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Aulas- 11ºAno
OLÁ a Todos! Aqui estão alguns materiais para apoiar os vossos trabalhos filosóficos! Esperemos que sejam úteis!
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Texto para resumo/análise António 11C
Kwame Anthony Appiah,Thinking it Through: An introduction to contemporary philosophy, Oxford University Press
Texto resumo análise Laura Tung
Críticas à Filosofia Cartesiana
O círculo cartesiano
O cogito, só por si, dificilmente poderia constituir um fundamento sólido para o conhecimento. De facto, é a existência de Deus que garante a Descartes que não se engana quando pensa clara e distintamente. Mas, por outro lado, parece que Descartes só pode saber que Deus existe porque compreende clara e distintamente a Sua existência, a existência de um ser perfeito.
Se este é o argumento de Descartes, como pensam alguns críticos, então é falacioso, pois trata-se de um argumento circular: para saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras, tenho primeiro de saber que Deus existe; mas, para saber que Deus existe, tenho primeiro de saber que as ideias claras e distintas são verdadeiras.
Será que da ideia da perfeição se segue que existe um ser perfeito?
A segunda crítica que referiremos aqui questiona a validade da demonstração cartesiana da existência de Deus a partir da ideia de causalidade.
Vimos anteriormente Descartes argumentar que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito; mas, para alguns críticos, esta ideia está longe de ser clara e distinta. Quem nos garante que não é ainda o génio maligno a manipular a nossa mente, e a enganar-nos quando pensamos que a ideia de perfeição só pode ter sido causada por um ser perfeito? Na verdade, Descartes ainda não afastou completamente a hipótese do génio maligno.
E, afinal, que razões temos para acreditar que a ideia de perfeição tem de ser causada por um ser perfeito? Teremos sequer razões para acreditar que tal ideia tem de ser causada? Posso ter a ideia de uma pessoa perfeitamente pontual, por exemplo. Será que esta ideia exige uma causa perfeitamente pontual? Isto não parece fazer sentido. Talvez a ideia de uma pessoa perfeitamente pontual acabe por ser a definição de uma pessoa perfeitamente pontual. Mas a definição de uma pessoa perfeitamente pontual é uma ideia que posso ter sem jamais ter encontrado tal pessoa, ou mesmo que tal pessoa não exista (ver Simon Blackburn, Pense: Uma Introdução à Filosofia, Lisboa, Gradiva, 2001, p. 43).
Parece, pois, que Descartes não conseguiu demonstrar satisfatoriamente a existência de Deus; e, se não conseguiu demonstrar satisfatoriamente a existência de Deus, então o cogito não é garantia suficiente de um conhecimento à prova de erro. Por isso, alguns filósofos pensam que Descartes não conseguiu resolver satisfatoriamente o problema e que, se queremos refutar definitivamente o céptico, teremos de encontrar outros fundamentos para o conhecimento.
É desse modo que pensam os fundacionalistas clássicos como Locke, Berkeley e Hume.
Artur Polónio
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Texto para resumo Sofia 11C
" — O que é que entendes por “sistema filosófico”?
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Matriz para o 1º teste de 11ºAno. 8 NOVEMBRO 2024
a. A epistemologia. (Definir e problematizar)
Estrutura e cotações
Competências Gerais
Grupo 1 - CONCEPTUALIZAÇÃO
sábado, 26 de outubro de 2024
Texto para resumo Madalena ou Matias 11C
O Cogito
Alguns vêem no Cogito não a conclusão de um argumento, mas uma espécie de descoberta epistémica: uma verdade indubitável na qual ele tropeça. Outros preocupam-se em saber se Descartes pode ter direito ao ‘Eu’ presente no Cogito. Não terá ele de direito apenas a qualquer coisa de menos, a dizer somente que o pensamento ocorre e não que quem o pensa é o próprio Descartes?
O círculo cartesiano
No entanto, Descartes tenta ir para a frente, olhando para novas verdades dentro da sua mente. Pensa um pouco acerca da natureza da dúvida e conclui que a dúvida é uma forma de imperfeição, em comparação com o conhecimento. A reflexão sobre a própria ideia de perfeição condu-lo a uma das várias provas da existência de Deus. Dada a natureza das suas várias dúvidas, Descartes sabe que não é um ser perfeito. Não obstante, tem a ideia de perfeição e essa ideia não lhe pode ter vindo de si mesmo ou de qualquer ser imperfeito. Pode apenas vir de um ser perfeito, nomeadamente, de Deus. Esta linha de pensamento conduz a uma versão do argumento ontológico de Anselmo. A ideia que Descartes tem de Deus é a de um ser com todas as perfeições. A existência é uma forma de perfeição; portanto, Deus tem de existir. Pensar em Deus como não existindo é como pensar num triângulo sem três lados. Assim como possuir três lados está no conceito de triangularidade, existência está no conceito de Deus. Se compreendemos bem a ideia de Deus, temos de aceitar que Deus existe.
O engano, nota Descartes, é uma forma de imperfeição e, por isso, conclui que Deus não pode ser enganador. Logo, podemos confiar nas nossas percepções claras e distintas; não somos sistematicamente enganados e a verdade tem de estar ao alcance das nossas capacidades. Reconstruir um sistema de crenças enraízado na percepção clara e distinta é a tarefa [seguinte].
Muitos notaram nesta linha de argumento um círculo demasiado fechado. Chegamos ao conhecimento de que Deus existe e não é enganador apenas porque aceitámos uma série de percepções claras e distintas. Sabemos que as nossas percepções claras e distintas são fiáveis porque Deus existe e não é enganador. Mas não depende a nossa fé nas percepções claras e distintas da prova de que Deus existe e não pressupõe essa prova a veracidade das nossas percepções claras e distintas?
O problema (…) é o de que o conhecimento parece ser uma coisa frágil. Descartes tem certamente sucesso na parte negativa do seu projecto, arrasando os fundamentos do conhecimento com os argumentos cépticos (…). No entanto, o seu esforço para erguer tudo a partir do nada constitui uma espécie de falhanço. Mas o seu objectivo principal, o de mostrar que uma compreensão científica do mundo é possível é algo que nós, modernos, tomamos como adquirido demasiado facilmente.
James Garvey, The Twenty Greatest Philosophy Books. London & New York: Continuum, 2006.
Trad. Carlos Marques.
sábado, 19 de outubro de 2024
Texto para resumo Maria Palhano 11C
O trabalho mais conhecido de Descartes, o Discurso do Método – o seu título completo é Discurso do Método Para Conduzir Adequadamente a Razão e Procurar a Verdade nas Ciências – está escrito num estilo atraente e claro. Pode parecer que aquilo que ele escreveu é mais simples e mais óbvio do que é na realidade, por isso temos de considerar aquilo que ele escreveu de modo cuidadoso. Eis uma passagem da quarta parte do Discurso do Método, publicado em 1637, na qual ele define de modo muito claro a sua perspectiva acerca da natureza do seu próprio eu (self):
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
Texto para resumo Margarida 11C
[…] encontrava-me embaraçado com tantas dúvidas e erros que me parecia não ter tido outro proveito, ao tentar instruir-me, senão o de ter descoberto cada vez mais a minha ignorância. E, no entanto, estive numa das escolas mais célebres da Europa…
E, enfim, o nosso século parecia-me tão florescente e fértil de bons espíritos quanto qualquer um dos precedentes. Por isso, tomei a liberdade de tomar o meu juízo como universal, concluindo que não há nenhuma doutrina no mundo que fosse como até então me fizeram crer.
A resposta de Descartes a esta situação foi procurar os fundamentos sobre os quais a verdade podia ser assegurada. Por isso, nas suas Meditações Sobre Filosofia Primeira, ele faz uso de um método de dúvida radical, cujo fim é o de estabelecer pelo menos alguma crença que possa então servir como alicerce para o conhecimento. A dúvida radical significa apenas isso. Como diz Descartes, 'A mais pequena dúvida será suficiente para me fazer rejeitar qualquer das minhas crenças.'
O argumento de Descartes é um dos mais famosos na história da filosofia. Ele mostra que nos podemos enganar acerca de certos dados dos sentidos; que é possível colocar toda a nossa experiência dos sentidos sob dúvida - podemos, por exemplo, estar a sonhar sem o saber; e, de modo mais radical, que é possível que nada exista para além das nossas experiências sensíveis - podemos ter sido iludidos por um demónio maligno.
Contudo, este processo também mostra que há uma crença renitente. Por mais que apliquemos o método da dúvida, não é possível duvidar de que existimos. O próprio facto de se duvidar significa que tem de haver um 'Eu' que está a duvidar. É isto o famoso cogito de Descartes:
Mas persuadi-me de que não havia nada no mundo, nenhum céu, nenhuma terra, nenhuns espíritos, nenhuns corpos. E não me persuadi também de que eu próprio não existia? Pelo contrário, se me persuadi de alguma coisa, eu existia com certeza. […] De maneira que, depois de ter-se pesado e repesado muito bem tudo isto, deve por último concluir-se que esta proposição Eu sou, eu existo é necessariamente verdadeira sempre que proferida por mim ou concebida pelo espírito.
Descartes, porém, tem agora um problema. Tendo estabelecido a existência de uma entidade pensante (se realmente foi estabelecida), como recupera o resto do mundo? A resposta, de modo breve, é que não é capaz de o fazer; pelo menos, de modo a satisfazer um filósofo dos nossos tempos. A sua tentativa envolve o emprego de uma versão do argumento ontológico com o objectivo de provar a existência de Deus, argumentando depois que, como Deus não é enganador, não somos sistematicamente enganados sobre as coisas que percebemos claramente. É razoável assim retomar algumas das nossas crenças acerca do mundo exterior.
Ophelia Benson & Jeremy Stangroom, Why Truth Matters (London, 2006, pps. 26-27). Tradução Carlos Marques.
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
Texto para resumo/análise Leonardo 11C
O 'método da dúvida' de Descartes implica pôr de lado qualquer crença ou
conhecimento que admitam a mais pequena dúvida, por mais improvável ou
absurda que essa dúvida possa ser, no intuito de ver se resta alguma
coisa. Se restar alguma coisa é precisamente porque é invulnerável à
dúvida: é certo. Uma vez que o objectivo de Descartes nas Meditações
é o de descobrir o que pode ser conhecido com certeza, o método da
dúvida é crucial, pois constitui o caminho para o seu objectivo. A
tentativa de considerar cada uma das suas crenças ou pretensões de
conhecimento e submetê-las a escrutínio seria uma tarefa impossivelmente
longa, de modo que Descartes teve necessidade de uma estratégia geral
para pôr de lado todo o corpo de crenças dubitáveis. Procurou alcançá-la
utilizando argumentos cépticos.
É preciso notar que o uso de argumentos cépticos por parte de Descartes
não faz dele um céptico. Longe disso. Ele usa-os meramente como um
instrumento heurístico para mostrar que nós possuímos efectivamente
conhecimento. Ele é, portanto, um 'céptico metódico' e não um 'céptico
problemático', entendo-se por esta última expressão alguém que pensa que
os problemas colocados pelos cépticos são sérios e colocam uma genuína
ameaça à nossa ambição de adquirir conhecimento. Acontece que, desde o
tempo de Descartes, muitos filósofos pensaram que ele não produziu uma
resposta adequada às dúvidas cépticas que ele próprio levantou e que,
por conseguinte, o cepticismo é deveras um problema. O próprio Descartes
não pensava de todo assim.
As considerações cépticas que Descartes usou (…) merecem aqui
referência. A primeira delas é a de recordar que os sentidos por vezes
nos conduzem no caminho do erro. Equívocos perceptivos, ilusões e
alucinações podem levar, e ocasionalmente levam, a crenças falsas. Isto
pode fazer com que não depositemos confiança no que pensamos conhecer
através da experiência dos sentidos, ou, no mínimo, que sejamos
cautelosos antes de confiarmos nela como fonte de verdade. Não obstante,
diz Descartes, haverá muita coisa em que eu acredito com base na minha
experiência - tal como, por exemplo, que tenho mãos e que estou a
segurar um pedaço de papel com elas, que estou sentado numa poltrona
defronte de uma lareira, etc. e que duvidar disto seria uma loucura,
mesmo dada a falta de fiabilidade dos sentidos. Mas, apesar disso, diz
Descartes, continuaria a haver muita coisa em que eu acreditaria com
base na minha experiência actual - como, por exemplo, que tenho mãos e
que estou a segurar com elas uma folha de papel, que estou sentado numa
poltrona em frente da lareira, e assim por diante, coisas das quais
seria uma loucura duvidar, não obstante a frequente falta de fiabilidade
dos sentidos.
Mas será mesmo loucura duvidar destas coisas? Não, diz Descartes - e
aqui ele vem com o seu segundo argumento - porque muitas vezes sonho
quando durmo e se estou agora a sonhar que estou sentado em frente à
lareira segurando um pedaço de papel, o pensamento de que assim estou é
falso. Para estar certo de assim estar teria de poder excluir a
possibilidade de estar meramente a sonhar com isso. Como pode isso ser
feito? Parece difícil, senão impossível."
A. C. Grayling. Descartes (London: Pocket Books, 2005), pp. 281-4. Trad. Carlos Marques.
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Texto para resumo João 11C
Os argumentos dos céticos
"O ceticismo, na sua versão mais extrema, é a ideia de que o conhecimento não é possível. Os céticos podem apresentar o seguinte argumento a favor da sua posição:
Se S sabe que P, então não é possível que S esteja enganado acerca de P.
É possível que S esteja enganado acerca de P.
Portanto, S não sabe que P.
Este argumento é um modus tollens e tem, por isso, forma válida. Se as premissas forem verdadeiras, o argumento é sólido e a conclusão verdadeira. A primeira premissa é meramente a expressão da condição que uma proposição tem de estar justificada de modo a garantir a sua verdade para que possa ser conhecimento. Admitamos, por isso, que é verdadeira. E a segunda? Como prova o cético esta premissa? É possível defendê-la apelando, por exemplo, aos erros e ilusões dos sentidos ou às limitações da memória e da razão. Mas também é possível defendê-la com um argumento mais geral que vise mostrar que nunca podemos justificar as nossas crenças e, portanto, que é sempre possível que estejamos enganados acerca delas.
Para vermos como, pensemos numa qualquer afirmação de cuja verdade julguemos estar absolutamente certos, como, por exemplo, que “A Lua é o único satélite natural da Terra”, ou que “Portugal situa-se na Europa”. A questão crucial é esta: que justificação temos para estarmos certos da sua verdade? Temos de ter uma justificação, claro. Caso contrário essas crenças não constituem conhecimento. Podemos justificar as nossas crenças dizendo, por exemplo, que as aprendemos na escola com os nossos professores de Geografia ou de Ciências da Natureza, que, dada a sua formação, são especialistas no assunto. O que fizemos, deste modo, foi justificar uma crença com outra crença. Mas isto, como é óbvio, levanta uma outra questão: que justificação temos para esta nova crença? Esta crença está, afinal de contas, numa posição similar à primeira. Se essa precisa de uma justificação, porque sem ela não constitui conhecimento, o mesmo se passa com esta. E, evidentemente, se esta não constitui conhecimento, também não pode justificar a primeira. Uma forma de justificar esta segunda crença é, claro, recorrer a uma outra da qual ela possa derivar. É fácil ver, no entanto, que o mesmo problema se colocará em relação a essa nova crença. Também ela precisará de uma justificação. Cada afirmação precisa de uma justificação e a justificação de uma nova justificação, numa regressão sem fim. Desse modo, parece, nem a primeira nem qualquer das outras crenças está justificada.
Há alguma forma de evitar esta consequência? Uma possibilidade é parar numa dada crença e não recuar mais na cadeia das justificações, deixando essa crença sem qualquer justificação. A outra é recuar nas nossas justificações até, eventualmente, voltarmos a uma crença que já usámos como justificação, raciocinando em círculo. Por que razão devemos acreditar no professor de Geografia ou de Ciências da Natureza? Porque o que ele diz está de acordo com o manual da disciplina. E por que devemos acreditar nesse manual? Porque foi escrito por especialistas. E como sabemos que são especialistas? Porque se não o fossem, não escreveriam manuais.
Estas três possibilidades em conjunto constituem o chamado trilema de Agripa, do nome do cético grego do século I a quem a tradição atribui a sua formulação. De acordo com este trilema, quando pretendemos justificar uma crença por intermédio de outras crenças estão disponíveis apenas três alternativas:
- Remontar infinitamente na cadeia de justificações;
- Raciocinar em círculo;
- Parar numa crença não suportada.
Nenhuma destas três possibilidades, afirmam os céticos, é melhor que a outra. Parar arbitrariamente na cadeia de justificações e raciocinar em círculo não é uma forma mais apropriada de justificar as nossas crenças do que regredir ao infinito. E como não existe outra alternativa, eles concluem que não é possível justificar nenhuma das nossas crenças e que, portanto, o conhecimento não existe."
Álvaro Nunes, texto retirado de https://criticanarede.com/anunesoproblemadoceticismo.html
domingo, 6 de outubro de 2024
sábado, 5 de outubro de 2024
Texto para análise/resumo Joana Espinho 11C
O que é o ceticismo?
0 argumento que acabamos de examinar - o de que não
conhecemos nada sobre o mundo que nos cerca - chama-se argumento cético. Os céticos
sustentam que, na verdade, não sabemos o que pensamos que sabemos. E a
afirmação de que não sabemos nada sobre o mundo que nos cerca chama-se ceticismo
sobre o mundo exterior.
Ceticismo "versus" senso comum
A visão do senso comum, é claro, sustenta que de
facto conhecemos o mundo exterior. Na verdade, se resolvesse dizer,
"não sei se as árvores existem", especialmente se estivesse a olhar
para uma árvore em plena luz do dia, os outros achariam que tinha enlouquecido.
Mas os céticos achariam que estava certo. Não sabemos
se árvores existem. 0 senso comum está enganado.
Outros exemplos de enganos do senso comum
Os argumentos dos céticos podem deixar algumas pessoas muito
irritadas. Sabermos que as árvores existem é uma das nossas crenças mais
básicas - como costumo dizer, sentimos que é isso é apenas senso comum. Existem
muitas crenças que abandonaríamos com muita satisfação, caso alguém conseguisse
demonstrar que estamos errados. Mas, quando se trata das crenças mais
arraigadas do nosso senso comum - como a crença de que sabemos que as árvores
existem -, não ficamos nada satisfeitos por abandoná-las.
Na verdade, ter as nossas crenças mais elementares ameaçadas
pode ser uma experiência bem desconfortável, especialmente quando não vemos
como defendê-las. Nessas ocasiões muitos ficam enraivecidos. Dizem que é um
disparate o que o filósofo está a dizer. "Isso é uma completa
estupidez", gritam. "Claro que eu sei que as árvores
existem." E retiram-se, ofendidos.
Mas o filósofo pode apontar que em muitos outros casos se
comprovou que o senso comum estava errado. Por exemplo, noutros tempos, o senso
comum afirmava que a Terra era plana. As pessoas simplesmente achavam que era
óbvio que a Terra fosse plana. Afinal, parece plana, não parece? Os marinheiros
até tinham medo de chegar ao fim da Terra e cair. Também nessa época algumas
pessoas ficavam muito irritadas quando a sua crença comum era desafiada.
"Não seja ridículo", gritavam. "É claro que
a Terra é plana." E saíam a bater os pés. Hoje, porém, sabemos que a Terra
não é plana. 0 senso comum estava enganado.
O que os céticos NÃO afirmam
Vale a pena deixar claro o que os céticos não afirmam,
para não ficarmos confusos. Em primeiro lugar, os céticos não afirmam saber que
nós ou eles somos cérebros numa cuba. Só afirmam que ninguém
pode saber de maneira alguma se alguém é um cérebro numa cuba.
Em segundo lugar, eles não afirmam apenas que
não podemos ter a certeza absoluta de que o mundo que vemos é
real ou virtual. Afirmam muito mais do que isso. Afirmam que não temos razão
alguma para acreditar que o mundo que vemos é real e não virtual.
Em terceiro lugar, eles não vão tão longe a ponto de afirmar
que ninguém pode saber nada. Afinal, eles próprios reivindicam
saber uma coisa: que ninguém pode conhecer o mundo exterior.
Estamos então diante de um enigma difícil. Por um lado, a
visão do senso comum é que sabemos que as árvores existem. Nós não queremos de
facto abrir mão dessa visão do senso comum (na verdade, nem estou certo de que
poderíamos abrir mão dela mesmo que quiséssemos). Por outro, o cético tem um
argumento que parece mostrar que a nossa visão do senso comum está errada: nós
não sabemos que as árvores existem. Qual das visões está certa?
Apesar da roupagem moderna que eu lhe dei, este enigma é na
verdade bem antigo. É de facto um dos enigmas filosóficos melhor conhecidos.
Ainda hoje, nas universidades do mundo inteiro, os filósofos se debruçam sobre
ele. E ainda não conseguiram decidir se os céticos têm razão. Eu devo admitir:
não sei se os céticos têm ou não razão. Ao longo dos séculos, muitos filósofos
tentaram lidar com o ceticismo. Procuraram demonstrar que o senso comum está
certo: nós conhecemos efetivamente afinal o mundo que nos cerca. Algumas das suas
tentativas para derrotar os céticos são muito perspicazes. Mas será que alguma
delas funciona mesmo? Examinemos agora uma dessas tentativas.
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
Texto para resumo Inês Ferreira 11C
Justificação
Podemos distinguir dois tipos de crenças: a mediata e a não mediata. Crenças mediatas são aquelas que adquirimos por intermédio de alguma estratégia que começa nas crenças que já possuímos. A inferência é uma estratégia (se bem que não a única); nós inferimos que vai chover a partir das crenças de que estamos a meio da manhã e que o céu está a escurecer. As crenças mediatas levantam a questão de saber se temos direito à estratégia que adotámos — se é uma estratégia que fazemos bem em usar. As crenças não mediatas são as que adotamos sem que, para as termos, seja necessário partirmos de outras crenças que já temos; e suscitam problemas diferentes, que dizem respeito à fonte do nosso direito em acreditar. Eu abro os olhos e, em razão do que vejo, acredito imediatamente que há um livro à minha frente. Se estou a agir bem ao adotar esta crença, ela justifica-se (ou tenho uma justificação para a adotar). Esta atenção dada à justificação é um modo de expressar a ideia de que a epistemologia é normativa. Então o que faz, neste caso, uma crença ser justificada?
Há várias respostas. Uma é a resposta fiabilista: a crença justifica-se porque é o resultado de um processo fiável. Outra é a resposta coerentista: a crença justifica-se porque o meu mundo é mais coerente com ela do que seria sem ela. Uma terceira é a alegação fundacionalista clássica, que entende que a crença não é de fato não-mediata, mas inferida de uma crença sobre como as coisas me aparecem neste preciso momento. Se esta última for verdadeira, somos lançados de novo em duas questões. A primeira consiste em saber se e como a crença sobre como as coisas me parecem neste preciso momento se justifica. A segunda questão reside em saber se a inferência extraída da primeira crença se justifica. Nós poderíamos perguntar, então, que princípio de inferência está a ser usado. Suponha-se que é este: se as coisas me aparecem de determinada maneira, são provavelmente dessa maneira. O que torna isto suficiente para nos levar a supor que agimos bem ao usar este princípio?
Jonathan Dancy, Problemas da epistemologia
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Texto para análise/resumo Filipa 11C
DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE CONHECIMENTO - Teoria tradicional do conhecimento
1.Crença e Verdade
Devemos fazer notar duas ideias que fazem parte do conceito de conhecimento. Primeiro, se S sabe que p (que uma proposição é verdadeira), então tem de acreditar que p. Segundo, se S sabe que p, então p tem de ser verdadeira. O conhecimento requer tanto a crença quanto a verdade. Comecemos pela segunda ideia. As pessoas às vezes dizem que sabem coisas que mais tarde se revelam falsas. Mas isto não é saber coisas que são falsas, é pensar que se sabem coisas que, de facto, são falsas.
O conhecimento tem um lado subjectivo e um lado objectivo. Um facto é objectivo se a sua verdade não depende de como é a mente das pessoas. É um facto objectivo que a Serra da Estrela está 2 000 metros acima do nível do mar. Um facto é subjectivo se não é objectivo. O exemplo mais óbvio de um facto subjectivo é uma descrição do que acontece na mente de alguém.
Se uma pessoa acredita ou não que a Serra da Estrela está a 2 000 metros acima do nível do mar é uma questão subjectiva, mas se a montanha tem realmente essa propriedade é uma questão objectiva. O conhecimento requer tanto um elemento subjectivo como um elemento objectivo. Para que S conheça p, p tem de ser verdadeira e o sujeito, S, tem de acreditar que p é verdadeira.
2.Terceiro Requisito: Justificação
Apontei duas condições necessárias para o conhecimento: o conhecimento requer crença e requer verdade. Mas será que isto é suficiente? Será que estas duas condições não são apenas separadamente necessárias, mas também conjuntamente suficientes? é a crença verdadeira suficiente para o conhecimento?
Pensemos num indivíduo, Clyde, que acredita na história do Dia do Porco do Campo. Clyde pensa que se o Porco do Campo vir a sua própria sombra, a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que Clyde põe este princípio idiota em prática este ano. Ele tem informações que o fazem pensar que a Primavera virá mais tarde. Suponha-se que Clyde acaba por ter razão acerca deste facto. Se não existir nenhuma conexão lógica entre o facto de o porco do campo ter visto a sua própria sombra e o facto de a Primavera vir mais tarde, então Clayde terá uma crença verdadeira (a Primavera virá tarde), mas não terá conhecimento.
Que será então necessário, para além da crença verdadeira, para que alguém possua conhecimento? A sugestão mais natural é a de que o conhecimento requer dados de apoio, ou uma justificação racional. Note-se que ter uma justificação não é apenas pensar que se tem uma razão para acreditar em algo.
Que significa dizer que um indivíduo tem uma crença “justificada” na proposição p? Uma justificação pode ter a forma de um argumento dedutivo, de um argumento indutivo ou de um argumento abdutivo. Talvez existam outras opções além destas três. Mas, o que quer que seja que entendemos por “justificação”, parece plausível dizer que as crenças que são defendidas irracionalmente não são casos de conhecimento (mesmo que elas sejam verdadeiras).
O que é o conhecimento?
Elliott Sober