Marc Chagall
Agora examinemos brevemente algumas das mais famosas teorias
estéticas existentes, de modo a ver se elas de fato incorporam afirmações
corretas e adequadas acerca da natureza da arte.
Segundo Weitz (1956), para começar, considere uma versão
famosa da teoria formalista, a qual foi proposta por Bell e Fry. É verdade que
eles falam, sobretudo, da pintura nos seus escritos, mas ambos afirmam que
aquilo que eles encontram nessa forma de arte pode ser generalizado para aquilo
que é "arte" nas outras formas de arte. A essência da pintura,
defendem eles, é a relação entre os elementos plásticos. A sua propriedade
definidora é a forma significante, isto é, certas combinações entre as linhas,
as cores, as formas e os volumes -- tudo aquilo que se encontra na tela exceto
os elementos representacionais -- que evocam uma reação peculiar a tais
combinações. A pintura é definível como organização plástica. A natureza da
arte, aquilo que ela realmente é, afirma esta teoria, é uma combinação única de
certos elementos (os elementos plásticos especificados) e das suas relações.
Tudo aquilo que é arte é uma instância de forma significante; e tudo aquilo que
não é arte não possui tal forma.
Mas as suas dificuldades também são enormes: o problema é
conseguir explicar de maneira convincente em que consiste a tal propriedade
comum a todas as obras de arte, a tal “forma significante”, responsável pelas
emoções estéticas que experimentamos. Clive Bell refere, pensando também no
caso da pintura, que a forma significante reside numa certa combinação de
linhas e cores. Mas que combinação é essa e que cores são essas exatamente? E
em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro etc.?
A ideia que fica é que a forma significante não serve para identificar nada.
Já os emocionalistas dizem que a verdadeira propriedade
essencial da arte foi deixada de lado. Tolstoy, Ducasse ou qualquer outro dos
defensores desta teoria, acham que a propriedade definidora requerida não é a
forma significante, dita pelos formalista, mas antes a expressão das emoções
num qualquer meio público sensual. Sem a projeção das emoções num qualquer
pedaço de pedra ou num qualquer pedaço de madeira ou em certos sons, etc., não
pode haver arte.
Mas, podemos mostrar que algumas pessoas não sentem qualquer
tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que
essas obras podem ser arte para uns e não o ser para outros? Nesse caso o
critério para diferenciar as obras de arte das outras de que serviria?
Teríamos, então, obras de arte que não são obras de arte, o que não faz
sentido. Também não é grande ideia responder que quem não sente emoções estéticas
em relação a determinadas obras não é uma pessoa sensível, como sugere Bell, o
que parece uma inaceitável fuga às dificuldades.
Todas as teorias apresentadas aqui e mais outras que não
deram para ser citadas são inadequadas em diferentes aspectos. Todas elas
pretendem fornecer uma descrição completa das características definidoras das
obras de arte e, contudo, cada uma delas deixa de lado algo que as outras
tomavam como central.
Segundo Weitz, existe, além disso, um tipo diferente de
dificuldade. Como definições reais este tipo de teorias deviam fornecer
informações factuais sobre a arte. E se isto for verdade, podemos perguntar se
serão elas teorias empíricas e abertas à verificação ou falsificação. Por
exemplo, o que é que confirmaria ou infirmaria a teoria de que a arte é forma
significante ou a personificação das emoções ou a síntese criativa de imagens?
Parece nem sequer haver a mais pequena sugestão sobre que tipo de dados poderia
testar estas teorias; e de fato, perguntamo-nos se elas não serão talvez
definições honrosa de "arte", isto é, propostas de redefinição do
conceito de arte de modo a aplicá-lo em função de certas condições escolhidas,
e não informações verdadeiras ou falsas acerca das propriedades essenciais da
arte.
Weitz (1956, p.6) defende também que um conceito de arte é
aberto:
Assim, aquilo que estou a defender é que o próprio
caráter expansivo e empreendedor da arte, as suas sempre presentes mudanças e
novas criações, torna logicamente impossível garantir um qualquer conjunto de
propriedades definidoras.
Publicado em artes e ideias por Marcelo Vinicius
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