PROPOSTA DE CORREÇÃO DO TESTE DE 4 DE NOVEMBRO 2021
Grupo
II
ARGUMENTAR
1. Os céticos apresentam razões para duvidar
da verdade do conhecimento, uma das razões, aquela que está implícita no texto,
é apelidada de argumento da regressão infinita. Este argumento põe em causa a
justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está
justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma
condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de
que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença,
ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está
justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não
existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações.
Descartes supera este argumento cético com a demonstração do cogito como uma
crença fundante/básica que se autojustifica pois para duvidar é preciso pensar
e não há necessidade, por isso, de procurar mais nenhuma justificação para o
ato puro do pensamento visto ele se apresentar de uma forma evidente e
inquestionável.
2 .A ideia do cogito “ Penso, logo existo”
surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o
pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro
modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma
certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um
ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois essa
certeza de ter um corpo não resiste à dúvida. Descartes compreende com o Cogito
que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do
conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através
do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se
claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias
(metafísicas), ou crenças básicas. A partir dessas crenças básicas,
certezas que não precisam de outras crenças para se justificarem porque pelo
pensamento concebe-se claramente que se autojustificam. Assim, a partir de
fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras certezas
metafísicas, como a existência de Deus e a distinção corpo/alma. Poder-se-ia
conhecer outras verdades sobre as ciências por simples raciocínio
dedutivo e, deste modo reconstruir todo o edifício do conhecimento
que se encontrava destruído pelas dúvidas céticas.
Através do método da dúvida sobre as fontes do
conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso,
logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a
primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos
inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da
justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos
também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e
distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente
que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras
ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros
do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo.
Objeções: Não podemos conhecer nada do mundo a
partir do cogito, logo ele não é um bom fundamento para todo o conhecimento em
geral.
3.
A definição
tradicional de conhecimento coloca três condições necessárias para a definição;
Ter uma crença, que essa crença seja verdadeira e que esteja bem justificada
com razões. Essas três condições são necessárias e nenhuma delas por si é
suficiente. Porque é necessário ter uma crença? Porque o conhecimento
corresponde a um estado mental em que se S sabe que P, então acredita nisso que
sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não
acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso.
Portanto, saber P implica uma crença, S acredita em P. Também é necessário que
essa crença seja verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com
que o sujeito acredita em P (sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do
mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo. Se, por outro lado, esta
crença em P não tem qualquer justificação, não há boas razões para acreditar que P é verdadeira
então, também não há conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao
acaso.
Por outro lado não é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento
porque nem todas as crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em
Extraterrestres”, acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é
suficiente ter uma crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença
pode ser verdadeira por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por
outro lado não é suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas
justificações para acreditar em falsidades, depende dos nossos estados
cognitivos. Aristóteles tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a
Terra não é plana.
Grupo III
PROBLEMATIZAR
1-O problema aflorado no texto diz respeito à
dúvida na perceção sensorial das coisas corpóreas; Descartes afirma que essas
perceções são obscuras e confusas e que, por isso, podem não corresponder ao
modo como as coisas corpóreas são. Os sentidos captam certas propriedades que
são transitórias e particulares, como o tamanho de uma vela, que pode ser
grande ou pequeno, de uma matéria que se altera com o calor e que não permanece
sempre igual não havendo forma de ter um conhecimento claro e distinto dos
particulares. Podemos compreender, no entanto, como diz no texto, que as coisas
corpóreas têm todas certas propriedades gerais que são universais e que podem
ser conhecidas matematicamente como a sua extensão, posição e forma. O texto
chama a atenção para o problema da racionalização do mundo corpóreo que pode
ser conhecido com rigor pela sua extensão e que essa é a substância que todas
as coisas corpóreas têm, por oposição ao pensamento que não tem extensão.
2-O Argumento utilizado para provar a
existência de Deus é o seguinte: Vejo claramente que sou imperfeito
porque erro muito e há mais perfeição em quem não erra do que em quem erra.
Qual então a causa da minha ideia de perfeição? Não posso ser eu, que sou
imperfeito, não pode ser a natureza que não sei se existe, e não me parece mais
perfeita que eu. A causa deve ser mais perfeita que a ideia (por princípio
a causa é mais perfeita que a cópia, sendo que Deus é a origem da ideia, neste
aspeto a ideia tem menos ser que a sua origem ou causa) a causa só pode
existir, visto que nenhuma ideia existe sem uma causa. Logo, a causa da minha
ideia de perfeito só pode ser um ser com todas as perfeições, esse ser só pode
ser Deus.
O argumento é circular. Como posso ter a
certeza que não me engano quando penso que sou imperfeito? Só posso ter a
certeza de que existo, ora, não posso ter a certeza dos meus raciocínios pois a
possibilidade de existência de um "génio maligno" ainda não foi
afastada, sendo assim nenhum raciocínio terá validade e a prova da existência
de Deus é uma dedução, não uma intuição, é portanto um raciocínio com premissas
e conclusão. Se sei que existe Deus a partir de um raciocínio, é porque
pressuponho que existe um Deus antes mesmo de o provar, pois só a existência de
Deus me pode dar a garantia da validade dos meus raciocínios na medida em que
afasta a possibilidade de um "génio maligno" enganador. Existe,
então, um raciocínio circular, uma petição de princípio no argumento que
prova a existência de Deus. Muitos filósofos consideram o argumento da prova da
existência de Deus falacioso, uma petição de princípio, um desses filósofos é
David Hume. Portanto, para concluir trata-se de, por um lado, preciso de
Deus para confiar nas minhas ideias e raciocínios e, por outro lado, é
através delas que provo a existência de Deus.
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