Versão A
ARGUMENTAR (1-60/2 e 3 -70 Pontos – Total 200 Pontos)
Grupo I
1. Os céticos apresentam razões para duvidar da verdade do conhecimento, uma das razões, aquela que está implícita no texto, é apelidada de argumento da regressão infinita. Este argumento põe em causa a justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença, ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações. Descartes supera este argumento cético com a demonstração do cogito como uma crença fundante/básica que se autojustifica pois para duvidar é preciso pensar e não há necessidade, por isso, de procurar mais nenhuma justificação para o ato puro do pensamento visto ele se apresentar de uma forma evidente e inquestionável.
2. A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias (metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas, certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo pensamento concebe-se claramente que se autojustificam. Assim, a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio dedutivo e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.
Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo.
Objeções: Não podemos conhecer nada do mundo a partir do cogito, logo ele não é um bom fundamento para todo o conhecimento em geral.
3.
A definição tradicional de conhecimento coloca três
condições necessárias para a definição; Ter uma crença, que essa crença seja
verdadeira e que esteja bem justificada com razões. Essas três condições são
necessárias e nenhuma delas por si é suficiente. Porque é necessário ter uma
crença? Porque o conhecimento corresponde a um estado mental em que se S sabe
que P, então acredita nisso que sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe
que P, e ao mesmo tempo não acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem
ondas, mas não acredito nisso. Portanto, saber P implica uma crença, S acredita
em P. Também é necessário que essa crença seja verdadeira, porque o
conhecimento não depende da convicção com que o sujeito acredita em P (sendo P
uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o
conhecimento é factivo. Se, por outro lado, esta crença em P não tem qualquer
justificação, não há boas razões para acreditar que P é verdadeira então,
também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao acaso.
Por outro lado não é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento
porque nem todas as crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em
Extraterrestres”, acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é
suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença
pode ser verdadeira por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por
outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas
justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados
cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a
Terra não é plana. Objeções: Contraexemplos de Gettier em que se coloca a possibilidade
de estarem as três condições satisfeitas e mesmo assim não haver conhecimento
pois não há uma relação causal entre a justificação e o que torna a crença
verdadeira.
Grupo III
PROBLEMATIZAR (2x10)
1-O problema aflorado no texto diz respeito à dúvida na perceção sensorial das coisas corpóreas; Descartes afirma que essas perceções são obscuras e confusas e que, por isso, podem não corresponder ao modo como as coisas corpóreas são. Os sentidos captam certas propriedades que são transitórias e particulares, como o tamanho de uma vela, que pode ser grande ou pequeno, de uma matéria que se altera com o calor e que não permanece sempre igual não havendo forma de ter um conhecimento claro e distinto dos particulares. Podemos compreender, no entanto, como diz no texto, que as coisas corpóreas têm todas certas propriedades gerais que são universais e que podem ser conhecidas matematicamente como a sua extensão, posição e forma. O texto chama a atenção para o problema da racionalização do mundo corpóreo que pode ser conhecido com rigor pela sua extensão e que essa é a substância que todas as coisas corpóreas têm, por oposição ao pensamento que não tem extensão.
2-O Argumento utilizado para provar a existência de Deus é o seguinte: Vejo claramente que sou imperfeito porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra. Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia (por princípio a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode ser Deus.
O argumento é circular. Como posso ter a certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas e conclusão. Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe, então, um raciocínio circular, uma petição de princípio no argumento que prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado, é através delas que provo a existência de Deus.
Versão B
Grupo I
1. No texto há uma referência à dúvida metódica, que consiste num método de examinar todas as fontes do nosso conhecimento considerando falsa toda a crença que se pudesse apresentar com um certo grau de dúvida. Com este método é possível duvidar das perceções dos sentidos, da realidade e até de Deus. Descartes conclui, no entanto que se duvida é necessário, isto é, não pode deixar de existir enquanto substância pensante. O cogito consiste assim na intuição de um conhecimento que se apresenta de forma tão clara e distinta à razão que não pode deixar de ser verdadeiro. Este modelo de clareza e distinção vai ser o critério de verdade de todo o conhecimento e aplicado a todas as ciências. O cogito apresenta-se como uma crença fundante que se auto justifica e, deste modo, demonstra a falsidade do argumento cético da regressão infinita.
2. As três crenças básicas que Descartes coloca como fundantes de todo o conhecimento são: A noção de que se penso existo, e que sendo o pensamento mais evidente que a existência da substância corpórea, infere-se que são duas substâncias distintas que interagem mas não se mistura. O corpo é de uma substância que ocupa espaço, forma e posição, apelidada de substância extensa enquanto a substância pensante não tem nenhuma destas qualidades. Para que o sistema cartesiano fique completo, isto é, possa superar as dúvidas e voltar a confiar nos raciocínios e na existência de um mundo fora da mente. É necessário que exista um Deus que não seja enganador e que possa conferir substância aos pensamentos, logo terá de existir um Deus omnipresente, omnipotente e omnisciente.
Objeções: O cogito parece uma verdade incontornável, quanto às outras verdades são questionáveis.
O corpo e o pensamento(alma) serem substâncias diferentes parece contrariar a noção de que o pensamento é algo que surge do nada e não precisa de uma entidade que o produza.
A existência de Deus, podemos colocar em causa as provas dadas por Descartes pois são insuficientes para provar a existência de Deus.
3. (Igual à versão A)
Grupo III
1. Igual nas duas versões
2. O problema do ceticismo é tentar demonstrar com argumentos que o conhecimento verdadeiro não é possível porque não há forma de sabermos que determinada crença é verdadeira, as crenças que temos não estão justificadas (regressão infinita), ou haverá sempre acerca do mesmo assunto uma tal diversidade de opiniões que não há autoridade imparcial ou critério que possa saber que tem razão.
Poderia considerar-se que o ceticismo se contradiz, uma vez que nega ao homem o acesso à verdade e se coloca como uma teoria verdadeira.
Por outro lado, a atitude da dúvida permite ser crítica em relação ao conhecimento e assim recusar falsas crenças.
A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se auto justificam, isto é, não necessitam de outras crenças para se justificarem, assim contraria o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para criticar o conhecimento, estes defendiam que nenhuma crença estava justificada porque necessitava sempre de outra que a justificasse e, assim ou haveria uma crença fundante que não precisava de nenhuma outra para se justificar (como pensa Descartes) ou então não seria possível o conhecimento visto que, as crenças que constituem o conhecimento não se podiam justificar.