Andy Warhol, Caixas de Brillo, 1964
Desse modo, podemos esquecer as questões relativas ao valor
intrínseco e indagar por que o pessoal da Brillo não pode manufaturar arte e
por que Andy Warhol não pode fazer nada senão obras de arte.
(…)O artista pop reproduz laboriosamente à mão objetos
feitos à máquina, pintando, por exemplo, os rótulos em latas de café (pode-se
ouvir a conhecida advertência: “feito inteiramente à mão” (…).Mas a diferença
não consiste no artesanato: um homem que extraiu gemas a partir de rochas e
construiu cuidadosamente uma obra chamada Pilha de cascalho (Gravel Pile) pode
invocar a teoria do valor-trabalho para justificar o preço que ele pede; mas a
questão é: o que torna isso arte? E por que Warhol precisa fazer isso ? Por que
não apenas pôr sua assinatura numa delas? Ou amassar totalmente uma e exibir
como Caixa de Brillo Amassada (“um protesto contra a mecanização...”) ou
simplesmente exibir um cartonado de Brillo como Caixa de Brillo Desamassada
(“uma afirmação categórica da autenticidade plástica dos objetos industriais...”)?
Esse homem é uma espécie de Midas, transformando tudo em que toca no ouro
da pura arte? (…)
O que, afinal de contas, faz a diferença entre uma caixa de
Brillo e uma obra de arte consistente de uma caixa de Brillo é uma certa teoria
da arte. É a teoria que a recebe no mundo da arte e a impede de recair na
condição do objeto real que ela é. É claro que, sem a teoria, é improvável que
alguém veja isso como arte e, a fim de vê-lo como parte do mundo da arte, a
pessoa deve dominar uma boa dose de teoria artística, assim como uma quantia
considerável da história da recente pintura nova-iorquina. Isso poderia não ter
sido arte cinquenta anos atrás. (…)O mundo tem que estar pronto para certas
coisas – o mundo da arte não menos do que o real. É o papel das teorias
artísticas, hoje como sempre, tornar o mundo da arte e a própria arte
possíveis. Nunca ocorreria, devo pensar, aos pintores de Lascaux que eles
estavam a produzir arte naquelas
paredes. Assim como não havia estetas no Neolítico.”
Arthur Danto, O mundo da Arte, Arte filosofia, Ouro Preto, n.1, p.13-25, jul. 2006
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