FICHA Formativa –
ARGUMENTAÇÃO E FILOSOFIA – Os Sofistas
Grupo 1
A partir da informação
contida no texto seguinte, enuncie algumas das caraterísticas que permitem
distinguir a democracia ateniense do séc. V a. C. do regime democrático em
vigor no nosso país.
«Os dias mais gloriosos da
Grécia Antiga tiveram lugar no século V a. C. , ao longo de 50anos de paz entre
dois períodos de guerra. O século começara com guerras entre a Grécia e a
Pérsia e terminaria com uma guerra entre as cidades-estado da própria Grécia.
No período intermédio floresceu a grandiosa civilização de Atenas. A Jónia,
onde tinha surgido os primeiros filósofos, estivera sobre o domínio persa desde
meados do século VI. Em 499, os gregos da Jónia rebelaram-se contra o rei
persa, Dario. Depois de esmagar a revolta, Dario invadiu a Grécia para castigar
os que tinham ajudado os rebeldes a partir da metrópole. Uma força militar
constituída sobretudo por atenienses derrotou o exército invasor em Maratona, em
490. Xerxes, filho de Dario enviou uma expedição mais numerosa em 483,
derrotando um corajoso batalhão de espartanos nas Termópilas e forçando os
atenienses a fugir da sua cidade. Mas a sua armada foi derrotada perto da ilha
de Salamina por uma marinha grega unificada, e uma vitória grega em terra, em
Plateias, em 479, pôs fim à invasão. Depois das invasões, Atenas assumiu a
liderança dos aliados gregos. Foram os atenienses que libertaram os gregos da
Jónia, e era Atenas, apoiada por contribuições de outras cidades, que
controlava a armada que assegurava a liberdade dos mares Egeu e Jónio. Aquilo
que começara como uma federação deu origem a um Império Ateniense.
Internamente, Atenas era uma democracia, o primeiro exemplo fidedigno dessa
forma de organização política. “Democracia” é, em grego, a palavra que
significa o governo do povo; e a democracia ateniense era um exemplo fiel de um
tal regime. Atenas não era uma democracia moderna, na qual os cidadãos elegem
representantes que formam um governo. Em vez disso, cada cidadão tinha o
direito de participar em pessoa no governo, comparecendo numa assembleia geral
onde podia ouvir os discursos dos líderes políticos e depois dar o seu voto.
Para se ver o que isto significava em termos atuais, imagine-se que os membros
do governo e da oposição falavam na televisão durante duas horas, após oque era
apresentada uma moção e tomada uma decisão com base nos votos fornecidos por cada
espectador ao premir o botão do “sim”, ou o botão do “não” no
televisor. Para tornar o paralelo rigoroso, teria de acrescentar-se que apenas
os cidadãos do sexo masculino com mais de 20 anos seria permitido premir o
botão mas não às mulheres, nem às crianças, escravos ou estrangeiros. Os
poderes judicial e legislativo eram, em Atenas, atribuídos por sorteio a
membros da assembleia com mais de 30 anos; as leis eram aprovadas por um painel
de mil cidadãos, escolhidos apenas por um dia; e os julgamentos mais
importantes realizavam-se perante um júri de 501 cidadãos.»
Anthony Kenny,História
concisa da Filosofia ocidental , Edições Temas e Debates, Lisboa,
1999, págs. 40-41
Grupo 2
Texto 1
Dos escritos originais dos
sofistas chegaram até nós poucos fragmentos. Eis alguns deles:
“Nunca me falta assunto num
discurso.”
“A palavra é um
poderoso tirano, capaz de realizar as obras mais divinas, apesar de ser o mais
pequeno e invisível dos corpos. Com efeito, é capaz de apaziguar o medo e
eliminar a dor, de produzir a alegria e excitar a compaixão.” Górgias
“[Os sofistas] são
intermédios entre filósofos e políticos.” Pródico
Texto 2
«Os sofistas eram professores
itinerantes que andavam de cidade em cidade oferecendo instrução especializada
sobre vários temas. Uma vez que cobravam a transmissão dos seus conhecimentos,
poderiam ser considerados os primeiros filósofos profissionais, não fosse o facto
de ofereceram instrução e serviços numa área muito mais vasta do que a
filosofia mesmo no seu sentido mais lato. O mais versátil destes, Hípias de
Élis, arrogava-se ser conhecedor de matemática, astronomia, música, história
(…), assim como detentor de competências práticas como as de alfaiate e
sapateiro (…).Fizeram bom negócio na Atenas de meados do séc. V a. C., onde os
jovens que tinham de se apresentar perante os tribunais ou desejavam fazer
carreira política estavam dispostos a pagar quantias substanciais pela sua
instrução e orientação. Os sofistas fizeram um estudo sistemático do debate
forense e da persuasão retórica. Graças a este interesse escreveram sobre
variados temas. Começaram com a gramática básica: Protágoras foi o primeiro a
distinguir os géneros dos nomes e os tempos verbais (…). Depois listaram
técnicas de argumentação e truques de advocacia (…) Proferiram ainda palestras
públicas, fizeram exibições (…). Tomando tudo em consideração, os seus papéis
englobavam aqueles que, na sociedade moderna, são desempenhados pelos assessores,
advogados, profissionais de relações públicas e personalidades dos meios de comunicação
social. Protágoras parece ter estado preparado para argumentar de ambos os
lados de qualquer questão e gabou-se de conseguir sempre transformar o pior
argumento no melhor.»
Anthony Kenny, Filosofia
Antiga , Edições Gradiva, Lisboa, 2010, págs. 46-47.
1.
A partir da análise dos
textos anteriores, responda às questões formuladas a propósito dos sofistas
.1.1. Em que período
histórico viveram?
1.2. Quem eram?
1.3. O que faziam?
1.4. Qual foi a sua importância para a criação do regime
democrático na Gréciado séc. V a. C. ?
1.5. Para eles a verdade existe? Porquê?
1.6. Utilizavam a retórica de uma forma ética ou não
ética? Justifique.
Grupo 3
Texto 1 “O homem é a
medida de todas as coisas”
(…).
Na sua interpretação
mais provável, isto significa que aquilo que, seja pela perceção seja pelo
pensamento, parece a uma determinada pessoa ser verdade, é verdade para essa pessoa.
Isto acaba com a verdade objetiva: nada pode ser absolutamente verdadeiro, mas
apenas relativamente a um indivíduo. Quando as pessoas têm crenças
contraditórias, não é verdade que uma delas tem razão e outra não. Demócrito, e
depois Platão, objetaram que a doutrina de Protágoras se autodestruía pois se
todas crenças são verdadeiras, então entre elas está a crença de que nem
todas as crenças são verdadeiras.»
Anthony Kenny, História
concisa da Filosofia ocidental , Edições Temas e Debates, Lisboa,
1999, págs. 44-45.
Texto 2
«O sofista da Grécia
antiga, Protágoras, é visto como a principal fonte do relativismo
(…). “O homem é a medida de todas as coisas”, diz. A sua posição é que a verdade o é para
alguém. Não existe nenhuma verdade e ponto final. Uma resposta rápida (e correta)
é questionar o status da afirmação de Protágoras tal como devíamos questionar
qualquer afirmação que defenda o relativismo. “Todas as verdades são
relativas”. Isso é relativo ou não? Se não for, então é uma auto refutação, por
isso devíamos rejeitá-la. Se for, devíamos responder: “Isso está tudo muito
certo, senhor Protágoras, mas porque haveríamos de ter em conta o que diz?
Afinal, o senhor está apenas a falar de como as coisas lhe parecem a
si, não como elas são”. O senhor Protágoras bate com os pés e grita:
“Mas eu sou o grande Protágoras que pensou nestas coisas e viu…” Aqui
hesita –o que tem de dizer para nos influenciar não consegue dizê-lo com
consistência, pois tem de dizer que os seus argumentos são melhores do que os
dos outros e não é assim apenas relativamente a si. Tem de dizer que viu… ahm…
ahm a verdade. Ponto final.»
Peter Cave, Duas vidas
valem mais do que uma? , Academia do livro, Lisboa, 2008, pág. 88-89.
1. A partir da análise dos dois textos anteriores,
responda às seguintes questões:
1.1. Esclareça o significado da afirmação:
“O homem é a medida de todas
as coisas”
1.2. Para os relativistas, a verdade existe?
1.3. Qual é a tese defendida pelos relativistas em relação
à moral?
1.4. Uma das críticas de Platão ao relativismo é que “a
doutrina de Protágoras se autodestruía”. Explique porquê.
Grupo 4
«(…) é mesmo o filósofo que
vos fala, aquele que ama o saber, e não um desses homens sem sombra de cultura,
que amam apenas o triunfo das suas teses! Refiro-me aos que, em qualquer tipo
de discussão, relegam para segundo plano a natureza real das questões a tratar,
e se empenham exclusivamente em convencer os seus ouvintes das opiniões que eles
mesmos sustentam (…). Se querem um conselho, preocupem-se pouco com
Sócrates e muito mais com a verdade! Se vos parecer que o que eu digo é
verdadeiro, pois dêem-me razão; caso contrário , apresentem-me tudo o que têm a
objetar.»
Platão, Fédon,
5ª edição, Lisboa Editora, 1997, págs. 87-88.
1. A partir da análise do texto anterior, responda às
seguintes questões:
1.1. Como é que se pode diferenciar, segundo Platão, o
sofista do filósofo?
1.2. A verdade para Platão é relativa? Porquê?
1.3. Qual é, na perspetiva platónica, a relação entre a
argumentação e a verdade?
1.4. De acordo com Platão, a retórica (entendida como a
arte da utilização da linguagem para persuadir) deverá estar ao serviço de quê?
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