Já David Hume foi bastante crítico em relação a Descartes
nesta questão (de haver um conhecimento absoluto) e avançou com a sua própria tese sobre o assunto. Diz Bertrand
Russel sobre o escocês:
"O que preocupa Hume é o conhecimento incerto, tal
como o que é obtido de dados empíricos por inferências que não são
demonstrativas. Isso inclui todo o nosso conhecimento a respeito do futuro, e a
respeito de partes não observadas do passado e do presente. De facto, inclui
tudo excepto, por um lado, observação directa, e, por outro, a lógica e a
matemática."
Em primeiro lugar, David Hume separa conhecimento de relação
de ideias e conhecimento de factos ou probabilidade. Se no conhecimento as
“relações de ideias são dependentes das próprias ideias”, na probabilidade
existem três relações: a identidade, as situações no tempo e lugar e a
causalidade.
Assim, enquanto a negação do conhecimento de relação de
ideias implica contradição, na probabilidade (conhecimento dos factos), a
negação é igualmente uma probabilidade. Desse modo, as descobertas filosóficas
devem ser caracterizadas pelo probabilismo, pois o Homem tem várias limitações
temporais e perceptivas. Ou seja, todas as explicações devem ser vistas como
tentativas destinadas a serem substituídas por outras, o que dá espaço à
opinião e à controvérsia.
David Hume rejeita “todo o tipo de ilusões metafísicas”,
toda a crença em milagres. Segundo ele, os milagres violam as leis da Natureza,
que se baseiam na experiência.
No entanto, Hume, não é um céptico radical que negue
totalmente a capacidade do sujeito para conhecer algo, o que acaba por ser uma
contradição, pois ao afirmar a impossibilidade de alcançar o conhecimento, já
está a concluir algo – conhecer que o conhecimento não é possível.
Hume nega a existência de princípios evidentes inatos em
nós. Para ele, todo o conhecimento é como que uma cópia de algo, cujo objecto
já tivemos acesso de alguma maneira.
Hume põe ainda o problema da causalidade em cima da mesa.
Ele refuta o princípio da causalidade segundo o qual todas as acções têm uma
relação causa efeito, submetendo-o a uma análise critica bastante rigorosa,
baseando-se na sua teoria de conhecimento segundo a qual sem impressão sensível
não há conhecimento, visto todas as ideias derivarem das sensações, à qual deve
corresponder uma impressão.
A partir daí, ele negou que possamos fazer qualquer ideia de
causalidade pois ela é apenas resultado do nosso hábito mental, visto que na
Natureza nada nos mostra que sempre que acontece alguma coisa, tem que
acontecer outra.
Só temos essa ideia porque nos habituamos a ver a sucessão
de fenómenos um por um, o que nos induziu em erro.
Por exemplo, quando está vento e uma árvore abana dizemos
que esta é uma relação causa efeito, quando nada nos prova que assim é. Apenas
o dizemos porque nos habituamos a ver os dois fenómenos ocorrer muitas vezes
simultaneamente. A experiência até nos pode dizer que o vento pôs os galhos da
árvore em movimento, mas ela nunca nos diz nada sobre acontecimentos futuros,
com os quais ainda não tivemos qualquer contacto: única fonte de conhecimento
valida. Isto porque a inferência causais estão sempre sujeitas ao erro perante
novos objectos, novos sujeitos e novas situações, que podem mudar as ideias que
temos em nós. Desse modo, vemos que para Hume, o conhecimento só pode
corresponder a acções passadas, ou quando muito actuais e nunca futuras. Para
ele, “cada caso, é um caso” e nada nos diz o que vai acontecer amanhã.
Esta questão é de grande importância para David Hume, porque
o racionalismo de Descartes apoia-se sobretudo nas relações causa efeito.
Provando que não existem relações na Natureza e apenas
fenómenos desligados uns dos outros, Hume rejeita, o inatismo cartesiano,
introduzindo um dado novo nas teses empiristas afirmando que a identidade entre
a ordem das coisas e das ideias é fruto dos nossos hábitos mentais ou na crença
que existe uma ligação necessária entre os fenómenos.
A partir daí, Hume nega as três verdades de René Descartes
(o ser, Deus e o mundo).
Em relação ao “eu”, que Descartes provara através da
intuição, Hume não acredita que o pensamento intuitivo seja um caminho seguro
para a verdade, devido à impossibilidade do Homem poder enumerar causas.
Todos nós mudados em muitos aspectos à medida que os anos
passam, sem que nós próprios mudemos em si mesmo. No entanto, Hume nega a
distinção entre os vários aspectos de uma pessoa e o sujeito que transporta
essas mesmas características. Ou seja, para o escocês, quando fazemos uma
introspecção, notamos um conjunto de percepções, sentimentos, memorias e
pensamento, mas nunca nos apercebemos de algo a que possamos chamar de “eu”. Ou
seja, o ser humano não passa de um conjunto de “percepções transitórias” que a
nada pertencem e de um composto de elementos relacionados em permanente
mudança.
Depois, relativamente à questão da existência de Deus, que
Descartes provara baseando-se em que tudo tem uma causa, e a primeira dessas
causas era Deus,
Hume diz ser impossível conhecer Deus pois a provas
cartesianas estão fundadas na existência de ideias inatas, originárias da
razão, nas quais não acredita. Ou seja, para ele o Homem não pode conhecer algo
do qual não tem uma única percepção.
Por fim, Hume nega igualmente a existência do mundo exterior
que para ele não passa de uma crença. E é uma crença que não podemos eliminar,
mas que também não podemos provar por qualquer tipo de argumento, seja ele
dedutivo ou indutivo.
David Hume também refuta a ideia de um conhecimento
universal, claro e distinto. Visto que dentro das limitações o nosso
conhecimento é sempre incompleto, a realidade reduz-se aos fenómenos aos quais
os nossos sentidos têm acesso, sendo que cada um pode ter sensações diferentes
nessa experiência, abrindo-se espaço à subjectividade.
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