Em que consiste
a ideia de relação de causa-efeito ou de causalidade?
Consiste na ideia de conexão necessária entre
acontecimentos, isto é, que sempre que, em certas condições, acontece A,
acontece inevitavelmente B de tal maneira que A produz necessariamente B.
Qual a posição de David Hume sobre a
ideia de causalidade?
Segundo
Hume, todo o conhecimento e raciocínios (indutivos) das questões de facto
baseiam-se na relação de causa e efeito. O nosso conhecimento dos factos
restringe-se às impressões atuais e às recordações de impressões passadas. No
entanto, muitas vezes fazemos afirmações sobre o mundo que nos levam além da
experiência imediata (ou passada). Eis alguns exemplos: O sol vai nascer
amanhã; Todos os corvos são negros; Esta barra de metal dilatou por causa do
calor. Todas estas afirmações referem-se a questões de facto, pelo que Hume
considera que são verdades contingentes, conhecidas a posteriori. Ora, dizer que o sol vai nascer amanhã é afirmar algo
que não foi observado. E também não podemos observar os corvos todos.
Finalmente, com base apenas nos sentidos, só podemos ver que a barra de metal
dilatou e que está quente – mas não que dilatou por causa do calor. Em qualquer destes casos, estamos a ir além da
experiência. Isso só é possível através do raciocínio indutivo (que nos permite
generalizar e prever a partir de casos semelhantes no passado e presente) e da
utilização da ideia de causalidade (que julgamos refletir uma relação de
conexão necessária entre acontecimentos, como por exemplo entre o calor – causa
– e a dilatação da barra de metal – efeito).
Mas será que
podemos justificar esta relação de causalidade?
Há duas possibilidades: a relação de causa-efeito
pode ser conhecida a priori ou
baseia-se inteiramente na experiência (a posteriori).
Ora, segundo Hume, esta relação não pode ser conhecida a priori. Se fosse possível saber a priori que certos factos têm o poder de causar outros, poderíamos
antecipar, sem nunca ter visto algo semelhante, que o impacto de uma bola de
bilhar noutra bola de bilhar produz o movimento da segunda. No entanto, sem
experiência não é possível saber nenhuma destas coisas.
Estará então a experiência em condições de justificar a
relação de causa-efeito? A experiência apenas pode revelar entre dois acontecimentos
uma sucessão temporal e conjunção constante e nada permite afirmar que o
primeiro tenha realmente poder ou energia para produzir o segundo. Portanto, o
conhecimento da relação de causa-efeito não pode ser obtido a priori nem a
posteriori.
Segundo
Hume, esta ideia forma-se na mente do sujeito em consequência de um hábito, que
é fruto da associação que se verifica na sua mente entre as ideias
correspondentes aos acontecimentos observados e não algo que descubramos nas
próprias coisas. Assim, David Hume diria que, em bom rigor, quando pomos a água
ao lume, «não sabemos que a água vai aquecer, ainda que esse facto seja
possível ou muito provável até». Em tal caso, não temos um saber, mas apenas
uma crença ou suposição, e isto porque não existe qualquer justificação,
estritamente racional (a priori) ou empírica (a posteriori), para a nossa
crença na existência de relações causais. É o hábito baseado em repetições
passadas, em que sempre que um fenómeno ocorria, um outro se lhe seguia, que
nos leva a crer, isto é, a ter a tendência psicológica para formar a expetativa
de que um é causa e o outro efeito. Com base no hábito (psicológico) e não na
razão ou nos próprios objetos, acreditamos na igualdade futura dos
acontecimentos. No entanto, não temos nenhum conhecimento direto do que seja a
conexão necessária dos fenómenos, pelo que as inferências feitas desse modo são
apenas provavelmente verdadeiras. A
ideia de causalidade não é senão uma ficção, uma ilusão, uma criação subjetiva
ou psicológica da mente humana.
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