ma diferente noção de progresso
“As revoluções terminam com a vitória total de um dos campos antagonistas. Alguma vez esse grupo dirá que o resultado da sua vitória não constitui um progresso? Isso seria a mesma coisa que admitir que se tinham enganado e que os seus opositores tinham razão. Pelo menos para os vencedores, aquilo que resulta de uma revolução não pode deixar de constituir um progresso, estando até estes em excelente posição para assegurar que os futuros membros da sua comunidade irão olhar para a história com a mesma convicção (…)
Para sermos mais precisos, podemos ter de renunciar à noção, explícita ou implícita, de que as mudanças de paradigma aproximam os cientistas, e os que com eles aprendem, cada vez mais da verdade. (….)
O processo de desenvolvimento aqui descrito é um processo evolutivo a partir de uma origem primitiva – um processo cujos sucessivos estádios se caraterizam por uma compreensão da natureza cada vez mais detalhada e sofisticada. Mas nada do que foi ou será dito faz dele um processo em vista de algo. Essa lacuna terá perturbado muitos leitores.
Todos nós estamos muito acostumados a ver a ciência como uma tarefa que se aproxima cada vez mais de um fim estabelecido antecipadamente pela natureza.
Mas esse fim é necessário? Não podemos nós explicar a existência da ciência, e também o seu sucesso, em termos de uma evolução a partir do estado de conhecimento da comunidade num dado momento? (…)
O processo descrito como resolução de revoluções é o processo de seleção natural, no âmbito da comunidade científica, do modo mais apto para se poder exercer a ciência do futuro. (…) Todo o processo podia ter ocorrido, como nós hoje supomos que aconteceu no caso da evolução biológica, sem ser orientado para um fim determinado, para uma verdade científica perene, da qual cada estádio do desenvolvimento do conhecimento científico seria o exemplar mais acabado.”
Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, Trad de Carlos Marques, Lisboa: Guerra&Paz, 2009, p.147.
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