1ª PROVA DE AVALIAÇÃO DE
FILOSOFIA -11º Ano
Professora Helena Serrão -
Duração da prova: 90m –
Paço de Arcos, 5 novembro
de 2025
Este elemento de
avaliação é composto de dois testes, cada um é avaliado de 0 a 20 valores.
Cada teste avalia competências
diferentes: O primeiro teste avalia a competência do domínio dos conceitos: Conceptualização que vale 40% na avaliação final. O segundo teste destina-se a avaliar
as competências de Problematização e
Argumentação que valem 30% na avaliação
final.
Primeiro Teste – Conceptualização
• Grupo I - 10 questões de
escolha múltipla (10x14 pontos=140 pontos)
• Grupo II - 2 questões de
definição de conceitos (2x30 pontos=60 pontos) Total - 200 Pontos
Segundo Teste – Problematização e Argumentação
Quatro questões de
desenvolvimento. Todas as respostas exigem fundamentação. (1-60; 2-50; 3-60;
4-30 Pontos) Total = 200 Pontos
Competência
transversal: comunicação / correção escrita
Teste 1 - CONCEPTUALIZAÇÃO
Versão A
Grupo I
Escolha apenas a opção correta.
1. Considere as afirmações seguintes:
1.
Não há conhecimento inato, adquirido apenas pelo pensamento.
2.
É possível o conhecimento verdadeiro e indubitável.
3.
Todo o conhecimento é adquirido por meio da experiência.
De acordo com Descartes, as afirmações
(A) 1 e 3 são falsas e 2 é
verdadeira.
(B) 1 e 2 são
verdadeiras, 3 é falsa.
(C) 1 e 3 são
verdadeiras e 2 é falsa.
(D) 1, é falsa,
2 e 3 são verdadeiras.
2. Ao aplicar o método da dúvida, Descartes
pretende
(A) concluir
que as ideias claras e distintas são infalíveis.
(B) descobrir alguma crença que
seja indubitável.
(C) mostrar que
não há realmente um génio maligno.
(D) provar que
existe um ser perfeito e não enganador.
3. A forma de justificar as nossas crenças
é um problema epistemológico. Uma das formas de justificação apela à
consideração do processo através do qual as crenças foram adquiridas. A essa
forma de justificação chama-se:
(A)
Racionalismo aplicado.
(B) Fiabilismo da justificação.
(C) Fundacionalismo
epistémco.
(D) Coerentismo
da justificação.
4. Em qual das opções seguintes se
apresenta um exemplo de conhecimento “a priori”?
(A) A maçã é um
fruto da macieira.
(B) O todo é maior que as
partes.
(C) Algumas
pessoas casadas usam aliança.
(D) O meu nome
é Joana.
5. Considere as frases seguintes.
1. Um triângulo
tem três lados. 2. Todos os sólidos ocupam espaço.
É correto afirmar que:
(A) 1 exprime
conhecimento a posteriori; 2 exprime conhecimento a priori.
(B) ambas exprimem conhecimento
a priori.
(C) ambas
exprimem conhecimento a posteriori.
(D) 1 exprime
conhecimento a priori; 2 exprime conhecimento a posteriori.
6. Segundo Descartes, o que faz do cogito
uma crença que pode ser tomada como fundamento de todo o conhecimento é o facto
de tal crença
(A) provir de
uma impressão interna.
(B) ser obtida
a priori.
(C) ser
provavelmente verdadeira.
(D) se justificar a si mesma.
7.Acerca da fonte principal de onde provém
o conhecimento, podemos ser:
A. Céticos,
empiristas e críticos.
B. Vagabundos
de tudo.
C. Dogmáticos
ou Céticos.
D. Racionalistas ou Empiristas.
8. Qual dos seguintes argumentos não é um
argumento cético?
(A) O argumento
do sonho
(B) Regressão
infinita
(C) Génio maligno.
(D) Ilusões de
ótica.
9. Acerca da relação entre crença e
conhecimento, é correto afirmar que:
(A) Todas as
crenças são conhecimento mas nem todo o conhecimento é uma crença.
(B) As crenças
são falsas, mas o conhecimento é verdadeiro.
(C) Todo o conhecimento é uma
crença mas nem todas as crenças são conhecimento.
(D) Não podemos
acreditar naquilo que não conhecemos.
10. “Conheço a casa da Mariana” é uma
proposição que expressa um conhecimento
(A)
proposicional
(B) por contacto
(C) saber fazer
(D) não
expressa qualquer conhecimento
Grupo II
1. Descartes e outros filósofos procuraram
responder ao desafio cético. O que é o desafio cético?
O ceticismo é uma
posição filosófica que considera (na sua forma mais radical) que nenhum
conhecimento é possível e que devemos, por isso, suspender o juízo sobre todas
as coisas.
Consideram que há
razões para duvidar da verdade do conhecimento objetivo sobre o mundo e
apresentam três razões: a ilusão dos sentidos, a diversidade de opiniões e o
argumento “a priori” da regressão infinita da justificação.
2. O que é a “Regressão infinita”?
O argumento da
regressão infinita, é um argumento utilizado pelos céticos para pôr em causa a
justificação do conhecimento pois afirma que nenhum conhecimento está
justificado, logo, não pode haver conhecimento, visto que a justificação é uma
condição necessária para que este aconteça. O argumento parte do princípio de
que para justificar qualquer crença é preciso fazê-lo apelando a outra crença,
ora haverá sempre uma crença que é um ponto de partida e que não está
justificada, sendo assim não podemos confiar em nenhum conhecimento pois não
existe qualquer justificação última que suporte a cadeia de justificações.
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Versão B
2. Porque é o conhecimento uma crença
verdadeira e justificada?
A definição
tradicional de conhecimento coloca três condições necessárias para a definição; a necessidade de haver uma crença,
que essa crença seja verdadeira e que esteja bem justificada com razões. Essas
três condições são necessárias e nenhuma delas por si é suficiente. Porque é
necessário ter uma crença? Porque o conhecimento
corresponde a um estado mental em que se S sabe que P, então acredita nisso
que sabe. Seria contraditório afirmar que S sabe que P, e ao mesmo tempo não
acredita no que sabe. Exemplo: Sei que o mar tem ondas, mas não acredito nisso.
Portanto, saber P implica uma crença, S acredita em P.
Também é necessário que essa crença seja
verdadeira, porque o conhecimento não depende da convicção com que o
sujeito acredita em P conhecimento, há apenas um palpite, uma suposição ao
acaso. O conhecimento não é fruto do acaso, tem de estar apoiado por boas
razões.
Por outro lado, não
é suficiente ter apenas uma crença para ter conhecimento porque nem todas as
crenças são conhecimento, como por exemplo “Acredito em Extraterrestres”,
acreditar não é o mesmo que saber que existem. Também não é suficiente ter uma
crença verdadeira para ter conhecimento porque uma crença pode ser verdadeira
por acaso, e o conhecimento não pode ser por acaso, e por outro lado não é
suficiente ter uma boa justificação, podemos ter boas justificações para
acreditar em falsidades, depende dos nossos estados cognitivos. Aristóteles
tinha razões para acreditar que a Terra era plana, e a Terra não é plana.
(sendo P uma qualquer proposição) P tem que ser do mesmo modo como S acredita, o conhecimento é factivo.
Se, por outro lado,
esta crença em P não tem qualquer justificação, não há boas razões para
acreditar que P é verdadeira,
então, também não há conhecimento, há apenas um
palpite, uma suposição ao acaso. O
conhecimento não é fruto do acaso, tem de estar apoiado por boas razões.
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Teste 2 – Argumentação e problematização
Leia o texto com atenção e responda com objetividade e
clareza às questões formuladas. Justifique as suas afirmações.
“Mas, logo em seguida, percebi que, enquanto
eu queria assim pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que
pensava, fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo,
era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos
céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem
escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia que procurava “
René Descartes, O Discurso do Método
1. Partindo do texto, demonstre a importância
da expressão “Penso, logo existo” para o sistema de pensamento cartesiano.
- esclarecer o conceito de cogito:
- relacionar o conceito com o racionalismo cartesiano;
- fundamentar a sua importância para o sistema de pensamento
cartesiano;
Critérios de correção:
Referência
ao texto 15
Crença
básica que se autojustifica 15
Fundamento
“a priori” do conhecimento 15
Critério
de verdade (ideia clara e distinta) 15
Cenário de resposta:
No
texto, Descartes refere que a proposição “Eu sou, eu existo” é necessariamente
verdadeira sempre que proferida por mim ou concebida pelo espírito. “Quer isto
dizer que o Cogito é uma ideia inata e “a priori”, visto que pode nada existir
no mundo físico, nem tão pouco haver corpo, mas a evidência de que tudo isso é
fruto do meu pensamento torna esta proposição uma certeza e uma crença básica
visto que se autojustifica. Por mais que pense que não existo, continuo a
existir, pois continuo a pensar é, portanto, irrefutável e por isso pode constituir-se
como fundamento de todo o conhecimento.
Descartes
compreende, com o Cogito, que a verdade é um acordo da razão consigo própria,
uma ideia “a priori” que não necessita da experiência para ser aceite enquanto
verdade. Deste modo, o cogito é critério de todas as ideias verdadeiras. Só a
razão é o juiz do conhecimento e pode distinguir o verdadeiro do falso. Assim,
a partir de fundamentos seguros é possível deduzir com segurança outras
certezas e reconstruir o edifício das ciências unificando-as segundo o mesmo
critério. A ideia do cogito “Penso, logo existo” surge com clareza e distinção
de modo a ser de tal modo evidente que o pensamento só a poderia considerar
verdadeira, pois não poderia ser de outro modo.
São
três as consequências do cogito: Refuta o ceticismo, porque sendo uma crença
que se autojustifica refuta o argumento da regressão infinita. Permite um
fundamento racional para o conhecimento porque é uma crença “a priori”.
Constitui-se como critério de uma ideia verdadeira, isto é, uma ideia
intuitiva, evidente á razão (clara e distinta.
2. Será que a dúvida
cartesiana é um método adequado para encontrar um fundamento do conhecimento?
Na sua resposta, deve
− dizer em que consiste a dúvida cartesiana;
- discriminar rigorosamente as suas etapas:
- apresentar inequivocamente a sua posição;
− argumentar a favor da sua posição;
Critério de correção:
Princípio: considerar falso tudo o que seja duvidoso (não
evidente). (20)
Explicar os argumentos/etapas: Argumento da ilusão dos sentidos,
do sonho e do génio maligno. (30)
Cenário de resposta:
A dúvida metódica
constitui-se como um método para encontrar a verdade certa e inabalável.
Examina os fundamentos de todas as crenças de modo a julgar se são fracas ou
fortes. Assim, todos os fundamentos que forem duvidosos são excluídos do
conhecimento e considerados falsos.
A dúvida metódica
demonstra que nenhuma crença é suficientemente forte para ser considerada verdadeira, pois todos os fundamentos para obter conhecimento podem ser postos
em causa.
A dúvida caracteriza-se por ser universal, provisória,
metódica e hiperbólica.
Analisa os sentidos
e considera-os enganadores, e se enganam algumas vezes vamos supor que tudo o
que conhecemos através deles é falso (O céu, a terra e o corpo).
Depois examina a
certeza de haver um mundo objetivo fora da mente e conclui que também não se pode ter essa certeza pois no sonho também temos perceções
(argumento do sonho).
Por último duvida
dos seus raciocínios,
supondo a existência de um génio maligno que o engana
sempre que pensa (dúvida hiperbólica).
3. “Em seguida, tendo
refletido sobre aquilo que eu duvidava, e que, por consequência, o meu ser não
era totalmente perfeito, pois via claramente que o conhecer é perfeição maior
do que o duvidar, deliberei procurar de onde aprendera a pensar em algo mais
perfeito do que eu era; e conheci, com evidência, que devia ser de alguma
natureza que fosse de facto mais perfeita. “
René Descartes, Discurso do Método
No texto é colocada a
primeira premissa de um argumento importante. Que argumento e qual a sua
importância?
Na sua resposta deve:
- Expôr a premissa e o argumento;40
Tenho
ideia de que sou imperfeito porque conhecer é maior perfeição que duvidar.
Tenho, portanto uma ideia de perfeição. Essa ideia não pode ter origem em mim,
pois do imperfeito não se pode originar o perfeito, logo tem que ter como causa
um ser mais perfeito do que eu.
O
argumento da causa da ideia de perfeito – Sou imperfeito pois há mais
imperfeição em quem duvida do que em quem tem certezas. Qual a causa da ideia
de perfeição? Não posso ser eu porque sou imperfeito, também não pode ser a
natureza que não possui as perfeições que a minha ideia de perfeito tem, Só
pode ter sido posta em mim por um ser mais perfeito, pois repugna ao espírito
que algo perfeito possa derivar de algo menos perfeito. Esse ser só pode ter
todas as perfeições. Só pode ser Deus. Logo, Deus existe.
- Salientar a
importância epistemológica da conclusão do argumento.20
A
importância epistemológica desta conclusão é a de que demonstrando que existe
um ser perfeito cuja realidade foi demonstrada claramente pela razão, então
podemos afastar o génio maligno e confiar nos nossos raciocínios e podemos
também confiar que existe um mundo fora da mente e que apesar de não o podermos
conhecer com exactidão pelos sentidos ele tem uma realidade objetiva pois Deus
não nos iria enganar acerca das ideias que temos sobre as coisas. A ideia de
Deus e a sua existência permite a Descartes a saída do solipsismo do Cogito,
poderá ter a garantia de que as ideias claras e distintas são verdadeiras, que
o mundo fora da mente existe pois Deus não é enganador e portanto não iria
fazer-nos conceber algo que não existisse. Confere objetividade às ideias, isto
é, as ideias da mente correspondem realmente aos objetos fora da mente a que se
referem. Ao afastar o génio maligno, a existência de Deus fundamenta a verdade
do conhecimento matemático e de todo o conhecimento racional.
4. Atente no diálogo
seguinte.
Manuela – Sabes, Eurico, quanto dá 356 euros a dividir por
quatro pessoas? Eurico – Eu não sei, mas tenho aqui uma pequena calculadora de
bolso que sabe. Deixa ver: dá 89 euros. Manuela – E confias nessa calculadora?
Eurico – Claro que sim. O resultado dado pela calculadora está justificado,
porque é uma máquina programada por matemáticos competentes.
No diálogo anterior, o Eurico afirma que a calculadora sabe
quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas. Será que a calculadora o sabe? Justifique a sua resposta, tendo em
conta a análise tradicional do conhecimento.
Não, a calculadora não sabe quanto dá 356 euros a dividir
por quatro pessoas, pois, segundo a definição tradicional de conhecimento,
saber consiste num estado mental em que aquele que sabe, acredita no que sabe,
isto é, tem uma crença. O computador não tem estados mentais conscientes, logo
não sabe. Pode dar a resposta correta mas não o faz por uma convicção ou com a
adesão da sua consciência, fá-lo porque tem uma programação para fazer,
automaticamente, cálculos corretos, neste aspeto o computador não pensa, apenas
aplica o que foi programado para fazer às situações que foi programado para resolver.