terça-feira, 6 de abril de 2021

Texto para resumo Constança Correia 11B e Catarina Lopes 11A


Gaunilo: a ilha perfeita

Uma das principais críticas ao argumento de Santo Anselmo veio de um monge seu contemporâneo, chamado Gaunilo de Marmoutier. Gaunilo defendeu que o argumento não pode ser bom, uma vez que tem consequências absurdas. Para o mostrar, ele socorreu-se da ideia de ilha perfeita. A sua estratégia consistiu em substituir o conceito de Deus no argumento de Santo Anselmo pelo de ilha perfeita e retirar daí a conclusão — obviamente absurda — de que a ilha perfeita existe. Eis como ele raciocina:

Ora, se uma pessoa me dissesse que uma tal ilha existe, eu perceberia facilmente as suas palavras, nas quais não há nenhuma dificuldade. Mas suponhamos que ela ia ao ponto de me dizer, como se isso resultasse de uma inferência lógica, “Não podes continuar a duvidar de que esta ilha, que é melhor do que todas as terras, existe algures, uma vez que não tens dúvidas de que ela está no teu entendimento. E visto que é melhor não existir apenas no entendimento, mas existir tanto no entendimento como na realidade, por esta razão ela tem de existir. Porque se não existisse, qualquer terra que existisse de facto seria melhor que ela; e assim a ilha que já compreendeste ser a melhor não seria a melhor.

Se um homem tentasse provar-me por um raciocínio destes que esta ilha existe de facto, e que não se devia continuar a duvidar da sua existência, eu, ou acreditava que ele estava a gracejar, ou não saberia quem deveria considerar como o maior tolo: eu, se tivesse aceite esta prova; ou ele, se ele supusesse que tinha estabelecido com alguma certeza a existência desta ilha. Pois ele deve mostrar primeiro que a hipotética excelência desta ilha existe enquanto um facto real e indubitável, e de forma alguma como um objecto irreal, ou um objecto cuja existência é incerta, no meu entendimento. (Gaunilo, “A Favor do Insipiente”)

Para Gaunilo, portanto, o facto de podermos definir um ser como o maior que se pode pensar não significa que esse ser exista. Se isso fosse verdade, o argumento ontológico provaria não apenas que a ilha perfeita existe, mas tudo o que quiséssemos provar que existe, bastando para tal que definíssemos essa coisa como perfeita. Poderíamos, assim, provar que a namorada perfeita existe, que o namorado perfeito existe, que a sogra perfeita existe e, até, que o Diabo perfeito existe!

Álvaro Nunes

 Consultar texto AQUI

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