sexta-feira, 12 de março de 2021

Texto para resumo 11ºA (Margarida) e 11ºB (Sebastião)

 


O Valor dos testes

Existe um género de “enunciado” ou “hipótese” que os cientistas repetidamente submetem a testes sistemáticos. Tenho em mente os enunciados que consistem nas melhores conjeturas de um investigador sobre a maneira adequada de relacionar o seu próprio problema com o corpo do conhecimento científico aceite. Ele pode, por exemplo, conjeturar que [...] a obesidade dos seus ratinhos experimentais se deve a uma componente específica da respetiva dieta; ou que um padrão espetral recentemente descoberto se deve compreender como efeito do spin nuclear. Em cada caso, os passos seguintes na sua investigação visam provar ou testar a conjetura ou hipótese. Se ela passar testes suficientes ou bastante minuciosos, o cientista fez uma descoberta ou, pelo menos, resolveu o enigma que se propusera. Se não, deve abandonar completamente o enigma, ou tentar resolvê-lo com a ajuda de algumas outras hipóteses. Muitos problemas de investigação, embora decerto não todos, tomam esta forma. Testes deste género são uma componente normal do que denominei "ciência normal" ou "investigação normal", um empreendimento que explica a esmagadora maioria do trabalho feito na ciência básica. No entanto, em nenhum sentido usual esses testes se dirigem à teoria corrente. Pelo contrário, quando empenhado num problema de investigação normal, o cientista deve pôr como premissa a teoria corrente, a qual constitui as regras do seu jogo. O seu objetivo é resolver um enigma, de preferência um que outros não resolveram, e a teoria corrente é necessária para definir esse enigma e para garantir que, com o brilhantismo suficiente, ele possa ser resolvido. É natural que o praticante de tal empreendimento deva testar muitas vezes a solução conjetural do enigma, que o seu engenho lhe sugere. Mas só a sua conjetura pessoal é testada. Se falhar o teste, só a sua própria capacidade, e não o corpo da ciência vulgar, é impugnada. Em suma, embora ocorram frequentemente testes na ciência normal, estes testes são de um género especial, porque em última instância é o cientista individual, e não a teoria comum, que é testado.

Thomas Kuhn, "Lógica da descoberta ou Psicologia da Investigação", in A Tensão Essencial, Lisboa, Edições 70, 1989, pp. 328-329.

 

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