sábado, 12 de dezembro de 2020

Texto para resumo Marta 11A e Pedro Castro 11B


Há alguma justificação para Princípio da Uniformidade da Natureza (PUN), ou estamos mais uma vez na presença de um hábito mental contingente? Vejamos o que sucede se tentarmos justificar PUN através de um argumento indutivo. PUN afirma que as uniformidades do passado continuarão no futuro. Em que premissa podemos apoiar esta conclusão? Na premissa de que a natureza tem sido uniforme nas minhas observações do passado. Mas como Hume diz que todos os argumentos indutivos pressupõem PUN como premissa, o argumento é circular: pressupõe como premissa o que tenta estabelecer como conclusão. Logo, a justificação indutiva de PUN falha.

E será que uma justificação dedutiva de PUN teria sucesso? Mais uma vez, Hume diz que não. Se apreciares mais uma vez o argumento do parágrafo anterior, terás de concluir que ele não é dedutivamente válido. PUN não pode ser deduzido das observações feitas no passado. Um outro tipo de justificação dedutiva seria deduzir PUN das definições dos termos que usa. Nesse caso PUN seria uma verdade conceptual como “Um dia húmido não é um dia seco”. Assim, tal como da definição de “dia húmido” podemos deduzir que “um dia húmido não é um dia seco”, também seria possível deduzir que “a natureza é uniforme” da definição de “natureza”. Mas é evidente que não há qualquer contradição se dissermos que a natureza deixará subitamente de ser uniforme. Logo, esta tentativa também falha. PUN não é uma verdade conceptual.

Mas se todas estas tentativas falham, o que é PUN então? Mais uma vez, é simplesmente um hábito mental contingente, ainda que bastante importante na aquisição de conhecimento empírico. Tal como a noção de causalidade, não tem uma demonstração a priori. Acontece que a natureza humana funciona assim, mas ninguém pode honestamente excluir a possibilidade de que um dia deixe de funcionar da mesma maneira.

Intuitivamente supomos que os “eus” são entidades que persistem através do tempo e da mudança. Claro que acontecem mudanças na vida de uma pessoa, mas presumimos que não são essenciais: no fundo de cada um de nós há um substrato do nosso pensamento, da nossa percepção, de todas as nossas propriedades psicológicas. Esse substrato permanece inalterável. Hume defende que esta concepção de eu não tem base empírica. Assim, se por introspecção tentarmos compreender o que é afinal este eu, veremos apenas uma sucessão de impressões momentâneas e efémeras numa espécie de teatro em contínua mudança. Nada mais vemos além disto. A introspecção não capta qualquer substrato inalterável. Ora, o erro da nossa concepção intuitiva está no facto de a mente sentir a experiência de objectos relacionados como se fosse a experiência de um objecto único e imutável. O que se passa é que vemos unidade naquilo que de facto é diversidade. Logo, a introspecção apenas nos autoriza a conceber o eu como um feixe de percepções mutáveis, e não como um substrato permanente.

A mesma estratégia é seguida por Hume quando se trata de examinar a noção de mundo externo. Intuitivamente supomos que o mundo externo é feito de objectos estáveis. Mas aquilo de que temos experiência directa é momentâneo e efémero. Logo, a nossa concepção intuitiva de que o mundo é feito de objectos distintos e contínuos está errada. A experiência não fornece justificação para pensar desse modo. 

Faustino Vaz in Crítica na rede

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Texto para resumo João Paulo 11A e Maximino 11B




«Em que consiste a nossa ideia de necessidade quando dizemos que dois objectos estão necessariamente ligados entre si? A este respeito repetirei o que muitas vezes disse: como não temos ideia alguma que não derive de uma impressão se afirmarmos ter a ideia de ligação necessária (ou causal) deveremos encontrar alguma impressão que esteja na origem desta ideia. Para isso, ponho-me a considerar o objecto em que comummente se supõe que a necessidade se encontra. E como vejo que esta se atribui sempre a causas e efeitos, dirijo a minha atenção para dois objectos supostamente colocados em tal relação (causa-efeito) e examino-os em todas as situações possíveis. Apercebo-me de imediato que são contíguos em termos de tempo e lugar e que o objecto denominando causa precede o outro, a que chamamos efeito. Não existe um só caso em que possa ir mais longe, não me é possível descobrir uma terceira relação entre esses objectos.
Suponhamos que uma pessoa, embora dotada das mais fortes faculdades de razão e reflexão, é trazida subitamente para este mundo; observaria, de facto, imediatamente uma contínua sucessão de objectos e um acontecimento sucedendo-se a outro, mas nada mais seria capaz de descobrir. Não conseguiria, a princípio, mediante qualquer raciocínio, alcançar a ideia de causa e efeito, visto que os poderes particulares pelos quais todas as operações da natureza são executadas, nunca aparecem aos sentidos; nem é justo concluir, unicamente porque um evento, num caso, precede outro, que o primeiro é, por isso, a causa e o segundo o efeito. A sua conjunção pode ser arbitrária e casual. Pode não haver motivo para inferir um a partir do aparecimento do outro. E, numa palavra, tal pessoa, sem mais experiência, nunca poderia utilizar a sua conjectura ou raciocínio acerca de qualquer questão de facto ou certificar-se de alguma coisa para além do que está imediatamente presente à memória e aos seus sentidos.
Suponhamos, de novo, que ela adquiriu mais experiência e viveu durante tanto tempo no mundo que observou que objectos ou eventos familiares se combinam constantemente; qual é a consequência desta experiência? Imediatamente infere a existência de um objecto a partir do outro. Apesar de tudo, não adquiriu, mediante toda a sua experiência, ideia ou conhecimento algum do poder secreto pelo qual um objecto produz outro, nem é induzida, por processo algum de raciocínio, a tirar essa inferência; mas, apesar de tudo, vê-se levada a tirá-la e, embora deva estar convencida de que o seu entendimento não participa da operação, continua, no entanto, no mesmo rumo de pensamento. Existe algum outro princípio que a leva a formar tal conclusão.
Este princípio é o costume ou hábito, pois, onde quer que a repetição de qualquer acto ou particular manifeste uma propensão para renovar o mesmo acto ou operação, sem ser impulsionado por raciocínio ou processo algum do entendimento, dizemos sempre que essa propensão é o efeito do costume.»

Hume, D., Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Edições 70, 1989, pp. 46-47.
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Ficha de trabalho para realizar em casa ou em aula, não faz parte do resumo:

 

  1. De que ideia falamos neste texto?
  2. Dê um exemplo.
  3. Em que consiste essa ideia?
  4. Qual a sua utilidade?
  5. Qual a sua origem? Porquê?
  6. Para Hume qual a origem de todas as ideias?


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Correção do teste 11A (Teste suplementar no 11B)



1. No texto são referidos dois tipos de ideias sobre o Sol. A primeira que resulta da perceção sensível, apresenta-nos um Sol muito pequeno; a outra “retirada dos raciocínios da astronomia” mostra-nos um Sol maior que a Terra. Estas duas ideias não podem ser ambas verdadeiras pois se assim fosse o Sol seria pequeno e grande o que seria impossível visto que ele é um corpo e, como tal, tem uma configuração só, não dependendo do modo como o vemos, mas do modo como a razão nos pode demonstrar como tem que ser para ter os efeitos que tem, tal como vem demonstrado nos cálculos sobre o Sol da investigação astronómica. Descartes conclui assim, contra os empiristas, que a visão, e os sentidos em geral, não nos dão um verdadeiro conhecimento do que existe e levam-nos a enganos. Se considerarmos que a fonte do conhecimento para os empiristas são as impressões sensíveis, o argumento de Descartes contraria a fiabilidade deste tipo de conhecimento opondo-o ao rigor dos cálculos matemáticos.

2. A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se autojustificam,  isto é, não necessitam  de outras crenças para se justificarem . Contraria assim o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para criticar o conhecimento, alegando que nenhuma crença está justificada porque necessita sempre de outra que a justifique.
A dúvida metódica  consiste em examinar sistematicamente os fundamentos de todas as crenças e considerar falso tudo o que fosse apenas duvidoso. Assim, as etapas da dúvida metódica são: 1ª Duvidar dos sentidos; 2ª Duvidar da existência do mundo; 3º Duvidar das verdades da razão.
Argumento 1: Uma vez que os sentidos nos enganam algumas vezes, podemos duvidar do que vemos ou sentimos, logo, não podem ser os fundamentos inabaláveis do conhecimento.

Argumento 2 : A realidade que vemos depende do estado de vigília que julgamos ter, mas não poderemos pensar que se trata de um sonho? No sonho estamos perante factos e, no entanto eles não são reais, o mesmo pode acontecer com toda a realidade exterior, que poderemos estar a sonhar e, por isso não ser real.

Argumento 3: As verdades matemáticas são inabaláveis mas poderíamos supor a existência de um génio maligno que nos enganasse sempre que pensamos numa verdade matemática levando-nos a dar o consentimento a algo que é falso. Assim a certeza das verdades matemáticas também é colocada em questão.



3. Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo. As primeiras crenças básicas inferidas do Cogito são: A existência de Deus. Porque se duvido sou imperfeito, Qual a causa da ideia de perfeição? Não posso ser eu nem o mundo só pode ser Deus, logo Deus existe. A terceira crença básica é a distinção entre a alma e o corpo. Vejo claramente que a existência da alma é mais certa que a do corpo, pois poderia existir mesmo sem corpo algum, mas não poderia existir se não pensasse.


4. No texto Descartes refere-se ao o argumento ontológico. é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.
De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar; ou, na mais famosa formulação do argumento, Deus define-se como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um dos aspetos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus existe necessariamente, tal como se segue da definição de um triângulo que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus, mas se podemos conceber a existência do triângulo como mental, não se passa o mesmo com a definição de Deus, visto que o conceito de perfeição implica que nada lhe pode faltar. Logo, não lhe pode faltar uma existência autónoma do meu pensamento.
Quanto ao outro argumento utilizado na filosofia cartesiana, apelida-se de argumento da causa e articula-se do seguinte modo: Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, a causa deve ser mais perfeita que a ideia, a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.



(Explicação opcional: A ideia de Deus não é uma ideia imaginada tal como "uma cabeça de leão unida ao corpo de uma cabra". Não pode ser fruto da imaginação pois nenhuma ideia imaginada tem o grau de clareza que tem a ideia de Deus, ora as ideias imaginadas não são claras e distintas, pelo contrário são confusas, a razão não garante que sejam verdadeiras porque são igualmente duvidosas tais como as ideias das coisas que nos são dadas através dos sentidos.
A ideia de Deus apresenta-se como ideia de um ser perfeito a partir do qual o eu tem a ideia clara e distinta da sua imperfeição, as ideias da imaginação não têm a mesma universalidade, nem a mesma clareza e distinção porque se apresentam compostas de várias ideias e não têm a distinção e a simplicidade das ideias inatas como a de que existe algo perfeito medida da ideia de imperfeito. Todas as ideias que derivam da experiência apresentam-se duvidosas e sem garantia de verdade, por exemplo, nada garante que o Sol tenha a grandeza que vemos. Mas provando que Deus existe é superada a dúvida. Deus é a garantia que as ideias claras e distintas são e correspondem a algo igualmente existente. A ideia de Deus permite a Descartes sair do solipsismo a que tinha chegado ao duvidar de todas as coisas, sem Deus a Filosofia cartesiana não poderia ter qualquer outra certeza senão o cogito. Se Deus existe, então todas as ideias claras e distintas e os conhecimentos matemáticos são verdadeiros. Se Deus existe então o "génio maligno" é afastado e,assim, a confiança nos raciocínios humanos pode ser retomada. )

Grupo III

1.

2. A fenomenologia do conhecimento reduz o fenómeno do conhecimento a uma relação entre o sujeito (o que conhece) e um objeto (o que é conhecido). Descreve esta relação como uma correlação visto que não pode haver sujeito sem objeto nem objeto sem sujeito, existem apenas na relação embora sejam opostos um ao outro pois têm funções diferentes que não se podem permutar. A função do sujeito é ativa, produz uma imagem ou representação do objeto e a função do objeto é passiva, porque se deixa apreender. Todavia nesse ato de apreensão o objeto permanece como transcendente ao sujeito nunca podendo reduzir-se à esfera da sua representação mental. Os três momentos do acto cognitivo de apreensão do objecto consistem em o sujeito sair de si, permanecer fora de si, na esfera do objecto e voltar a si integrando a imagem do objecto noutras imagens existentes na sua mente.


2. Não, a calculadora não sabe quanto dá 356 euros a dividir por 4 pessoas.
Justificação da resposta:
‒ de acordo com a análise tradicional do conhecimento (proposicional), crença, verdade e justificação são condições necessárias do conhecimento (proposicional);o resultado apresentado pela calculadora (embora seja correto e esteja adequadamente justificado, pois a
calculadora aplica um programa concebido por matemáticos competentes) não é conhecimento, porque a calculadora não tem crenças (nomeadamente, não tem a crença de que 356 euros a dividir por 4 pessoas dá 89 euros a cada uma, pois a calculadora não tem estados mentais)

 

 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Correção do teste 11B

 


1. O texto refere-se à existência necessária do eu que pensa, a única certeza que a própria dúvida metódica demonstra. Assim, como o texto refere, "(...) mas persuadi-me que não havia nada no mundo, nenhum céu, nenhuma terra (...) e se me persuadi de alguma coisa, eu existia com certeza(...)"A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se auto-justificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céti2.

 


2. A filosofia cartesiana utiliza a dúvida metódica que consiste em examinar sistematicamente os fundamentos de todas as crenças e considerar falso tudo o que fosse apenas duvidoso. Deste modo, poderia  obter uma crença que não fosse duvidosa e pudesse constituir a base do conhecimento. Assim, as etapas da dúvida metódica são:
1ª Duvidar dos sentidos;
2ª Duvidar da existência do mundo;
3º Duvidar das verdades da razão. Quais os argumentos que Descartes utiliza para poder então duvidar de todas as "fontes" de conhecimento?

Argumento 1: Uma vez que os sentidos nos enganam algumas vezes, podemos duvidar do que vemos ou sentimos, logo, não podem ser o fundamento indubitável do conhecimento, se são duvidosos alguns dados dos sentidos, então poderemos considerar como falso tudo o que deles deriva.

Argumento 2 : A realidade que vemos depende do estado de vigília que julgamos ter, mas não poderemos pensar que se trata de um sonho? No sonho estamos perante factos e, no entanto, eles não são reais, o mesmo pode acontecer com toda a realidade exterior, que poderemos estar a sonhar e, por isso, não ser real.

Argumento 3: As verdades matemáticas são inabaláveis mas poderíamos supor a existência de um génio maligno que nos enganasse sempre que pensamos numa verdade matemática levando-nos a dar o consentimento a algo que é falso. Assim a certeza das verdades matemáticas também é colocada em questão. cas.

 

3. No texto Descartes refere-se ao o argumento ontológico. é uma tentativa de mostrar que a existência de Deus se segue necessariamente da definição de Deus como o ser supremo. Porque esta conclusão pode ser retirada sem recorrer à experiência, diz-se que é um argumento a priori.

De acordo com o argumento ontológico, Deus define-se como o ser mais perfeito que é possível imaginar; ou, na mais famosa formulação do argumento, Deus define-se como “aquele ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. A existência seria um dos aspetos desta perfeição ou grandiosidade. Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição de Deus seguir-se-ia que Deus existe necessariamente, tal como se segue da definição de um triângulo que a soma dos seus ângulos internos será de 180 graus, mas se podemos conceber a existência do triângulo como mental, não se passa o mesmo com a definição de Deus, visto que o conceito de perfeição implica que nada lhe pode faltar. Logo, não lhe pode faltar uma existência autónoma do meu pensamento.

Quanto ao outro argumento utilizado na filosofia cartesiana, apelida-se de argumento da causa e articula-se do seguinte modo: Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, a causa deve ser mais perfeita que a ideia, a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.

 

 


(Explicação opcional: A ideia de Deus não é uma ideia imaginada tal como "uma cabeça de leão unida ao corpo de uma cabra". Não pode ser fruto da imaginação pois nenhuma ideia imaginada tem o grau de clareza que tem a ideia de Deus, ora as ideias imaginadas não são claras e distintas, pelo contrário são confusas, a razão não garante que sejam verdadeiras porque são igualmente duvidosas tais como as ideias das coisas que nos são dadas através dos sentidos.
A ideia de Deus apresenta-se como ideia de um ser perfeito a partir do qual o eu tem a ideia clara e distinta da sua imperfeição, as ideias da imaginação não têm a mesma universalidade, nem a mesma clareza e distinção porque se apresentam compostas de várias ideias e não têm a distinção e a simplicidade das ideias inatas como a de que existe algo perfeito medida da ideia de imperfeito. Todas as ideias que derivam da experiência apresentam-se duvidosas e sem garantia de verdade, por exemplo, nada garante que o Sol tenha a grandeza que vemos. Mas provando que Deus existe é superada a dúvida. Deus é a garantia que as ideias claras e distintas são e correspondem a algo igualmente existente. A ideia de Deus permite a Descartes sair do solipsismo a que tinha chegado ao duvidar de todas as coisas, sem Deus a Filosofia cartesiana não poderia ter qualquer outra certeza senão o cogito. Se Deus existe, então todas as ideias claras e distintas e os conhecimentos matemáticos são verdadeiros. Se Deus existe então o "génio maligno" é afastado e,assim, a confiança nos raciocínios humanos pode ser retomada. )


 4. Segundo a definição tradicional do conhecimento, para conhecer algo é necessário uma crença, verdadeira e justificada. Porque seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso. Portanto saber, implica uma crença. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita, o conhecimento é factivo, não se pode conhecer falsidades (embora possamos acreditar em falsidades). Por outro lado, uma crença verdadeira ainda não é conhecimento porque tem de haver boas razões que justifiquem a verdade da crença.  Se não há boas razões para acreditar que  a crença é verdadeira, então também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso. Estas condições juntas são necessárias mas não são suficientes pois, nem todas as crenças são conhecimento, logo, não basta ter uma crença qualquer como por exemplo “Acredito que existem Extraterrestres”, mas não posso saber se essa crença é verdadeira. Também não é suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque é por mero acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana. Logo só há conhecimento quando estão reunidas as três condições.

Grupo II

 

1.  A Fátima não sabia os números do euromilhões apesar de ter uma crença verdadeira, esta só é verdadeira por sorte ou acaso logo não é conhecimento, para o ser a Fátima teria de ter uma boa justificação, pois nenhum conhecimento pode ser obtido por acaso.

 

2. A fenomenologia do conhecimento reduz o fenómeno do conhecimento a uma relação entre o sujeito (o que conhece) e um objeto (o que é conhecido). Descreve esta relação como uma correlação visto que não pode haver sujeito sem objeto nem objeto sem sujeito, existem apenas na relação embora sejam opostos um ao outro pois têm funções diferentes que não se podem permutar. A função do sujeito é ativa, produz uma imagem ou representação do objeto e a função do objeto é passiva, porque se deixa apreender. Todavia nesse ato de apreensão o objeto permanece como transcendente ao sujeito nunca podendo reduzir-se à esfera da sua representação mental. Os três momentos do acto cognitivo de apreensão do objecto consistem em o sujeito sair de si, permanecer fora de si, na esfera do objecto e voltar a si integrando a imagem do objecto noutras imagens existentes na sua mente.

 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Texto para resumo




A OBJETIVIDADE CIENTÍFICA
 
Segundo Aranha e Martins (2005, p.142), a objetividade científica representa a cautela dos cientistas para que não haja erro, devido à pressão dos leigos que anseiam por soluções rápidas.
“A ciência aspira pela objetividade ao tentar superar as condições subjetivas, marcadas pela nossa sensibilidade ou idiossincrasias. São objetivas porque   à crítica dos demais.” (Aranha e Martins, p.172)
a ciência é uma instituição social em que as atividades de cada cientista, como membro de uma comunidade intelectual, estão sujeitas
Para se chegar a uma descoberta científica, os cientistas precisam descobrir uma explicação para esse fato e quais as suas prováveis causas. Como escreve Aranha e Martins (2005, p.177) “dissemos que o trabalho do cientista começa diante de um problema que exige explicação”.
Segundo Aranha e Martins (2005, p.172) os cientistas precisam de uma teoria para que haja explicações para as experiências científicas.
“Uma vez confirmadas, as explicações científicas são formuladas em enunciados gerais (as leis) capazes de distinguir e separar certas propriedades e descobrir relações entre outras, unificando um grande número de fatos que pareciam dispares.” (Aranha e Martins 2005, p.172).
Para muitos a ciência é vista como algo superior, capaz de resolver todos os problemas, portanto, isso diminui a compreensão da realidade quando se acredita que só a ciência está correta. “À medida que a ciência se mostrou capaz de explicar os fenómenos de maneira mais rigorosa, ao fazer previsões capazes de transformar o mundo, passou a ser vista como conhecimento superior.” (Aranha e Martins, 2005, p.173).
A ciência não é um saber neutro como muitos imaginam, ela é um saber que sofre influências políticas e sociais.
“ (…) muitos pensam que a ciência é um saber neutro, ou seja, que as pesquisas científicas não sofrem influências sociais ou políticas e visam apenas ao conhecimento “puro” e desinteressado.” (Aranha e Martins 2005, p.174).
Geralmente, as descobertas científicas têm por trás dos seus objetivos, os interesses políticos, pois os pesquisadores nem sempre estão preocupados em resolver problemas pelo bem da sociedade, mas sim para satisfazer os interesses políticos, aos quais são submetidos.
O método experimental é utilizado para que sejam descobertas as relações entre os fenómenos e prever o seu controle.
“A grande força do método científico está na descoberta das relações constantes e universais entre os fenómenos – as leis – o que permite a previsibilidade e, portanto, o controle da natureza para fins humanos.” (Aranha e Martins, 2005, p.180).
Por fim, é preciso considerar que mesmo que a ciência seja indispensável para a vida, não se pode confiar cegamente nela, é preciso vê-la com olhar crítico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. 3ªed. São Paulo: Moderna, 2003.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

CORREÇÃO DA FICHA 4


“Enquanto desta maneira rejeitamos tudo aquilo de que podemos duvidar, e que simulamos mesmo ser falso, supomos, facilmente, que não há Deus, nem céu, nem terra, e que não temos corpo. Mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas estas coisas: porque, com efeito, temos tanta repugnância em conceber que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, apesar das mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de acreditar que esta inferência EU PENSO, LOGO EXISTO, não seja verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apresenta àquele que conduz os seus pensamentos por ordem.”

(Descartes, Princípios da Filosofia, artigo 7)

Grupo I

1.1. Qual a importância da dúvida no pensamento de Descartes?

1.1. A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se autojustificam,  isto é, não necessitam  de outras crenças para se justificarem. Contraria assim o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para negar a possibilidade do conhecimento.

Através da dúvida que é um método utilizado nas questões metafísicas, podemos atingir uma certeza e fundar nela toda a unidade do conhecimento.

A dúvida serve para examinar a natureza das nossas crenças e ideias, de modo a eliminar como falsas todas as crenças e ideias que apresentem a menor dúvida.

1.2. Que características fundamentais possui a inferência “ Eu penso, logo existo”?

A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois poderia não haver corpo, enquanto houvesse pensamento o cogito continuaria a ser verdade. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias ou crenças básicas que são descobertas pela metafísica. Uma crença é básica porque não precisa de outras crenças que a justifiquem pois esta autojustifica-se.

1.3. Qual o critério cartesiano para a verdade?

O modelo de verdade segue o modelo das verdades matemáticas. Verdadeira é a ideia ou crença que é  clara e distinta ou seja a evidente, indubitável, universal, “a priori” , intuitiva (ou dedutiva pois de uma verdade  podemos retirar outras verdades conduzindo a razão por ordem), puramente racional (não depende dos sentidos).

Exemplos:

Crenças básicas: 

Eu penso, logo existo

O corpo é distinto da alma;

Deus existe

Ideias evidentes (verdadeiras) – Ideia de substância pensante; 

Ideia de substância divina; 

Ideia de substância extensa – são todas ideias “a priori” retiradas da razão.

 

Grupo II

2.1. “ O azul é uma cor” é uma proposição que traduz um conhecimento “a priori” ou “a posteriori”? Porquê?

A proposição " O azul é uma cor" traduz um conhecimento "a priori" porque a proposição é verdadeira independentemente da experiência.

“O lume queima” é uma crença justificada pela experiência, logo é “a posteriori” porque sem a experiência não podemos ter conhecimento que a mesma é verdadeira.

 2.2. Porque é que as extravagantes suposições dos céticos não podem impedir a verdade do cogito?

Porque a dúvida não põe em causa a verdade do cogito pois a dúvida é um ato do pensamento, logo, pressupõe a existência do pensamento.

 2.3. De que tipo são as “extravagantes suposições dos céticos”?

Os céticos poem em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro através de argumentos que colocam em causa as nossas fontes de conhecimento, como os sentidos/ erros percetivos, as opiniões mesmo fundamentadas que não são concordantes, sem que haja um critério seguro para distinguir a verdade da falsidade e, por último consideram que nenhuma das crenças está justificada (regressão infinita), conduzindo assim a uma descrença.

( As duas últimas questões dependiam dos argumentos utilizados para defender uma posição)