domingo, 4 de fevereiro de 2024

Texto para resumo Beatriz 11I e Gonçalo Alegre 11A


 «Quando liga o computador de manhã confia que ele não vai explodir. Porquê? Porque habitualmente o liga de manhã e até agora nenhuma explosão aconteceu. Mas inferir de “Até agora o meu computador não explodiu quando o liguei de manhã” que “O meu computador não explodirá quando o ligar da próxima vez” é efetuar uma inferência indutiva, não dedutiva. A premissa da sua inferência não implica a conclusão. É logicamente possível que o seu computador expluda da próxima vez que o ligar, embora até agora tal não tenha acontecido. E apesar de tudo, ao longo da nossa vida confiamos nas nossas inferências indutivas, quase sem nisso pensarmos. Em muitos casos, é aconselhável confiar na indução, caso contrário poderemos pensar que se não conseguimos voar até agora tal pode acontecer da próxima vez e saltar de um 7.º andar do edifício em que moramos. Mas argumentar que a indução é digna de confiança porque até agora tem funcionado bem é argumentar de forma indutiva.

E os cientistas usam também o raciocínio indutivo? A resposta é sim. Consideremos uma doença genética conhecia pelo nome de síndroma de Down (S. D.) Os geneticistas dizem-nos que os pacientes de S. D. têm um cromossoma a mais: 47 em vez de 46. Como o sabem? Porque examinaram um vasto número de pacientes com síndroma de Down e verificaram que tinham um cromossoma a mais. Então, raciocinando indutivamente, concluíram que os pacientes com S. D. são todos os pacientes com um cromossoma a mais. O facto de os doentes com S. D. examinados terem um cromossoma a mais não prova, rigorosamente falando, que isso acontece com todos os pacientes de S. D. É possível, embora altamente improvável, que a amostra estudada não seja representativa.

Este exemplo não é caso único. De facto, os cientistas usam o raciocínio indutivo sempre que a partir de um número limitado de casos e de dados formulam conclusões gerais que pretendem valer para todos os casos e dados (é o que fazem constantemente). Consideremos o princípio de que um corpo exerce uma atracão gravitacional sobre outro. Como é óbvio, Newton não examinou todo e qualquer corpo existente no universo para chegar a este princípio – não poderia. Viu que tal princípio era verdadeiro para o Sol e os planetas e para alguns objetos movendo-se perto da superfície da Terra. A partir desses dados inferiu que o princípio da gravitação universal era verdadeiro para todos os objetos. Mais uma vez trata-se de uma inferência indutiva: o facto de o princípio valer para alguns objetos não garante que valha para todos.

Muitos filósofos e cientistas pensam ser óbvio que a ciência se baseia em raciocínios indutivos, pelo menos em grande parte. Mas…» 

SAMIR OKASHA, Philosophy of Science – A Very Short Introduction, Oxford, Oxford University Press, pp. 20-23 (adaptado).

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