Paul Klee
Existem versões conhecidas do argumento do mal anteriores ao desenvolvimento das tradições teístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Uma dessas formulações deve-se a Epicuro, um filósofo grego cujo pensamento foi bastante influente. Na versão de Epicuro, o argumento mostra que a hipótese de um Deus bom conduz validamente a consequências absurdas; daí não poder ser verdadeira.
O argumento é o seguinte:
(1) Deus deseja abolir o mal e não pode fazê-lo, ou Deus pode abolir o mal mas não quer fazê-lo.
(2) Se deseja abolir o mal mas não pode fazê-lo, então não tem esse poder.
(3) Se pode abolir o mal mas não quer fazê-lo, então não é bom.
\ Deus não é bom ou não tem todos os poderes.
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Epicuro
pretende mostrar que a ideia de um Deus omnipotente e bom é
incompatível com a existência do mal. Fica, portanto, a pergunta: se
Deus deseja acabar com o mal e pode fazê-lo, por que razão não o faz?
As respostas tradicionais a esta pergunta – i. e., ao problema do mal – designam-se por teodiceias. Uma das mais famosas teodiceias da tradição filosófica ocidental deve-se a Leibniz. Segundo Leibniz, vivemos no melhor
dos mundos possíveis; Deus não deseja o mal e poderia ter criado um
mundo diferente. Mas qualquer alternativa que Deus pudesse ter
considerado teria ainda piores resultados do que o mundo tal como é.
Esta resposta tende a parecer hoje tão pouco convincente (depois do
extermínio dos judeus pelos nazis, as guerras e os cataclismos que
atravessaram todo o século XX, etc.) como pareceu aos seus
contemporâneos. Voltaire, em especial, satirizou Leibniz impiedosamente
numa obra de ficção – Candide – onde o terramoto de Lisboa de 1775 é utilizado para cobrir de ridículo a tese de Leibniz.
O
problema do mal foi desde muito cedo reconhecido pelas grandes
tradições teístas e podemos encontrá-lo formulado já no Antigo
Testamento. É natural que tal aconteça em virtude do desafio inescapável
que coloca; os filósofos cristãos, naturalmente, não podiam evitá-lo.
Numa versão simples, o argumento pode ser proposto com o objectivo de provar que Deus não existe:
(1) Se Deus existe, o mal não existe.
(2) O mal existe.
Luis M Duarte Texto retirado daqui
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