sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Texto para resumo 11ºA (João Passos) e 11ºB (Leonor Arandes)


O que há de distintivo na ciência humana?

A ciência é um fenómeno biológico. A ciência surgiu do conhecimento pré-científico; é uma continuação bastante notável do conhecimento de senso comum, que por sua vez pode ser considerado uma continuação do conhecimento animal. (…) O que é que há de distintivo na ciência humana? Qual é a diferença-chave entre uma amiba e um grande cientista como Newton e Einstein? A resposta a esta pergunta é que a característica distintiva é a aplicação consciente do método crítico; (…) Só o método crítico explica o crescimento extraordinariamente rápido da forma científica de conhecimento, o extraordinário progresso da ciência. Todo o conhecimento pré-científico, animal ou humano, é dogmático; e a ciência começa com a invenção do método crítico não dogmático. (…)

A amiba evita o falibilismo: a sua expectativa faz parte dela própria e os portadores pré-científicos de uma expectativa ou de uma hipótese são frequentemente destruídos pela refutação da expectativa ou da hipótese. Todavia, Einstein tornou a sua hipótese objetiva. A hipótese é algo fora dele, e o cientista pode destruir a sua hipótese através da crítica, sem perecer com ela. Em ciência fazemos as nossas hipóteses morrer por nós.

Alcancei agora a minha própria hipótese, a teoria que tantos defensores da teoria tradicional da ciência rotularam de paradoxal. A minha principal tese é que aquilo que distingue a abordagem e o método científico da abordagem pré-científica é o método de tentativa de falibilismo. Cada tentativa de solução, cada teoria, é testada tão rigorosamente quanto nos é possível testá-la. Mas um exame rigoroso é sempre uma tentativa de descobrir as fraquezas existentes naquilo que está a ser examinado. O nosso teste às teorias é também uma tentativa de detetar as suas fraquezas. Testar uma teoria é, pois, uma tentativa de refutar ou falibilizar a teoria”

Karl Popper, A vida é aprendizagem, Lisboa, Edições 70, p. 20-26.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Texto para resumo 11ºA (Inês Pereira) e 11ºB (Leonor Pinheiro)


Falsificabilidade

Assim, segundo Popper, a ciência é uma sequência de conjeturas. As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por novas hipóteses quando são falsificadas. No entanto, esta maneira de ver a ciência suscita uma questão óbvia: se as teorias científicas são sempre conjeturais, então o que torna a ciência melhor do que a astrologia, a adoração de espíritos ou qualquer outra forma de superstição sem fundamento? Um não popperiano responderia a esta questão dizendo que a verdadeira ciência prova aquilo que afirma, enquanto a superstição consiste apenas em palpites. Mas, segundo a conceção de Popper, mesmo as teorias científicas são palpites — pois não podem ser provadas pelas observações: são apenas conjeturas não refutadas.

Popper chama a isto o “problema da demarcação” — qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença? A sua resposta é que a ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas. As leis de Newton, por exemplo, dizem-nos exatamente onde certos planetas aparecerão em certos momentos. E isto significa que, se tais previsões fracassarem, poderemos ter a certeza de que a teoria que está por detrás delas é falsa. Pelo contrário, os sistemas de crenças como a astrologia são irremediavelmente vagos, de tal maneira que se torna impossível mostrar que estão claramente errados. A astrologia pode prever que os escorpiões irão prosperar nas suas relações pessoais à quinta-feira, mas, quando são confrontados com um escorpião cuja mulher o abandonou numa quinta-feira, é natural que os defensores da astrologia respondam que, considerando todas as coisas, o fim do casamento provavelmente acabou por ser melhor. Por causa disto, nada forçará alguma vez os astrólogos a admitir que a sua teoria está errada. A teoria apresenta-se em termos tão imprecisos que nenhumas observações efetivas poderão falsificá-la.

Ciência e pseudociência

O próprio Popper usa este critério de falsificabilidade para distinguir a ciência genuína não só de sistemas de crenças tradicionais, como a astrologia e a adoração de espíritos, mas também do marxismo, da psicanálise de várias outras disciplinas modernas que ele considera negativamente “pseudociências”. Segundo Popper, as teses centrais dessas teorias são tão irrefutáveis como as da astrologia. Os marxistas preveem que as revoluções proletárias serão bem-sucedidas quando os regimes capitalistas estiverem suficientemente enfraquecidos pelas suas contradições internas. Mas, quando são confrontados com revoluções proletárias fracassadas, respondem simplesmente que as contradições desses regimes capitalistas particulares ainda não os enfraqueceram suficientemente. De maneira semelhante, os psicanalistas defendem que todas as neuroses adultas se devem a traumas de infância, mas quando são confrontados com adultos perturbados que aparentemente tiveram uma infância normal dizem que ainda assim esses adultos tiveram de atravessar traumas psicológicos privados quando eram novos. Para Popper, estes truques são a antítese da seriedade científica. Os cientistas genuínos dirão de antemão que descobertas observacionais os fariam mudar de ideias, e abandonarão as suas teorias se essas descobertas se realizarem. Mas os marxistas e psicanalistas apresentam as suas ideias de tal maneira, defende Popper, que nenhumas observações possíveis os farão alguma vez modificar o seu pensamento.

 

David Papineau, “Methodology”, in Philosophy: A Guide Through the Subject, org. A. C. Grayling (Oxford University Press, 1998).

https://criticanarede.com/leit_falsificacionismo.html

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Texto para Resumo 11B (Filipe) e 11A (Diogo)

 


O Problema da Demarcação

"O problema da demarcação consiste em distinguir a ciência das disciplinas não científicas que também pretendem fazer afirmações verdadeiras sobre o mundo. Os filósofos da ciência foram propondo vários critérios, incluindo o de que a ciência, diferentemente da não-ciência, 1) é empírica, 2) procura certezas, 3) procede utilizando um método científico, 4) descreve o mundo observável, não um mundo não observável e 5) é cumulativa e progride.

Os filósofos da ciência apresentam-nos pontos de vista discordantes acerca destes critérios. Alguns rejeitam completamente um ou mais deles. Por exemplo, enquanto alguns aceitam a ideia de que a ciência é empírica, os racionalistas rejeitam-na, pelo menos no que toca aos princípios fundamentais acerca do espaço, da matéria ou do movimento. Surgem divergências até mesmo entre os empiristas; por exemplo, entre aqueles que advogam que os princípios científicos devem ser verificáveis e aqueles que negam esta possibilidade, exigindo apenas a sua falsificabilidade.

Algumas versões destes cinco critérios — considerados como metas a atingir — poderão ser defensáveis.

1. “Em que consiste o problema e quando se coloca?”

A expressão “problema da demarcação” foi introduzida por Popper para se referir “ao problema de se encontrar um critério que nos permitisse distinguir as ciências empíricas, por um lado, da matemática e da lógica, entendidos como sistemas metafísicos, por outro” ([1934] 1959: 34). Apesar de Popper se referir à matemática e à lógica, outros autores preocupam-se em distinguir a ciência da metafísica e da pseudociência.

Alguns filósofos, incluindo Popper, colocam o problema movidos por um desejo intelectual de clarificar esta distinção. Os positivistas lógicos tinham também o objectivo de deitar por terra as disciplinas não científicas, tais como a metafísica e a teologia, as quais parecem descrever o mundo físico mas que, por serem inverificáveis, são (alegam os positivistas lógicos) desprovidas de sentido. Outros têm objectivos mais práticos. Num país como os EUA, que oficialmente procura separar a igreja do estado, a religião não deve ser ensinada nas escolas públicas, mas a ciência pode sê-lo. Então, a questão prática passa a ser o que devemos considerar ciência (por exemplo, dizendo se o nome “ciência criacionista” está bem empregue).

2. “A ciência é empírica”

A metafísica, a filosofia e a teologia não o são. O significado disto, todavia, pode variar conforme os pontos de vista. Segundo uma concepção habitual, a ciência é formada por proposições (tais como a lei da conservação da energia), que ou são directamente observáveis através da observação sensorial, ou podem ser inferidas a partir de observações deste tipo por meio de um raciocínio indutivo (que parte de alguns casos observados para uma conclusão sobre todos os membros de uma mesma classe), ou delas derivadas de forma dedutiva. Por contraste, as proposições metafísicas (por exemplo, “os universais de Platão existem”) não conseguem satisfazer estes critérios. Newton, que defendia esta concepção empirista, dizia ter derivado as suas três leis do movimento e a lei da gravidade a partir de fenómenos observados, utilizando a indução e a dedução. Muitos empiristas defendiam pontos de vista semelhantes, incluindo J. S. Mill e os positivistas lógicos. Uma concepção empirista significativamente diferente é aquela que Popper abraça. Este, de acordo com Hume, considera que o raciocínio indutivo carece de justificação lógica. Para Popper, apesar de as leis científicas não poderem ser indutivamente verificadas, elas podem ser falsificadas através da observação de um único caso negativo. Assim, a falsificabilidade baseada na observação, mais do que a verificabilidade, é aquilo que dá à ciência o seu carácter empírico."

Peter Achinstein, “O problema da demarcação”, in https://criticanarede.com/cien_demarcacao.html 

 

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Vídeo sobre o falsificacionismo de Karl Popper


 

Crítica ao critério de verificação das teorias científicas.

 
 Chema Madoz


O critério de demarcação que Popper encontra implícito na obra dos positivistas é o da verificação, critério segundo o qual uma proposição é significativa se, e apenas se, puder ser verificada empiricamente, isto é, se houver um método empírico para decidir se é verdadeira ou falsa. Na falta de tal método é uma pseudo- proposição carente de significado ou, quando muito, uma tautologia. Este princípio foi ligeiramente reformulado pelos empiristas lógicos que encontraram na obra de Carnap, a sua carta magna: aí a noção de verificação concludente de uma proposição é substituída pela noção de confirmação gradualmente crescente, mediante o recurso à observação e à experiência. Importa referir que o conceito de verificação não perde a sua ligação umbilical à verdade: verificar é tornar verdadeiro ou ver a verdade de algo. Popper rejeita este critério e toda e qualquer tentativa de construir uma lógica indutiva. As suas principais objeções à lógica indutivista são as tradicionais. No raciocínio indutivo passamos de um caso (isto é, de um juízo particular) para todos os casos (isto é, para um juízo universal). Qual a legitimidade lógica do "salto" que efetuamos nas inferências indutivas? O que nos autoriza a realizar semelhante tipo de raciocínio? Se os juízos da experiência são sempre particulares e contingentes (isto é, a relação que neles se estabelece entre o sujeito e o predicado é particular e contingente), como se pode formular um juízo universal e necessário que legitime as pretensões das ciências de possuírem leis com um carácter universal e necessário (únicas que permitirão a previsão)? Em termos estritamente lógicos, a conclusão de um argumento não pode ter maior extensão ou conteúdo do que aquilo que é afirmado nas premissas. Ora, é precisamente esta infração que se verifica numa proposição científica de carácter universal, que se fundamenta em premissas que consistem num conjunto finito de proposições singulares. Popper descobriu uma conceção secular, a que identifica a ciência como uma atividade estritamente indutiva que, a partir de umas tantas observações e experiências, avança hipóteses e formula leis sobre os fenómenos, procedendo depois à sua generalização e verificação. Foi esta conceção que a ingénua epistemologia da Modernidade consagrou como paradigmática no âmbito das ciências naturais e, depois, pretendeu exportar para o conjunto dos saberes e disciplinas. "Tendo rejeitado a tese de que as proposições científicas podem ser verificadas (...), Popper tenta reconstruir a lógica da ciência de forma a que somente a lógica dedutiva seja suficiente para avaliar as proposições científicas. Esta reconstrução dá lugar a um novo critério de demarcação"

Proposta de um novo critério de demarcação

Podemos tentar resumir os critérios aceites por Popper para determinar o estatuto científico de uma teoria, aos seguintes princípios: . Uma teoria que não é suscetível de refutação não é considerada científica. A irrefutabilidade não é uma virtude mas sim um vício. . Todo o teste ou contrastação é uma tentativa para refutar uma teoria. Neste sentido, a testabilidade equivale à refutabilidade. Algumas teorias são mais testáveis e, por isso, estão mais expostas à refutação. . A descoberta de novos factos que estão de acordo com as predições de uma teoria, não confirmam por si só a teoria mas única e exclusivamente a corroboram. Uma teoria que é corroborada, quando passa um teste ou contrastação, isto é, quando uma observação cujo resultado poderia eventualmente refutar a teoria não se confirma, robustece a própria teoria sem no entanto a confirmar. Será útil relembrar, que o critério de refutabilidade imposto por Popper, não consiste num critério de sentido ou significação, mas sim no traçar de uma linha divisória entre o discurso científico e outros tipos de conhecimento. As afirmações de carácter metafísico não possuem estatuto científico na medida em que não são suscetíveis de ser falsificadas; o seu carácter de sentido ou significação não é posto em causa; é este facto que nos permite diferenciar Popper das posições assumidas pelos autores do positivismo lógico. "(...) A tarefa primordial para uma demarcação entre a ciência e a metafísica consiste em libertar a metafísica. (...) É ridículo proibir que se fale de qualquer coisa que não pertença à ciência. Foi o que o Círculo de Viena tentou fazer. O Círculo de Viena estabeleceu interdições e decretou: só se pode falar de ciência, tudo o resto é absurdo."7 "(...) O bem mais precioso do homem são as ideias. Nunca temos ideias suficientes. Daquilo que nos ressentimos é da escassez de ideias. E as ideias são um bem prestimoso, por isso, devemos tratar a metafísica com respeito e discutir – talvez das suas ideias surja alguma coisa. (...)"

Alexandre Marques, A doutrina do falseamento em Popper 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Correção do 2º teste do 1º Semestre -11A -versão A e B


VERSÃO A

Grupo 1

(5x10 =50 Pontos)

Escolha a opção correta:

 

1. Considere os seguintes enunciados relativos à comparação entre as teorias do conhecimento de Descartes e de David Hume.

1. Para o primeiro, todas as ideias são inatas; para o segundo, nenhuma ideia é inata. 2. Os dois autores defendem que há ideias que têm origem na experiência. 3. Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável. 4. Os dois autores defendem que não há conhecimento sem experiência.

Deve afirmar-se que

 (A) 2 e 3 são corretos; 1 e 4 são incorretos. (B) 1, 3 e 4 são corretos; 2 é incorreto. (C) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos. (D)  1, 2 e 3 são corretos;4 é incorreto.

 

2. Descartes considera que o cogito é um conhecimento especialmente seguro, porque é

(A) imune ao próprio processo de dúvida.

(B)confirmado pela experiência.

(C) o fundamento do conhecimento.

(D) obtido por um processo a priori.

 

3. Identifique o par de termos que permite completar adequadamente a afirmação seguinte. A dúvida cartesiana é  _______; por isso, Descartes não é um filósofo  _______.

 (A) cética … empirista

(B) metódica … racionalista

(C) hiperbólica … empirista

(D) metódica … cético

 

4. A principal finalidade do método proposto por Descartes é

(A) estabelecer os fundamentos do conhecimento.

(B) provar que os sentidos nos enganam.

(C) mostrar que existe um ser perfeito.

(D) descobrir quais são as ideias claras e distintas.

 

5. De acordo com a análise tradicional do conhecimento,

 (A) se sabemos que uma certa pessoa nasceu em 2001, então acreditamos que ela nasceu nesse ano.

(B) para sabermos que uma certa pessoa nasceu em 2001, basta que essa pessoa tenha nascido nesse ano.

(C) para sabermos que uma certa pessoa nasceu em 2001, basta termos uma justificação para que tenha nascido nesse ano.

(D) se acreditamos que uma certa pessoa nasceu em 2001, então sabemos que essa pessoa nasceu nesse ano.

 

6. Se é vermelho, então tem cor. 2. O vestido é vermelho.

(A) As frases 1 e 2 expressam proposições “a posteriori”

(B) A frase 1 expressa uma proposição “a  posteriori”, a frase 2 expressa uma proposição “a priori”

(C) As frases 1 e 2 expressam proposições “a priori”.

(D) A frase 1 expressa uma proposição “a priori”, a frase 2 expressa uma proposição “a posteriori”

 

7. Hume considera que

(A) não há distinção entre impressões e ideias.

(B) não há relação entre impressões e ideias.

(C) as impressões são cópias das ideias.

(D) as ideias são cópias das impressões.

 

8.  De acordo com Hume, a impressão que origina a ideia de causa/efeito

(A) é a razão e o raciocínio.

(B) é uma ideia complexa fruto da imaginação.

(C) é a impressão de conexão necessária.

(D) é a conjunção constante entre dois factos

 

9. A relação causa/efeito fundamenta-se:

(A) Nas impressões sensíveis.

(B) Numa conexão necessária entre factos.

(C) Num costume ou hábito fruto da repetição.

(D) Na razão: é uma relação “a priori”.

 

10. Hume não ultrapassa o ceticismo porque:

(A) Hume não é cético.

(B) Admite a possibilidade de uma dúvida radical.

(C) Não encontra uma forma infalível de justificar as nossas crenças sobre o mundo.

(D) Não encontra fundamentos para a existência de Deus.

 __________________________________________________________________

Versão B

 

 1. De acordo com a análise tradicional do conhecimento,

 (A) se sabemos que uma certa pessoa nasceu em 2001, então acreditamos que ela nasceu nesse ano.

(B) para sabermos que uma certa pessoa nasceu em 2001, basta que essa pessoa tenha nascido nesse ano.

(C) para sabermos que uma certa pessoa nasceu em 2001, basta termos uma justificação para que tenha nascido nesse ano.

(D) se acreditamos que uma certa pessoa nasceu em 2001, então sabemos que essa pessoa nasceu nesse ano.

 

2. Se é vermelho, então tem cor. 2. O vestido é vermelho.

(A) As frases 1 e 2 expressam proposições “a posteriori”

(B) A frase 1 expressa uma proposição “a  posteriori”, a frase 2 expressa uma proposição “a priori”

(C) As frases 1 e 2 expressam proposições “a priori”.

(D) A frase 1 expressa uma proposição “a priori”, a frase 2 expressa uma proposição “a posteriori”

 

3. Hume considera que

(A) não há distinção entre impressões e ideias.

(B) não há relação entre impressões e ideias.

(C) as impressões são cópias das ideias.

(D) as ideias são cópias das impressões.

 

4.  De acordo com Hume, a impressão que origina a ideia de causa/efeito

(A) é a razão e o raciocínio.

(B) é uma ideia complexa fruto da imaginação.

(C) é a impressão de conexão necessária.

(D) é a conjunção constante entre dois factos

 

5. A relação causa/efeito fundamenta-se:

(A) Nas impressões sensíveis.

(B) Numa conexão necessária entre factos.

(C) Num costume ou hábito fruto da repetição.

(D) Na razão: é uma relação “a priori”.

 

6. Hume não ultrapassa o ceticismo porque:

(A) Hume não é cético.

(B) Admite a possibilidade de uma dúvida radical.

(C) Não encontra uma forma infalível de justificar as nossas crenças sobre o mundo.

(D) Não encontra fundamentos para a existência de Deus.

 

7. Considere os seguintes enunciados relativos à comparação entre as teorias do conhecimento de Descartes e de David Hume.

1. Para o primeiro, todas as ideias são inatas; para o segundo, nenhuma ideia é inata. 2. Os dois autores defendem que há ideias que têm origem na experiência. 3. Para o primeiro, o conhecimento tem de ser indubitável; para o segundo, pode não ser indubitável. 4. Os dois autores defendem que não há conhecimento sem experiência.

Deve afirmar-se que

 (A) 2 e 3 são corretos; 1 e 4 são incorretos. (B) 1, 3 e 4 são corretos; 2 é incorreto. (C) 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos. (D)  1, 2 e 3 são corretos;4 é incorreto.

 

8. Descartes considera que o cogito é um conhecimento especialmente seguro, porque é

(A) resiste ao próprio processo de dúvida.

(B) confirmado pela experiência.

(C) a consequência do conhecimento.

(D) obtido pelos sentidos

 

9. Identifique o par de termos que permite completar adequadamente a afirmação seguinte. A dúvida cartesiana é  _______; por isso, Descartes não é um filósofo  _______.

 (A) cética … empirista

(B) metódica … racionalista

(C) hiperbólica … empirista

(D) metódica … cético

 

10. A principal finalidade do método proposto por Descartes é

(A) estabelecer os fundamentos do conhecimento.

(B) provar que os sentidos são certos

(C) mostrar que existe um ser perfeito.

(D) descobrir quais são as ideias obscuras

 __________________________________________________________

 

Grupo 2

(1-20 pontos+2-30 Pontos +3-30 Pontos +4- 40 Pontos)=120 Pontos)

 

 Leia o texto com atenção e responda com objetividade e clareza às seguintes questões:

 

"Todos admitirão prontamente que existe uma diferença considerável entre as perceções da mente, quando um homem sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de um ardor moderado, e quando ele depois traz à memória a sua sensação ou a antecipa mediante a sua imaginação. “

David Hume, Investigação sobre o entendimento humano.

 

1.Diga quais são as perceções da mente de que fala o texto e a sua importância para o conhecimento.

 

1. Impressões e ideias são perceções mentais, isto é, constituem todo o conteúdo da mente que podemos conhecer. As primeiras são originais e antecedem as segundas que são cópias feitas da memória das impressões vividas. Podemos ter ideias de objetos nunca antes vividos, se associarmos ideias simples, formando assim ideias complexas como a ideia de vampiro. Podemos também antecipar o prazer ou a dor vividas pela expectativa de as voltarmos a viver. Seja pela memória ou pela imaginação as perceções pensadas, ideias, não são nunca tão fortes e intensas como as vividas, impressões,  pois o original é sempre mais forte e perfeito que a cópia. Hume conclui que as impressões são atos originais e que não existem ideias sem na origem estar a impressão interna ou externa equivalente.

 

As impressões podem ser simples ou complexas e podem ser interiores ou exteriores, sendo que as primeiras são vividas pela sensibilidade e as segundas resultam de um sentimento, paixão ou dor vividos interiormente pelo sujeito. As ideias podem ser ainda gerais quando resultam da associação de ideias simples, de acordo com a sua semelhança para a formação dos conceitos, ou complexas quando são  fruto da associação de ideias simples através da imaginação.

 

Todos os objetos da razão ou da investigação humanas podem ser naturalmente divididos em dois tipos, a saber, as relações de ideias e as questões de facto. [...] O contrário de toda e qualquer questão de facto continua a ser possível, porque não pode jamais implicar contradição, e a mente concebe-o com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse perfeitamente conforme à realidade. Que o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos inteligível nem implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer.

D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, IN-CM, 2002, pp. 41-42 (adaptado)

 

 

2. Explique qual o problema que Hume coloca no texto e distinga, com exemplos, esses dois tipos de conhecimento que são referidos.

Resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Distinção entre as questões de facto e as relações de ideias: – as verdades acerca das relações de ideias são verdades necessárias ou demonstrativamente certas (OU que podem ser descobertas pela razão); (em contrapartida,) as questões de facto apenas podem ser decididas recorrendo à experiência; – o contrário de uma verdade acerca de relações de ideias implica uma contradição e, portanto, é logicamente impossível; (ao invés,) o contrário de uma verdade acerca de questões de facto não implica uma contradição e, portanto, é logicamente possível.

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes. Apresentação do problema da indução: – a indução não está justificada, uma vez que a tentativa de a justificar por meio da experiência é circular (OU a tentativa de a justificar por meio do raciocínio indutivo se baseia, ela própria, no raciocínio indutivo, que, precisamente, necessita de justificação).Portanto, saber que o Sol vai nascer amanhã é uma previsão e como tal baseia-se no que aconteceu no passado, faz-se uma generalização indutiva, se até agora o sol sempre nasceu, amanhã irá nascer. Essa probabilidade pode não ocorrer, porque só podemos ter conhecimento por experiência, e não temos experiência do futuro a não ser que façamos um raciocínio indutivo.

 

 

3. “Todos os metais dilatam sempre com o calor” Para Hume esta afirmação não está justificada, logo não é conhecimento. Porquê?

 

 

3. Não há nenhuma impressão de conexão causal; isto é, de uma conexão necessária entre dois fenómenos como a dilatação do metal e o calor. As impressões que nos são dadas são de contiguidade no espaço, prioridade temporal e conjunção constante.

 

b) A impressão que temos é da repetição de fenómenos em sucessão no tempo e contiguidade no espaço: “Vemos os dois fenómenos repetidamente juntos, e quanto mais isso acontece mais forte é a crença que um não pode existir sem o outro, isto é, que um é causa do outro.

 

c) Esta crença a que chamamos relação de causa efeito ou conexão causal não está justificada nem empiricamente nem racionalmente, porque “ não há nada que produza qualquer impressão, e consequentemente nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão necessária”, a relação é formada na mente  fruto do hábito e do costume. Não é um conhecimento mas uma crença subjetiva.

 

 

d) Se o conhecimento de causa efeito tem a sua origem na experiência e de modo nenhum é a priori (argumento do ser racional que nada soubesse do mundo, jamais poderia ter a noção de causa efeito) então é um conhecimento de facto e é contingente, todavia julgamos e pensamos como se houvesse uma conexão necessária e, portanto ultrapassamos a experiência.

 

Logo, para concluir, não há uma justificação empírica nem racional para uma conexão necessária entre dois fenómenos, ela é apenas fruto do costume, um hábito psicológico, logo, não é um conhecimento objetivo.

 

 

4. Problematize as teorias empirista e racionalista em relação aos seguintes tópicos:  Inatismo das ideias, eu, Deus

4.1. Defenda uma posição pessoal em relação a este problema (empirismo/racionalismo).

 

 

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.

Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre o inatismo das ideias:

Hume rejeita a existência de ideias inatas, os empiristas, defendem que todo o conhecimento substancial do mundo deriva de impressões ou sensações e estas são adquiridas por experiência; consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-instrutivas», ou seja, não são informativas (ou não têm conteúdo factual), "jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto distinto", ao passo que os racionalistas, como Descartes, consideram que as verdades inatas são certas (evidentes, ou claras e distintas), são aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem outras verdades acerca do mundo.

 

Comparação das perspetivas de Descartes e de Hume acerca da ideia de Deus:‒ Descartes afirma que «o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que o eu [...] se devia a alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita», ou seja, que a ideia de perfeição não pode ter tido origem num ser imperfeito como ele (porque duvidar é uma imperfeição, e ele duvida) e que Deus é uma substância independente do pensamento (substância divina);‒ Hume, em contrapartida, afirma que as ideias, «por mais compostas e sublimes que sejam», são copiadas «de uma sensação ou sentimento precedente», ou seja, que a ideia de Deus é uma ideia composta, formada pela associação e pela ampliação de ideias simples provenientes da observação das operações da nossa mente;‒ segundo Descartes, a ideia de Deus não tem origem empírica / é inata;‒ em contrapartida, Hume considera que a ideia de Deus tem origem empírica, fruto da imaginação e não corresponde a uma entidade independente  do pensamento.

Comparação das perspetivas de Descartes e de Hume acerca da ideia de um eu substancial: Para os racionalistas, há um sujeito que pensa e a substância do seu pensamento é independente do corpo (dualismo), este eu é uma certeza primeira e uma crença verdadeira que se autojustifica. Para os empiristas como Hume, não existe uma substância pensante independente do corpo mas sim o pensamento está ligado ao corpo e influenciam-se mutuamente; não existe um eu mas uma série de impressões que estão em volição e mudança.

Grupo 3

(2x15Pontos)

 

 

1. Segundo a teoria tradicional de conhecimento como crença verdadeira e justificada porque é que não podemos saber que a Lua é feita de queijo? Justifique.

 

Não podemos saber que a Lua é feita de queijo porque é falso. A Lua não é feita de queijo mas sim de matéria rochosa, sendo assim uma crença falsa. O conhecimento é factivo, podemos acreditar em crenças falsas mas não podemos conhecer (saber) falsidades.

 

 

2. Porque é que o empirismo de Hume é considerado um ceticismo moderado?

Porque apesar das nossas crenças sobre o mundo não terem uma justificação nem lógica nem empírica infalível, não abandonamos essas crenças porque elas são o produto do hábito que é, para Hume, o verdadeiro guia do conhecimento.

3. Qual a importância do cogito na filosofia cartesiana?

Através do método da dúvida sobre as fontes do conhecimento, Descartes encontra a sua primeira verdade indubitável: “Penso, logo existo”. O Cogito é uma ideia evidente, clara, distinta e inata, a primeira crença básica a priori da filosofia cartesiana. Permite-nos inferir que é possível um conhecimento a priori que não necessita da justificação da experiência e que se fundamenta apenas na razão. Permite-nos também concluir que é verdadeiro tudo o que se apresente com clareza e distinção à razão, isto é todas as ideias evidentes que a razão vê claramente que não poderiam ser de outro modo e não se confundem ou derivam de outras ideias. A partir desta crença básica é possível construir os alicerces seguros do conhecimento de modo a escapar ao ceticismo.