Consideremos
este ponto e digamos o seguinte: “Ou Deus existe ou não existe.” Mas qual das
alternativas devemos escolher? A razão não pode determinar nada: existe um
infinito caos que nos divide. No ponto extremo desta distância infinita, uma
moeda está sendo girada e terminará por cair como cara ou coroa. Em que você
aposta?
Blaise Pascal, Pensamentos (edição
póstuma, 1844)
De acordo com Pascal, de
uma forma ou de outra, todos nós jogamos dados com Deus, mesmo que ele não
jogue dados com o Universo.
Pascal admitiu que é
impossível “provar” que Deus existe – de facto, afirmou ele, a razão humana é
incapaz de provar qualquer coisa com certeza. O que levaria a pensar que Pascal
era agnóstico, mas não é verdade. Afinal, para ele, a principal pergunta
residia no facto de ser conveniente a alguém acreditar na existência de Deus, e
a sua resposta era que seriamos tolos se não acreditássemos. Isso faz de Pascal
um teísta, pois tentou mostrar matematicamente que seria um péssimo negócio não
acreditar em Deus.
A matemática que Pascal
empregou trabalhava no campo das Probabilidades, que ele ajudou a inventar (esperava
convencer especialmente os seus amigos aristocráticos, que eram jogadores
fanáticos). Bom, no modo de ver de Pascal, a crença ou a descrença que você possa
ter em Deus implica uma aposta.
Ora, se Deus existe e a
“Sagrada Escritura” são verdadeiros, a nossa crença vai dar-nos (em tese)
infinita felicidade após a morte.
Se Deus não existe, tudo
o que teríamos a perder acreditando em Deus seriam os prazeres finitos de uma
vida finita. Mesmo porque, se acharmos que as chances da existência de Deus são
próximas de zero – Pascal sugere que elas estão perto de 50 % – a única coisa
racional que podemos fazer é jogar o jogo. E como qualquer percentagem finita
do infinito tende a ser infinita também, o raciocínio mediante este conceito
mostra que devemos acreditar em Deus.
Indo pelo outro lado da
moeda, se nos recusarmos a acreditar em Deus e estivermos errados, seremos condenados
às penas infernais, pois seremos pecadores. E tomando por base que as
probabilidades que isso aconteça são enormes, não restaria nada mais do que
seguir o glorioso Deus e viver feliz para sempre.
É claro que poderíamos
ainda resistir à razão, mas isso só aconteceria se permitíssemos que as nossas paixões sufocassem o que temos de
melhor. De acordo com o nosso amigo Pascal, os desejos podem ser controlados se
procedermos como se acreditássemos em Deus e participássemos de bons rituais
cristãos. E se, nos habituarmos a isso, terminamos por descobrir que, largando
os hábitos pouco saudáveis, ficaríamos até mais felizes do que antes e isso, na
visão de Pascal, é o verdadeiro benefício da aposta. Interessante?
André Carvalho texto retirado daqui
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