O trabalho mais conhecido de Descartes, o Discurso do Método – o seu título completo é Discurso do Método Para Conduzir Adequadamente a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências – está escrito num estilo atraente e claro. Pode parecer que aquilo que ele escreveu é mais simples e mais óbvio do que é na realidade, por isso temos de considerar aquilo que ele escreveu de modo cuidadoso. Eis uma passagem da quarta parte do Discurso do Método, publicado em 1637, na qual ele define de modo muito claro a sua perspectiva acerca da natureza do seu próprio eu (self):
Aulas- 11ºAno
OLÁ a Todos! Aqui estão alguns materiais para apoiar os vossos trabalhos filosóficos! Esperemos que sejam úteis!
quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Texto para resumo Sofia 11A
O trabalho mais conhecido de Descartes, o Discurso do Método – o seu título completo é Discurso do Método Para Conduzir Adequadamente a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências – está escrito num estilo atraente e claro. Pode parecer que aquilo que ele escreveu é mais simples e mais óbvio do que é na realidade, por isso temos de considerar aquilo que ele escreveu de modo cuidadoso. Eis uma passagem da quarta parte do Discurso do Método, publicado em 1637, na qual ele define de modo muito claro a sua perspectiva acerca da natureza do seu próprio eu (self):
segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Texto para resumo Rebeca 11A
Os argumentos dos céticos
"O ceticismo, na sua versão mais extrema, é a ideia de que o conhecimento não é possível. Os céticos podem apresentar o seguinte argumento a favor da sua posição:
Se S sabe que P, então não é possível que S esteja enganado acerca de P.
É possível que S esteja enganado acerca de P.
Portanto, S não sabe que P.
Este argumento é um modus tollens e tem, por isso, forma válida. Se as premissas forem verdadeiras, o argumento é sólido e a conclusão verdadeira. A primeira premissa é meramente a expressão da condição que uma proposição tem de estar justificada de modo a garantir a sua verdade para que possa ser conhecimento. Admitamos, por isso, que é verdadeira. E a segunda? Como prova o cético esta premissa? É possível defendê-la apelando, por exemplo, aos erros e ilusões dos sentidos ou às limitações da memória e da razão. Mas também é possível defendê-la com um argumento mais geral que vise mostrar que nunca podemos justificar as nossas crenças e, portanto, que é sempre possível que estejamos enganados acerca delas.
Para vermos como, pensemos numa qualquer afirmação de cuja verdade julguemos estar absolutamente certos, como, por exemplo, que “A Lua é o único satélite natural da Terra”, ou que “Portugal situa-se na Europa”. A questão crucial é esta: que justificação temos para estarmos certos da sua verdade? Temos de ter uma justificação, claro. Caso contrário essas crenças não constituem conhecimento. Podemos justificar as nossas crenças dizendo, por exemplo, que as aprendemos na escola com os nossos professores de Geografia ou de Ciências da Natureza, que, dada a sua formação, são especialistas no assunto. O que fizemos, deste modo, foi justificar uma crença com outra crença. Mas isto, como é óbvio, levanta uma outra questão: que justificação temos para esta nova crença? Esta crença está, afinal de contas, numa posição similar à primeira. Se essa precisa de uma justificação, porque sem ela não constitui conhecimento, o mesmo se passa com esta. E, evidentemente, se esta não constitui conhecimento, também não pode justificar a primeira. Uma forma de justificar esta segunda crença é, claro, recorrer a uma outra da qual ela possa derivar. É fácil ver, no entanto, que o mesmo problema se colocará em relação a essa nova crença. Também ela precisará de uma justificação. Cada afirmação precisa de uma justificação e a justificação de uma nova justificação, numa regressão sem fim. Desse modo, parece, nem a primeira nem qualquer das outras crenças está justificada.
Há alguma forma de evitar esta consequência? Uma possibilidade é parar numa dada crença e não recuar mais na cadeia das justificações, deixando essa crença sem qualquer justificação. A outra é recuar nas nossas justificações até, eventualmente, voltarmos a uma crença que já usámos como justificação, raciocinando em círculo. Por que razão devemos acreditar no professor de Geografia ou de Ciências da Natureza? Porque o que ele diz está de acordo com o manual da disciplina. E por que devemos acreditar nesse manual? Porque foi escrito por especialistas. E como sabemos que são especialistas? Porque se não o fossem, não escreveriam manuais.
Estas três possibilidades em conjunto constituem o chamado trilema de Agripa, do nome do cético grego do século I a quem a tradição atribui a sua formulação. De acordo com este trilema, quando pretendemos justificar uma crença por intermédio de outras crenças estão disponíveis apenas três alternativas:
- Remontar infinitamente na cadeia de justificações;
- Raciocinar em círculo;
- Parar numa crença não suportada.
Nenhuma destas três possibilidades, afirmam os céticos, é melhor que a outra. Parar arbitrariamente na cadeia de justificações e raciocinar em círculo não é uma forma mais apropriada de justificar as nossas crenças do que regredir ao infinito. E como não existe outra alternativa, eles concluem que não é possível justificar nenhuma das nossas crenças e que, portanto, o conhecimento não existe."
Álvaro Nunes, texto retirado de https://criticanarede.com/anunesoproblemadoceticismo.html
terça-feira, 7 de outubro de 2025
Texto para análise/resumo Madalena 11A
O que é o ceticismo?
0 argumento que acabamos de examinar - o de que não
conhecemos nada sobre o mundo que nos cerca - chama-se argumento cético. Os céticos
sustentam que, na verdade, não sabemos o que pensamos que sabemos. E a
afirmação de que não sabemos nada sobre o mundo que nos cerca chama-se ceticismo
sobre o mundo exterior.
Ceticismo "versus" senso comum
A visão do senso comum, é claro, sustenta que de
facto conhecemos o mundo exterior. Na verdade, se resolvesse dizer,
"não sei se as árvores existem", especialmente se estivesse a olhar
para uma árvore em plena luz do dia, os outros achariam que tinha enlouquecido.
Mas os céticos achariam que estava certo. Não sabemos
se árvores existem. 0 senso comum está enganado.
Outros exemplos de enganos do senso comum
Os argumentos dos céticos podem deixar algumas pessoas muito
irritadas. Sabermos que as árvores existem é uma das nossas crenças mais
básicas - como costumo dizer, sentimos que é isso é apenas senso comum. Existem
muitas crenças que abandonaríamos com muita satisfação, caso alguém conseguisse
demonstrar que estamos errados. Mas, quando se trata das crenças mais
arraigadas do nosso senso comum - como a crença de que sabemos que as árvores
existem -, não ficamos nada satisfeitos por abandoná-las.
Na verdade, ter as nossas crenças mais elementares ameaçadas
pode ser uma experiência bem desconfortável, especialmente quando não vemos
como defendê-las. Nessas ocasiões muitos ficam enraivecidos. Dizem que é um
disparate o que o filósofo está a dizer. "Isso é uma completa
estupidez", gritam. "Claro que eu sei que as árvores
existem." E retiram-se, ofendidos.
Mas o filósofo pode apontar que em muitos outros casos se
comprovou que o senso comum estava errado. Por exemplo, noutros tempos, o senso
comum afirmava que a Terra era plana. As pessoas simplesmente achavam que era
óbvio que a Terra fosse plana. Afinal, parece plana, não parece? Os marinheiros
até tinham medo de chegar ao fim da Terra e cair. Também nessa época algumas
pessoas ficavam muito irritadas quando a sua crença comum era desafiada.
"Não seja ridículo", gritavam. "É claro que
a Terra é plana." E saíam a bater os pés. Hoje, porém, sabemos que a Terra
não é plana. 0 senso comum estava enganado.
O que os céticos NÃO afirmam
Vale a pena deixar claro o que os céticos não afirmam,
para não ficarmos confusos. Em primeiro lugar, os céticos não afirmam saber que
nós ou eles somos cérebros numa cuba. Só afirmam que ninguém
pode saber de maneira alguma se alguém é um cérebro numa cuba.
Em segundo lugar, eles não afirmam apenas que
não podemos ter a certeza absoluta de que o mundo que vemos é
real ou virtual. Afirmam muito mais do que isso. Afirmam que não temos razão
alguma para acreditar que o mundo que vemos é real e não virtual.
Em terceiro lugar, eles não vão tão longe a ponto de afirmar
que ninguém pode saber nada. Afinal, eles próprios reivindicam
saber uma coisa: que ninguém pode conhecer o mundo exterior.
Estamos então diante de um enigma difícil. Por um lado, a
visão do senso comum é que sabemos que as árvores existem. Nós não queremos de
facto abrir mão dessa visão do senso comum (na verdade, nem estou certo de que
poderíamos abrir mão dela mesmo que quiséssemos). Por outro, o cético tem um
argumento que parece mostrar que a nossa visão do senso comum está errada: nós
não sabemos que as árvores existem. Qual das visões está certa?
Apesar da roupagem moderna que eu lhe dei, este enigma é na
verdade bem antigo. É de facto um dos enigmas filosóficos melhor conhecidos.
Ainda hoje, nas universidades do mundo inteiro, os filósofos se debruçam sobre
ele. E ainda não conseguiram decidir se os céticos têm razão. Eu devo admitir:
não sei se os céticos têm ou não razão. Ao longo dos séculos, muitos filósofos
tentaram lidar com o ceticismo. Procuraram demonstrar que o senso comum está
certo: nós conhecemos efetivamente afinal o mundo que nos cerca. Algumas das suas
tentativas para derrotar os céticos são muito perspicazes. Mas será que alguma
delas funciona mesmo? Examinemos agora uma dessas tentativas.
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Texto para resumo Lourenço 11A
Justificação
Podemos distinguir dois tipos de crenças: a mediata e a não mediata. Crenças mediatas são aquelas que adquirimos por intermédio de alguma estratégia que começa nas crenças que já possuímos. A inferência é uma estratégia (se bem que não a única); nós inferimos que vai chover a partir das crenças de que estamos a meio da manhã e que o céu está a escurecer. As crenças mediatas levantam a questão de saber se temos direito à estratégia que adotámos — se é uma estratégia que fazemos bem em usar. As crenças não mediatas são as que adotamos sem que, para as termos, seja necessário partirmos de outras crenças que já temos; e suscitam problemas diferentes, que dizem respeito à fonte do nosso direito em acreditar. Eu abro os olhos e, em razão do que vejo, acredito imediatamente que há um livro à minha frente. Se estou a agir bem ao adotar esta crença, ela justifica-se (ou tenho uma justificação para a adotar). Esta atenção dada à justificação é um modo de expressar a ideia de que a epistemologia é normativa. Então o que faz, neste caso, uma crença ser justificada?
Há várias respostas. Uma é a resposta fiabilista: a crença justifica-se porque é o resultado de um processo fiável. Outra é a resposta coerentista: a crença justifica-se porque o meu mundo é mais coerente com ela do que seria sem ela. Uma terceira é a alegação fundacionalista clássica, que entende que a crença não é de fato não-mediata, mas inferida de uma crença sobre como as coisas me aparecem neste preciso momento. Se esta última for verdadeira, somos lançados de novo em duas questões. A primeira consiste em saber se e como a crença sobre como as coisas me parecem neste preciso momento se justifica. A segunda questão reside em saber se a inferência extraída da primeira crença se justifica. Nós poderíamos perguntar, então, que princípio de inferência está a ser usado. Suponha-se que é este: se as coisas me aparecem de determinada maneira, são provavelmente dessa maneira. O que torna isto suficiente para nos levar a supor que agimos bem ao usar este princípio?
Jonathan Dancy, Problemas da epistemologia
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
Texto para resumo Juliana ou Laura 11A
Retire um livro retangular da sua estante e olhe para a capa. Qual é a cor predominante, e quantos lados tem? Ao responder a estas questões, o leitor fica a saber duas coisas acerca deste livro, e esses dois factos mostram uma importante distinção entre duas maneiras que temos de adquirir conhecimento.
Para ficarmos a saber a cor do livro temos que observá-lo (ou pedir a alguém que o faça por nós). A justificação para a sua crença acerca da sua cor é fornecida pela experiência (nossa ou de outrem). Mas não precisamos de olhar para um livro retangular para sabermos quantos lados tem. Sabemos que os retângulos têm quatro lados pelo simples facto de pensarmos o que é um retângulo. Adquirimos este conhecimento usando apenas os nossas poderes de raciocínio; não temos de considerar a informação dada pelos nossos sentidos. O conhecimento que é justificado pela experiência é denominado conhecimento "a posteriori" ou conhecimento empírico. O conhecimento em que a experiência não tem um papel justificatório é denominado conhecimento "a priori".
Dan O'Brien, Introdução à Teoria do Conhecimento
domingo, 28 de setembro de 2025
Texto para resumo Inês Nascimento 11A
Ver mais aqui
Jonathan Dancy (1990), Epistemologia Contemporânea, Ed.70, Lx
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
Texto para resumo Gui -11A
Diz-se frequentemente que o conhecimento aspira à verdade, no sentido em que quando acreditamos numa proposição, acreditamos que ela é o caso (i. e. que é verdadeira). Quando aquilo em que acreditamos é verdadeiro, dá-se uma coincidência entre o que pensamos ser o caso e o que é o caso. Acertamos na verdade. No entanto, se a mera crença verdadeira é suficiente para 'acertar' na verdade, podemos interrogar-nos porque é que os epistemólogos, na sua busca por uma boa definição de conhecimento, não se dão imediatamente por satisfeitos, aceitando que conhecimento não é mais do que crença verdadeira - i. e. acertar na verdade.
Há realmente uma boa razão que explica porque é que os epistemólogos não se contentam com a ideia de conhecimento como crença verdadeira. É que uma pessoa pode possuir uma crença verdadeira por acaso, situação em que não poderíamos atribuir-lhe mérito por acertar na verdade. Suponhamos que Henrique fica convencido de que o cavalo Moça Sortuda irá ganhar a próxima corrida só porque achou o nome do cavalo engraçado. Esta não é claramente uma boa base sobre a qual devêssemos construir uma crença acerca do vencedor da próxima corrida de cavalos, visto que o facto de acharmos o nome do cavalo apelativo não tem influência sobre a prestação deste durante a corrida.
Suponhamos, no entanto, que a crença de Henrique acaba por se tornar verdadeira, que Moça Sortuda ganha de facto a corrida. É isto conhecimento? Intuitivamente não, pois a crença é verdadeira apenas por uma questão de sorte. Não esqueçamos que o conhecimento é algo que se alcança, algo que resulta do mérito de alguém, não podendo ser aquilo que alcançamos puramente por uma questão de sorte.
Para enfatizar este ponto, pensemos por um momento no que significa alcançar um feito noutra área, como no tiro com arco. Se alguém é um bom arqueiro, ao tentar atingir o centro do alvo em condições favoráveis (por exemplo, sem um vento demasiado forte), atingi-lo-á habitualmente. É isso que significa ser um bom arqueiro. A palavra 'habitualmente' é aqui importante, porque àqueles que não são bons arqueiros acontece-lhes às vezes acertar no centro do alvo, mas não habitualmente. É possível que apontem a seta e que, por sorte, atinjam o centro do alvo. Mas significa isto que quem acerta numa ocasião é um bom arqueiro? Não, pela simples razão de que essas pessoas não seriam capazes de repetir a façanha. Se tentassem outra vez o mais certo era que a seta desaparecesse no céu.
Possuir conhecimento é algo semelhante. Imaginemos que uma crença é uma seta que apontamos ao alvo, neste caso a verdade. Atingir o alvo e formar uma crença verdadeira é acertar, visto que temos sucesso numa dada ocasião. No entanto, formar uma crença verdadeira não é suficiente para possuir conhecimento, tal como não basta acertar no centro do alvo por mera sorte para se ser um bom arqueiro. O conhecimento tem de ser um resultado dos nossos esforços, em vez de um resultado que se alcança por puro acaso. Isto quer dizer que o modo como formamos uma crença deve, em circunstâncias normais, conduzir habitualmente à verdade.
Henrique, que forma a crença verdadeira de que Moça Sortuda ganhará a corrida só porque gostava do nome do cavalo, é como a pessoa a quem aconteceu acertar no alvo e que não é um bom arqueiro. Formar uma crença sobre a possível vitória de um cavalo, considerando apenas se o seu nome tem ou não tem graça, conduzirá habitualmente à formação de uma crença falsa.
Comparemos Henrique com alguém que genuinamente sabe que a corrida será ganha por Moça Sortuda. Essa pessoa pode ser, por exemplo, um poderoso gangster que viciou a corrida, drogando os outros cavalos para que Moça Sortuda ganhasse. Ele sabe que a corrida será ganha por Moça Sortuda, pois o modo como ele formou a sua crença, baseando-se na informação privilegiada de que dispunha para pensar que Moça Sortuda não poderia perder, conduzi-lo-á normalmente a uma crença verdadeira. Não é por uma questão de sorte que o gangster atinge o alvo da verdade.
Deste modo, o desafio para os epistemólogos é explicar o que é necessário juntar à mera crença verdadeira de modo a que se obtenha conhecimento. Em particular, os epistemólogos precisam de explicar o que tem de ser acrescentado à crença verdadeira para capturar esta ideia de que o conhecimento, em contraste com a mera crença verdadeira, é um autêntico feito do agente, algo de que ele é responsável, no sentido de uma crença obtida não apenas por uma questão de sorte.
Duncan Pritchard, What is This Thing Called Knowledge? (Abington & New York: 2006, p. 6). Trad. Carlos Marques.
terça-feira, 23 de setembro de 2025
Texto para análise/resumo Cátia 11A
DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE CONHECIMENTO - Teoria tradicional do conhecimento
1.Crença e Verdade
Devemos fazer notar duas ideias que fazem parte do conceito de conhecimento. Primeiro, se S sabe que p (que uma proposição é verdadeira), então tem de acreditar que p. Segundo, se S sabe que p, então p tem de ser verdadeira. O conhecimento requer tanto a crença quanto a verdade. Comecemos pela segunda ideia. As pessoas às vezes dizem que sabem coisas que mais tarde se revelam falsas. Mas isto não é saber coisas que são falsas, é pensar que se sabem coisas que, de facto, são falsas.
O conhecimento tem um lado subjectivo e um lado objectivo. Um facto é objectivo se a sua verdade não depende de como é a mente das pessoas. É um facto objectivo que a Serra da Estrela está 2 000 metros acima do nível do mar. Um facto é subjectivo se não é objectivo. O exemplo mais óbvio de um facto subjectivo é uma descrição do que acontece na mente de alguém.
Se uma pessoa acredita ou não que a Serra da Estrela está a 2 000 metros acima do nível do mar é uma questão subjectiva, mas se a montanha tem realmente essa propriedade é uma questão objectiva. O conhecimento requer tanto um elemento subjectivo como um elemento objectivo. Para que S conheça p, p tem de ser verdadeira e o sujeito, S, tem de acreditar que p é verdadeira.
2.Terceiro Requisito: Justificação
Apontei duas condições necessárias para o conhecimento: o conhecimento requer crença e requer verdade. Mas será que isto é suficiente? Será que estas duas condições não são apenas separadamente necessárias, mas também conjuntamente suficientes? é a crença verdadeira suficiente para o conhecimento?
Pensemos num indivíduo, Clyde, que acredita na história do Dia do Porco do Campo. Clyde pensa que se o Porco do Campo vir a sua própria sombra, a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que Clyde põe este princípio idiota em prática este ano. Ele tem informações que o fazem pensar que a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que Clyde acaba por ter razão acerca deste facto. Se não existir nenhuma conexão lógica entre o facto de o porco do campo ter visto a sua própria sombra e o facto de a Primavera vir mais tarde, então Clayde terá uma crença verdadeira (a Primavera virá tarde), mas não terá conhecimento.
Que será então necessário, para além da crença verdadeira, para que alguém possua conhecimento? A sugestão mais natural é a de que o conhecimento requer dados de apoio, ou uma justificação racional. Note-se que ter uma justificação não é apenas pensar que se tem uma razão para acreditar em algo.
Que significa dizer que um indivíduo tem uma crença “justificada” na proposição p? Uma justificação pode ter a forma de um argumento dedutivo, de um argumento indutivo ou de um argumento abdutivo. Talvez existam outras opções além destas três. Mas, o que quer que seja que entendemos por “justificação”, parece plausível dizer que as crenças que são defendidas irracionalmente não são casos de conhecimento (mesmo que elas sejam verdadeiras).
O que é o conhecimento?
Elliott Sober
sábado, 20 de setembro de 2025
Texto para análise/resumo André11A
Antes de discutirmos se temos ou não conhecimento, temos de tornar claro o que é o conhecimento. Podemos falar de conhecimento em três sentidos diferentes, mas apenas um nos vai interessar.
Considerem-se as seguintes afirmações acerca de um sujeito, ao qual chamarei S:
Elliott Sober
Exercícios:
Distinga os tipos de conhecimento expressos nas seguintes proposições:
1. Eu conheço o George Michael.
2. Sei andar de bicicleta.
3. Sei que a massa tem 10m de cozedura.
4. Sei que Montreal fica no Canadá.
5. Conheço a música de Amália Rodrigues.
quinta-feira, 29 de maio de 2025
Texto para resumo Matias 11C
Críticas: Terá Leibniz razão?
A primeira dificuldade da posição de Leibniz é que a sua resposta
ao problema lógico do mal limita-se a explicar genericamente, mas não em
particular, como os males são compatíveis com a divindade teísta. Considere-se
um caso particular de sofrimento: uma criança de cinco anos, com uma doença
grave e incurável, morre, depois de dois anos de sofrimento intenso. Não só
sofreu ela, como sofreram os pais e familiares da criança, assim como os seus
amigos; além disso, foram gastos recursos imensos que poderiam ter sido usados
para fazer coisas criativas, como pintar quadros, praticar desportos ou
escrever sonatas. Leibniz não nos diz em pormenor qual é o bem maior do qual
todo este sofrimento é uma componente fundamental. Claro que podemos imaginar
alguns desses bens: o estoicismo da própria criança, a abnegação dos pais e
familiares, o profissionalismo e empatia profunda de médicos e enfermeiros.
Contudo, é pura e simplesmente falso que, do nosso ponto de vista, estes bens
superem o mal daquele sofrimento — basta pensar que nenhum progenitor que não
seja perverso provocaria aquela doença no seu filho só porque daí resultam
alguns bens.
Esta dificuldade, porém, tem uma resposta óbvia da parte de
Leibniz. Claro que não sabemos em pormenor quais são os bens maiores que fazem
parte dos males que nos parecem gratuitos, diria ele; não o sabemos porque
somos limitados. Porém, dado que se prova facilmente que a divindade teísta é
logicamente incompatível com males gratuitos, levar a sério a existência dessa
divindade obriga a levar a sério a ideia de que não há realmente males
gratuitos. Esta ideia tem de ser levada a sério, por mais que isso nos pareça
estranho e por mais que sejamos incapazes de explicar em pormenor que bens são
esses que são constituídos por males aparentemente gratuitos. Tem de ser levada
a sério porque não há outra maneira de tornar a divindade teísta compatível com
o mal.
A primeira dificuldade recebe uma resposta óbvia, e perfeitamente
razoável, mas acaba por levantar uma dificuldade muitíssimo mais importante e
aparentemente fatal.
Muito humildemente, Leibniz considera que somos demasiado
limitados para saber em pormenor quais são os bens que superam e tornam
necessários os males evidentes. Porém, se somos limitados para saber isso, também
somos limitados para saber se Deus existe ou não. É incoerente, ou pelo menos
arbitrário, aceitar que não há a possibilidade de erro quando consideramos que
sabemos que Deus existe, mas que somos demasiado limitados para saber quais são
os bens que dão sentido aos males e os anulam. Ou somos demasiado limitados nos
dois casos, ou em nenhum, porque é tão difícil saber se Deus existe, como
difícil é saber quais são os bens que superam e anulam os males evidentes, caso
Deus exista.
Em suma, a resposta de Leibniz ao problema do mal parece
epistemicamente incoerente, ou pelo menos arbitrária.
Desidério
Murcho in O estado da Arte
Resumo de texto Laura 11C
Leibniz (na Teodiceia) encarregou-se de
defender um Criador acusado de crimes sem paralelo. A sua defesa reside em dois
pontos. O primeiro é que o acusado não podia ter agido de outra forma. Como
qualquer outro agente, estava limitado às possibilidades que tinha à Sua
disposição. O outro ponto invoca o argumento de todas as ações do Criador
acontecerem para o melhor, de facto. Uma parte da defesa é uma investigação às
causas das ações do acusado, enquanto a outra tem a ver com a verdadeira
natureza das suas consequências no mundo. É aqui que as teses de Leibniz
parecem não só anteriores à experiência, mas nitidamente imunes a ela. Para
esse efeito, deixa bem claro que qualquer facto, por horrível que seja, é
compatível com a tese deste mundo ser o melhor dos mundos possíveis.
A afirmação de Leibniz não é uma teoria sobre a bondade deste mundo; diz-nos
simplesmente que nenhum outro mundo teria sido melhor. Aqueles que tentaram
contradizê-lo terão como resposta que não sabem o suficiente para o fazer, o
que será certamente verdade. (…)
A defesa da justiça divina feita por Leibniz depende da divisão de
toda a nossa aflição em mal metafísico, natural e moral. Será esta classificação,
associada à hipótese de haver uma relação causal entre aqueles males, que nos
parecerá violentamente necessitada de defesa. Para Leibniz, o mal metafísico é
uma degeneração inerente ao limite da(s) substância(s) de que o mundo é feito.
O mal natural é a dor e o sofrimento que sentimos nele. O mal moral é o crime
pelo qual o mar natural é a punição inevitável. A suposição de o mal moral e
natural terem uma relação de causa efeito nunca foi sujeita por Leibniz a uma
pesquisa minuciosa. (…)
Há muito tempo, a vida era como devia ser. A terra era um jardim
onde tudo era bom. A fome era saciada sem esforço; as crianças nasciam sem dor.
Não conhecíamos morte, nem vergonha, nem ruína. Se tivéssemos de conceber um
mundo, não o faríamos assim?
Se as coisas deviam ser desta maneira, alguma coisa deve explicar
como elas são. A ideia de que o problema foi causado pelos pecados dos nossos
antepassados não depende do que eles fizeram. Lamentarmos que provar o tipo
errado de fruta tenha sido suficiente para uma sentença de morte pender sobre a
cabeça de todos os descendentes, é falhar a questão filosófica essencial, e as
tentativas cristãs de fazer aquela ação parecer pior do que foi, são vãs. Uma
coisa trivial parece a explicação mais apropriada. O que conta, em primeiro
lugar, não é a justiça da relação entre o que eles fizeram e o que sofreram,
mas se deve haver alguma relação. Porque acontecem as coisas más? Porque se
fizeram as coisas más? Mais vale ter alguma explicação causal do que permanecer
no escuro. Relacionar o pecado com o sofrimento é separar os males do mundo em
males morais e naturais, e criar desse modo um contexto para perceber as
atribulações humanas.
Susan
Neiman, O mal no pensamento moderno, Gradiva, Lx, 2005, p.37 e 38
domingo, 25 de maio de 2025
Texto para resumo Rafael 11C
Pascal, Pensamentos
Examinemos, pois, esse ponto, e digamos: Deus é, ou não é. Mas, para que lado penderemos? A razão nada pode determinar ai. Há um caos infinito que nos separa. Na extremidade dessa distância infinita, joga-se cara ou coroa. Que apostareis? Pela razão, não podeis fazer nem uma nem outra coisa; pela razão, não podeis defender nem uma nem outra coisa.
Não acuseis, pois, de falsidade os que fizeram uma escolha, pois nada sabeis disso. "Não: mas, eu os acusarei de terem feito, não essa escolha, mas uma escolha; porque, embora o que prefere coroa e o outro estejam igualmente em falta, ambos estão em falta: o justo é não apostar".
Sim, mas é preciso apostar: isso não é voluntário; sois obrigados a isso; (e apostar que Deus é, é apostar que ele não é). Que tomareis, pois? Vejamos, já que é preciso escolher, vejamos o que menos vos interessa: tendes duas coisas que perder, o verdadeiro e o bem, e duas coisas que empenhar, vossa razão e vossa vontade, vosso conhecimento e vossa beatitude; e vossa natureza tem duas coisas que evitar, o erro e a miséria. Vossa razão não é mais atingida, desde que é preciso necessariamente escolher, escolhendo um dentre os dois. Eis um ponto liquidado; mas, vossa beatitude?
Pesemos o ganho e a perda, preferindo coroa, que é Deus. Estimemos as duas hipóteses: se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, nada perdereis. Apostai, pois, que ele é, sem hesitar. Isso é admirável: sim, é preciso apostar, mas, talvez eu aposte demais.
Vejamos. Uma vez que é tal a incerteza do ganho e da perda, se só tivésseis que apostar duas vidas por uma, ainda poderíeis apostar. Mas, se devessem ser ganhas três, seria preciso jogar (desde que tendes necessidade de jogar) e seríeis imprudente quando, forçado a jogar, não arriscásseis vossa vida para ganhar três num jogo em que é tamanha a incerteza da perda e do ganho. Há, porém, uma eternidade de vida e de felicidade; e, assim sendo, quando houvesse uma infinidade de probabilidades, das quais somente uma fosse por vós, ainda teríeis razão em apostar um para ter dois, e agiríeis mal, quando obrigado a jogar, se recusásseis jogar uma vida contra três num jogo em que, numa infinidade de probabilidades, há uma por vós, havendo uma infinidade de vida infinitamente feliz que ganhar. Mas, há aqui uma infinidade de vida infinitamente feliz que ganhar, uma probabilidade de ganho contra uma porção finita de probabilidades de perda, e o que jogais é finito. Jogo é jogo: sempre onde há o infinito e onde não há infinidade de probabilidades de perda contra a de ganho, não há que hesitar, é preciso dar tudo; e, assim, quando se é forçado a jogar, é preciso renunciar à razão, para conservar a vida e não arriscá-la pelo ganho infinito tão prestes a chegar quanto a perda do nada.
quinta-feira, 22 de maio de 2025
Matriz 4º teste 11º C – 30 maio 25
Este elemento de avaliação é composto por DOIS TESTES, cada um é avaliado de 0 a 20 valores. Cada teste avalia competências diferentes:
O 1º Teste avalia a competência do domínio dos conceitos - Conceptualização - que vale 30% na avaliação final.
O 2º Teste destina-se a avaliar as competências de Problematização e Argumentação que valem 45% na avaliação final.
Estrutura e cotações:
1º Teste – Conceptualização - Total – 200 Pontos – Grupo I -10 questões de escolha múltipla (10x15 pontos=150 pontos); Grupo II - 2 questões de definição de conceito (2x25 pontos=50 pontos)
2º Teste – Problematização e Argumentação - Total -200 Pontos - Grupo I – Duas questões de argumentação (25 + 25); Grupo II - Três questões de problematização e argumentação (25 + 40 + 25); Grupo III - Uma questão de análise de texto e uma questão de construção argumentativa ( 30+ 30);
Conteúdos/Competências:
Filosofia da Arte e filosofia da religião
Filosofia da arte
Formular o problema da definição de arte, justificando a sua importância filosófica.
Enunciar as teorias essencialistas e não essencialistas.
Distinguir teorias essencialistas de teorias não essencialistas.
Clarificar os conceitos, teses e argumentos das cinco teorias da arte: representacionista, expressivista, formalista, institucional e histórico-intencional.
Analisar criticamente as 5 teorias de definição de arte, apresentando e justificando as respetivas objeções e contra exemplos.
Filosofia da Religião
Formular o problema da existência de Deus, justificando a sua importância filosófica
Explicitar o conceito teísta de Deus.
Enunciar os argumentos ontológico (Anselmo), cosmológico e teleológico (Aquino) e teleológico (W.Palley)
Compreender os argumentos ontológico (Anselmo), cosmológico e teleológico (Aquino), e teleológico (W.Palley)
Analisar criticamente os argumentos ontológico, cosmológico e teleológico, enunciando e justificando as respetivas objeções.
Definir “Fideísmo”.
Apresentar “ A aposta de Pascal” como aposta fideísta.
Distinguir o fideísmo radical de Kierkegaard do fideísmo moderado de Pascal.
Colocar objeções ao fideísmo.