito tem ocupado os filósofos desde então. Numerosas questões se levantam quase instantaneamente. Trata-se da conclusão de um argumento? Não é claro como possa ser isso, visto que Descartes admitiu não ter crenças, quaisquer premissas com que construir um argumento. Além do mais, ele disse também não ter fé na sua capacidade de construir argumentos, não ter confiança na Lógica. Alguns vêem no Cogito não a conclusão de um argumento, mas uma espécie de descoberta epistémica: uma verdade indubitável na qual ele tropeça. Outros preocupam-se em saber se Descartes pode ter direito ao ‘Eu’ presente no Cogito. Não terá ele de direito apenas a qualquer coisa de menos, a dizer somente que o pensamento ocorre e não que quem o pensa é o próprio Descartes?
O círculo cartesiano
No entanto, Descartes tenta ir para a frente, olhando para novas verdades dentro da sua mente. Pensa um pouco acerca da natureza da dúvida e conclui que a dúvida é uma forma de imperfeição, em comparação com o conhecimento. A reflexão sobre a própria ideia de perfeição condu-lo a uma das várias provas da existência de Deus. Dada a natureza das suas várias dúvidas, Descartes sabe que não é um ser perfeito. Não obstante, tem a ideia de perfeição e essa ideia não lhe pode ter vindo de si mesmo ou de qualquer ser imperfeito. Pode apenas vir de um ser perfeito, nomeadamente, de Deus. Esta linha de pensamento conduz a uma versão do argumento ontológico de Anselmo. A ideia que Descartes tem de Deus é a de um ser com todas as perfeições. A existência é uma forma de perfeição; portanto, Deus tem de existir. Pensar em Deus como não existindo é como pensar num triângulo sem três lados. Assim como possuir três lados está no conceito de triangularidade, existência está no conceito de Deus. Se compreendemos bem a ideia de Deus, temos de aceitar que Deus existe.
O engano, nota Descartes, é uma forma de imperfeição e, por isso, conclui que Deus não pode ser enganador. Logo, podemos confiar nas nossas percepções claras e distintas; não somos sistematicamente enganados e a verdade tem de estar ao alcance das nossas capacidades. Reconstruir um sistema de crenças enraízado na percepção clara e distinta é a tarefa [seguinte].
Muitos notaram nesta linha de argumento um círculo demasiado fechado. Chegamos ao conhecimento de que Deus existe e não é enganador apenas porque aceitámos uma série de percepções claras e distintas. Sabemos que as nossas percepções claras e distintas são fiáveis porque Deus existe e não é enganador. Mas não depende a nossa fé nas percepções claras e distintas da prova de que Deus existe e não pressupõe essa prova a veracidade das nossas percepções claras e distintas?
O problema (…) é o de que o conhecimento parece ser uma coisa frágil. Descartes tem certamente sucesso na parte negativa do seu projecto, arrasando os fundamentos do conhecimento com os argumentos cépticos (…). No entanto, o seu esforço para erguer tudo a partir do nada constitui uma espécie de falhanço. Mas o seu objectivo principal, o de mostrar que uma compreensão científica do mundo é possível é algo que nós, modernos, tomamos como adquirido demasiado facilmente.
James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books. London & New York: Continuum, 2006.
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
terça-feira, 8 de novembro de 2022
Texto para resumo Carolina 11E

Apesar de ter uma certeza, uma crença básica que a dúvida confirma como verdadeira, Descartes não pode ter mais nenhuma certeza, pois duvidou da existência do mundo, do que vê, até de ter um corpo. Todavia tem a crença que Deus é garantia da verdade desse mundo mas como prová-lo racionalmente?
Descartes conclui que Deus existe pelo facto da sua ideia existir em nós. Uma das passagens onde ele exprime melhor esta ideia é:
Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte, p. 64.
terça-feira, 25 de outubro de 2022
Texto para resumo Bianca 11E
“Não sei se deva falar-vos das primeiras meditações que aí realizei; pois são tão metafísicas e tão pouco comuns, que não serão, talvez, do gosto de todo mundo. E, todavia, a fim de que se possa julgar se os fundamentos que escolhi são bastante firmes, vejo-me, de alguma forma, compelido a falar-vos delas. De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal como se fossem indubitáveis, como já foi dito acima; mas, por desejar então ocupar-me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos fazem imaginar. E, porque há homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo no tocante às mais simples matérias de Geometria, e cometem aí paralogismos, rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a falhar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações. E enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos que temos quando despertos nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja nenhum, nesse caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. Depois, examinado com atenção o que eu era, e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, seguia-se mui evidente e mui certamente que eu existia; ao passo que, se apenas houvesse cessado de pensar, embora tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não teria razão alguma de crer que eu tivesse existido; compreendi por aí que eu era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de qualquer coisa material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo e, mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria de ser tudo o que é.”
Descartes, Discurso do Método, IV Parte
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Texto para resumo Pedro Claudino 11E

quinta-feira, 29 de setembro de 2022
Texto para resumo Giovana- O conhecimento não pode surgir da sorte ou do acaso
Diz-se frequentemente que o conhecimento aspira à verdade, no sentido em que quando acreditamos numa proposição, acreditamos que ela é o caso (i. e. que é verdadeira). Quando aquilo em que acreditamos é verdadeiro, dá-se uma coincidência entre o que pensamos ser o caso e o que é o caso. Acertamos na verdade. No entanto, se a mera crença verdadeira é suficiente para 'acertar' na verdade, podemos interrogar-nos porque é que os epistemólogos, na sua busca por uma boa definição de conhecimento, não se dão imediatamente por satisfeitos, aceitando que conhecimento não é mais do que crença verdadeira - i. e. acertar na verdade.
Há realmente uma boa razão que explica porque é que os epistemólogos não se contentam com a ideia de conhecimento como crença verdadeira. É que uma pessoa pode possuir uma crença verdadeira por acaso, situação em que não poderíamos atribuir-lhe mérito por acertar na verdade. Suponhamos que Henrique fica convencido de que o cavalo Moça Sortuda irá ganhar a próxima corrida só porque achou o nome do cavalo engraçado. Esta não é claramente uma boa base sobre a qual devêssemos construir uma crença acerca do vencedor da próxima corrida de cavalos, visto que o facto de acharmos o nome do cavalo apelativo não tem influência sobre a prestação deste durante a corrida.
Suponhamos, no entanto, que a crença de Henrique acaba por se tornar verdadeira, que Moça Sortuda ganha de facto a corrida. É isto conhecimento? Intuitivamente não, pois a crença é verdadeira apenas por uma questão de sorte. Não esqueçamos que o conhecimento é algo que se alcança, algo que resulta do mérito de alguém, não podendo ser aquilo que alcançamos puramente por uma questão de sorte.
Para enfatizar este ponto, pensemos por um momento no que significa alcançar um feito noutra área, como no tiro com arco. Se alguém é um bom arqueiro, ao tentar atingir o centro do alvo em condições favoráveis (por exemplo, sem um vento demasiado forte), atingi-lo-á habitualmente. É isso que significa ser um bom arqueiro. A palavra 'habitualmente' é aqui importante, porque àqueles que não são bons arqueiros acontece-lhes às vezes acertar no centro do alvo, mas não habitualmente. É possível que apontem a seta e que, por sorte, atinjam o centro do alvo. Mas significa isto que quem acerta numa ocasião é um bom arqueiro? Não, pela simples razão de que essas pessoas não seriam capazes de repetir a façanha. Se tentassem outra vez o mais certo era que a seta desaparecesse no céu.
Possuir conhecimento é algo semelhante. Imaginemos que uma crença é uma seta que apontamos ao alvo, neste caso a verdade. Atingir o alvo e formar uma crença verdadeira é acertar, visto que temos sucesso numa dada ocasião. No entanto, formar uma crença verdadeira não é suficiente para possuir conhecimento, tal como não basta acertar no centro do alvo por mera sorte para se ser um bom arqueiro. O conhecimento tem de ser um resultado dos nossos esforços, em vez de um resultado que se alcança por puro acaso. Isto quer dizer que o modo como formamos uma crença deve, em circunstâncias normais, conduzir habitualmente à verdade.
Henrique, que forma a crença verdadeira de que Moça Sortuda ganhará a corrida só porque gostava do nome do cavalo, é como a pessoa a quem aconteceu acertar no alvo e que não é um bom arqueiro. Formar uma crença sobre a possível vitória de um cavalo, considerando apenas se o seu nome tem ou não tem graça, conduzirá habitualmente à formação de uma crença falsa.
Comparemos Henrique com alguém que genuinamente sabe que a corrida será ganha por Moça Sortuda. Essa pessoa pode ser, por exemplo, um poderoso gangster que viciou a corrida, drogando os outros cavalos para que Moça Sortuda ganhasse. Ele sabe que a corrida será ganha por Moça Sortuda, pois o modo como ele formou a sua crença, baseando-se na informação privilegiada de que dispunha para pensar que Moça Sortuda não poderia perder, conduzi-lo-á normalmente a uma crença verdadeira. Não é por uma questão de sorte que o gangster atinge o alvo da verdade.
Deste modo, o desafio para os epistemólogos é explicar o que é necessário juntar à mera crença verdadeira de modo a que se obtenha conhecimento. Em particular, os epistemólogos precisam de explicar o que tem de ser acrescentado à crença verdadeira para capturar esta ideia de que o conhecimento, em contraste com a mera crença verdadeira, é um autêntico feito do agente, algo de que ele é responsável, no sentido de uma crença obtida não apenas por uma questão de sorte.
Duncan Pritchard, What is This Thing Called Knowledge? (Abington & New York: 2006, p. 6). Trad. Carlos Marques.
sexta-feira, 23 de setembro de 2022
Texto para resumo Cátia 11E - O que é o conhecimento?
Salvador Dali
"O conhecimento é um estado muitíssimo valorizado no qual uma pessoa está em contacto cognitivo com a realidade. Trata-se, portanto, de uma relação. De um lado da relação encontra-se um sujeito consciente, e do outro lado encontra-se uma porção da realidade com a qual o conhecedor está direta ou indiretamente relacionado. Enquanto a relação direta é uma questão de grau, é conveniente pensar no conhecimento de coisas como uma forma direta de conhecimento relativamente ao qual o conhecimento acerca de coisas é indireto. Ao primeiro chama-se habitualmente conhecimento por contacto uma vez que o sujeito está em contacto, através da experiência, com a porção de realidade conhecida, ao passo que ao segundo tipo de conhecimento se chama conhecimento proposicional uma vez que aquilo que o sujeito conhece é uma proposição verdadeira acerca do mundo. Conhecer o Rodrigo é um exemplo de conhecimento por contacto, ao passo que saber que o Rodrigo é um filósofo é um exemplo de conhecimento proposicional. O conhecimento por contacto inclui não apenas conhecimento de pessoas e coisas, mas também conhecimento dos nossos estados mentais. De facto, os estados mentais daquele que conhece são muitas vezes tidos como porção de realidade mais diretamente conhecível.
O conhecimento proposicional tem sido muito mais exaustivamente discutido do que o conhecimento por contacto pelo menos por dois motivos. Por um lado, o conhecimento proposicional é a forma pela qual se comunica o conhecimento, o que significa que o conhecimento proposicional pode ser transferido de uma pessoa para outra, ao passo que o conhecimento por contacto não pode ser transferido de pessoa para pessoa, pelo menos de forma direta. Outra razão relacionada com esta é a que a realidade tem uma estrutura proposicional ou, pelo menos, a proposição é a principal forma pela qual a realidade é compreensível para a mente humana. Assim, mesmo que a minha experiência do Rodrigo me leve a conhecer o Rodrigo, e a experiência das minhas emoções me leve a saber o que é possuir tais emoções, como teórica tenho dificuldades em responder à questão «o que é o conhecimento?» relativamente a ambos os casos. É mais fácil explicar o objeto do conhecimento quando se trata de uma proposição. Neste artigo seguirei o procedimento habitual concentrando-me no conhecimento proposicional, mas ao fazê-lo reconheço que a conveniência não implica necessariamente a sua grande importância.
As proposições são verdadeiras ou falsas, mas somente as proposições verdadeiras ligam o sujeito cognitivo com a realidade da forma desejada. Assim, o objeto do conhecimento no sentido que mais interessa aos filósofos é habitualmente visto como uma proposição verdadeira. Saber qual a natureza da verdade, das proposições e da realidade é uma questão metafísica. Por esta razão os epistemólogos não dirigem os seus esforços para estas questões quando escrevem sobre epistemologia, e assim as questões acerca da natureza do conhecimento não se centram no objeto do conhecimento, mas antes nas propriedades do próprio estado mental que fazem dele um estado de conhecimento. Deste modo, as investigações acerca do conhecimento dirigem a sua atenção para a relação de conhecimento centrando-se mais do lado do sujeito da relação do que do lado do objeto."
Linda Zagzebski, «O que é o Conhecimento?», 1999, pp. 92-93.