Afonso Miranda 11ºB e Alice Lima 11ºI1
O Desinteresse
Chama-se «interesse» ao prazer que ligamos à representação da existência de um objecto.Por isso, um tal interesse envolve sempre ao mesmo tempo referência à faculdade de desejar, quer como seu fundamento, quer como necessariamente vinculado ao seu funda-mento de determinação. Ora, se a questão é saber se algo é belo, então não se quer saber sea nós ou a qualquer outra pessoa importa, ou possa importar, algo da existência da coisa,mas antes como ajuizamos essa coisa na mera contemplação (intuição ou reflexão). [...]Oque se quer saber é somente se a mera representação do objecto em mim é acompanhadade prazer, por indiferente que eu possa ser em relação à existência do objecto desta repre-sentação. É claro que se trata do que faço dessa representação em mim mesmo, e não daqui-lo em que dependo da existência do objecto, para dizer que ele é belo e para provar que tenho gosto. Todos temos de reconhecer que o juízo sobre a beleza ao qual se mistura omínimo interesse é muito faccioso e não é um juízo de gosto puro. Não se tem de simpatizar minimamente com a existência da coisa, mas, pelo contrário, tem de se ser comple-tamente indiferente a esse respeito para, em matéria de gosto, desempenhar o papel de juiz.Esta proposição, que é de importância primordial, não pode ser cabalmente explicada anão ser contrapondo ao puro prazer desinteressado do juízo de gosto aquele juízo que estáaliado a algum interesse.
Immanuel Kant,Crítica da Faculdade do Juízo, 1790, trad. adaptada de António Marques et al.,§ 2
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Resumos Andressa 11B e Beatriz Barros 11I2
...] A atitude estética «isola» o objecto e concentra-se nele: a «aparência» das rochas, osom do mar, as cores da pintura. Por isso, o objecto não é visto de maneira fragmentária,ou de passagem, como acontece na percepção «prática», ao usarmos uma caneta paraescrever, por exemplo. Toda a sua natureza e carácter são considerados demoradamente.Quem compra um quadro apenas para cobrir uma mancha no papel de parede não vê apintura como um padrão aprazível de cores e formas. [...]A palavra «complacentes», que ocorre na definição de «atitude estética», refere-se aomodo como nos preparamos para reagir ao objecto. [...] Qualquer um pode rejeitar umromance, por lhe parecer que entra em conflito com as suas crenças morais ou a sua«maneira de pensar». [...] Não lemos o livro esteticamente, porque interpusemos entre elee nós reacções morais, ou outras, que nos são próprias e lhe são estranhas. Isto perturba aatitude estética. Nesse caso, não podemos dizer que o romance é esteticamente mau, porquenão nos permitimos considerá-lo esteticamente.[...] A «atenção» estética não significa apenas concentrar-se no objecto e «agir» emrelação a ele. Para apreciarmos completamente o valor específico do objecto, temos de pres-tar atenção aos seus pormenores, frequentemente complexos e subtis. A atenção perspicaza estes pormenores é a discriminação. [...]Assim, e depois de termos compreendido que a atenção estética é vigilante e vigorosa,poderemos usar com confiança uma palavra que tem sido aplicada com frequência à experiência estética: «contemplação». De outro modo, haveria o perigo de esta palavra sum olhar impávido e distante que, como vimos, não é consentâneo com os factos da expe-riência estética. Na realidade, a «contemplação» nada acrescenta de novo à nossa definição,limitando-se a resumir ideias que já discutimos. Significa que a percepção é dirigida aoobjecto em função de si mesmo, e que o espectador não está preocupado em analisá-lo ouem fazer perguntas acerca dele. Além disso, a palavra conota uma absorção e interessetotais, como quando falamos de uma pessoa «perdida em contemplação». [...]A atitude estética pode ser adoptada relativamente a «qualquer objecto da consciência».[...][A] coisa mais feia da natureza em que consigo pensar neste momento é uma certa ruade casas miseráveis, onde se realiza um mercado ao ar livre. Se a percorrermos ao princípiode uma manhã de Domingo, como faço às vezes, encontramo-la conspurcada de palha,papéis sujos e outros detritos típicos de um mercado. A minha atitude normal é de aversão.Quero afastar-me dali [...]. Mas, por vezes, verifico que [...] o cenário se distancia abrupta-mente de mim e se eleva ao plano estético, pelo que posso examiná-lo de maneira muitoimpessoal. Quando isso acontece, parece-me que aquilo que estou a apreender tem umaaparência diferente: tem uma forma e uma coerência que anteriormente lhe faltavam e ospormenores tornam-se mais claros. Mas [...] não me parece que tenha deixado de ser feioe se tenha tornado belo. Posso ver o feio esteticamente, mas não posso vê-lo como belo.
Jerome Stolnitz,Estética e Filosofia da Crítica de Arte, 1960, trad. Vítor Silva, pp. 46
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