quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Ficha 5. A Retórica. Exemplo



FICHA 5- LÓGICA INFORMAL - A Arte da Retórica – História
Exemplo do discurso retórico.
«Desejo falar–vos, hoje, sobre a tragédia da Europa. Este nobre continente, englobando no seu todo as mais agradáveis e civilizadas regiões da Terra, gozando de um clima temperado e equilibrado, é a terra natal de todas as raças originais do mundo ocidental. É a fonte da fé cristã e da ética cristã. É a origem da maior parte da cultura, das artes, da filosofia e da ciência tanto dos antigos como dos modernos tempos. Se a Europa tivesse alguma vez ficado unida na partilha do seu património comum, não haveria limite à felicidade, à prosperidade e à glória dos seus trezentos ou quatrocentos milhões de habitantes. Mas foi da Europa que jorrou essa série de assustadoras quezílias nacionalistas, originadas pelas nações teutónicas, a que nós assistimos ainda neste século XX e no nosso tempo, arruinando a paz e frustrando as expectativas de toda a humanidade. E a que situação foi a Europa reduzida? Alguns dos mais pequenos Estados fizeram, na realidade, uma boa recuperação, mas, sobre largas áreas, uma vasta e agitada massa de atormentados, famintos, ansiosos e desnorteados seres humanos olham pasmados, das ruínas de suas cidades e de seus lares, esquadrinhando os negros horizontes por algum novo perigo, tirania ou terror. Por entre os vencedores há uma babel de vozes dissonantes; por entre os vencidos o mal humorado silêncio do desespero. É tudo o que Europeus, agrupados em tantos antigos Estados e nações, é tudo o que os Poderes Germânicos obtiveram rasgando–se uns aos outros, espalhando destruição em todo o redor.”
Discurso de Winston Churchill  em Zurique, 1946

1.     Isole e identifique os argumentos que Churchill utiliza nesta elocução. Justifique a sua resposta com os exemplos do texto.
Resposta; Argumento condicional, na sua forma padrão ficaria: Se a Europa tivesse ficado unida na partilha do seu território comum então não haveria limite à felicidade, à prosperidade e à glória dos seus trezentos ou quatrocentos milhões de habitantes.
Mas a Europa não ficou unida 
Logo, não houve felicidade, paz e prosperidade para os seus habitantes.
Argumento dedutivo, falácia da negação do antecedente.
2.     Indique a/as falácia/s cometidas. Justifique.
Falácia de apelo à misericórdia: E a que situação foi a Europa reduzida? Alguns dos mais pequenos Estados fizeram, na realidade, uma boa recuperação, mas, sobre largas áreas, uma vasta e agitada massa de atormentados, famintos, ansiosos e desnorteados seres humanos olham pasmados, das ruínas de suas cidades e de seus lares, esquadrinhando os negros horizontes por algum novo perigo, tirania ou terror.
Falácia de dados não relevantes, apelo à misericórdia (ad misericordiam)  dado que recorre a um mecanismo que apela à emoção e à piedade exagerando a enumeração de adjectivos sentimentais. Mecanismo irracional que visa provocar o"pathos" da audiência. Argumento inválido, pois pretende convencer o auditório a atribuir a culpa do estado da Europa aos povos germânicos que despoletaram a guerra que dividiu os povos europeus.

3.     Formule a conclusão que poderemos retirar deste discurso.

 "O resultado que os poderes germânicos conseguiram rasgando-se uns aos outros, foi a miséria e a destruição da Europa”





  1. Aponte a razão pela qual a Retórica não é considerada uma arte.
  2. Qual a designação que é dada à Retórica?
  3. Qual a analogia que é feita? Com que fim?
A COMUNICAÇÃO ARGUMENTATIVA

Objectivo: Ganhar a adesão do auditório = persuadir.
Como? Com base na argumentação racional ou com base na manipulação? Os dois lados da Retórica.
Envolve 3 polos (intervenientes): O orador, a mensagem e o auditório
ETHOS (orador ou ponto de vista do orador)
Apresentação, locução, carisma, forma de expressão, carácter.
LOGOS (a mensagem) Argumentos do orador organizados em discurso. Argumentos fortes ou fracos, válidos ou inválidos.
PATHOS ( auditório)Objectivo: ponderar a aceitação da mensagem. Provocar a emoção e a simpatia no auditório. Adaptar o discurso ao tipo de auditório de modo a poder ser mais facilmente aceite.

         Bom uso da retórica implica a subordinação a princípios éticos:
          Princípio ético, por excelência, o reconhecimento da autonomia, da capacidade de escolha do auditório.
         Esclarecimento da situação, das várias alternativas e dos seus pressupostos e consequências.
         Exige liberdade de expressão do pensamento.
         Na persuasão o auditório e o orador são colocados em pé de igualdade.
         São dadas razões para aceitar algo, com argumentos válidos.
         Não são omitidos os objectivos, há transparência.
         Mau uso da retórica  a argumentação degenera numa forma de ludibriar o auditório, em função dos interesses do orador. Manipulação
         Manipulação – uso indevido da argumentação com o intuito de levar os interlocutores a aderir acrítica e involuntariamente às propostas do orador.
         O orador assume uma atitude superior, de instrumentalização do auditório.
         São cometidas falácias lógicas com  poder psicológico.
           Apela-se à emoção.
         São omitidos dados relevantes.


Argumentação discursiva.



Em 20 de Outubro de 1931, com 62 anos, Mahatma Gandhi decide gravar a sua voz para que desta forma este discurso ecoasse para sempre no tempo.
"Há um poder misterioso indefinível que permeia tudo, sinto-o apesar de não o ver."
 


Há um poder misterioso indefinível que permeia tudo, sinto-o apesar de não o ver.
É esse poder invisível que se faz sentir e ainda desafia toda a prova, porque é tão diferente de tudo o que vejo através dos meus sentidos. Ele transcende os sentidos.

Mas é possível questionar a existência de Deus até um certo ponto.
Mesmo em assuntos comuns, sabemos que as pessoas não sabem quem as governa ou por quem e como são governadas e ainda assim sabem que há um poder que, certamente, vai regendo.

Na minha viagem do ano passado em Mysore eu conheci muitos aldeões pobres e percebi que eles não sabiam quem governava Mysore. Eles simplesmente disseram que algum Deus governava.
Se o conhecimento dessas pobres pessoas era tão limitado sobre os seus governantes, eu que sou infinitamente menor em relação a Deus, não me surpreendo se não perceber a presença de Deus - o Rei dos Reis.

No entanto, eu sinto-me, como os aldeões pobres se sentiam sobre Mysore. Que não há ordem no universo, existe uma lei inalterável que rege tudo e todos os seres que existe ou vidas.
Não é uma lei cega. Nenhuma lei cega pode governar a conduta do ser vivo. E graças às pesquisas maravilhosas de Sir JC Bose pode agora ser provado que até mesmo a matéria é a vida.

Essa lei, que rege toda a vida é Deus. E a lei e o legislador são um. Eu não posso negar a lei ou o legislador, porque eu sei tão pouco sobre ela ou ele. Assim como minha negação ou a ignorância da existência de um poder terrestre de nada me vai valer, tal como a  minha negação de Deus e Sua lei não vai me libertar de sua operação.

Mas a sua aceitação humilde faz com que a jornada da vida seja mais fácil, tal como a aceitação da lei terrena torna a vida mais fácil.

Eu percebo vagamente, que enquanto tudo ao meu redor está sempre mudando, sempre morrendo, lá está - subjacente a toda a mudança - um poder vivo que é imutável, que mantém todos juntos, que cria, recria e se dissolve.

Esse poder que dá vida em forma de espírito é Deus, e já que nada do que eu vejo apenas através dos sentidos pode ou vai persistir, só Ele é.

E é esse poder benevolente ou malevolente? Eu vejo isso como puramente benevolente, pois posso ver que no meio da morte a vida persiste, no meio da mentira a verdade persiste, no meio das trevas a luz persiste.

Assim entendo que Deus é vida, luz, verdade. Ele é amor. Ele é o Bem supremo.

M
as Ele não é um Deus, que apenas satisfaz o intelecto, se é que ele o faz.
Deus para ser Deus governa o coração e transforma-o. Ele deve expressar-se em cada pequeno acto do Seu devoto.


Isso só pode ser feito através de uma compreensão definitiva, mais real do que os cinco sentidos - que podem sempre produzir percepções.
As percepções dos sentidos, podem ser - e muitas vezes são -  falsas e enganosas, por mais reais que possam parecer para nós. Quando há compreensão para além dos sentidos esta é infalível.

Está provado, pela conduta e pelo carácter transformados daqueles que se sentiram a presença real de Deus dentro si. Tal testemunho encontra-se nas experiências de uma linha ininterrupta de profetas e sábios em todos os países. Rejeitar esta evidência é negar-se a si mesmo.

Esta compreensão é precedida por uma fé inamovível. Aquele que é, em sua própria pessoa a prova viva da presença de Deus pode fazê-lo por uma fé viva.

Uma vez que a própria fé não pode ser provada por indícios exteriores o caminho mais seguro é acreditar no governo moral do mundo e, portanto, na supremacia da lei moral , a lei da verdade e do amor. O exercício da fé vai ser o mais seguro, onde há uma clara determinação sumariamente a rejeitar tudo o que é contrário à verdade e amor.

Confesso que não tenho nenhum argumento para convencer através da razão. A fé transcende a razão. Tudo o que eu posso aconselhar é a não tentar o impossível.
Como isolar os argumentos deste discurso?
1. Tenha em atenção as frases a vermelho. Poderemos com elas isolar o principal da argumentação:
Argumento 1.
 Deus governa o coração daqueles que crêem nele e transforma a sua conduta.
Negar as evidências é negar-se a si próprio
A transformação da conduta dos profetas é uma evidência.
Logo, Negar a tansformação da conduta dos profetas é negar-se a si próprio.
Ficaria o seguinte silogismo.
Todos os que negam as evidências são pessoas que se negam a si próprias.
Todos os que negam a transformação da conduta dos profetas são pessoas que negam evidências
Todos os que negam a transformação da conduta dos profetas negam-se a si próprios.









sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Análise do filme “12 Homens em fúria” de Sidney Lumet EUA – 1957

O FILME: "12 Homens em fúria" "Twelve angry men"

FICHA 1 - 2º PERÍODO - Depois de ver o filme responda às seguintes questões:



Será curioso verificar que a duração real deste filme - 1h e 30m (aprox) é a mesma duração da ficção, como se o tempo das personagens fosse o nosso tempo e nós também jurados. Há uma  evidente aproximação entre as personagens e nós, espectadores. Este efeito produz uma tensão realista e uma interrogação pessoal; e se fosse eu? Como reagiria eu nesta situação? Em cada uma das personagens há uma característica humana diversa mas familiar, a sala é deste modo um pequeno palco da humanidade. Poderemos observar a dificuldade do discurso racional em impor-se às emoções, hábitos e preconceitos. A argumentação racional é, no entanto, a única que pode aproximar-nos da verdade, num caminho de análise e decisão pelo melhor juízo. Mas esse caminho de difícil e moroso acaba muitas vezes atropelado.
Depois de ver o filme, tente analisar os seguintes aspectos:

1. O que está em causa no filme?
2. Que poder demonstra ter a personagem principal?
3. Saliente alguns dos argumentos decisivos para mudar a opinião dos jurados.
4. O que pretende demonstrar a argumentação da personagem principal?
5. Faça um retrato de duas das personagens. O que as leva a decidir imediatamente pela culpabilidade do réu?
6. Elabore um juízo pessoal e fundamentado sobre o filme.