quinta-feira, 5 de novembro de 2020

CORREÇÃO DA FICHA 4


“Enquanto desta maneira rejeitamos tudo aquilo de que podemos duvidar, e que simulamos mesmo ser falso, supomos, facilmente, que não há Deus, nem céu, nem terra, e que não temos corpo. Mas não poderíamos igualmente supor que não existimos, enquanto duvidamos da verdade de todas estas coisas: porque, com efeito, temos tanta repugnância em conceber que aquele que pensa não existe verdadeiramente ao mesmo tempo que pensa que, apesar das mais extravagantes suposições, não poderíamos impedir-nos de acreditar que esta inferência EU PENSO, LOGO EXISTO, não seja verdadeira e, por conseguinte, a primeira e a mais certa que se apresenta àquele que conduz os seus pensamentos por ordem.”

(Descartes, Princípios da Filosofia, artigo 7)

Grupo I

1.1. Qual a importância da dúvida no pensamento de Descartes?

1.1. A dúvida metódica foi a forma encontrada por Descartes para superar as dúvidas e as incertezas dos céticos que punham em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro. Com a dúvida metódica, Descartes conseguiu demonstrar que há verdades indubitáveis e que se autojustificam,  isto é, não necessitam  de outras crenças para se justificarem. Contraria assim o argumento da regressão infinita utilizado pelos céticos para negar a possibilidade do conhecimento.

Através da dúvida que é um método utilizado nas questões metafísicas, podemos atingir uma certeza e fundar nela toda a unidade do conhecimento.

A dúvida serve para examinar a natureza das nossas crenças e ideias, de modo a eliminar como falsas todas as crenças e ideias que apresentem a menor dúvida.

1.2. Que características fundamentais possui a inferência “ Eu penso, logo existo”?

A ideia do cogito “ Penso, logo existo” surge com clareza e distinção de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar verdadeira, pois não poderia ser de outro modo. A ideia do cogito não surge de uma dedução mas de uma intuição, como uma certeza que nada poderia mudar nem nenhuma dúvida afetar. A certeza de ser um ser pensante é mais evidente do que a certeza de ter um corpo, pois poderia não haver corpo, enquanto houvesse pensamento o cogito continuaria a ser verdade. Descartes compreende com o Cogito que a verdade é um acordo da razão consigo própria, e só a razão é juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Compreende ainda através do cogito que o conhecimento humano é possível pois a verdade encontra-se claramente demonstrada a partir dessas verdades primárias ou crenças básicas que são descobertas pela metafísica. Uma crença é básica porque não precisa de outras crenças que a justifiquem pois esta autojustifica-se.

1.3. Qual o critério cartesiano para a verdade?

O modelo de verdade segue o modelo das verdades matemáticas. Verdadeira é a ideia ou crença que é  clara e distinta ou seja a evidente, indubitável, universal, “a priori” , intuitiva (ou dedutiva pois de uma verdade  podemos retirar outras verdades conduzindo a razão por ordem), puramente racional (não depende dos sentidos).

Exemplos:

Crenças básicas: 

Eu penso, logo existo

O corpo é distinto da alma;

Deus existe

Ideias evidentes (verdadeiras) – Ideia de substância pensante; 

Ideia de substância divina; 

Ideia de substância extensa – são todas ideias “a priori” retiradas da razão.

 

Grupo II

2.1. “ O azul é uma cor” é uma proposição que traduz um conhecimento “a priori” ou “a posteriori”? Porquê?

A proposição " O azul é uma cor" traduz um conhecimento "a priori" porque a proposição é verdadeira independentemente da experiência.

“O lume queima” é uma crença justificada pela experiência, logo é “a posteriori” porque sem a experiência não podemos ter conhecimento que a mesma é verdadeira.

 2.2. Porque é que as extravagantes suposições dos céticos não podem impedir a verdade do cogito?

Porque a dúvida não põe em causa a verdade do cogito pois a dúvida é um ato do pensamento, logo, pressupõe a existência do pensamento.

 2.3. De que tipo são as “extravagantes suposições dos céticos”?

Os céticos poem em causa a possibilidade de um conhecimento verdadeiro através de argumentos que colocam em causa as nossas fontes de conhecimento, como os sentidos/ erros percetivos, as opiniões mesmo fundamentadas que não são concordantes, sem que haja um critério seguro para distinguir a verdade da falsidade e, por último consideram que nenhuma das crenças está justificada (regressão infinita), conduzindo assim a uma descrença.

( As duas últimas questões dependiam dos argumentos utilizados para defender uma posição) 

 

 

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